O Planeta Silencioso fala demais e não diz a que veio

Cena de O Planeta Silencioso. Nela, vemos Theodore, um homem branco de meia idade e Niyya, uma mulher negra. Eles vestem um macacão amarelo. Os dois carregam um carrinho de mão e estão em um ambiente composto por pedras.
Longa fez sua estreia em terras brasileiras através da Perspectiva Internacional na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Good Movies)

Guilherme Veiga

Quando o Dr. Manhattan está farto da humanidade, ele adota Marte como sua nova terra e divaga sobre a vida e o universo em toda sua divindade no silêncio da atmosfera marciana. Sem todo o complexo de Deus, o diretor Jeffrey St. Jules disse, em exibição de O Planeta Silencioso na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que o filme “é um sonho de infância, de imaginar um lugar totalmente vasto e novo para explorar”. Mas entre pensar e executar, há um abismo ainda mais vasto.

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Um Homem Diferente se assemelha nas crises existenciais

Cena de Um Homem Diferente. Nela, vemos Edward, interpretado por Sebastian Stan. Edward é um homem branco com o rosto desfigurado. Ele veste uma camisa xadrez e encara a câmera. O fundo está escuro e uma luz foca no rosto do personagem
Longa teve recepção calorosa em suas exibições na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: A24)

Guilherme Veiga

Se tem um tema que o Cinema injetou no debate público nos últimos tempos foi o da busca por padrões. Com o sucesso estrondoso de A Substância (2024), Um Homem Diferente chegava às telas da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo através da seção Perspectiva Internacional com cara de mais do mesmo: alguém insatisfeito com seu corpo, um tratamento milagroso e o mais puro caos. Porém, o longa entrega uma intrigante e curiosa abordagem sobre perda e subversão da identidade.

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Estante do Persona – Junho de 2024

Celebrando o mês do orgulho LGBTQIAPN+, a Editoria indica obras queers (Texto de Abertura: Guilherme Machado Leal / Artes: Rafael Gomes)

Com oito histórias que abordam a vivência de pessoas queers, o Estante do Persona deste mês está mais orgulhoso do que nunca! As histórias que serão recomendadas abordam as diferentes camadas do árduo caminho traçado por aqueles que pertencem à comunidade. Para isso, a Redação do Persona separou uma lista especial, com obras que marcaram a vida dos membros após a primeira leitura.

Narrativas ficcionais se tornam confidentes de todo e qualquer leitor, ainda mais se há a possibilidade de se reconhecer nos escritos de um autor. Para as pessoas LGBTQIAPN+, essa identificação possui um objetivo ainda maior: ela auxilia no processo de auto descoberta da sexualidade e mostra como personagens queers podem ser plurais. Entre dramas e romances, as indicações deste mês reforçam a diversidade necessária dentro das páginas de um livro.

Em Junho, o foco é o aprofundamento dos integrantes da comunidade LGBTIQAPN+. As tramas sugeridas não apenas falam sobre representatividade, mas também mostram que que a vida queer não se resume a preconceito e algozes. Antes de toda a dor passada por essas pessoas, há o desejo de viver uma jornada linda. É direito de qualquer pessoa, independente de sua orientação sexual, de se reconhecer em narrativas lúdicas, pois é na Arte que muitos encontram refúgio.

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Em The Rise and Fall of a Midwest Princess, Chappell Roan sai do armário rumo ao estrelato

O nome artístico da cantora é uma homenagem ao sobrenome de seu avô somado a música favorita dele (Foto: Island Records)

Guilherme Veiga

Eu sou a artista favorita do seu artista favorito. Eu sou a garota dos sonhos da sua garota dos sonhos”. Foram com essas palavras que Chappell Roan se apresentou ao mundo, ‘de supetão’ mesmo. E nada mais justo. Hoje, o pop se mostra um gênero extremamente cruel, onde se consolidar nele é como lutar por sobrevivência na savana africana. E não foi só com sua personalidade, mas também com seu disco de estreia, The Rise and Fall of a Midwest Princess, que a intérprete chegou para impor seu lugar e permanecer no estilo.

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Os 40 anos da epopeia de sentidos em Stop Making Sense

Cena de Stop Making Sense. Nela, vemos David Byrne, um homem branco de cabelos pretos. Ele veste um terno cinza e uma camisa cinza. O terno é consideravelmente maior que o corpo do cantor, ficando bastante folgado. Byrne está em pé, de olhos fechados e com a boca aberta em frente a um microfone. O fundo é preto.
Cabeças falantes nem sempre precisam fazer sentido (Foto: Arnold Stiefel Company)

Guilherme Veiga

Um tablado preto de teatro. Uma luz no fundo, de onde vem um par de pernas que veste uma calça cinza clara e um sapato terrivelmente branco. Essas pernas chegam até um microfone e então é posto um rádio ao lado. A mão do corpo a quem pertence tais pernas dá play no aparelho, e então uma bateria digital começa aquela que seria uma das versões mais emblemáticas de Psycho Killer. A câmera sobe até o vislumbre de um jovial David Byrne e o resto é história. Assim começa aquela que, posteriormente, seria considerada a obra definitiva quando o assunto é filmes-concerto: Stop Making Sense.

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Os curtas brasileiros do 29º Festival É Tudo Verdade

Os curtas brasileiros ficaram disponíveis gratuitamente na plataforma de streaming Itaú Cultural Play (Arte: Aryadne Xavier)

A 29ª edição do Festival É Tudo Verdade ocorreu entre os dias 03 e 14 de Abril de 2024, com programações que perduraram até dia 30. Entre mostras online e presenciais, o maior evento de reconhecimento às produções documentais exibiu 77 obras de diferentes países e diretores. Além das tradicionais categorias diversas que envolvem o cronograma do festival, este ano, ainda foram celebrados o centenário do brasileiro Thomaz Farkas e as obras do britânico Mark Cousins. 

Mergulhado em uma multiplicidade de temáticas, o evento alimentou o Cinema com uma curadoria recheada de nomes prontos para a ascensão. Imagens delicadas, relatos sensíveis, terras distantes e até mesmo pontos crus demais para o habitual palatável marcaram presença em salas de cinema de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Considerado um dos maiores festivais culturais da América Latina, o It’s All True – nome dado para repercussão internacional – acontece desde 1996 e foi criado pelo crítico de cinema  Amir Labaki. Desde então, sua potência reconhece obras com um júri especializado que as premia em categorias específicas, além de tecer comentários sobre seu impacto social e estético. 

Uma das categorias é a Competição Brasileira de Curtas-Metragens. Em sua composição, filmes de até 30 minutos dirigidos por cineastas brasileiros fazem parte da mostra competitiva. Este ano, racialidade, identidade sertaneja, ancestralidade indígena e outras pautas ganharam protagonismo, com As Placas são Invisíveis levando o título. Com olhar apurado, a editoria do Persona explora as minutagens dos participantes e suas reflexões. 

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As Melhores Séries de 2023

Com os mais diversos gêneros e formatos, as séries iluminaram o ano de 2023 (Arte: Aryadne Xavier/ Texto de abertura: Nathalia Tetzner)

2023 foi um ano e tanto para a Televisão. Com grandes estreias e adaptações que eclodiram, títulos importantes também nos deixaram com seus últimos episódios. No que diz respeito às premiações, o ano atípico ganhou mais uma reviravolta: o adiamento das cerimônias e produções em prol da justa greve que parou Hollywood. Tradicionalmente, o Persona preparou um compilado com as melhores séries.

Entre as 51 séries selecionadas, Succession lidera o número de menções (8) em primeiro lugar.  Logo depois, o apocalipse de The Last Of Us (4) e a cozinha caótica de The Bear (3) aparecem como destaque em meio às favoritas. Na batalha entre streamings, a Netflix assume a liderança absoluta com 16 aparições. Em sequência: Max (7),  Amazon Prime Video (6), AppleTV+, Globoplay e Disney+ (3), e Paramount+ (2).

A grande parte das produções são dos Estados Unidos, porém, alguns seriados brasileiros deram a cara por aqui com novelas e minisséries. Dentre elas, Cangaço Novo, Elas Por Elas e Vai Na Fé. Nós sempre acompanhamos as principais premiações da Televisão, o que explica 19 dos títulos escolhidos terem sido indicados ao Emmy de 2023 como The Other Two, Jury Duty e Dead Ringers.

Os realities roubaram a cena em 2023, seja tratando de moda, esporte, namoro ou sobrevivência. Next In Fashion, Casamento às Cegas: Brasil, A Batalha dos 100 e RuPaul’s Drag Race são alguns dos nomes bastante citados. Spin-Offs também marcaram presença forte, como os derivados de Bridgerton e Hora de Aventura: Rainha Charlotte e Fionna & Cake.

A nossa seleção conta com os mais diversos gêneros, com séries para a família toda como o heroísmo de Minhas Aventuras com o Superman e outras um tanto quanto explícitas à la Sex Education. Para além do adeus à família Roy, Maravilhosa Sra. Maisel, Ted Lasso e Barry vão deixar saudade. Abaixo você confere a lista mais que especial das melhores séries de 2023, escolhidas a dedo pela nossa Editoria e colaboradores.

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Os Melhores Discos de 2023

Arte para o texto Os Melhores Discos de 2023. Nela vemos, da esquerda para a direita: Troye Sivan, um homem branco de cabelos loiros, Marina Sena, uma mulher branca de cabelos pretos, Lana Del Rey, uma mulher branca de penteado preto, Bad Bunny, um homem latino de cabelo raspado e Sabrina Carpenter, uma mulher branca de cabelos loiros. Todos estão em preto e branco. O fundo é rosa e centralizado em cores brancas está escrito "OS MELHORES DISCOS DE 2023". No canto superior direito, há o logo do Persona, um olho com o meio em roxo claro e um play no lugar da íris
No campo ou na cidade, do indie ao samba, a Música é onipresente (Arte: Henrique Marinhos/ Texto de abertura: Guilherme Veiga)

O ato de ouvir Música se tornou tão imprescindível que pode até ser confundido com uma banalidade. Banal não no sentido ruim, mas sim de algo tão essencial, que, por assumir uma parcela gigantesca de nossas vidas, à medida que cresce em escala, não consegue acompanhar o tamanho em definição. Chega um momento em que ele se torna apenas… ouvir Música. Para não cair nesse limbo chamado lugar comum, o Persona retorna com sua já tradicional lista de Melhores Discos.

Se 2023 nos reservou um retorno ao início do século graças à Saltburn e Todos Menos Você, aqui focamos essencialmente no que foi criado no ano que passou e, assim como os grandes players da indústria, deixamos o TikTok de lado para embarcar no ato arcaico de se ouvir um álbum de cabo a rabo. O resultado foram 93 produtos que embalaram e deram sentido para o ano.

Não podemos negar que foi o ano de Taylor Swift. Mesmo sem um trabalho de inéditas, o pomposo Speak Now (Taylor’s Version), o agora litorâneo na mesma medida que cosmopolita 1989 (Taylor’s Version) e os resquícios de insônia de Midnights – claro, aliados a gigantesca The Eras Tour – serviram para ecoar o sucesso estrondoso que ela calcou. Ainda na ditadura loira do pop, sua pupila Sabrina Carpenter apareceu para o mundo também com obras repaginadas: primeiro, enviando os anexos que esqueceu no corpo do e-mail e, no fim do ano, trazendo um pouco de malícia para o Natal.

Quem retornou de forma inédita foi a rival de Carpenter, Olivia Rodrigo. Após a acidez de SOUR, a artista volta a expor seus sentimentos de uma forma nada ortodoxa: arrancando suas entranhas. O sentimentalismo, dessa vez mais bonito, mas igualmente doloroso, está presente no alinhamento estelar das boygenius, ao mesmo tempo que Mitski declamava todo seu amor para as paredes de um galpão vazio.

Ao longo das 93 obras, temas conversam entre si, mas a homogeneidade é proibida. Troye Sivan e Pabllo Vittar querem festejar, mas enquanto um é a efervescência do durante, a outra é o desejo do pós. Os latinos KAROL G e Bad Bunny falam sobre o amanhã de formas diferentes: ela com esperança, ele com incerteza. Letrux abordava o reino animal e Ana Frango Elétrico se transmuta em feline. Marina Sena se viciava na selva de pedra enquanto Chappel Roan se assustava com os prédios. Jão quer ser cada vez mais superlativo, à medida que Post Malone se recolhe em suas origens. Metallica sente a passagem de tempo, diferente de Kylie Minogue, que nem o vê passar.

Tal cenário só é possível pois a Música e toda sua imensidão atuam como um espaço de diversidade e liberdade, no sentido mais amplo das palavras. E nada mais justo do que celebrá-las no ano de passagem da Padroeira da Liberdade. O Melhores Discos de 2023 é por Rita Lee, que é gente fina na Música e na eternidade.

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No Oscar do cachorro, ainda falta humanidade

Arte que faz menção a 96ª edição do Oscar. Nlea, vemos, da esquerda para a direita e recortados: Christopher Nolan, um homem branco de cabelos loiros e que veste smoking e camiseta branca; Da'vine Joy Randolph, uma mulher negra, de cabelos loiros e que veste um vestido azul claro; Messi, um border collie de pelos brancos e pretos e que veste uma gravata borboleta preta; Emma Stone, uma mulher branca de cabelos ruivos e que veste um vestido branco e colar prateado; Mahito e a Garça da animação O Menino e a Garça. Ryan Gosling, um homem branco de cabelos loiros que veste smoking, camisa e calça rosa e Cillian Murphy, um homem branco de cabelos pretos e olhos azuis que veste smoking preto, camisa branca e gravata preta. Ao fundo, a imagem é laranja com alguns detalhes em roxo. No canto direito, a logo de um olho na cor laranja e um play na cor preta e no canto superior esquerda os escritos "Persona faz" seguido por "Artigo Oscar 2024" logo abaixo.
A busca por identidade da premiação já demora (e incomoda) demais [Arte: Aryadne Xavier]
Guilherme Veiga

É a principal premiação da temporada, a mais popular, mais glamourosa, que mais dá o que falar e a mais emblemática. Com todos os holofotes voltados para meados de Março, é natural pensar que são essas as razões que fazem com que o Oscar seja a passagem de ciclo entre as temporadas de premiação. O pensamento faz total sentido, mas a própria indústria não o leva em consideração e ano após ano prova esse descaso.

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