Steven Universo: O Filme – tudo é culpa de Rose Quartz

 

(Foto: Reprodução)

Felipe Gualberto

Depois de um longo hiato de 224 dias (nada de anormal nesse desenho) os fãs de Steven Universo finalmente puderam assistir ao filme em 2 de Setembro de 2019. Nesse dia Rebecca Sugar e sua equipe concretizaram o projeto anunciado na SDCC de 2018. A história do longa se passa dois anos após os eventos de “Change your mind”, último episódio da quinta temporada, Steven agora está com 16 anos.

O filme é um musical com 15 músicas. Desde o início do desenho em 2013, os responsáveis por Steven Universe mostram que sabem utilizar músicas junto com a história, ajudando no desenvolvimento com muita delicadeza. Nesse filme essa tendência é mantida. 

Dentre os grandes nomes que se apresentam estão as atrizes Christine Ebersole, Lisa Hannigan e Patti LuPone.  Conhecidas por apresentarem na Broadway, as mesmas não receberam o mesmo destaque no filme.

Christine Ebersole, Lisa Hannigan e Patti LuPone interpretam as Diamantes, as grandes autoridades que comandam o Planeta Natal (Foto: Reprodução)

Apesar da divulgação do trailer e de artes oficiais, pouco se sabia sobre enredo do filme antes do lançamento, apenas que uma nova vilã seria apresentada. Essa nova antagonista é sem dúvida um dos maiores pontos positivos da animação, assim como todo o simbolismo que ela carrega.

O primeiro teaser do filme ainda muito enigmático apenas apresentava a silhueta da misteriosa vilã

Spinel chama a atenção logo que aparece devido seu design diferenciado. Enquanto todos os personagens que já conhecemos de Steven Universe são Calarts Style, a estética mais difundida atualmente na animação ocidental, Spinel é Max Fleischer, um estilo antigo e típico dos clássicos da década de 30. 

“Calarts” é uma referência ao estilo de animação com olhos e sorriso exagerados e rosto em formato característico. Max Fleisher foi o responsável por alguns famosos personagens como Popeye e Betty Boop, com traços bem diferentes. (Foto: Reprodução)

E os contrastes não param por aí, toda a animação de Spinel é muito bem feita e até de uma qualidade superior a média dos episódios de Steven Universe. No geral a animação costuma a apresentar os personagens com um traço extremamente inconstante e que apresenta muitas falhas.

Foi tomado um cuidado excepcional com a vilã, desde os lindos ângulos de seus movimentos até a quantidade de frames de sua animação, mas por que essa decisão? E como isso dialoga com seu conceito?


Repare como os movimentos da personagem remetem a clássicos dos anos 30 como Mickey Mouse

A narrativa apresenta Spinel como uma gem (raça de aliens a qual Steven também pertence) que ela foi deixada isolada em um jardim por 6000 anos. Por isso enquanto sua sociedade se modernizava ela continuou estagnada e manteve seu estilo.

Isso é representado na forma da vilã, diferente de todos, um desenho de estilo obsoleto. Rebecca Sugar ainda continua com o exercício metalinguístico: os desenhos da década de 30 não costumavam a ter narrativas complexas, eram episódios isolados com o objetivo de divertir e entreter as pessoas com gracinhas e movimentos bonitinhos, justamente o motivo pelo qual Spinel foi criada.

O propósito de Spinel era ser a melhor amiga de Pink Diamond, a mais jovem das membras da Autoridade Diamante. Quando Pink ganha a sua primeira colônia é o momento para que ela cresça e deixe de fora as brincadeiras, sendo assim a mesma acaba abandonando Spinel em uma das cenas mais tristes do filme.

As músicas da Spinel são um show a parte, em sua dublagem Sarah Stiles consegue transmitir ao telespectador todo o ódio e tristeza que a personagem enfrenta. “Other friends” é ao mesmo tempo engraçada e sinistra mostrando toda a amargura da vilã. O telespectador consegue captar tudo isso enquanto Spinel dança como se quisesse esmagar o Steven com as próprias mãos e segurasse seu ódio.

Steven Universe é um desenho famoso por conversar com crianças sobre temas relacionados a comunidade LGBT com metáforas sofisticadas, ao longo desses 5 anos Rebecca Sugar já falou sobre relacionamentos homoafetivos, homofobia, consentimento, relacionamentos abusivos, transfobia e até mesmo estupro. 

O que a produção do desenho faz nesse filme não é diferente, Pink Diamond ainda muito jovem e sem responsabilidade emocional abandona Spinel, que era dependente da Pink. Ao ser abandonada Spinel se tornou amargurada e deseja ferir quem lhe fez mal.

A vilã encontra redenção percebendo que mesmo com a ajuda de outros cabe a ela mesma mudar a maneira como se sente. Ao final do filme Spinel pula de cabeça em outra relação em que ambas as partes buscam se sentir completas. “Mas espera aí Rebecca, isso não é ruim?” O longa aqui se apressa na conclusão e acaba sacrificando o mais importante, seu desenvolvimento.

Spinel ao chegar na Terra usa uma arma especial que reinicia os protagonistas. Sendo assim o filme se concentra em repetir todo o desenvolvimento que já conhecemos para que as personagens se lembrem de quem são.

Isso com certeza causa uma nostalgia e agrada os fãs, já que todos podem acompanhar novamente as emoções pelas quais passaram durante a série, mas esse artifício é simplista e apela para emoções fáceis. O roteiro também peca pelo abuso de plot convenience, não explicando onde a vilã conseguiu em tão pouco tempo encontrar armas tão poderosas e tantas informações sobre a vida de Steven, do qual ela não sabia nada.

Talvez se a narrativa do filme ganhasse uma temporada inteira poderíamos saber mais sobre onde Spinel conseguiu todos seus equipamentos (Foto: Reprodução)

 

Por último vale ressaltar a maneira como Pink Diamond é retratada, se cristalizando como a real vilã da série. Mas a verdade é que a personagem já passou pela sua redenção se transformando em Rose Quartz, e depois dando a vida para Steven. Sim, ela errou, assim como muitos em Steven Universe. O desenho é sobre sempre poder encontrar amor e ser amado, independente do que aconteceu, mas os roteiristas parecem não incentivar isso com Pink.

O filme, assim como as últimas temporadas, tem uma qualidade inferior a primeira e a segunda, mas não é completamente decepcionante. O desenvolvimento é apressado e tende para uma solução rápida dos problemas, não proporcionando um bom desenvolvimento de personagens ainda não explorados.

A série, além de enfrentar esse problema de roteiros acelerados, passa por hiatos com mais de 100 dias no meio de uma temporada, assim como o fatos dos episódios saírem antes no aplicativo do Cartoon não ajudam a gerar audiência no canal. Caminhando para sua última temporada em um ambiente totalmente diferente o programa promete inovações e tem muito potencial, cabe ver se esse será utilizado.

 

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