Gabrielli Natividade da Silva
Round 6, a nova série original da Netflix, foi lançada no dia 17 de setembro e já conta com uma legião de fãs e recordes de audiência. A história narra como 456 pessoas afundadas em dívidas aceitaram participar de uma sequência de seis jogos, onde o vitorioso levaria um prêmio bilionário e os perdedores morreriam. Claro, jogos de sobrevivência não são novidade – alguns sucessos como Jogos Vorazes, Jogos Mortais e Escape Room já retrataram isso antes –, contudo as semelhanças param por aí. Squid Game tem um roteiro muito original, que oferece não só ação como um conceito e uma crítica muito importantes por trás de tudo, além de uma estética nova que mistura um pouco da realidade com elementos surreais.
Por trás das câmeras de Round 6, o grande responsável pela fama da série é o diretor e roteirista Hwang Dong-Hyuk, o qual também se mostrou surpreso com o grande alcance de seu mais novo projeto. O criador revelou em entrevistas que seu roteiro estava pronto desde 2009 e que foi rejeitado várias vezes por ser “esquisito” demais. A teoria de Hwang é que as condições de desigualdade atuais facilitaram a popularização da série, já que ela passou a ser uma boa representação da vida real. Levando em conta todas as crises econômicas e sociais vistas em grande parte do mundo, todas particularmente relacionadas com os problemas causados pelo capitalismo, o diretor está provavelmente certo.
456 pessoas foram selecionadas para participar desses jogos sanguinários e, obviamente, apenas alguns tiveram suas vidas fora deles retratadas, levando os espectadores a uma outra perspectiva. Fica nítido que não há “mocinhos” em Squid Game, o que são apresentados são anti-heróis – todos os personagens do elenco principal têm vidas miseráveis que os levaram a escolhas que desafiam os limites de moral e ética, tanto dentro quanto fora do jogo. Esse fator é a chave para trazer os personagens para a realidade, tornando eles nada mais que humanos em situações desesperadoras, causando uma relação de amor e ódio e uma possível identificação em quem assiste a série.
Falando um pouco sobre os jogos em si, vale mencionar que é muito bonito ver como a cultura sul coreana foi explorada ao máximo nos jogos infantis tradicionais que passaram a ser reconhecidos e reproduzidos ao redor do mundo, especialmente no Ocidente, que tem um contato tão mínimo com a Coreia do Sul e outros países da Ásia. A ideia de serem brincadeiras de crianças realmente torna tudo mais interessante, já que é um contraste gigantesco com todo o sangue derramado durante os desafios; o resultado foi uma grande tensão e o tão desejado fator do inesperado em todos os episódios, principalmente durante o agora tão famoso “Batatinha Frita 1, 2, 3”.
Claro, se for para falar de Round 6, não dá para deixar de fora a atuação impecável que a série apresenta. São incontáveis personalidades diferentes, todas muito bem desenvolvidas e todas com o seu sentido próprio. Em destaque estão Gong Yoo (uma das maiores estrelas da Coreia do Sul), que teve uma participação curta e, mesmo assim, conquistou a todos com seu personagem misterioso; e a atriz iniciante Jung Ho-Yeon, a mulher que nunca havia recebido um papel realmente importante antes – tendo atuado apenas como modelo -, mas rapidamente se tornou a queridinha do público por ter tornado sua personagem, Kang Sae-byeok, tão interessante e intrigante. A Netflix, como sempre, acertou em cheio na escalação de elenco.
Pois bem, Squid Game não se tornou um fenômeno global à toa. A série é realmente especial e continua o legado do vencedor do Oscar, Parasita, em trazer ao público a cultura sul coreana e seus problemas. Com um sucesso absurdo e o final incerto de Round 6, os fãs especulam e clamam por uma segunda temporada, mas isso ainda é uma ideia crua para Hwang Dong-Hyuk, e, por enquanto, só é possível se deliciar com os 9 capítulos cheios de drama, caos e emoção.