Larissa Vieira
Rotina é algo que parece muito particular e que influencia somente no nosso dia a dia mas, é a partir dela que construímos os ciclos de nossas vidas; escola, faculdade, emprego, aposentadoria, etc. E são os nossos, únicos e particulares, estágios de vida que arquitetam o que chamamos de sociedade. A grande e tremenda máquina chamada sociedade.
Ela que carrega muito significado quando analisamos somente ela e sua grandiosidade, mas esquecemos de considerar que são nossas pequenas e ‘bobas’ rotinas que edificam, pedra por pedra, esse dispositivo sociedade. Tal invenção que seria perfeita em seu funcionamento se fosse linear, como uma esteira de produção, de igual para igual. Porém, ao longo dos séculos, esse maquinário foi se transformando de tamanha maneira que se tornou uma pirâmide, totalmente desigual e desproporcional entre seus trabalhadores que a constroem diariamente.
É essa construção da sociedade não linear e completamente desigual que Opera mostra. Em seus 8 minutos de tela, o indicado ao Oscar 2021 de Melhor Curta-Metragem de Animação evidencia cada particular rotina diária que edifica a nossa grande máquina.
O filme é ambíguo em seu nome, já que além de ser uma grande operação do maquinário, por isso o título Opera, ele ainda mostra os movimentos particulares de cada espaço quase como uma grande noite de ópera, em que uma nota de uma flauta pode fazer toda a diferença na música final. Essa ideia faz com que você analise cada pequena rotina da grande pirâmide de uma forma, de modo que consiga imaginar seu som e como ela afetou, seja da menor maneira, o topo ou a base da sociedade.
Também por isso, em alguns momentos, o curta-metragem parece confuso e a sensação é de que o tempo corre rápido demais, por que é quase impossível acompanhar cada pequeno quadradinho, com sua rotina particular e como ele está afetando o andar de cima ou aquele que está embaixo dele. Além disso, a animação é dividida a partir de um zoom e uma redução na pirâmide, o que cria no espectador um anseio por estar descobrindo ou perdendo alguma das partes da pirâmide.
O diretor coreano Erick Oh, conhecido por trabalhar na Pixar em Procurando Dory, Divertidamente, Universidade Monstros e Valente, criou a animação norte-americana a partir do caos político que a Coreia e os Estados Unidos viveram no início de 2017. Ele trouxe a tela cada singela parte que movimentam diariamente a máquina, em um parâmetro mundial. Além disso, o filmmaker conseguiu representar a manipulação de cada ponta dessa pirâmide em todo o sistema, mostrando que, independente da nossa pequena e importante parte estar sendo feita, as pontas são na verdade grandes manipuladores que fazem a sociedade funcionar.
Opera é inteligente em todos seus 8 minutos por não só mostrar a sociedade como um uma única máquina movimentada por, ninguém menos que nós e nossas pequenas e singulares rotinas, mas por evidenciar para nós as grandes “pontas” manipuladoras e todo seu impacto no funcionamento do sistema, independente de nossas ações diárias.
Portanto, em meio a várias histórias particulares e pessoais dos indicados ao Melhor Curta-Metragem de Animação do Oscar 2021, como Se Algo Acontecer…Te Amo e Toca, Opera se destaca já que carrega em si cada um de nós e nossos singelos costumes do dia a dia, que mesmo assim, impactam a máquina que chamamos de sociedade.