Vinícius Rodrigues
Shh… Silêncio! Adele começou a cantar e o mundo inteiro está afim de ouvir. Exibido em novembro de 2021, no canal estadunidense CBS, e transmitido simultaneamente no Paramount+, Adele One Night Only contou com a interpretação de clássicos da cantora londrina e canções inéditas de seu quarto álbum de estúdio, 30. A apresentação musical ocorreu em outubro do mesmo ano, no Observatório Griffith, localizado em Los Angeles. Ao mesmo tempo, uma entrevista conduzida por Oprah Winfrey abriu as cortinas para o que seria o show de Adele.
O lançamento da obra aconteceu na sexta-feira após o especial, em 19 de novembro, e contou com a produção de artistas como Greg Kurstin, Inflo, Max Martin, Shellback, Ludwig Göransson e Tobias Jesso Jr. Não muito diferente dos álbuns anteriores, a cantora transforma as dores e desgostos do seu coração partido em um disco de busca, gracioso e incrivelmente comovente. Porém, desta vez, Adele parece querer mostrar mais de si mesma, estar por completo dentro de cada palavra que canta.
O programa atraiu 10,33 milhões de espectadores e foi o especial de televisão mais assistido desde o Oscar, em abril de 2021. Não é à toa que o show foi indicado em 5 categorias do Emmy Awards 2022, sendo elas: Melhor Direção em Especial de Variedades; Melhor Design de Iluminação/Direção de Iluminação em Especial de Variedades; Melhor Mixagem de Som em Série ou Especial de Variedades; Melhor Técnica de Direção Trabalho de Câmera e Controle de Vídeo em Especial e Melhor Especial de Variedades (Pré-Gravado).
Nessa última, inclusive, Adele concorre com grandes nomes da cultura mundial. One Last Time: An Evening With Tony Bennett & Lady Gaga parece ter ganho o apreço do público e trouxe de volta o nome de Lady Gaga para o cenário musical, além de proporcionar faixas extraordinárias e reunir duas lendas do pop estadunidense. Todavia, nem mesmo esse encontro formidável parece ser um fator decisivo que nos faça apostar em sua vitória.
Já o especial de 20 anos do mundo mágico de Harry Potter, outro dos concorrentes de One Night Only, conseguiu saciar a fome que os fãs da saga guardavam por todos esses anos, conquistando boas críticas. Harry Potter — 20 anos de Magia: De Volta a Hogwarts uniu grande parte das estrelas dos 8 filmes, tornando a experiência dos potterheads ainda mais mágica. Será bem difícil para Adele competir com os fãs do bruxinho mais popular do mundo.
A entrevista revisitou as histórias por trás das novas canções, da vida após o divórcio do seu ex-marido, Simon Konecki, a perda de peso e a criação de seu filho Angelo. O impressionante é que, em meio a um jardim de rosas impecáveis, Oprah conseguiu estabelecer uma conexão entre os telespectadores e Adele de forma íntima e sincera, como se fossemos não só seus fãs, mas amigos de longa data. “Ela é tão real e tão realista quanto todos nós acreditamos que ela é”, confessou a apresentadora.
Nem mesmo o fato de que o Observatório Griffith estava lotado de celebridades na noite em que o especial foi gravado conseguiu romper com essa relação. Em uma tentativa de desfazer essa noção, Adele declarou que queria se “sentir segura em meu primeiro pequeno regresso”, depois de apresentar sua primeira canção da noite, Hello. “Então, eu queria fazer uma mistura de pessoas que eu conheço e amo, pessoas que conheci algumas vezes, e algumas de vocês que não conheço de jeito nenhum. Mas, oi”.
Inclusive, é um jogo divertido tentar descobrir quem ali presente se encaixava em qual categoria. Leonardo DiCaprio, que aplaudiu de pé com um boné de beisebol e um capuz, seria alguém que ela já conheceu algumas vezes? Lizzo, vestindo um poncho-coat, aparentemente feito inteiramente de flores, é também alguém que ela está familiarizada? Ou, possivelmente, alguém que ela conhece e ama? Gordon Ramsay? Ellen DeGeneres? Jesse Tyler Ferguson? Olha, eu não sei, mas adoraria descobrir.
Ok, Adele já provou ser uma vocalista de enorme poder e uma escritora cujas canções soam como desgostos pessoais, isso não podemos negar. Entretanto, o que nos ganha em Adele One Night Only é que Adele sempre pareceu do mais alto glamour, mas nunca deixou de ser humilde. Dicotomia essa que aprofundou o amor do público por ela. É difícil não se romper em lágrimas quando, de surpresa, todos descobrimos que um simples rapaz, Quentin, iria pedir sua namorada, Ashley, em casamento ao vivo. Ali, de frente ao palco, ao som da sagrada Make You Feel My Love.
Durante grande parte do concerto e de sua conversa com Winfrey, a cantora britânica parecia estar consciente de si mesma, discutindo tudo desde seu divórcio. Em meio às brincadeiras, ela não soou diferente da Adele que conhecemos ou pensamos ter conhecido. Chega a ser engraçado ver como ela se relaciona com os convidados, o que faz esquecer que são todos famosos — mais uma vez, seria Aaron Paul alguém que Adele conhece e ama ou alguém que ela já encontrou algumas vezes?
A questão é que não é difícil se sentir emocionado por suas atuações sinceras. Sua voz é como uma memória e um gatilho emocional, um copo robusto de chocolate quente que aquece suas entranhas no final do outono, e isso parece absolutamente certo, porque é aí que seu calor é mais necessário. Mas como alegria de pobre dura pouco, Adkins nos prepara para o final de sua ‘Única Noite’, em tradução livre, e nos entrega o máximo de si em uma performance de Love Is a Game, finalizando em meio a transições do anoitecer de Los Angeles.
Por fim, era de se esperar que quando juntássemos Adele e Oprah em um só espaço, o resultado seria estrondoso. E muitas são as palavras que podem representar o que foi Adele One Night Only. Até mesmo a perfeição fica longe de definir os noventa minutos que ficarão para sempre na memória dos fãs e convidados presentes. Não sei bem o que acontece depois do apagar dos holofotes, mas uma coisa é certa: os céus abençoaram Adele e todos ali presentes.