O Filho de Mil Homens: uma prosa lírica dos afetos humanos

“Os seus olhos tinham um precipício. E ele estava quase a cair olhos adentro, no precipício infinito escavado para dentro de si mesmo. Um menino carregado de ausências e silêncios.”

Edição publicada pela Editora Biblioteca Azul, com ilustrações do Bloco Gráfico (Foto: Reprodução)

Vanessa Marques

O luso-angolano Valter Hugo Mãe é um dos romancistas mais prestigiados da atualidade. José Saramago, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, referiu-se ao autor como um tsunami linguístico. De fato, a escrita de Mãe explora com maestria toda a potencialidade e beleza da língua portuguesa. O Filho de Mil Homens, publicado em 2011, é uma prosa poética dividida em vinte contos que se entrelaçam numa história comum. O enredo perpassa numa vila litorânea fictícia, de modo que o romance emana um tom enlevo de locus amoenus (do latim: “lugar ameno”). Nela, o pescador Crisóstomo, a enjeitada Isaura, o órfão Camilo e o delicado Antonino engatam suas trajetórias pessoais com lirismo e introspecção.

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Lady Gaga debate saúde mental através de um sonho conceitual em 911

Gaga começa o curta no meio do deserto cercada por romãs (Foto: Interscope Records)

Gabriel Gatti

Não falta conceito para a era Chromatica e para Lady Gaga. Lançada em fevereiro de 2020, a primeira faixa divulgada do novo álbum da cantora foi Stupid Love, na qual os fãs foram convidados a entrarem em um mundo criado pela Mother Monster. O clipe, entretanto, falhou na hora de entregar a ideia. O excesso de chroma key e os looks toscos comprometeram o conteúdo do vídeo. Com Rain On Me não foi muito diferente: a parceria com Ariana Grande resultou em um hit aclamado pelos fãs, porém deixou a desejar ao focar demasiadamente na coreografia e não pensar na construção de uma narrativa. No entanto, o mesmo erro não ocorreu no curta-metragem de 911. Dirigido por Tarsem Singh (Dublê de Anjo, 2006), o vídeo traz história, figurinos bem produzidos e muito conceito.

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Cobra Kai revive o passado com um clichê inovador

Agora sob a perspectiva de Johnny Lawrence, antagonista de Karatê Kid – A Hora da Verdade, Cobra Kai é lançada com o intuito de colocar um ponto final em uma rixa que perdura mais de trinta anos (Foto: Reprodução)

Gabriel Gomes Santana

Originalmente lançada pelo YouTube, Cobra Kai traz novamente as atuações de Ralph Maccio e William Zabka revivendo os clássicos papéis de Daniel Larusso e Johnny Lawrence, respectivamente. No entanto a empresa decidiu não continuar com produções que sejam originais e roteirizadas. Devido às interrupções das gravações, a Netflix viu uma possibilidade de compra dos direitos da produção, passando a  disponibilizar a série e financiar sua terceira temporada, que será lançada em 2021.

Com um enredo nostálgico e igualmente irreverente, o seriado colocará o espectador mais fiel ao primeiro filme em contato com novas abordagens sobre uma rivalidade que dura 34 anos. Da mesma maneira, a condução dos episódios proporcionará ao público mais jovem a possibilidade de aprender com um clássico dos anos 1980 através de duas temporadas nada convencionais. Em outras palavras, a trama nada mais é do que um “clichê inovador”.

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O papel inovador de Skam na indústria do entretenimento

(Foto: Reprodução)

Ana Clara Moreira

Após cinco anos desde seu lançamento, Skam deixa seu legado inovando não só a cultura do entretenimento para jovens, mas também propondo reflexões acerca da vida e experiências sociais. Inicialmente, quando comparada a famosa série Skins, Skam surpreendeu seus espectadores logo de início, pois trata-se muito mais do que só um drama adolescente qualquer. Ela fala sobre temas muito discutido atualmente, como ansiedade, depressão, sexualidade, estupro, religião, feminismo, uso de drogas, racismo, crimes virtuais, imigração, explorando muito bem cada um deles

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Mulan mostra que a diversidade também deve estar atrás das câmeras

Por causa da pandemia de Covid-19, o filme foi lançado diretamente na plataforma de streaming Disney+ por US$ 29,99, cerca de R$ 160 reais (Foto: Reprodução)

Ellen Sayuri

Com tantos filmes live-actions sendo produzidos, finalmente chegou a vez de Mulan. Claro que essas produções sempre estão sujeitas a dar certo, como A Bela e a Fera e a dar errado, como O Rei Leão. Afinal, dependendo da animação, é impossível trazer alguns elementos para o mundo real sem parecer estranho. Sem contar que as expectativas sempre são altas, porque o público espera uma adaptação fiel ao material original. Nesse caso, podemos incluir filmes que se originaram de livros também. Bem, se você espera que Mulan seja igual a animação de 1998, pode se decepcionar. 

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Cool Tape Vol. 3: Jaden Smith já é um artista completo

A arte da capa foi inspirada em Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, álbum de 1967 dos Beatles (Foto: Reprodução)

Giovana Guarizo 

Pense em uma praia deserta. É fim de tarde e você está com os pés na areia, ouve o barulho do mar, sente a brisa do vento bater no rosto e, quando percebe, está totalmente imerso em uma calmaria. É essa a sensação de ouvir Cool Tape Vol. 3 (CTV3), o novo álbum de Jaden Smith. Com vocais totalmente encantadores, o cantor inovou e entregou um trabalho leve, calmo e que, assim como na foto de capa, floresce uma sensação incrível em quem o escuta. 

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Boa Noite Punpun Vol.1 e a Jornada de um Pássaro Infeliz

A capa amarela do primeiro volume, publicado pela JBC aqui no Brasil (Foto: Reprodução)

Flora Vieira

Boa Noite Punpun, escrito pelo mangaká Inio Asano, foi meu retorno aos mangás físicos, e liberou um gosto que até pouco tempo estava enterrado em mim — o de ler gibis. Dessa vez, um com uma história adulta e temas complexos e profundos, do gênero Slice Of Life , que também descobri ser um dos meus gêneros favoritos. O Volume Um acompanha Punpun Punyama, que, com onze anos, vive o começo de uma adolescência conturbada e solitária.

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25 anos de Seven: senhoras e senhores, temos um homicídio

A grandiosa dupla do filme: Pitt e Freeman (Foto: Reprodução)

Vitor Tenca

A crença de que a Terra era quadrada caminhava lado a lado com a ciência em épocas passadas e, junto consigo, diversas teorias do que existia do outro lado eclodiram. Quem criou uma passagem um tanto quanto maluca foi Dante Alighieri em seu livro A Divina Comédia, que se baseava na ideia de que o inferno possuía níveis para cada pecado capital. Mas não é apenas nesse período que sua obra é utilizada como fonte de inspiração. Em Se7en – Os Sete Crimes Capitais, David Fincher esculpe seu antagonista mais diabólico para contrastar com seu caráter messiânico, quase saído do Purgatório.

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Quase Uma Rockstar veio para preencher nossos corações com esperança e empatia

Amber (Auli’i Cravalho) e seus amigos (Foto: Reprodução)

Mauê Salina Duarte

Quase Uma Rockstar chegou a Netflix no finalzinho de agosto, e já está fazendo barulho na plataforma de streaming. O filme é baseado no livro All Together Now, escrito por Matthew Quick, o mesmo autor de O Lado Bom da Vida. O longa tem direção de Brett Haley, diretor de Por Lugares incríveis. A mais nova produção cinematográfica tem estilo adolescente mas, não pense que se trata de romance platônico, líderes de torcida ou qualquer outro clichê do cinema americano teen. Aqui a história é outra: a adaptação de Quase Uma Rockstar mistura drama e amadurecimento, com doses de humor e romance.

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Eduardo Taddeo é cada vez mais vivo e necessário em meio ao caos político-social

Na pele, já é marcado: “Caminhando no Vale das Lágrimas” (Foto: Reprodução)

Matheus Braga

“Cada RG no gueto tem uma marca de terror/O sobrenome herdado do escravizador/Nosso gene prova o pior crime de todos os tempos/Quando a escrava era estuprada pelo senhor de engenho” ; “Você só vai ter democracia representativa/Quando a política for dominada pela periferia/Até lá, vai continuar sendo massacrado”. É assim que canta Eduardo Taddeo em  uma das 29 faixas  de seu novo álbum Necrotério dos Vivos, lançado no dia 11 de março de 2020.

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