Em As Veias do Mundo, a resistência vem da terra

A “árvore da vida”, que marca o filme presente na 44º Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos

“Até hoje, um quinto da Mongólia foi delimitado para a mineração. 391 lagos, 344 rios e 760 nascentes secaram e muitos estão envenenados pela mais ativa indústria de mineração do mundo”. É com essa declaração que Byambasuren Davaa decide por encerrar seu novo filme, As Veias do Mundo, exibido na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Integrante da Perspectiva Internacional, o longa mongol-alemão é uma ode à resistência das populações nativas contra a tomada de suas terras. 

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Luz Acesa e a ilusão do vício

Transmutação, diz Zé Henrique, no filme que faz parte da 44ª Mostra de SP (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos

A luta contra a dependência está longe de ser uma caminhada tranquila. De acordo com o levantamento de 2013 feito pela Universidade Federal de São Paulo, Unifesp, mais de 8 milhões de brasileiros são dependentes de drogas como o álcool, a cocaína e derivados. Luz Acesa, documentário do cineasta Guilherme Coelho, seleciona 5 dessas pessoas para coletar relatos sensíveis e acolhedores sobre o vício e sua recuperação – o começo, o fundo do poço, a busca por ajuda e o apoio da família. 

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Bom dia, Verônica: sangue se paga com sangue

Depois do sucesso de Bom dia, Verônica, Tainá Müller fará mais duas séries policiais (Foto: Reprodução)

Caroline Campos

Feminicídio, necrofilia, violência doméstica e golpes virtuais. É essa série de crimes que Ilana Casoy e Raphael Montes escolhem para desenvolver o mundo do sistema penal de Verônica Torres, escrivã na Delegacia de Homicídios da cidade de São Paulo. Bom dia, Verônica, o resultado final, foi lançado pela Darkside Books em 2016, quando seus autores ainda se escondiam sob o pseudônimo de Andrea Killmore. Identidades reveladas, não demorou muito para conseguirmos uma adaptação – e ela chegou em outubro de 2020, pelas mãos da Netflix.

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Extremismo e populismo andam juntos no segundo ano de The Boys

Nossos “mocinhos” do jeito que os conhecemos: sujos de sangue da cabeça aos pés (Foto: Reprodução)

Caroline Campos

Em Esquadrão Suicida (2016), Dexter Tolliver questiona o que aconteceria se o Superman resolvesse arrancar o teto da Casa Branca e levar o presidente embora. Até então, conhecendo o Homem de Aço, nós sabemos que é um cenário pouco provável, afinal, ele sempre esteve do nosso lado. Mas e se não estivesse? Como seria viver em um mundo com uma criatura tão poderosa e tão descontrolada ao mesmo tempo? A segunda temporada de The Boys, série da Amazon Prime Video, conseguiu nos dar doses cavalares dessa sensação assustadora ao amadurecer ainda mais o Capitão Pátria, uma versão insana e desequilibrada do último filho de Krypton.

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Um pouco mais de Amor e Sorte vai bem em 2020

Gilda e Lúcia, mãe e filha quarentenadas (Foto: Reprodução)

Caroline Campos

2020 definitivamente não foi um ano fácil para o audiovisual brasileiro. Pela primeira vez em mais de 50 anos, as gravações das novelas da Rede Globo foram interrompidas, o que levou a emissora a reprisar obras já conhecidas pelo público. Mesmo com a retomada das gravações no último mês de agosto, só saberemos o desfecho dessas histórias em 2021 – Lurdes está mais perto de encontrar Domênico do que nós estamos da vacina. E é nesse contexto que surge Amor e Sorte, minissérie filmada de maneira 100% remota com atores e atrizes que dividem esse período de pandemia.

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30 anos de Os Bons Companheiros: amigos, amigos, negócios à parte

As criaturas e seu criador: o elenco de Os Bons Companheiros acompanhado de Martin Scorsese (Foto: Reprodução)

Caroline Campos

“Desde que consigo me lembrar, eu sempre quis ser um gângster. Para mim, ser um gângster era melhor do que ser Presidente dos Estados Unidos”. É com essa frase que Martin Scorsese, um dos diretores mais incansáveis em atividade, decide nos apresentar a Henry Hill, seu protagonista de quiçá o maior filme sobre máfia já produzido: Os Bons Companheiros. Baseado em verdadeiros mafiosos, a obra, que completa 30 anos em 2020, integra a vasta e variada filmografia do diretor nova-iorquino, que abrange desde filmes sobre boxe até documentários de grandes estrelas do rock. Continue lendo “30 anos de Os Bons Companheiros: amigos, amigos, negócios à parte”

RESUMÃO: Séries indicadas ao Emmy 2020

A pandemia de coronavírus, que paralisou gravações e embaralhou a janela de lançamentos no cinema, não foi páreo para o Emmy 2020. A 72ª edição da cerimônia que premia o melhor do ‘horário nobre’ da TV vai acontecer virtualmente. Com apresentação de Jimmy Kimmel, os atores, atrizes, diretores e roteiristas participarão da festa à distância, dando seus discursos e agradecimentos do conforto de casa.

Num ano tão conturbado política e socialmente, com as pessoas presas no isolamento social, a TV foi mais importante que nunca. Além, é claro, de entreter sua audiência, as produções que disputam a estatueta dourada têm muito a dizer. E, enquanto o Oscar estipula regras e diretrizes para a inclusão de diversidade, o Emmy 2020 estabeleceu um recorde de artistas negros indicados. Fator que reafirma a maior receptibilidade da TV para com histórias ímpares e das ditas minorias. Tudo está longe do ideal, nem precisamos dizer, mas o futuro parece promissor.

É interessante de sublinhar que a cerimônia do Emmy que acontece no domingo, 20 de setembro, representa apenas uma parcela dos prêmios entregues. Existe, também, o chamado Emmy Criativo (Creative Arts Emmys), que dá atenção às categorias técnicas, como figurino, direção de arte e direção de elenco. Excepcionalmente, por conta da pandemia, o Creative Arts aconteceu ao longo da semana, e os indicados todos gravaram com antecedência discursos de agradecimento. Num ano comum e livre do coronavírus, a premiação secundária acontece na semana anterior à principal, mas não é televisionada. Além das técnicas, o Creative premia as categorias de Atuação Convidadas.

 

A Editoria do Persona se reuniu para criar essa postagem especial e inédita, reunindo numa lista o resumo das principais indicadas da noite. Contando com informações suculentas das séries, minisséries e telefilmes, mas com a qualidade clássica do site. Aliás, as obras com textos individuais estão assinaladas com os devidos links.

Agora só nos resta esperar a cerimônia começar e, enquanto isso, relembrar tudo do Emmy 2020 junto com o Persona.

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A força do luto é o que mais assusta em The Outsider

A figura do vilão em The Outsider é sempre uma sombra, escondida e guardada a sete chaves (Foto: Reprodução)

Caroline Campos

A morte caminha lado a lado com a vida desde que o mundo é mundo. É a única e mais misteriosa certeza da existência humana. Se há morte, há luto – quanto mais amado o falecido, mais dolorosa sua partida. No entanto, o luto se torna um grande banquete na nova série da HBO, The Outsider, sendo saboreado em cada momento de fúria exorbitante ou tristeza contida em seus dez episódios. Baseada na obra homônima de 2018 do mestre Stephen King, a série rodeia o sentimento de perda e suas consequências, impulsionada pelo caráter sobrenatural já conhecido das obras do Rei do Terror.

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HEX triunfa sobre a atemporalidade do ser humano

A vertiginosa capa de HEX, em tons de verde neon, preto e branco (Foto: Reprodução)

Caroline Campos

“Isto é o quanto basta para as pessoas
mergulharem na insanidade: uma noite a sós
consigo mesmas e o que mais temem.”

Desde que o primeiro homem condenou a primeira mulher por bruxaria, as bruxas são personagens constantes nas histórias de terror e seus mitos apavoram crianças há gerações. As mulheres condenadas por serem, supostamente, seguidoras de Satã e assassinas de bebês eram queimadas, afogadas ou enforcadas ao som de aplausos e vivas, mas juravam vingança a seus inquisidores enquanto suas almas deixavam o corpo já apodrecido. Mais recentemente, a História nos mostrou que as verdadeiras bruxas não eram tão más assim, mas o estigma continua a existir.

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O Vilarejo e o que fazemos com histórias malignas

Ilustração da capa – O “pequeno amontoado de casas esquecidas pelo mundo” em tons de vermelho sangue (Foto: Suma)

 “O caráter do homem é o seu demônio”

-Heráclito

Caroline Campos

Algumas histórias são malditas. Elas carregam a perversidade e a podridão humana em suas palavras e nos deixam diante de um impasse: será que vale a pena eternizar tanta maldade? Logo no prefácio de O Vilarejo, Raphael Montes, autor da obra publicada em 2015 pela Editora Suma, toma a sua decisão. E ela não poderia ter sido mais certeira.

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