Os 45 anos de Cría Cuervos perpetuam uma narrativa melancólica, psicológica e política

A imagem apresenta Ana Torrent, uma criança branca, de cabelos castanhos, lisos e curtos, usando um casaco vermelho. Um pouco atrás, mais para a esquerda da foto está Geraldine Chaplin, uma mulher branca, de cabelos castanhos, lisos, na altura dos ombros, que usa uma vestimenta verde. A expressão de ambas é neutra e o fundo exibe uma parede cinza.
Carlos Saura mistura o passado e o presente da personagem Ana em Cría Cuervos (Foto: Elías Querejeta Producciones Cinematográficas S.L.)

Gabriel Gatti

O corvo é uma ave comumente apresentada como algo negativo. Na Espanha, por exemplo, a frase “cría cuervos y te sacarán los ojos”, utilizada para designar ingratidão, é muito conhecida. Nesse raciocínio, o diretor Carlos Saura faz alusão ao dito popular em Cría Cuervos, que conta a história de três irmãs criadas pela tia após o falecimento dos pais. O longa, de 1976, foi lançado no período da redemocratização espanhola, após 36 anos sob domínio da Ditadura Franquista. Esse contexto histórico serviu de inspiração para Saura na produção do filme. 

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10 anos de Super 8: uma extraordinária homenagem aos filmes de ficção científica dos anos 70

Fotografia do filme Super 8. Nela estão retratados os personagens principais, seis pré-adolescentes, que ocupam toda a foto. É noite. Eles estão ao ar livre e são iluminados por uma fraca luz alaranjada, vinda de trás da câmera. Em contraste, há uma luz azulada que vem do fundo. Da esquerda para a direita: Preston é interpretado por Zach Mills, que é um garoto branco de cabelos pretos. Ao seu lado está Martin, interpretado por Gabriel Basso, um menino branco, ruivo e alto. Ele usa óculos escuros e um chapéu de época. Em sequência está Alice, personagem da Elle Fanning, que é uma garota branca e loira. Seus cabelos são lisos e estão presos em um coque. Ela usa um sobretudo bege. Um pouco mais à sua frente está Cary, papel de Ryan Lee, um garoto branco, baixo, de cabelos loiros que vão até os ombros. Atrás dele está Joe, interpretado por Joel Courtney, um garoto branco, de cabelos castanhos e lisos. Por último, ao seu lado, está Charles, um menino branco, de cabelos curtos e castanhos. Ele usa uma jaqueta amarela. Todos estão olhando levemente para a esquerda, com expressões preocupadas. Eles têm os rostos cobertos por fuligem.
Super 8 se inspira acertadamente em obras clássicas de Spielberg que retratam a amizade dentro das histórias de fantasia, como Os Goonies e E.T. O Extraterrestre (Foto: Paramount Pictures)

Mariana Nicastro

Ohio, 1979. Joe (Joel Courtney), Alice (Elle Fanning), Charles (Riley Griffiths), Cary (Ryan Lee), Martin (Gabriel Basso) e Preston (Zach Mills) deixavam suas casas a caminho de uma estação de trem antiga. Era uma madrugada de verão. Os seis carregavam consigo a euforia da pré-adolescência, o desejo de gravarem um filme independente e uma câmera super 8. O plano do diretor mirim Charles era capturar boas atuações dos amigos. Se tivessem sorte, um trem ao fundo complementaria o cenário. E foi o que aconteceu. Mas, ao invés de sorte, eles ganharam passagens só de ida para uma aventura inesquecível, ao tornarem-se testemunhas de um enigmático acidente envolvendo a locomotiva em questão. 

Lançada em agosto de 2011 pela Paramount Pictures, Super 8 é uma produção de ficção científica e mistério que chama a atenção desde os nomes de seus realizadores. Escrita e dirigida por J.J. Abrams, e produzida por ninguém mais, ninguém menos, do que Steven Spielberg, a obra entrega de forma excepcional tudo o que se busca ao assistir um filme do gênero. O nome traduz sua essência, já que Super 8 era uma câmera de 8mm muito utilizada para produções cinematográficas até a década de 80. Assim, o diretor não apenas desejava reproduzir a experiência dos filmes de ficção dos seus tempos de criança, como visava homenagear o inventor de muitos deles, Spielberg. 

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I’ve been a bad, bad girl: 25 anos da genialidade traumática de Fiona Apple em Tidal

Capa do álbum Tidal de Fiona Apple. Na imagem, apenas seu rosto aparece com muito zoom. Fiona é uma mulher branca de olhos azuis.
Em julho, Tidal comemora 25 anos (Foto: Columbia Records)

Laís David

Quando Fiona Apple subiu no palco do Video Music Awards para aceitar o prêmio de Melhor Nova Artista, em 1997, ela não tinha noção do impacto cultural de seu discurso. Se baseando na sua inspiração de infância, Maya Angelou, ela utilizou seu ínfimo espaço na premiação para professar uma queixa contra a indústria da música. “Esse mundo é uma porcaria. Você não deveria modelar a sua vida em torno do que você acha que nós achamos que é legal”. Mais de duas décadas depois do lançamento do álbum premiado naquela noite, Fiona Apple ainda nada contra a corrente com destreza.

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20 anos atrás, A Viagem de Chihiro ensinava através do silêncio

Cena do filme de animação “A Viagem de Chihiro”. À frente, vemos Chihiro, uma garota asiática, pele branca, bochechas rosadas e cabelo castanho preso em um rabo de cavalo. Ela usa uma camisa branca e verde, um short vermelho e tênis amarelos. Ela está sorrindo eufórica, correndo em cima de uma ponte de madeira, enquanto uma multidão acalorada atrás dela se despede e comemora. Todos estão em um grande prédio de arquitetura japonesa, pintado de vermelho e branco, com os tetos esverdeados. A cena se passa de dia.
Chihiro atesta: ainda vale a pena ser criança (Foto: Studio Ghibli)

Enrico Souto

Entre as jornadas monumentais, épicas e maiores que a vida de Princesa Mononoke e O Castelo Animado, e as histórias mais comedidas, intimistas e descaradamente infantis de Meu Vizinho Totoro e O Serviço de Entregas da Kiki, A Viagem de Chihiro é a amálgama perfeita dessas duas facetas de Hayao Miyazaki. Não que Mononoke não tenha retratos de serenidade e um forte prisma emocional, nem que Kiki não disponha de cenas grandiosas e homéricas – o diretor costuma trabalhar em uma zona cinzenta que uma categorização meramente dualista não seria capaz de cobrir –, porém, olhando para trás 20 anos depois, é indiscutível que, nesse título, essas potências, provenientes do gênero de realismo mágico, encontram seu equilíbrio definitivo, a partir de uma narrativa sensível e tocante sobre os infortúnios de crescer e se tornar adulto, rompendo barreiras culturais e de linguagem como nenhuma outra mídia fez antes.

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Os 35 anos de Karatê Kid II – A Hora da Verdade Continua: a viagem a Okinawa permanece um ícone

Foto retangular de uma cena de Karatê Kid II. Pat Morita e Ralph Macchio estão na foto, próximo a direita. Os dois estão de perfil, sentados. Pat está mais distante da foto. Ele tem 54 anos, é nipo-americano, com poucos cabelos brancos ao redor da cabeça. Ele tem barba e bigode branco. Veste uma regata branca, uma calça bege e um cinto preto. Ele olha para frente e suas mãos se apoiam nos joelhos. Ralph está do seu lado esquerdo. Ele tem 23 anos e cabelos curtos pretos. Ele veste uma camisa xadrez vermelha, de manga comprida, dobradas até o antebraço. Ele olha para frente, seus braços estão apoiados nas pernas, com as mãos cruzadas. O fundo é escuro, com poucos pontos com luz. Vem uma luz amarela de frente para eles, como uma fogueira acesa. 
“Para alguém que não tem piedade, viver é um castigo pior do que morrer” (Foto: Sony Pictures)

Júlia Paes de Arruda

Que a história de Karatê Kid é um marco da cultura dos anos 80, ninguém tem como negar. Dois anos depois do sucesso do primeiro filme, John G. Avildsen lança a continuação da aventura de Daniel LaRusso e seu sensei Miyagi, com um toque mais íntimo e mais carismático. Completando 35 anos, Karatê Kid II – A Hora da Verdade Continua é uma referência para muitos adolescentes e, particularmente, o mais especial de toda a série. 

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Back To Black: 10 anos sem Amy Winehouse

O dia 23 de julho de 2021 marca uma década da morte de Amy Winehouse (Foto: Reprodução)

Ana Júlia Trevisan e Raquel Dutra

Nós apenas nos despedimos com palavras, quando naquela tarde de 23 de julho de 2011, o mundo soube da morte de Amy Winehouse. A vida de uma das maiores vozes do jazz contemporâneo foi uma das mais difíceis dentre as existências artísticas que o mundo teve a dor e a delícia de acompanhar, chegando ao limite extremo da luta pela sobrevivência em meio ao vício em drogas, transtornos alimentares e doenças psicológicas. O fim veio triste, com aquele gosto amargo de algo que consome cada vestígio de vida e genialidade até não sobrar mais nada, por meio de uma overdose na cidade de Camden, em Londres, quando a jovem artista tinha apenas 27 anos. 

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Macabro e memorável, A Bruxa completa 5 anos

Fotografia do filme A Bruxa. A foto é retangular e retrata uma floresta escura. No meio da imagem existem três silhuetas de costas. A central pertence a uma mulher e as outras duas pertencem a dois bodes. De frente para essas figuras, há uma fogueira. Sobre essa fogueira, existem sete corpos de mulheres que flutuam formando um arco. A fogueira é a única fonte de luz da imagem e ilumina fracamente algumas árvores ao fundo, dando uma aparência amarelada para o todo.
A Bruxa, ainda que tenha dividido opiniões do público quando lançado, é “tenso” e “instigante”, como definiu o Rei do Terror Stephen King em suas redes sociais (Foto: A24)

Mariana Nicastro

Plena Idade Média. Um casal de camponeses e suas crianças curiosas. Um lenhador. Uma casinha ao lado de um bosque e uma bruxa que o habita. Parece mais um conto de fadas dos Irmãos Grimm, certo? Bom, na verdade trata-se de A Bruxa, lançado no Brasil em março de 2016. Inventivo, misterioso e incômodo, o filme de terror utiliza da temática das bruxas para compor uma trama bem elaborada e assustadora. Com isso, ele tornou-se capaz de se destacar notoriamente no gênero e ainda ser alvo de discussões e elogios 5 anos após sua estreia.

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10 anos depois do fim, Harry Potter envelheceu avinagrado

Entre polêmicas de transfobia e discurso de ódio, J. K. Rowling se revela mais nefasta que as figuras vilanescas que escreveu

Cena do filme Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2. Na cena, vemos Harry, personagem de Daniel Radcliffe, um homem branco que usa óculos redondos, sujo de terra, olhando Voldemort, personagem de Ralph Fiennes, que está de costas. Eles estão à beira de um precipício.
Uma década depois de As Relíquias da Morte – Parte 2, o legado de Harry Potter definhou como as Horcruxes de Voldemort (Foto: Warner Bros)

Vitor Evangelista

Em 15 de julho de 2011, a cultura pop mudou para sempre. Era o fim da saga do bruxinho mais famoso do pedaço, a conclusão épica, que levou uma década desde o primeiro vestígio da magia de Hogwarts até o adeus choroso na Estação King’s Cross. 10 anos depois da exibição de Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2, o mundo não enxerga a aura juvenil da história da mesma maneira que o fazia. E isso se deve a um vilão que os livros de fantasia não deram conta de desmascarar: sua própria autora.

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The Ride: há 5 anos, nos perdíamos com Catfish and the Bottlemen

Capa do álbum The Ride. Mostra a ilustração de um jacaré em branco mordendo a própria cauda. No canto superior esquerdo vemos o nome da banda, Catfish and the Bottlemen, em branco, com o nome do álbum logo abaixo. No canto inferior direito há o aviso de conteúdo explícito. O fundo da imagem é preto.
“Talvez eu não aja da maneira que eu costumava/Porque eu não sinto o mesmo sobre você/Na verdade, isso é uma mentira, eu quero você” (Foto: Universal)

Ana Laura Ferreira

A geração emo dos anos 2000 envelheceu e hoje é responsável por dar as novas rédeas do que influencia o mundo. Não é à toa que o sample de Misery Business do Paramore se tornou um sucesso nas mãos de Olivia Rodrigo em seu single good 4 u, conquistando os ouvintes de todas as idades. Entretanto, quando pensamos em uma evolução um pouco mais madura dessas influências de alguns anos atrás, somos levados até bandas como Catfish and the Bottlemen. Com sua originalidade pautada nas boas memórias da era de ouro do rock feito no início do século, The Ride chegava aos nossos ouvidos há 5 anos, marcando sua presença com hinos que ficarão para sempre.

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10 anos de Regional at Best: o sonho começa aqui

A imagem é a foto da capa do disco Regional at Best, da banda Twenty One Pilots. Nela, há uma fotografia de crianças jogando beisebol em um campo. A esquerda, há um menino posicionado com as pernas abertas, em posição para lançar a bola. Ele veste uma camiseta azul, uma calça branca, tênis pretos e um capacete. Ao fundo é possível ver outras crianças no campo com esse mesmo uniforme, alternando a cor da camiseta entre azul e vermelho. Na parte do superior da foto, há uma faixa branca escrita TWENTY ONE PILOTS diversas vezes embaralhadas em fonte preta. No canto inferior direito da faixa, está escrito Regional at Best em vermelho.
O aniversário do disco também marca o início da parceria entre Tyler Joseph e Josh Dun (Foto: Fueled by Ramen)

Vitória Silva

No dia 8 de julho de 2011, chegava ao mundo o álbum Regional at Best, do duo Twenty One Pilots. Considerado também o primeiro trabalho da banda, pelo menos na formação que conhecemos hoje, com Tyler Joseph e Josh Dun. O disco lançado anteriormente, em 2009, que carrega o mesmo nome do grupo, ainda tinha Chris Salih como baterista e Nick Thomas no baixo. A entrada de Josh assumindo as baquetas se deu quase que juntamente à saída do baixista, iniciando, assim, a dupla imbatível entre ele e Tyler. 

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