BadBadNotGood no Nublu Festival: a nova geração do Jazz

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Matheus Fernandes

Ainda que o jazz possa parecer morto para os que não acompanham, o ritmo continua se transformando, como fez em toda sua história, das Big Bands ao Bebop, do Free Jazz e do Fusion à decadência artística (comercialmente bem-sucedida) do Smooth Jazz.

Atualmente, o gênero se reinventa em diversas frentes, como no jazz eletrônico e experimental da Brainfeeder Records, liderado pelo sucessor sanguíneo e espiritual da familia Coltrane, Flying Lotus, nos 28 membros da nórdica Fire! Orchestra, de Mats Gustafsson, e nos jovens canadenses do BadBadNotGood.

No mesmo mês em que o braziljazzfest realiza sua 31ª edição, com nomes icônicos como Herbie Hancock, ocorre a 6ª edição do Nublu Jazz Festival, parceria do clube de jazz/gravadora novaiorquino com o SESC, que busca apresentar um panorama contemporâneo do ritmo, com o BBNG como atração principal.

O grupo surgiu em 2010, no ambiente acadêmico do jazz da universidade de Toronto, cidade do gélido Canadá, país sem tradição no ritmo. Jovens, tiveram o contato com o jazz já modificado pelo filtro do hip-hop, em grupos como A Tribe Called Quest, Gang Starr e Slum Village, gosto em comum que uniu a banda e ajudou a subverter convenções do gênero.

Ao tocar uma versão instrumental de Tyler, the Creator para seus instrutores formais, foram criticados. Apesar disso, com a repercussão no Soundcloud e Youtube, o grupo conseguiu uma sessão com o rapper, que teria mais de um milhão de views.

Os dois primeiros álbuns são formados em boa parte por versões, que vão de artistas consagrados como My Bloody Valentine, ao hip-hop de Nas e Kanye West e até a trilha sonora da série The Legend of Zelda.

Em “III”, terceiro álbum, a banda começa a trilhar seu próprio caminho, com composições originais, e a adição de um novo instrumento em algumas musicas, o saxofone. A influência do hip-hop culminaria em um álbum com o lendário rapper Ghostface Killah, do grupo Wu-Tang Clan.

O primeiro show da noite foi de Marcus Gilmore, neto do baterista Roy Haynes, que escolheu o mesmo instrumento para seguir carreira. Jovem músico, já se apresentou com nomes como Chick Corea e Steve Coleman. Junto de seu grupo, se apresentou por uma hora, com direito a diversos solos de bateria que se estenderam por diversos minutos.

Em seguida, entrou BadBadNotGood, banda principal da noite e do festival, após passagens em festivais como Coachella e Lollapalooza, em um de seus primeiros shows com quatro membros, após a adição do saxofonista fixo Leland Whitty ao trio.

Durante quase 1h30, o grupo agitou o público da tradicional choperia do SESC Pompeia, com um setlist que passou por boa parte do terceiro álbum, com músicas como Confession e CS60, um cover do produtor californiano Flying Lotus e uma série de músicas do próximo álbum, marcado para esse ano, antes de terminar o show com Bastard/Lemonade, mashup instrumental que une os rappers Tyler, the Creator e Gucci Mane em uma versão jazzificada.

A apresentação fica marcada pela energia da banda, e da plateia, comandada pelo baterista Alexander Sowinski a pular, gritar e bater palma com o ritmo da banda. Jovens, mostram conexão com o público ao tirarem fotos com a plateia para o Instagram. O público, que lotava a arena, retribuiu, até cantando junto em Kaleidoscope, composição instrumental.

Unindo qualidade musical com presença de palco e animação do público, o show figura como forte candidato aos melhores do ano, e consolida também no Brasil uma nova geração do gênero.

O Nublu jazz festival continua esse sábado (19/03), na cidade de São José dos Campos.


 

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