Henrique Marinhos
Em seu segundo álbum, Vício Inerente, Marina Sena apresenta uma evolução em relação ao seu álbum de estreia, De Primeira, que fez tanto barulho no cenário brasileiro em 2021. Com influências de gêneros como reggaeton, drill, trap e funk, a artista experimenta novas sonoridades e se arrisca em texturas eletrônicas, resultado de uma colaboração estreita com seu produtor Iuri Rio Branco, que a acompanha desde o início. Aqui, a cantora apresenta um som mais maduro e coeso, consolidando sua posição no cenário pop nacional.
A mineira multitalentosa se mostra ainda mais experiente e segura de si, capaz de criar sonoridades hipnotizantes e profundas que são marcadas pela inovação e pela busca por novas possibilidades estéticas a fim de incrementar seu repertório, que transita entre gêneros pouco explorados no mainstream nacional, como o reggaeton e o trip hop. Composta por doze faixas, Vício Inerente conta com parcerias importantes, como Fleezus, nome importante do brime paulistano e ídolo da cantora. No entanto, nem todas as canções apresentam o mesmo refinamento: algumas se mostram mais cruas que outras, como em seu debut, mas transparecem escolhas conscientes e ousadas dessa mistura.
A cantora não tem medo de se aventurar no cenário nacional e de explorar novas sonoridades em seu segundo álbum, afirmando que ser artista significa experimentar e ousar, sem medo de errar. Ela não se preocupa em seguir as convenções do mercado musical e está sempre em busca de novas possibilidades estéticas e sonoras, como disse à Folha de São Paulo. Tudo isso se concretiza em uma obra irreverente a todas as críticas infundadas e maliciosas. “Quero que as pessoas entendam de uma vez por todas que eu sou foda“, Sena diz.
Em De Primeira, a cantora apresenta uma série de letras sobre amor e relacionamentos, com um tom que oscila entre a sensualidade e a vulnerabilidade. As histórias retratadas nas músicas são, em sua maioria, vivências pessoais, traduzidas em canções pop chicletes e refrões cativantes, interessantemente construídos com muita naturalidade. As letras são marcadas pela utilização de gírias e regionalismos, o que confere ao disco uma certa proximidade tocante. Além disso, a produção do álbum é minimalista, com destaque para sua voz anasalada e para a presença de elementos percussivos.
O novo álbum de Marina Sena mostra que sua ambição não se limita às fronteiras de Minas Gerais, seu estado natal. Seu reconhecimento surgiu logo antes de se mudar para São Paulo. Como um grande sucesso, suas músicas se tornaram virais no TikTok, gerando muitos shows para a artista. Além disso, o álbum causou mudanças significativas na vida da cantora, a levando a se mudar de Taiobeiras, enricando e permitindo que ela conhecesse outras personalidades musicais, além de assinar um contrato com a Sony.
Porém, sua carreira, apesar do que muitos pensam, não começou De Primeira. Ainda em Montes Claros (MG), ela montou a banda A Outra Banda da Lua e mais tarde integrou o grupo Rosa Neon. Já com seu disco de estreia, a artista recebeu quatro indicações ao Prêmio Multishow 2021, ficando atrás só de Anitta, agraciada com cinco menções.
A amizade de Marina Sena com os rappers Febem, Fleezus e DJ Cesrv, após sua chegada a São Paulo e seu trabalho no álbum Brime!, inspirou os elementos de afrobeat, funk e trap presentes em seu novo trabalho. Sena o ouvia o tempo todo enquanto produzia seu novo trabalho, afirmando que é o que mais consome e está apaixonada. A participação de Fleezus na faixa Que Tal é o único dueto em todas as composições, demonstrando a importância do trabalho do trio em sua carreira. Ela também afirmou que, sempre que sai para algum rolê na cidade, vai assistir algum show do que considera a coisa mais fresca no cenário musical brasileiro. Esse frescor é bem traduzido na mistura de tantos gêneros em Vício Inerente.
As três primeiras músicas de Vício Inerente já demonstram as diferenças em relação ao seus trabalhos anteriores, que eram muito característicos e mantinham uma solidez muito maior em seus versos e melodias. Enquanto isso, o mais recente marca principalmente um trabalho experimental, com inspirações de artistas como Rosalía, Doja Cat, Nathy Peluso, Djavan, Gal Costa e Jards Macalé. Ambos tiveram seus propósitos alcançados, em sucesso e conceito.
Como uma fatídica história de crescimento profissional em metrópoles, a intensa experiência que Vício Inerente traz é uma proposta mais do que pessoal, e há quem se identifique. Assim como seu antecessor, o disco marca uma trajetória e uma personalidade que a artista trabalha com muito esmero, transbordando sua marca. Confiante e sem medo de errar, seu sonho é ser uma das representantes da música pop brasileira para o mundo, levando a música nacional para todo o planeta. E que, entre erros e acertos, continue nesse caminho que tem se aberto à ela.