Estabelecida na cena do alternativo nacional, a Carne Doce costuma tratar de temas polêmicos, com melodias dominadas pelo estilo indie rock e certos toques de psicodelia cantados nos vocais fortes e reconhecíveis da líder e vocalista Salma Jô. Mas no seu mais recente trabalho de estúdio, a banda, que divide sua origem goiana com sucessos como Boogarins, mostra uma outra face sem perder a autenticidade. Dedicando seu quarto álbum exatamente a essa origem, Interior é uma obra sobre conexão e raízes.
Desde sua criação, o Boogarins permanece inquieto, nunca estagnado. A banda goiana imprime, em cada movimento que faz, um recorte da essência que compõe os corpos de seus integrantes. Mesmo que comparada com nomes como Tame Impala e Unknown Mortal Orchestra, eles sabem que vão muito além da neo-psicodelia. É uma espécie de música transcendental, algo desconexo e intenso, mas puramente honesto. Isso é visto em seus shows, onde faixas de três minutos viram grandes sessões de dez minutos e toda a energia que ali habita explode na catarse das improvisações, como em Desvio Onírico (2018), EP ao vivo do grupo. Os LP’s passam a ser carcaças completamente diferentes entre si, porém que carregam a mesma mística única das texturas e camadas sonoras da alma dos membros. O que prevalece é a beleza da primeira ideia, nua, crua e imperfeita por definição, como visto nos ruidosos sucessos Lucifernandis e Foimal.
Manchaca Vol. 1 (A Compilation Of Boogarins Memories Dreams Demos And Outtakes From Austin, Tx) nasce da tentativa de manter todo esse movimento em tempos de quarentena. Se nos shows eles expandem o som em níveis espirituais, nos discos eles se concentram e o manipulam em colagens e rasgos sônicos para dizer exatamente do que se trata o tal do Boogarins. Sendo assim, é óbvio que existam milhares de experimentos durante as gravações. E, como o próprio nome diz, o álbum é a compilação de tudo que se originou do período de maior efervescência criativa da banda, nas gravações doLá Vem A Morte (2017) e Sombrou Dúvida (2019), e serviu como demo ou ficou guardado no baú.
No dia 21 de agosto de 1989, sozinho em seu apartamento na cidade de São Paulo, Raul Seixas – para muitos, o pai do rock nacional – encontrou a morte, surda, que caminhava ao seu lado. Após 44 anos de uma vida de excessos, loucuras, esoterismo e rebeldia, o rockeiro baiano foi vítima de uma pancreatite aguda fulminante resultada do alcoolismo, que era agravado pelo fato de Raul ser diabético e não ter tomado sua insulina na noite anterior. Passados 30 anos deste baque na música brasileira, o “raulseixismo” ainda é uma filosofia de vida para sua legião de fãs, e os gritos de “Toca Raul!”, uma pedida clássica em bares e shows.