No meio cinematográfico, adaptar ou recontar uma história já existente no mundo real pode ser uma tarefa árdua. Em Bohemian Rhapsody, lançado em Novembro de 2018, a dupla direção de Bryan Singer – demitido próximo ao fim da produção – e Dexter Fletcher teve o desafio elevado a um patamar extremamente alto: contar a trajetória de Freddie Mercury, um dos maiores nomes do rock, e da banda Queen, responsável por inúmeros clássicos e números expressivos no cenário musical.
RuPaul, por favor, está demais! Sem folga, a máquina Drag Race mastigou e nos entregou mais uma edição de sua infinita coleção de franquias. Dessa vez, é hora de analisar a segunda temporada de Drag Race Holland, uma das primas europeias do show. Setembro de 2021, mês de encerramento desse ciclo, foi histórico para a comunidade trans, que assistiu a duas mulheres serem coroadas como as Próximas Super Estrelas Drags. Kylie bradou vitória na América, enquanto a Holanda foi o lugar do triunfo de Vanessa Van Cartier.
De cara, não tem como mentir: escrever sobre RuPaul’s Drag Race é uma tarefa e tanto. Afinal, são horas e horas de episódios extensos, sem contar o Untuckede seus bastidores, os programas de recapitulação (oficiais e não-oficiais) e, é claro, a internet. As drag queens presentes nas temporadas são pessoas de verdade, tem dramas, conquistas e presença forte no mundo real, sempre expandindo a narrativa do programa para além dos televisores. 2021 se empanturrou da Corrida das Loucas e, depois de viajar da Espanha à Oceania, Mama Ru olha para as segundas chances dentro da América, no sensacional All Stars 6.
Não é piada, mas sim um fato, que a segunda temporada de Drag Race UK é a melhor que a competição de RuPaul viu em muitos anos. Dez episódios e uma coroação inédita depois, podemos apreciar os vários altos e poucos baixos do reality. Nessa nova leva teve de tudo, desde eliminações chocantes, desistências icônicas e uma pausa nas gravações por causa da pandemia. Lawrence Chaney ganhou, e o padrão britânico do cenário drag aumentou, e muito.
A genialidade é algo difícil de ser dimensionada. Por vezes críticos e especialistas rotulam o valor artístico de uma produção, que sendo arte transcende qualquer medida estipulada e impacta de forma única em cada um que tenha acesso a ela. O equívoco desta etiqueta é eventualmente julgar uma obra como ruim, quando na verdade ela só está à frente de seu tempo. E foi assim, dividindo a crítica da época, que a banda Queen lançou seu quarto álbum em estúdio no ano de 1975. A Night At The Opera é considerado, hoje, como uma das obras primas da história da música, mas a excêntrica genialidade de seus ingredientes a fez ser questionada na conservadora década de 70.
Pela primeira vez em 2020, Drag Race premiou quem mereceu a Coroa desde o dia um. Não contestando as brilhantes vitórias de Jaida Essence Hall e Shea Couleé, nem mesmo a coroação de Priyanka, mas o que mudou em Drag Race Holland foi o favoritismo avassalador que a estonteante e belíssima Envy Peru exerceu na órbita de suas concorrentes. A drag queen latina clamou para si o título de Primeira Super Estrela Drag da Holanda, numa temporada com mais altos do que baixos, e que definitivamente colocou o público numa montanha-russa emocional.
A primeira temporada de Canada’s Drag Race terminou mais amarga do que deveria. Apesar do início extremamente promissor e dos episódios que facilmente desbancam as edições mais recentes da versão americana, o cansaço causado pelos apresentadores de primeira viagem e a constante imitação dos trejeitos de RuPaul Charles mostram que o problema do sequilho só é parcialmente pela quantidade de goiabada. A falta de consistência do trio da bancada não foi um empecilho só para as competidoras. Dez episódios depois, a franquia nos relembra que Drag Race premia muito mais o barulhento e chamativo do que o melhor histórico.
Não tinha outro jeito. Quando Shea Couleé entrou no ateliê, a Coroa, o cetro e o quadro do Hall da Fama já estavam com nome e sobrenome estampados. Quem chegasse na competição depois já não era importante, ou sequer relevante. 5 edições à dentro dessa corrida (quatro, se desconsiderarmos o terrível All Stars 1), o jogo já não tem mais tantas nuances. Ao passo que as nove queens restantes retornavam para a disputa do título e do cheque, Shea não tinha com o que se preocupar. Oito episódios depois, a conta veio.
Muito mais uma manobra de redenção, por vezes autoinfligida, a escolha de RuPaul parece levar em conta o passado e o prestígio em detrimento do agora. Assim, a questão que fica é a seguinte: essa competição virou um acerto de contas ao invés de uma congratulação e reconhecimento por mérito? A resposta definitiva não existe, Shea Couleé não venceu por pena ou migalhas, mas a narrativa dessa 5ª temporada abre margem para discussões mais profundas quanto ao papel da corrida secundária pela coroa. Está na hora do All Stars acabar.
A décima segunda temporada do reality de drag queens sofreu um bocado. A começar pela polêmica de Sherry Pie, acusada de assédio, e sua desclassificação do programa, o novo ano enfrentou a pandemia mundial que impediu a gravação com público dos episódios finais. O isolamento se refletiu em soluções inventivas e conferências à distância. Munido de propaganda eleitoral e do hit American, RuPaul Charles coroou Jaida Essence Hall, uma rainha negra e que celebra a cultura de concursos de beleza. Num momento tão crítico dos Estados Unidos, a escolha de Mama Ru evidencia o papel da arte no meio das revoltas e reivindicações: celebrar performers negros e evidenciar seu carisma, singularidade, coragem e talento.
Quando se trata de de rock há um senso comum de que o Queen é uma das melhores bandas de todos os tempos e isso por conta não só de suas letras altamente contagiantes ou por seus hits clássicos, presentes em filmes, séries e comerciais, mas, principalmente, por causa de seu vocalista, Freddie Mercury. Esse que é considerado uma lenda musical com seu alcance vocal sobre-humano e seu carisma irreverente capaz de encantar até mesmo aqueles que não são fãs. E é exatamente sobre esse astro do rock que se trata o mais novo longa da 20th Century Fox, Bohemian Rhapsody.