Há 35 anos, o The Cure atingia o fundo do poço com Pornography

The Cure ao vivo, em 1982
The Cure ao vivo, em 1982

João Pedro Fávero

Em 1982, o punk era apenas uma memória na Inglaterra, que via Margaret Thatcher  dominar a terra da rainha com seu conservadorismo. A energia do estilo deu lugar às sombras, emanadas por bandas que misturavam  guitarras cruas e o baixo pulsante com batidas de dance music e temáticas obscuras. A mais famosa das bandas oriundas dessa cena, o Joy Division, havia visto seu fim com a morte precoce do seu líder, Ian Curtis, que sofria com problemas pessoais – entregues de maneira palpável em sua arte, principalmente nas letras do seu último álbum, Closer (1980). Continue lendo “Há 35 anos, o The Cure atingia o fundo do poço com Pornography”

A Bela e a Fera: Sentimentos são fáceis de mudar, filmes nem tanto

posterbelaeafera

Aline Barbosa

Após o grande sucesso da animação A Bela e a Fera de 1991, que não só arrecadou mais de 400 milhões de dólares nas bilheteria, como também foi a primeira animação da Disney a ser adaptada para musical da Broadway, era de se esperar que o live-action, proposto para 2017, fosse ansiosamente esperado pelo público.

Continue lendo “A Bela e a Fera: Sentimentos são fáceis de mudar, filmes nem tanto”

Melhores discos de Abril/2017

gatodj2

Adriano Arrigo, Gabriel Leite, Matheus Fernandes e Nilo Vieira.

De volta do recesso com os dois pés no peito! Esprememos até a última gota, inclusive nos feriados, para trazer a seleção mais top possível. Ainda que a safra do mês anterior tenha sido mais empolgante, abril trouxe alguns dos discos mais aguardados no mainstream, além de pepitas underground. Cá vão nossos favoritos: Continue lendo “Melhores discos de Abril/2017”

Slanted and Enchanted: a estreia energética da banda definitiva do indie rock

O primeiro álbum do Pavement, ainda então um trio, comemora 25 anos. O ponto fora da curva da discografia, Slanted and Enchanted é também o disco mais marcante da banda

slanted and enchanted pavement cover

Lucas Marques dos Santos

Neste começo de 2017 relembramos dois importantes lançamentos do Pavement, uma das bandas responsáveis pela identidade do indie rock dos anos 90. Se as composições de Brighten the Corners, de 1997, partilham do ar desleixado e melódico de jam sessions que é a marca registrada da banda, a estreia dos californianos em 1992, Slanted and Enchanted, é um ponto estranho em uma discografia tão uniforme. Além das claras diferenças sonoras – canções com guitarras mais barulhentas e estruturas sólidas –, temos, principalmente, uma diferença em atitude: Slanted and Enchanted é a declaração mais firme e enérgica do Pavement. Continue lendo “Slanted and Enchanted: a estreia energética da banda definitiva do indie rock”

DAMN: a era de Kendrick Lamar continua

 

kenny

Nilo Vieira

Em uma análise acerca de diferentes carreiras musicais elogiadas por crítica e público, algumas características em comum são encontradas. Reinvenção, consistência, alcance fora de seu nicho de origem, capacidade de extrapolar seu trabalho além do som. Poder de performances ao vivo, o modo como personas públicas se traduzem (ou se fragmentam) na arte, importância social e, claro, qualidade – um aspecto que é tão subjetivo como não é. Continue lendo “DAMN: a era de Kendrick Lamar continua”

O poderoso chefinho tem um bom enredo, mas está longe de ser memorável

Roubando a atenção e a cena – O chefinho é a alma do longa
Roubando a atenção e a cena – O chefinho é a alma do longa

Guilherme Hansen

Todos já sabem que a Disney é soberana em suas animações, tanto na qualidade gráfica, como em seus roteiros e sinopses. Porém, a Dreamworks não deixa por menos e surpreende com histórias muito atrativas para as crianças. O Poderoso Chefinho, lançado no último dia 30 de março e dirigido por Tom McGrath (Madagascar, Megamente), é um bom exemplo de enredo interessante, apesar de simples.

Continue lendo “O poderoso chefinho tem um bom enredo, mas está longe de ser memorável”

Balidos de Guerra do Sertão em “Cabras – cabeças que voam, cabeças que rolam”

Felipe Monteiro

Não foram poucos os que saíram do espetáculo confusos e ainda sem compreender ao todo a peça, os próprios atores fazem piada do fato. Mas é que realmente não é fácil deparar-se com o mar de signos que nos é apresentado logo de início em Cabras – cabeças que voam, cabeças que rolam, signos sobre os quais o desenrolar do espetáculo vai traçando fios que se completam em um belo tecido nas cores sertanejas.

Imagem: divulgação Cia. Balagan
Imagem: divulgação Cia. Balagan

Continue lendo “Balidos de Guerra do Sertão em “Cabras – cabeças que voam, cabeças que rolam””

Ghost in the Shell: Bonito, mas sem alma

ghost-in-the-shell-poster-japão

Matheus Fernandes

As canônicas adaptações do teatro e da literatura ao cinema já foram consideradas, injustamente, uma afronta à pureza do cinema como forma de arte, situação explanada no artigo “Por um cinema impuro – Defesa da adaptação”, de André Bazin, onde o teórico aborda essa relação entre linguagens como essencial para o progresso do cinema. Atualmente, as adaptações de quadrinhos dominam o cinema mainstream, fortalecendo as duas indústrias, apesar da divisão na crítica. Ainda assim, em busca de novas histórias e públicos, já planejando o fim da era dos super heróis, Hollywood se aproxima cada vez mais de outras fontes, especificamente os videogames e o universo japonês dos animes e mangás.

Continue lendo “Ghost in the Shell: Bonito, mas sem alma”

A depressão na arte, parte 2: a morte é real

Phil Elverum
Phil Elverum

(a parte 1 é esta.)

Nilo Vieira

A música foi marcada pela morte em 2016. Além de perdas notáveis (David Bowie, Prince, Leonard Cohen, Phife Dawg e incontáveis outros), alguns dos álbuns mais elogiados do ano tiveram relação direta ou indireta com a mortalidade humana: o camaleão entregou sua última transformação em uma mensagem cifrada, Nick Cave lamentou a perda precoce do filho através de drones e metáforas, Cohen simplesmente aceitou que estava pronto para partir e o A Tribe Called Quest se viu na tarefa de carregar a tocha do membro falecido (bem como do hip hop em geral) adiante. Continue lendo “A depressão na arte, parte 2: a morte é real”

O Ornitólogo e a naturalização do desejo

img1

Adriano Arrigo

Pouquíssimos compreenderam a performance da atriz transexual Viviany Beleboni na Parada Gay de São Paulo, em 2015. Naquele ano, ela se vestiu de Jesus Cristo para denunciar a morte e o martírio de transexuais no Brasil, o país mais letal para essas pessoas no mundo. Após sua encenação, Viviany viria a colocar sua vida em jogo, quando fora esfaqueada por dois homens ao sair sozinha de casa para ir ao supermercado. “Falavam em Romanos (o livro da Bíblia) e coisas como ‘não te deitarás com um homem, como se fosse mulher’, muitas palavras que não entendia, como se fosse em outro idioma”, contou em uma entrevista. Continue lendo “O Ornitólogo e a naturalização do desejo”