Nathan Sampaio
Há 10 anos, os filmes de super-heróis eram muito nichados, em um período em que apenas fãs de quadrinhos, crianças e alguns poucos curiosos se interessavam por essas adaptações. Poucos eram os longas que furavam a bolha, como Superman – O Filme (1978), Batman (1989) e Homem-Aranha (2002). Porém, tudo mudou em abril de 2012, pois Os Vingadores (The Avengers) chegava aos cinemas mundiais, representando o que seria o princípio de uma era.
O projeto surgiu com uma ideia desafiadora e ousada: a Marvel Studios propôs a realização de um longa-metragem para cada herói, para que, no final, pudesse uni-los em um grandioso filme crossover. Essa prática era raramente vista no Cinema e, por isso, era um risco apostar nesta vertente. Felizmente, os realizadores, Avi Arad, Kevin Feige e Jon Favreau, acreditaram no potencial do projeto e o fizeram, após os cinco filmes precursores, Homem de Ferro, O Incrível Hulk, Homem de Ferro 2, Thor e Capitão América: O Primeiro Vingador.
No enredo de Os Vingadores, Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Hulk (Mark Ruffalo), Capitão América (Chris Evans), Thor (Chris Hemsworth), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) precisam unir forças para impedir que Loki (Tom Hiddleston), irmão de Thor, invada o planeta Terra e domine a humanidade. Porém, essa não será uma tarefa fácil, já que nenhum deles trabalhou em uma super equipe antes. Além disso, o vilão possui artefatos cósmicos chamados “joias do infinito”, as quais irão dificultar – e muito – a vida dos protagonistas.
A trama é básica, e, talvez por isso, seja tão efetiva. Afinal, o filme não perde tempo com um enredo complexo e que teria chances de prejudicar o projeto, mas os realizadores apostaram em uma história segura, uma aventura clássica de heróis, o que foi muito bem executado. Mesmo possuindo um roteiro simples, Os Vingadores é divertido, cativante e empolgante, e isso torna-o encantador.
Os personagens são outro elemento muito forte do longa, ajudando-o a alcançar outro patamar de qualidade. Todos são muito diversos, com características únicas e modos de agir diferentes: a união deles é perfeita, pois todos têm uma função importante na trama e ninguém está nela sem razão. Steve Rogers é o líder nato do grupo, Natasha Romanoff, a espiã que consegue extrair informações do vilão, Bruce Banner e Tony Stark são a inteligência, Thor e Gavião Arqueiro possuem conhecimento do vilão e do seu plano. Logo, percebe-se a importância e a excelente utilização de todos os heróis.
É impossível elogiar os personagens sem comentar de seus intérpretes, já que todos os atores se encaixaram perfeitamente nos papéis, e por isso seus rostos se tornaram tão conhecidos. Chris Evans mostra um personagem bem idealista, mesmo fora de seu tempo. Scarlett Johansson e Jeremy Renner constroem um mistério em volta de seus passados e uma ótima dinâmica entre si, enquanto Chris Hemsworth e Mark Ruffalo representam personas mais sérias, mas que se desconstroem em eventuais piadas. Por fim, Robert Downey Jr. é sarcástico, debochado e desconfiado de toda a situação.
Quando os atores contracenam, o filme brilha pelos conflitos de ideias, comentários sarcásticos, críticas ao próprio universo e pela dinâmica invejável entre eles. É interessante assistir Os Vingadores e observar o quanto os heróis cresceram ao longo dos anos e as suas relações mudaram, demonstrando, assim, o avanço da gigante história criada pela Marvel.
O vilão também é excelente: Loki é ameaçador, perigoso e tem uma presença muito forte em tela. Porém, ainda assim, ele consegue ser cativante, sendo sarcástico, irônico e muito carismático. Muitos desses méritos vem de seu intérprete, Tom Hiddleston, que se entregou ao papel e o adora fazer, tornando seu personagem um dos mais queridos da franquia.
É interessante evidenciar que a maioria desses heróis não estavam inseridos no imaginário popular, diferente de Superman e Batman, personagens que já eram parte da cultura pop há décadas. Dos Vingadores fundadores, apenas Hulk era conhecido, devido ao seu seriado para TV nos anos 70 e 80. Isso tornava a tarefa de realizar o longa ainda mais desafiadora – afinal era necessário vender um grupo de heróis totalmente anônimos, algo que eles conseguiram com muito êxito.
Os méritos de Os Vingadores não residem em sua história, até porque esta é recheada de clichês. Os pontos altos do filme estão na união dos personagens e no visível carisma, que provém tanto dos atores quanto do universo construído. Logo, o que era mais desafiador e arriscado na proposta inicial se tornou o ponto mais forte da produção: a preparação dos personagens e a construção do mundo. Isso porque todos os protagonistas foram muito bem trabalhados em suas respectivas histórias solo, e todos os itens importantes para a trama já estavam estabelecidos, fazendo com que o enredo fosse mais ágil e focado no que importava: a interação e conflito entre eles.
Os Vingadores também ajudou a moldar uma história que viria a durar mais de 10 anos, sem expectativa de acabar. Muitos dos elementos presentes aqui retornaram na franquia, como a relação conflituosa entre Homem de Ferro e Capitão América, que culminaria em Capitão América: Guerra Civil; a dinâmica entre Thor e Loki, que voltaria a ser explorada em Thor: O Mundo Sombrio e Thor: Ragnarok; e o mais importante de todos: as joias do infinito. Delas, resultaram dois épicos filmes, Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato, fechando todo um arco iniciado em 2012.
A estrutura de Os Vingadores funcionou tão bem que passou a ser repetida em todos os longas da Marvel Studios, formando, assim, o que se conhece hoje como Marvel Cinematic Universe, o MCU O uso desse universo compartilhado é o que torna o estúdio um dos mais renomados atualmente – afinal, a empresa montou uma história gigantesca, envolvendo centenas de personagens, tudo em um único mundo, complexo e muito vivo.
Outros estúdios também tentaram aplicar esse mesmo conceito, objetivando o mesmo prestígio e sucesso da Marvel, como o InvocaVerso e o Monsterverse, ambos pertencentes a Warner Brothers. Há ainda o Dark Universe, tentativa da Universal de criar um mundo com diversos monstros da Literatura clássica, o qual fracassou no primeiro longa. Nota-se que Os Vingadores foram os responsáveis por criar essa tendência de universos compartilhados no Cinema, algo que se reflete até hoje em diversos projetos. Porém, o longa-metragem também foi responsável por popularizar os super heróis nas telonas e na cultura pop.
Antes de Os Vingadores, apenas alguns filmes de heróis alcançaram a fama, e, muitas vezes, isso ocorria porque esta já vinha junto com o personagem, por sua popularidade em quadrinhos ou animações. O longa, porém, alçou heróis desconhecidos do grande público ao estrelato, e hoje, 10 anos depois do seu lançamento, todos fazem parte do imaginário popular, podendo ser até mais populares do que os heróis clássicos, como Superman ou Mulher-Maravilha.
Após o imenso sucesso da obra, diversos estúdios buscaram ter seus próprios heróis. A Warner Brothers criou seu mal estruturado universo compartilhado com os personagens da DC Comics, o Amazon Prime Video investiu na desconhecida HQ The Boys e a Netflix lançou séries como O Legado de Júpiter e The Umbrella Academy, entre outras produções.
Pode-se dizer que, atualmente, a indústria cinematográfica vive a era dos heróis, na qual a maioria dos filmes lançados nas salas de cinema são voltados a essa temática. O frenesi não se aplica apenas aos estúdios, já que a busca do público também está voltada para essa vertente, tornando assim, as histórias de super-heróis as mais lucrativas nos dias de hoje. Os Vingadores é um filme icônico, seja pela catarse ao ver o crossover entre vários heróis da Marvel Comics ou por sua qualidade invejável e cativante. Todas as qualidades e acertos do longa ainda repercutem, criando tendências na indústria cinematográfica e projetando o MCU para lugares cada vez maiores na indústria do entretenimento.