I’m sorry, the old Melhores Discos do Mês can’t come to the phone right now. Why? Oh, ‘cause he’s dead!
Brincadeiras e referências taylorswifitianas à parte, o Melhores Discos do Mês realmente pediu aposentadoria. Porém, não vamos deixar esse buraco sem um substituto: sejam bem-vindos à primeira edição do Nota Musical.
Todo começo de mês publicaremos um listão dos melhores e piores lançamentos musicais do mês que passou. Tem CD, tem EP, música e até clipe. Em textinhos de até três parágrafos, a Editoria e os colaboradores do Persona levam até você os méritos e deméritos do que rolou no mundo da música.
Janeiro abriu a segunda temporada da pandemia com o delicioso COR, da dupla ANAVITÓRIA. Depois foi a vez da internet ficar obcecada com Olivia Rodrigo, sua carteira de motorista, e o drama digno de malhação com seu ex, Joshua Bassett e a loirona Sabrina Carpenter. Selena Gomez mandou um cállate puta e anunciou Revelacíon, um EP totalmente em espanhol.
Arlo Parks, ‘apadrinhada’ por Billie Eilish, presenteou o mundo com o primeiro grande disco do ano: Collapsed in Sunbeams. E no penúltimo dia do mês, perdemos a talentosíssima SOPHIE, um dos grandes nomes da música do século 21. O Nota Musical de Janeiro presta suas homenagens à ela. Ícone trans, gênia da produção eletrônica, e um dos pilares da PC Music. Rest in power.
SOPHIE – Product
Muito antes da dupla 100 gecs aterrorizar a internet com a barulheira eletrônica e vocais destorcidos de seu debut, SOPHIE já pavimentava o caminho para a revolução eletrônica. A faixa BIPP e os lançamentos subsequentes usavam de instrumentos digitais e sintetizadores distorcidos para imitar sons do mundo real parecidos com látex, bexigas, bolhas, metal, plástico e elásticos. Tudo isso usando sua Monomachine de estimação, um complexo aparelho sintetizador e sequenciador, sem perder a sonoridade pop.
Na verdade, SOPHIE era mais que pop: assim como seus colegas da PC Music, a artista ajudou a consolidar o hyperpop como a tendência para o fim dos anos 10 e para um futuro, ainda, sem data de validade. Com a filosofia de que os softwares de produção e os sintetizadores deveriam ser vistos como sem limites, nenhum som era impossível ou absurdo demais. A era pós-internet já está entre nós há algum tempo e a regra é clara: o artificial dobra a realidade e ganha quem parecer mais sintético intencionalmente. Mas, por incrível que pareça, nesse mundo photoshopado e plastificado da PC Music, a genialidade se mostra extremamente humana. – Jho Brunhara
SOPHIE – OIL OF EVERY PEARL’S UN-INSIDES
O lançamento de It’s Okay To Cry foi muito mais que a primeira “aparição pública” de SOPHIE, ou a primeira canção cantada por ela mesma. Através da música, a artista se assumiu como uma mulher trans para o mundo. A balada com um final explosivo e uma letra sobre libertação é, sem dúvidas, uma das mais importantes da carreira e um dos maiores legados deixados pela cantora.
Em seu primeiro álbum (Product é considerado um compilado), e, infelizmente, seu último em vida, SOPHIE se consagrou como o futuro da música. Prevendo e lançando estéticas e tendências sonoras desde muito antes, a cantora, produtora e compositora sempre foi uma força a ser reconhecida. Ponyboy e Faceshopping capturam exatamente o que é pertencer à pós-modernidade e a essência propositalmente sintética do hyperpop. E Immaterial, igualmente forte em transcender o pop, não poderia ser mais cirúrgica: “eu posso ser o que eu quiser”. Muito obrigado, SOPHIE. Você será para sempre a lua que ilumina nossas noites. – Jho Brunhara
CDs
Arlo Parks – Collapsed in Sunbeams
Tudo parece perfeito demais para ser verdade. Inaugurando a corrida pelos grandes discos do ano, Arlo Parks entra em cena com uma estreia cheia de poesia. A cantora, compositora e poetisa britânica derrama corpo e alma em seu primeiro disco de estúdio, que explora as nuances de um neo-soul e bedroom pop em tons terrosos, quase pacato, mas cheio de camadas sonoras. É um trabalho riquíssimo. Parks, que tem apenas 20 anos, já demonstra enorme maturidade artística e, sem sombra de dúvidas, deve fazer ainda muito barulho nos próximos anos.
Mas foco no presente: Collapsed in Sunbeams tem muito a ser apreciado. O trabalho é, em grande parte, uma parceria com o compositor e produtor Gianluca Buccellati, que rende frutos incríveis. Black Dog é um deles, observando de perto o impacto de transtornos mentais numa pessoa amada e o sentimento de impotência que isso causa. Outros momentos, como a noventista Too Good (produzida por Paul Epworth, responsável por Rolling in the Deep, hit da Adele), são mais leves, mas não menos dolorosamente realistas. – Leonardo Teixeira
ANAVITÓRIA – COR
Desde que Trevo ganhou o mundo alguns anos atrás, a dupla de avoadas do bem, ANAVITÓRIA, conquista admiração pelo charme e pela meiguice de suas composições. Elas vibram em outra frequência, correm descalças pelos palcos dos shows com os cabelos ao vento e as saias bufantes. Em COR, disco que chegou junto dos primeiros badalares de 2021, o duo nem se esforça para fugir dos conceitos artísticos que consolidaram-nas em cena.
A abertura mais sisuda de Amarelo, azul e branco, acompanhada da sabedoria de Rita Lee, parece demarcar o trabalho para novas direções, mas tudo volta ao ‘normal’ logo na faixa seguinte. Cantarolando sobre a política de viver livre e criando as já manjadas metáforas com a natureza, as artistas passeiam por trilhas já desbravadas no passado. Tudo soa seguro demais, familiar demais. Mas, da metade pro final dos quase cinquenta minutos do registro, as coisas melhoram.
Em Terra, um conto de apaixonados separados pela saudade, chega o momento onde Vitória rasga o véu entre o mundo da realidade e da canção, sussurrando “já faz um tempo desde aquela vez”, com a sinceridade sangrando na garganta, e fazendo tudo valer a pena. É um alento metalinguístico, um acariciar tátil. Ela canta ao nosso ouvido uma sensação de clausura e lembrança. É verdade, Vitória, faz bastante tempo desde aquela vez. – Vitor Evangelista
Taylor Swift – evermore (Deluxe Version)
Após quinze músicas que contam com todos os tipos de sentimentos e diferentes ritmos, Taylor Swift finaliza o álbum evermore com uma frase: a dor que sentia não duraria para sempre. Apesar do lindo final feliz, a cantora ainda tinha algumas coisas para falar, e então resolveu presentear seus fãs com mais dois tracks: right where you left me e it’s time to go.
Em right where you left me, o início, que fala sobre amizade, nascimento, casamento e outros acontecimentos ao longo da vida, logo é confrontado com o momento relatado da protagonista. Estacionada no tempo, vemos que ela está presa no instante do término de seu relacionamento. A narrativa super visual nos permite assistir a cena que Taylor descreve enquanto ouvimos a música, imaginando detalhadamente como se realmente estivéssemos no restaurante, exatamente onde a pessoa foi deixada.
E então em it’s time to go, Taylor decide finalmente partir. Com uma melodia simples e calma, a última faixa é como uma conversa entre amigos, um desabafo e um conselho ao mesmo tempo. A loirinha novamente retrata diversos aspectos da vida, mas dessa vez em uma reflexão sobre desfechos. Seja em um divórcio ou demissão, ela comenta como nós sempre sabemos quando temos que partir. E então se despede de seus ouvintes lembrando que às vezes ir embora é a coisa certa a se fazer. – Mariana Chagas
Ludmilla – Numanice (Ao Vivo)
No início de 2020, Ludmilla saiu da sua zona de conforto pop e funk e nos presenteou com dois lançamentos no gênero pagode. A Boba Fui Eu, uma nova versão da sua parceria com Jão, e Faz Uma Loucura Por Mim, um cover da rainha brasileira do gênero, Alcione. As músicas caíram nas graças do público e meses depois, como prometido, lançou um EP inteiro com suas canetadas – composições próprias – que mostrou a versatilidade da artista que consegue transitar entre diversos gêneros brasileiros com maestria e entregando trabalhos de qualidade.
Derivado do EP Numanice, a cantora lançou no dia 29 de janeiro o Numanice (Ao Vivo) nas plataformas digitais junto do show completo no Youtube. Gravado ao ar livre num dos cenários mais conhecidos do país, o Pão-de-Açúcar, o espetáculo e o seu álbum reúnem 14 músicas, juntando os sucessos do material lançado em estúdio com sucessos consagrados que o público já conhece. Segundo a cantora, o projeto surgiu da sua vontade em registrar um “pagodinho de respeito”, já que nasceu nesse meio, e não fez feio.
Reunindo parcerias especiais como Thiaguinho, Bruno Cardoso, Vou Pro Sereno, Di Propósito e o rapper Orochi, a cantora mostrou que consegue segurar um show mesmo sem plateia. O álbum já está disponível em todas plataformas musicais para a sorte de quem esperava por um lançamento desde o querido A Danada Sou Eu. – Giovanne Ramos
Danna Paola – K.O.
Danna Paola não é só uma excelente atriz, cariño. A mexicana já começou 2021 com K.O. (Knock Out), um álbum cheio de personalidade, mostrando toda a sua potência musical. Tudo começa pela capa impecável, cheia de tons avermelhados e elementos visuais que remetem às suas raízes latinas. Sua versatilidade é algo realmente admirável. A artista se arrisca em diversos ritmos e, em todos eles, ela entrega uma obra-prima.
Em Contigo, é perceptível uma similaridade com o sample de Downtown, de Anitta. A brasilidade também é nítida em TQ Y YA e em Friend de Semana. A primeira tem uma pegada funk e é uma celebração ao Mês do Orgulho LGBTQI+. Na segunda, Paola divide a voz com Luísa Sonza e a cantora espanhola Aitana. Tendo a sensualidade latina mais evidente, No Bailes Sola nos teletransporta para a Cuba de Dirty Dancing 2: Noites de Havana.
Não só em batidas distintas que ela aposta seu trabalho, mas também em instrumentos diferentes. Seu potencial vocal é colocado à prova com as notas clássicas de um piano em Amor Ordinario e a serenidade das cordas de um violão acompanha a parceria da cantora com Mika em Me, Myself. Todas essas multifacetas de Danna Paola em K.O. tornam o álbum um dos grandes lançamentos deste mês (quem sabe, até mesmo do ano) e uma referência extraordinária para a música latina. – Júlia Paes de Arruda
Diogo Nogueira – Samba de Verão_Sol
2021 começou com Diogo Nogueira trazendo seu Samba de Verão e a saudade de uma roda e uma cervejinha gelada ao seu som. Esse novo trabalho contará com três álbuns: Sol, Céu e Lua. As músicas escolhidas pelo cantor para fazerem parte do setlist do primeiro disco, Sol, ajudam na construção imaginária de um ambiente praiano bem ensolarado típico do Rio de Janeiro (cidade da gravação). As faixas são capazes de emocionar, como é o caso de Andança, gravada em homenagem a madrinha Beth Carvalho; e ainda deixam o gostinho de quero mais pros próximos álbuns que estão programados.
Unindo inéditas à grandes composições brasileiras, o álbum fica ainda melhor trazendo participações especiais para agregar ao projeto. O grupo Fundo de Quintal no medley Fada/Cheiro de Saudade e os partideiros Mingo, Mosquito, Juninho Thybau, Gabrielzinho de Irajá e Baiaco em Pretas Brancas e Morenas/É Lenha/Amor Verde e Rosa reforçam ainda mais a ideia de uma roda de samba. Vem vacina, pois eu quero curtir um Samba de Verão do Diogo Nogueira na praia. – Ana Júlia Trevisan
Ashnikko – DEMIDEVIL
A rapper norte-americana em ascensão, Ashnikko, vêm ganhando espaço no cenário pop desde o sucesso mundial do seu single Stupid no TikTok em 2019. Posteriormente em 2020, a cantora emplacou novamente nas paradas em todo o mundo com seu hit Daisy, onde conta a luta de uma anti-heroína empoderada no combate ao patriarcado. Agora em 2021, a cantora nos presenteia com seu primeiro mixtape, DEMIDEVIL, um álbum cheio de mensagens feministas e contra o machismo.
Sua nova produção conta com as parcerias de Grimes, Princess Nokia e Kelis, além de referências à música pop dos anos 2000, como uma releitura inusitada de Sk8er Boi, hit atemporal da cantora Avril Lavigne. A mistura entre rap, pop e heavy metal, nos apresenta letras que falam sem pudor sobre o empoderamento feminino, enquanto Ashnikko ainda nos mostra que mesmo sua personalidade forte, é também sensível quando trata-se do amor. DEMIDEVIL não venho apenas como um manifesto feminista, como também é uma amostra do que Ashnikko tem a trazer de novo para a cultura pop. – Gabriel Brito de Souza
ZAYN – Nobody Is Listening
Depois do rebuliço de Icarus Falls, ZAYN parece ter entendido que às vezes menos é mais. O que falta ser compreendido pelo artista, entretanto, é que a simplicidade não precisa ser rasa e que o real significado da expressão reside em compreender a riqueza que pode ser lapidada do essencial quando saímos da superfície. Seu último lançamento, Nobody Is Listening, é uma tentativa cheia de boas intenções que se afoga em mesmice e hesitação, resultando em um dos álbuns mais oscilantes dos últimos tempos.
Entramos no disco já pisando em altos e baixos, topando com o projeto de rap insosso e raso de Calamity, que ainda apresenta uma parte cantada melancólica, interessante e muito bem mixada mas que é inaproveitada. Qualquer efeito que a abertura pudesse produzir é perdido ao se chocar com o single Better e com Outside, que com ritmos bons e instrumentos legais que marcam de leve um R&B combinam muito bem com a voz cheia de técnica e os sentimentos de ZAYN, mas não com o prelúdio do disco. Essa monotonia arrogante ainda se estende a Vibez – a sex song da vez, cuja única função é marcar mais uma (cansativa) vez a necessidade que o ex-One Direction tem de mostrar que é gente grande -, Unfuckwitable, Connexion e quase todas as canções do meio do álbum.
Mas nem tudo é perdido e Tightrope é o exemplo perfeito do que quero dizer, mostrando que ZAYN é completamente capaz de encontrar equilíbrio quando arrisca caminhar mesmo que seja – perdão pelo trocadilho – em um corda bamba. Entre um refrão pop e uma letra um pouco mais interessante do que as outras, ela prepara o caminho para o encerramento que o álbum encontra com o R&B puro e destemido de River Road, que nem parece ser do mesmo artista perdido que começou o álbum. Juntas, as duas faixas são as que correspondem melhor ao ZAYN que esperávamos ver em Nobody Is Listening. No fim das contas, o que fica é a esperança de que o artista junte coragem o suficiente para mergulhar em mares desconhecidos e emergir com descobertas realmente novas. – Raquel Dutra
Videoclub – Euphories
É viajando na temática oitentista que o Videoclub se fortalece em Euphories, criando uma narrativa animada e divertida que mistura os sintetizadores da antiga década com narrativas atuais e eternas. Entre o velho e o novo, a dupla consegue criar sua identidade, trazendo influências de grandes nomes como Duran Duran, sem nunca abandonar seu próprio estilo. A personalidade, impressa em cada uma das músicas, traz um frescor para o álbum que poderia cair facilmente na mesmice.
Sem se perder, Adèle Castillon e Matthieu Reynaud unem esforços e nos presenteiam com melodias aveludadas e intensas que crescem a cada novo play. Amour Plastique abre o disco francês cumprindo com seu papel de nos inserir naquele universo neon fantasioso, nos fazendo mergulhar de cabeça na atmosfera de Euphories. E sem medo de fazer um tipo de som que pode parecer datado, eles refrescam o ritmo e o trazem, de forma jovem e segura, para o novo século. – Ana Laura Ferreira
EPs
Jazmine Sullivan – Heaux Tales
Cabem um milhão de mulheres em Heaux Tales, o mais recente registro de estúdio de Jazmine Sullivan. É com esse intuito, de englobar narrativas e pontos de vista dos mais diversos, que a cantora e compositora da Pensilvânia conduz o trabalho, que é gigantesco demais para um EP. Tome Put It Down como exemplo. A faixa descreve a mais antiga das tramas – uma relação unilateral, em que um das partes se doa totalmente e, mesmo sabendo que o outro não retribui a atenção, se contenta com migalhas e procura motivos pífios para manter essa dinâmica problemática. Longe de qualquer juízo de valor, Sullivan é uma contadora de histórias nata.
A tracklist intercala reflexões sobre amor, auto estima, sexo e consumismo com interludes (algumas faladas, outras declamadas) que dão liga à experiência. Doze anos após sua estreia, Jazmine é veterana na cena e mostra saber muito bem aonde quer chegar. Arranjos minimalistas e crus complementam sua incrível voz, que consegue abraçar o significado total das composições. De modo que em Lost One, quando ela pede para um amor perdido que “por favor, não se divirta muito sem mim”, o ouvinte não tem outra escolha, a não ser suplicar junto a ela. – Leonardo Teixeira
RuPaul – RuPaul in London EP
As temporadas recentes de Drag Race nem tem mais vergonha de admitir que RuPaul publiciza tudo que pode. Então, era óbvio que viria algo junto da estreia da segunda temporada de Drag Race UK. Ao passo que, no show original, atualmente no 13º ano, a dona do império escancara regravações nos capítulos de estreia, na franquia inglesa ela precisava de outra saída.
Então nasceu o EP RuPaul in London. São meros quinze minutos de duração, distribuídos em 5 músicas remixadas. Nada de novo ou original vem daqui, mas as faixas são pedidas ideais para limpar a cabeça e bater cabelo sem sinal do amanhã (assim que o Lockdown da capa acabar, é claro). ConDragulations, cantada no Drag Race dos EUA, ganhou um remix por Jrob aqui. – Vitor Evangelista
Davi Moraes – Todos Nós
Estávamos prestes a completar um mês de isolamento quando chegou a notícia que faria doer o coração dos amantes da música brasileira. Aos 72 anos, Moraes Moreira, um dos maiores gênios do Brasil, partia para o plano espiritual. A pandemia não permitiu que as homenagens fossem feitas a altura ao homem que com suas composições escreveu o mais importante álbum nacional e com seus cordéis ganhou uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Seu filho Davi Moraes começa o ano de 2021 com o pé direito. Iniciando uma parceria com a Biscoito Fino, Davi lançou um EP em homenagem ao pai.
As quatro músicas contam com grandes parceiras de Moraes e de longa data de Davi, como Carlinhos Brown, Marina Lima e Joyce tornando ainda mais especial a homenagem ao mestre. O EP traz o sentimento de saudade logo na primeira canção: Aos Santos. O trecho “Você foi embora, me deixou aos prantos” nos coloca no lugar daquele filho que está cantando. Mas, a emoção maior fica com O Cantor das Multidões. Canção biográfica, traz a terra natal de Moraes, o encontro com os Novos Baianos e o mais importante, seu carisma com as multidões. É impossível não ir às lágrimas com a brasilidade das músicas. Todos Nós arrepia na mesma intensidade que transmite afeto e prova que Moraes Moreira deixou muitos ensinamentos a Davi. – Ana Júlia Trevisan
Nando Reis e Duda Beat – DUDA BEAT & NANDO REIS
Com a pandemia, as lives viraram parte do nosso cotidiano, trazendo um show para disfarçar a monotonia dos dias quarentenados. A Devassa apostou em festivais online, com muita música brasileira e doações para os profissionais dos bastidores. Foi nesse festival que nasceu a deliciosa parceria entre Duda Beat e Nando Reis, rendendo um EP com canções já eternizadas nos dois universos e que ganharam um novo estilo, prazeroso de se ouvir com essa dupla.
Logo em All Star, abertura do disco, fica claro que as músicas de Nando parecem ter sido feitas para a voz de Duda. A combinação de carisma, talento e vocal deles é tão babadeira que os próprios brincam que agora são “Nando Beat e Duda Reis”. As músicas da cantora também parecem ser conhecidas há muito tempo na voz do Infernal. Espero que esse EP seja apenas o começo do duo que tem tudo a ver, outras canções interpretadas por eles nas lives tropicais da Devassa, como Luz dos Olhos, merecem o carinho de uma gravação. – Ana Júlia Trevisan
Death Cab for Cutie – The Georgia EP
Alguns anos atrás, quando a ideia de uma pandemia não passava de ficção científica, a banda Death Cab for Cutie veio à São Paulo tocar no Popload Festival de 2018. Esse era o primeiro show deles no Brasil. Todavia, poucos minutos antes da entrada do grupo ao palco, uma assessora tomou o microfone e anunciou que o vocalista havia tido complicações médicas e teria de cantar e tocar sentado. Ben Gibbard, visivelmente abalado, abriu o coração, e as injeções que levou não impediram-no de criar um sensível espetáculo ao lado dos outros integrantes.
The Georgia EP, formado por covers de artistas da Georgia, transmite com exatidão a maneira ímpar como Death Cab for Cutie encara a arte da música. Melancólico, sarcástico e apaixonado por cantar em primeira pessoa, o registro, embora curtíssimo, renova os ares do grupo. The Georgia EP é um trabalho comemorativo à vitória democrata na eleição dos EUA, homenageando o Estado da Georgia, que azulou. Os destaques são Waterfalls (canção de TLC), sincera de tudo, e a alegórica The King of Carrot Flowers, Pt. One. – Vitor Evangelista
Músicas
Aly & AJ – Listen!!!
Após viralizarem no TikTok com a clássica Potential Breakup Song, o duo pop Aly & AJ embarcou em um novo ciclo musical com Listen!!!, segundo single do novo (e até agora não nomeado) álbum. As irmãs Aly e AJ Michalka vem entregando regularmente faixas sólidas com os EPs Ten Years (2017) e Sanctuary (2019), mas 2021 irá marcar o primeiro álbum de estúdio da dupla desde Insomniatic, de 2007.
Depois da marcha lenta e romântica de Slow Dancing, Listen!!! marca um retorno feroz às raízes líricas das irmãs Michalka, que cantam novamente sobre a decepção do amor em frente à indiferença, com a frágil esperança de poder encontrar um caminho para casa. Elas cantam: “Que o seu coração nunca me ouviria/Aqui me sinto uma refém/É óbvio que há algo faltando (Faltando)/Eu posso estar perdida, mas sei o caminho de volta”.
O duo é acompanhado dessa vez pela guitarrista Nancy Wilson da banda Heart e do músico Jack Tatum de Wild Nothing nos sintetizadores, elevando a faixa com pitadas dos anos 90 sem deixar de lado o synthpop aperfeiçoado em seus dois EPs anteriores. Listen!!! é, como seu título revela, um single que implora para ser ouvido. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Olivia Rodrigo – drivers license
De tempos em tempos, emissoras como Disney e Nickelodeon revelam fenômenos musicais massivos. Em 2021, foi a vez de Olivia Rodrigo e seu single de estreia, drivers license. A protagonista de High School Musical: The Musical: The Series debutou direto no topo da Billboard Hot 100 e quebrou dezenas de recordes ainda na semana de lançamento. O sucesso foi imediato: sob metáforas instigantes, pianos e percussões melancólicas, é quase indiscutível que drivers license é um dos melhores debut singles dos últimos anos no cenário pop adolescente.
A profundidade lírica de Rodrigo remete a narrativa detalhista de Taylor Swift e as letras autobiográficas de Lorde: íntimas, profundas e quase sinestésicas. O sucesso massivo é parcialmente abastecido por dramas pessoais de Rodrigo, mas não deixa de ser justificável – o rito de passagem (quase unânime) de ter seu coração partido é retratado de forma singular. O destaque da canção é sua ponte: as camadas de vocais em harmonia e a produção certeira são muito bem posicionadas na música. Para um single de estreia, drivers license cumpre até mais do que promete e coloca Olivia em destaque para um futuro de sucesso. – Laís David
Joshua Bassett – Lie Lie Lie
Muito antes da carteira de motorista de Olivia Rodrigo tombar o mundo adolescente do entretenimento, seu amigo e colega de elenco Joshua Bassett havia planejado o lançamento de Lie Lie Lie para o começo do ano. Um post do Instagram, datado de dezembro de 2020, já dava uma prévia do novo som do ator e cantor, protagonista da série de High School Musical. Lie Lie Lie chegou entre a brilhante faixa de Rodrigo e a insossa de Carpenter, os integrantes desse suposto triângulo amoroso.
E então drivers license chegou, e o resto é história. O que rolou é que Lie Lie Lie parece uma resposta fabricada ao hit da garota, e ainda soa soberbo e de língua afiada, mas a música em momento algum se mostra inventiva, inteligente ou mesmo interessante, como Anyone Else, single mais antigo de Bassett. Ele planeja lançar seu EP em março, e uma parceria com Sabrina Carpenter já foi confirmada. A esperança é que as novas canções sejam mais ousadas que essa Lie Lie Lie. – Vitor Evangelista
Sabrina Carpenter – Skin
Desde o lançamento de drivers license, há boatos de que a “loira” citada por Olivia Rodrigo na música fosse Sabrina Carpenter. Tais suposições fizeram com que o nome da cantora e atriz fosse muito comentado nas últimas semanas. E, se ela já estava sendo altamente citada, a jovem virou de vez o centro de atenções ao lançar seu último single, Skin.
Escrita por Sabrina e mais dois compositores, a música foi produzida por George Seara e conta com um ritmo que vai se fortificando durante os primeiros versos até atingir o ápice no refrão. A melodia, assim como de suas outras músicas, é do tipo que, por mais que você não goste de primeira, você vai se viciando enquanto escuta e, quando percebe, já está cantando junto.
Liricamente, a canção gerou uma grande polarização. Enquanto muitos acreditavam que Sabrina estava certa de mostrar seu lado da história, a maioria pareceu discordar da posição que a cantora tomou. As discussões foram tantas que Sabrina precisou desativar os comentários no Youtube e se pronunciar no Instagram, explicando que a canção não é apenas sobre a situação desagradável com a outra cantora, mas sim sobre outros aspectos de sua vida. Seja qual for a inspiração, Skin continua sendo um ótimo presente para os fãs da artista. – Mariana Chagas
Charlotte Cardin – Daddy
Triângulos amorosos são um grande clichê na cultura pop. Desde a dúvida de quem Ilsa escolheria no clássico Casablanca até a controvérsia de millennials entre Selena Gomez, Miley Cyrus e Nick Jonas, o público parece estar saturado de histórias repetitivas de amores proibidos. Mas é em Daddy, segundo single do álbum da canadense Charlotte Cardin, que se resgata o sentimento de estar preso entre as péssimas escolhas em sua juventude: uma delas, claro, é decidir entre dois diferentes pretendentes.
Os ríspidos vocais de Cardin e os arranjos sublimes distanciam a canção de qualquer outra do Top 40. A nativa de Montreal sabe muito bem usar sua voz como próprio instrumento dentro da produção minimalista e recheia a música de harmonias viciantes. O single é precursor do primeiro álbum da artista que, se for minimamente coeso com Daddy, tem tudo para ser um dos melhores do ano. – Laís David
Selena Gomez – De Una Vez
Após uma década da versão em espanhol de A Year Without Rain, Selena nos presenteou com a agradável surpresa de ver ela interpretando uma mais canção no idioma. De Una Vez é uma música forte, que fala sobre se recuperar das dores de um amor que já não existe mais. E todos elementos presentes no fantástico clipe colaboram para a criação de uma história de cura e superação. Os cenários usados no vídeo parecem mostrar os estágios passados pela cantora, narrando sua própria história.
Artista completa, Selena também se atentou para símbolos da cultura latina. Flores são usadas pela cantora remetendo um dos maiores ícones do México, Frida Kahlo, e também combinam com sua personalidade. O amuleto de coração usado por Gomez é a cereja no topo do bolo, usado para fins de cura na cultura mexicana, faz pleno sentido com a letra da canção. As cores saturadas usadas na capa do single conferem com o estereótipo americano criado na representação latina.
O clipe parece ser uma despedida de Selena com o passado, rompendo com todo trabalho já feito. Há uma parte que ela queima polaroids no fogão, e podemos associar isso com sua última era, Rare, que contava com várias fotos do estilo para divulgação. Após todo processo, vemos uma Selena mais tranquila e segura de seu talento. Não sabemos muito sobre o EP que está vindo por aí, mas é certo que podemos esperar algo grandioso da artista. –Ana Júlia Trevisan
Billie Eilish e ROSALÍA – Lo Vas A Olvidar
Íntima e profunda, a balada de Billie Eilish e ROSALÍA nos faz perguntar como vivíamos antes de ter ambas as vozes em uma única produção. As diferentes entonações, complementares e poderosas, criam camadas e mais camadas na sonoridade bem marcada que mescla os estilos das duas. E como um furacão, no meio do caminho entre WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? e El Mal Querer, está Lo Vas A Olvidar.
A canção, que embala o segundo episódio do especial de Euphoria na HBO, se torna ainda mais forte com o clipe simples e sombrio que a acompanha. Os sentimentos de aperto e desespero se edificam até serem finalmente libertos com toda a soberania das vozes de Eilish e ROSALÍA. Pessoal, tocante e imersivo, o single sabe como nos persuadir a adorá-lo, o que fazemos com bom gosto. – Ana Laura Ferreira
Justin Bieber – Anyone
Após atravessar a era não vingada Changes, Justin Bieber desencantou e mostrou seu verdadeiro eu. Letras mais leves e até mesmo piedosas fazem o cantor se destacar, o que fica cada vez mais evidente: o fato dele estar passando por uma fase autêntica e psicologicamente estável. Holy, Lonely e agora a cativante Anyone, são a tríade em que Bieber apostou. E Anyone veio pra ficar.
O cantor quis começar 2021 com o pé direito e já apresentou Anyone no primeiro dia do ano, em primeira mão para seus fãs em uma live. De praxe, a música alcançou o topo mundial no Spotify no lançamento, e ainda permanece no top 10 da plataforma. O videoclipe já acumula mais de 45 milhões de visualizações. Com uma produção que não desapontou, o vídeo se passa nos anos 70, onde Justin interpreta um boxeador inspirado em Rocky, filme estrelado por Sylvester Stallone – e o que mais impressionou o público – Bieber sem nenhuma de suas tatuagens.
Ele também chegou a emplacar sua tríade musical no top 10 do Itunes Estados Unidos, um feito um tanto quanto difícil para qualquer artista, e que, com certeza, já supera as tais “Mudanças”. “A música nos ajudou a superar muita coisa em 2020, e para mim, pessoalmente, foi um instrumento de cura e transformação. “Anyone é uma canção especial, inspiradora e cheia de esperança. Ela estabelece o tom para um ano novo mais iluminado, repleto de novas possibilidades”, disse Justin. Parece que os mais baixos que altos da vida do canadense não foram capazes de o parar. – Giovana Guarizo
Joshua Bassett – Only a Matter of Time
Depois de lançar Lie Lie Lie no meio do mês, Joshua Bassett finalizou janeiro com música e clipe de Only a Matter of Time. Uma das faixas que fará parte de seu vindouro EP, o jovem cantor continua batendo na tecla de mentiras e boatos de um finado relacionamento. Tematicamente muito perto do single anterior, Only a Matter a Time é melhor resolvida, ao menos.
A composição, embora ainda liricamente fraca, se encontra mais suavemente com a doce voz do artista. O clipe é simples mas potente em adereçar as dores latentes do garoto, que canta num único corte, próximo às paisagens terrosas de uma linha de trem. Ainda na pira do triângulo amoroso, Joshua Bassett se mantém na boca do povo. Agora é esperar pra ver se o EP viverá à altura dessa tempestade. – Vitor Evangelista
Lauren Jauregui e Pabllo Vittar – Lento (Brabo Remix)
A ex-integrante da girl band Fifth Harmony, Lauren Jauregui, lançou em 2020 o single Lento, uma das músicas que marca o início de sua carreira solo. Com o sucesso da faixa entre os fãs, a cantora já havia lançado um remix com o cantor porto-riquenho Rauw Alejandro, antes do anunciado com a parceria da drag queen e cantora brasileira Pabllo Vittar, o que trouxe ainda mais destaque para a faixa.
Rebuscando na sua origem cubano-americana, a cantora trouxe na versão original o típico ritmo das músicas latinas e um toque sensual, o que torna a música tão sedutora aos ouvidos. Já no remix em colaboração com Pabllo, os produtores Brabo trouxeram ao fundo batidas do brega, gênero musical brasileiro que, quando incorporado às vozes de Lauren e Vittar, deixam Lento ainda mais envolvente. – Gabriel Brito de Souza
FKA twigs, Headie One e Fred again.. – Don’t Judge Me
Após o cancelamento da turnê do álbum Magdalene (2019) por conta da pandemia da COVID-19, a cantora, compositora e dançarina FKA twigs transformou seu tempo de isolamento social em novas músicas, produzidas de forma remota. A artista utilizou o Facetime para colaborar com diversos produtores, inclusive El Guincho (El Mal Querer, de Rosalía). Esse processo criativo resultou em um novo disco, ainda sem nome, cuja primeira amostra vem no single Don’t Judge Me, versão estendida do interlúdio Judge Me, faixa presente na mixtape GANG, do rapper Headie One e do produtor Fred again..
A música teve seu lançamento acompanhado do vídeo dirigido por Emmanuel Adjei (Black is King, de Beyoncé e Dark Ballet de Madonna), que em três atos faz um retrato meticuloso da experiência negra no Reino Unido. O vídeo traz, além de FKA twigs e Headie One, vários influentes artistas britânicos negros, que contrastam com a Fons Americanus no Tate Modern, escultura de grandes dimensões que retrata e critica o tráfico de escravos no Atlântico. O diretor descreve a obra audiovisual como uma luta contra forças invisíveis de julgamento e opressão. – Carlos Botelho
The Cast of RuPaul’s Drag Race Season 13 – ConDragulations
A recente decisão de dividir o grupo de competidores em dois episódios tem beneficiado e muito as narrativas do reality show competitivo RuPaul’s Drag Race. A 13ª temporada começou diferente das demais, mas não demorou para que as 7 primeiras queens do ano cantassem e dançassem na passarela, regravando com seus próprios versos a canção ConDragulations.
A batida foi envolvente e o refrão, inesquecível, por mais que a composição geral da faixa não fuja muito do discurso que RuPaul vende por mais de uma década. Gottmik discutiu sua identidade como homem trans, mas escolheu cantar num flow lento, o que deixou sua parte minúscula perto das demais. Kandy Muse arrotou um verso inaudível, mas fez isso usando o melhor look do grupo. LaLa Ri é carisma vivo e seu timbre é um deleite à parte.
Olivia Lux surpreendeu pelos maneirismos de Mariah e os vocais adocicados, fazendo valer o lugar nas Melhores da Semana. O destaque de tudo, é claro, fica com Symone, a pose, as caras e bocas, o brilho nos olhos, impagável. Tina Burner é um palhaço talentoso, mas sua composição pareceu abarrotada naqueles vinte segundos disponíveis. Elliott abriu um espacate e rimou se divertindo no look Sylvia Design. Se ConDragulations for o gosto do ano 13 de Drag Race, estaremos bem servidos. – Vitor Evangelista
The Cast of RuPaul’s Drag Race Season 13 – Phenomenon
Depois de ConDragulations, chegou a vez de Phenomenon. Reservada ao episódio daquelas que perderam a Dublagem da estreia, a composição e coreografia deram um banho de qualidade e talento no primeiro grupo. Denali começou matando a pau, cheia de confiança e irreverência, comprovando com fatos seu lugar como vencedora do desafio.
Joey Jay deixou sua marca na competição, e a partir de agora uma drag queen sem peruca será imediatamente ligada à imagem da ‘gay ass bitch’. Kahmora Hall tentou, e esse é o máximo de reconhecimento que podemos dar à sua parte da canção. Rosé, autointitulada um palhaço fashion, foi a mais diferente do grupo, e sua conclusão é a mais apetitosa das 6 composições.
O refrão de Phenomenon apenas reafirma a capacidade de crescimento e evolução de arte drag e do papel de RuPaul, sedimentando isso na cultura pop e além. Tamisha Iman transmitiu cirurgicamente seu espírito de lutadora e mesmo a rigidez de seu flow fez sentido no plano maior. Utica merece todo amor e reconhecimento apenas por ser quem é, ‘se mexendo até o topo’. Novamente, se Phenomenon prever o progresso do ano 13, mal posso esperar pelo espetáculo completo. – Vitor Evangelista
Ariana Grande, Doja Cat e Megan Thee Stallion – 34+35 (Remix)
A tática de lançar um remix após o lançamento de um álbum é milenar no mundo da música. Agora, na era do streaming, é ainda mais comum que um artista tente dar continuidade a um disco por meio de lançamentos avulsos (e de certa forma, desnecessários) – é o que Ariana Grande tenta fazer com 34 + 35 (Remix) (feat. Doja Cat & Megan Thee Stallion). Não se engane: 34+35, segundo single do álbum positions, já era auto suficiente antes do lançamento de seu remix. Grande sabe muito bem construir uma melodia cativante em uma letra explícita e auto explicativa (“Você pode ficar acordado a noite toda?/Me fodendo até o dia amanhecer”’)
A combinação de um arranjo de violinos e uma grande produção pop já é frequente na discografia de Ariana. O problema é que a profundidade de 34+35 para por aí. O featuring com as duas maiores estrelas do rap de 2020 soa mais como uma manobra publicitária e não faz sentido dentro da canção – a adição de Doja Cat é até suportável (seu verso em motive, canção que sucede 34+35 em positions, é divino), mas nem o ótimo flow e personalidade energizante de Megan Thee Stallion conseguem conquistar o ouvinte. A ponte da música, parte mais divertida da canção, foi cortada por inteiro para dar espaço a um rap confuso e nada inteligente. A versão original é, sem dúvidas, muito melhor. – Laís David
Selena Gomez e Rauw Alejandro – Baila Conmigo
Seja no ápice da autoconfiança ou no fundo do poço emocional, é difícil não se render ao charme e à sinceridade da arte de Selena Gomez. Na fase que a artista mais se aproxima de nós ao explorar a riqueza de suas raízes latinas, não seria diferente. O single De Una Vez capturou nossa simpatia pela nova era, que se solidifica ainda mais como um possível grande acerto com Baila Conmigo.
De forma complementar ao autoconhecimento terno pregado na canção precursora, agora Selena brinca com o reggaeton ao lado do rapper porto-riquenho Rauw Alejandro. O ritmo dançante se combina à uma letra apaixonada e o conjunto da obra é um hit que transpira a essência do nosso verão – literalmente, porque quem assina o clipe é o brasileiro Fernando Nogari, que dirigiu Gomez remotamente e gravou parte das cenas no Ceará com atores e dançarinos brasileiros.
A destreza graciosa da artista em sua segunda língua e seu cuidado em levar a identidade e representação latino-americana para além dos ritmos e elementos visuais só nos deixam uma resposta possível: Selena, estamos bailando contigo como nunca. – Raquel Dutra
MOD SUN e Avril Lavigne – Flames
Por mais que Flames seja uma canção de MOD SUN, o foco de divulgação e marketing voltou-se à figura e à marca emo de Avril Lavigne. A cantora, distante desde seu Head Above Water, de 2019, retornou esse ano com estética neon e vocais rasgando paixão e incendiando as tais chamas que nomeiam a canção.
Tudo dá certo, por mais genérica que Flames possa aparentar. A capa simples, o cabelo verde limão e as mechas arco-íris são o indicativo de uma experiência sensacional e queimando nostalgia por míseros dois minutos e meio. O videoclipe não se envergonha de mimetizar os anos 2000, os figurinos carregados e o túmulo que abre a obra gritam os sons de Lavigne de vinte anos atrás. Quem sabe ela não retorna numa pegada assim para um CD? Por enquanto, nossa função é deixar Flames no repeat. – Vitor Evangelista
Lana Del Rey – Chemtrails Over the Country Club
A dupla bem sucedida Lana Del Rey e Jack Antonoff está mais que pronta para uma nova investida, que já tem nome: Chemtrails Over the Country Club. O single, de mesmo nome do álbum a ser lançado em 19 de março, é uma amostra perfeita do que vem por aí, com as melhores qualidades musicais da cantora. Del Rey, que virou parte intrínseca da cultura pop da nossa geração, sofreu um gigantesco backlash durante a pandemia por sua polêmica máscara de tule e por um post sobre os protestos do movimento Black Lives Matter.
Cancelamentos à parte, a antes ferrenha opositora de Donald Trump decidiu partir para uma militância mais sutil contra os apoiadores de direita e a filosofia lelé-da-cuca, como mostra a própria letra e o clipe de Chemtrails. A realidade é que a internet de tempos em tempos pega uma celebridade para Cristo, e Lana, que não se esconde atrás de assessorias e personagens perfeitinhos, pagou o pato da vez. Se Norman Fucking Rockwell! já foi intensamente humano, Deus queira que as polêmicas que antecedem Chemtrails façam dele, também, mais uma obra-prima. – Jho Brunhara
Clipes
Harry Styles – Treat People With Kindness
Vem sendo uma boa época para os fãs de Harry Styles. O sucesso de seu último álbum, Fine Line, lhe rendeu muito prestígio em 2020 e como agradecimento ele nos presenteia com o clipe de Treat People With Kindness logo nas primeiras horas do novo ano. A batida animada e empolgante, unida a letra esperançosa, abre caminho iluminado à escuridão da quarentena. Mas o grande destaque do vídeo fica mesmo com sua participação especial.
Fazendo a alegria de todos, Phoebe Waller-Bridge, a amada Fleabag, entra em cena tomando conta de nossa atenção. Dançante, literal e sentimentalmente, o single é um frescor que envia boas emoções a quem o assiste, e apesar da estética dos anos trinta, fotografada em preto e branco, a canção exala alegria suficiente para colorir nosso imaginários. É em meio a grandes expectativas que TPWK se consolida em moldes hollywoodianos, dando uma nova camada ao mais recente álbum de Styles. – Ana Laura Ferreira
The Weeknd – Save Your Tears
2021 começou e a era After Hours não acabou. The Weeknd ainda aposta no conceituado personagem do ano passado, e com razão, afinal o que não faltam são hits dentro desse trabalho. Dessa vez, ele finalmente lançou o videoclipe da faixa Save Your Tears, tão pedido pelos fãs.
O lançamento foi assunto no Twitter durante todo o dia de estreia. O motivo? O grande número de easter eggs presentes no audiovisual. O clipe se inicia com um The Weeknd de rosto totalmente coberto por plásticas e procedimentos estéticos, cantando para uma plateia mascarada. O que parece é uma crítica aos padrões de beleza das celebridades e o fato do personagem querer ser aceito e respeitado pela indústria. Os movimentos de dança lembram o já citado Coringa e as pessoas mascaradas o filme De Olhos Bem Fechados. Além desses, outros temas foram abordados na obra, a qual já acumula mais de 95 milhões de visualizações e cresce cada vez mais nos charts e nas plataformas de streaming.
Achou que não ia ter shade pro Grammy? Achou errado. Em uma parte do vídeo, o cantor aparece arremessando a cobiçada estatueta dourada. Depois de tudo que Abel enfrentou para ser reconhecido pela premiação, era previsível uma revolta. O importante é que essa revolta chegou carregada de talento, como se vê por esse trabalho. Mas o que ele merece ainda o aguarda: o Halftime do prestigiado Super Bowl. – Giovana Guarizo
MC Tha – Renascente (Onda, Oceano e Despedida)
Abram os caminhos novamente! O melhor álbum de 2019, Rito de Passá, ainda dá belos frutos. Dessa vez, MC Tha presenteia o mundo com uma trilogia visual sobre encontros, desencontros e reencontros. A primeira faixa a ganhar clipe foi Onda, colaboração com Jaloo e Felipe Cordeiro. Acompanhada da sempre presente simbologia da Umbanda, assistimos uma história de amor entre os orixás Oxum e Oxóssi, interpretados por Tha e Jaloo.
Em Oceano, Tha segue sozinha e protagoniza o desencontro. Com uma das letras mais bonitas do disco e visuais impecáveis do vídeo, somos imersos na narrativa da cantora. Em Despedida, talvez a maior música da carreira, o fecho traz também a sensação de despedida do disco. Não um adeus ruim ou doloroso, mas de gratidão. Rito de Passá está envelhecendo como o melhor dos vinhos, e a trilogia Renascente só nos deixa ainda mais ansiosos pelo próximo trabalho de Thais. – Jho Brunhara