ZAYN voa perto demais do sol em Icarus Falls

 

(Foto: Reprodução)

Jho Brunhara

Dois anos depois de lançar seu debut “Mind of Mine”, o ex-One Direction disponibilizou seu novo álbum, “Icarus Falls”, no dia 14 de dezembro. Com uma proposta um pouco ambiciosa, as 27 faixas confirmam que independente das críticas direcionadas a produção plastificada da banda que o lançou no mundo da música, o cantor britânico tem potencial para co-escrever todo o disco, assim como trilhar uma linha criativa coerente.

Lançado tarde demais para aparecer nas listas de fim de ano, e cedo demais para soar como um álbum fresco de 2019, Icarus Falls é quase metalinguístico: será que a ambição de Ícaro não foi a mesma que de ZAYN? Pelo mito, Ícaro voou perto demais do Sol para mostrar do que era capaz e o calor derreteu a cera de suas asas, culminando em sua queda. A ambição de lançar um álbum de 27 faixas, no fim do ano, talvez não tenha sido uma das melhores ideias. Levando em conta o mundo pop e a valorização da divulgação de um trabalho, a decisão pode ter prejudicado a visibilidade do disco, assim como sua recepção.

O Lamento por Ícaro, Herbert James Draper, 1898 (Foto: Reprodução)

Independente da questão de logística do LP, Icarus Falls tem muitas pérolas. Assim como em Mind of Mine, ZAYN entrega um pop com influências diretas do R&B. Recheado de músicas sobre o amor em fusão com o sexo, alguns comentários sobre a fama e sentimentos frustrados, se constrói a narrativa percorrida nas 27 músicas. Um dos maiores problemas de álbuns longos é que existe uma linha tênue entre manter a produção coerente sem torná-la monótona, e de certa forma essa é uma das maiores vitórias obtidas por ZAYN. Ainda assim, a ambição do excesso torna o álbum cansativo, desperdiçando a atenção que poderia ser canalizada em uma tracklist melhor pensada, assim como um conceito melhor desenvolvido. O que é disponibilizado não é impactante nem memorável o suficiente para justificar o grande número de músicas.

A seleção das faixas para um álbum geralmente é pensada com muito cuidado, mas no caso de Icarus a ideia que se passa é que não houve crivo nenhum. Algumas faixas poderiam, com toda a certeza, ter ficado de fora; ou até colocadas em um álbum diferente, algo como Icarus Falls I e II, como já vimos Tove Lo fazer. Funciona muito bem. Em termos de funcionalidade, a tracklist seria melhor próxima de algo estruturado dessa forma:

  1. Back To Life
  2. Imprint
  3. Stand Still
  4. Tonight
  5. If I Got You
  6. Talk To Me
  7. There You Are
  8. Satisfaction
  9. Scripted
  10. Entertainer
  11. All That
  12. Rainberry
  13. Insomnia

[Natural, Common, No Candle No Light (feat. Nicki Minaj) e Too Much (feat. Timbaland) mereceriam espaço em uma versão deluxe]

Icarus falls é a prova de que ZAYN é capaz de entregar um pop bem-feito, letras criativas, e que o cantor nunca foi apenas mais um integrante do One Direction, assim como Harry Styles. A maior diferença entre os dois é que Harry amadureceu melhor na carreira solo, enquanto o primeiro ainda parece precisar provar algo, seja para si mesmo ou para os outros.

Para seus próximos trabalhos, que se inspire na vontade que teve ao lançar seus dois discos, contrariando as expectativas de seu passado, mas que venha mais polido e organizado. Às vezes menos é mais. Existe uma clara intenção em entregar um trabalho bem feito, e talvez sejam necessários só mais alguns anos para vermos a transformação completa em um artista com clareza em sua identidade. Por enquanto, observar sua construção já é gratificante. Qualquer produção que quebre o padrão genérico e seja minimamente ambiciosa já chama atenção.



Destaques: Back To Life  /  Imprint  /  There You Are [Pop Perfection!]  /  Entertainer  /  Rainberry

 

 

Um comentário em “ZAYN voa perto demais do sol em Icarus Falls”

  1. Realmente, gosto muito do álbum, mas acredito que ele se perdeu o meio de estilos tão diferentes, a tracklist que você sugeriu ficou muito boa.

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