Mariana Chagas
Sair da casa dos pais não é fácil. Apesar de muitos jovens crescerem sonhando com a tão desejada liberdade, ela vem com obstáculos que nos fazem ter vontade de correr de volta para nossa cidade natal constantemente. A verdade é que não importa o quanto planejamos e tentamos manter uma estabilidade, em algum momento tudo desmorona. E é nesse momento de muita confusão que a irmã mais velha dos Johnson se encontra.
Zoey cresceu sendo mimada pelo pai, obedecida pelos caçulas e popular na escola. Acompanhamos a personagem de Yara Shahidi durante as temporadas iniciais de black-ish sendo um grande destaque da história. Passando de uma adolescente dramática para uma jovem mais dramática ainda, quando entra na faculdade a menina tem um brusco choque de realidade.
Acostumada a ter tudo de mão beijada e ser sempre queridinha, é assustador quando a universitária percebe que terá de lutar não apenas para conquistar sucesso, mas até mesmo para fazer amigos. Aos trancos e barrancos, unida a um grupo de pessoas tão perdidas quanto ela, Zoey vai descobrindo mais sobre a vida e, principalmente, sobre si mesmo.
A série foi criada pelos especialistas em sitcoms: Kenya Barris, criador de black-ish, e Larry Wilmore, creditado em roteiros de The Office e Um Maluco no Pedaço. Ambos arriscaram desviar da comédia do programa original para seguir um caminho diferente. Quebrando a quarta parede, os episódios são cheios de comentários sarcásticos e uma quantidade não-saudável de reclamações da protagonista para a câmera.
A verdade é que o crescimento fácil de Zoey a transformou em tão egocêntrica que fica difícil da menina conseguir enxergar o outro. Ela falha não com um ou dois, mas os três namorados que tem. Muito se diz que pessoas mal resolvidas machucam pessoas que sabem o que querem, e isso define cada relacionamento que a estudante viveu.
Cash Mooney foi o primeiro e talvez maior amor da jovem. O personagem, que ganha vida pela atuação de Da’Vinchi, surgiu na vida de Zoey em uma situação tirada de fanfic: para se manter no time de basquete, precisava de ajuda com os estudos. Sutilmente os sentimentos de ambos foram mudando, mas a meta do atleta de seguir jogando pelo país se manteve.
Dividida entre seguir o menino ou continuar na faculdade, a estudante recebe uma visita que vem para auxiliar: Rainbow. A mamãe, papel da talentosa Tracee Ellis Ross, lembra a filha de suas metas originais e a importância de se escolher acima de qualquer garoto. Quando o namoro finalmente acaba, Zoey passa por um ritual de passagem para qualquer pessoa: seu primeiro coração partido.
Assim como toda recente solteira, a menina promete focar nos estudos e ficar longe de qualquer romance por um tempo. Mas como o universo ama desafiar sua palavra, as coisas esquentam com Luca (Luka Hall) e a dupla vive o mais lindo friends to lovers. Como não ser #TeamZuca?
Parceiro de Zoey nos estudos de moda, Luca é um verdadeiro artista: talentoso, misterioso e sempre chapado. O ator dá vida ao seu personagem carregando extrema naturalidade, de forma a ser difícil lembrar que o estudante da Cal U, infelizmente, não existe na vida real.
A faculdade onde a mágica acontece é, também, fictícia. A California University of Liberal Arts é gravada nos estúdios Walt Disney em Burbank, que foi fechada temporariamente por conta da pandemia. “Existem diversos protocolos e, infelizmente, L.A. não está realmente fazendo um trabalho ótimo com o covid, em geral”, comentou Yara sobre o porquê do programa precisar ter um tempo em hiatus.
Além do amor romântico, a caloura também não é lá uma ótima amiga também. Quando descobre que Nomi (Emily Arlook) está grávida, seus julgamentos sobressaem o apoio emocional que sua colega precisava. Ao ver o namorado de Jazz saindo escondido, esconde o segredo da personagem de Chloe Bailey.
Apesar da lista enorme de vezes em que falhou com as pessoas ao seu redor, Zoey se esforça o dobro para melhorar a situação. No fundo, não há maldade nenhuma por trás dos seus erros, apenas a mais pura ingenuidade e um tanto de individualismo.
As gêmeas que estão com a universitária no caminho ao diploma são Sky e Jazz Foster. Multifuncionais, Halle Bailey e Chloe Bailey também cantam a música de abertura. As irmãs, além de ótimas atrizes, têm entrado muito bem na indústria musical. Com os álbuns The Kids Are Alright e Ungodly Hour, a dupla já coleciona 5 merecidas indicações no Grammy.
Agora, as personagens de Francia Raisa e Emily Arlook são controversas. Ana Torres é uma latina republicana que já causou muito alvoroço no grupo – imagina ter coragem de dizer que pessoas conservadoras sofrem tanta opressão quanto pessoas negras – e constantemente faz comentários de caráter duvidoso. Nomi é uma garota bissexual que terminou com seu namorado por… Bom, por ele ser bissexual. Continuo tentando entender.
A discussão a respeito da comunidade LGBTQIA+, porém, não se limita na personagem que é uma péssima representatividade da letra B da sigla. Vivek (Jordan Buhat), o traficante de drogas no grupo, vive uma noite de festa onde beija um garoto e leva seus amigos à loucura. O desrespeito que Aaron (Trevor Jackson) e Douglas (Diggy Simmons) tratam o menino após saber do acontecimento leva a um dos episódios mais intensos.
Know Yourself, da terceira temporada, aborda homofobia e sua ligação com a masculinidade tóxica. O episódio recebeu a primeira e única indicação da sitcom ao Emmy. Concorrendo na categoria de Melhor Fotografia em Série de Câmera Única (Meia-Hora), o cineasta Mark Doering-Powell, que já é reconhecido por seu trabalho em Todo Mundo Odeia o Chris, agora representa grown-ish na competição.
Com cada temporada se passando durante um ano universitário, na terceira Zoey já é oficialmente uma veterana e legalmente adulta. “Sabe como você nunca quer chegar em uma festa sóbria? Na vida adulta, você nunca quer chegar despreparada. Nem sóbria”, é como a personagem inicia a nova etapa de sua vida.
Depois de ignorar todos os seus problemas e viajar para Londres em busca de seu emprego dos sonhos, a Johnson volta e precisa arrumar a bagunça deixada. Dividida entre os sentimentos que tem pelo ex e por Aaron, ela se sente mais perdida do que nunca.
Mas com o apoio que tem de suas amigas desde o primeiro episódio, ela segue sua jornada. Juntos, o grupo encara todos os monstros da Geração Z – do cancelamento na internet até a depressão. Nenhum dos personagens é perfeito. Pelo contrário, todos erram, nos irritam e são completamente humanos.
Na cena final da temporada 3, os estudantes da Cal U se unem em um protesto contra o racismo na faculdade que é majoritariamente branca. E lutando para encontrar sua identidade sendo mulher e negra, Zoey não poderia ser de outro jeito.
A protagonista é daquelas que ocasionalmente te faz querer jogar o computador longe, mas também te envolve em seus dramas e problemas juvenis. No fundo, saber que até mesmo a prodígio da família preta mais querida e bem sucedida das sitcoms se encontra em crise, é estranhamente tranquilizante. Sair da casa dos nossos pais não é fácil. Nem mesmo para Zoey Johnson.