Monique Marquesini
Uma mudança para a cidade grande, encontros e desencontros, cultura nordestina, amizades, música pop, autoconhecimento e protagonistas LGBTQIA+: essas são algumas características do livro de estreia de Pedro Rhuas. Lançado em julho de 2021 pela Editora Seguinte, o título curioso Enquanto eu não te encontro guarda a simplicidade de um romance adolescente junto da amplitude de novas descobertas para um garoto gay, nordestino e calouro na universidade.
A comédia romântica foi publicada pela primeira vez em 2019 de maneira independente pelo próprio autor. Até que, no ano de 2020, Pedro Rhuas foi vencedor da Clipop – um concurso da Editora Seguinte na busca de novos autores no cenário nacional – e assim o livro foi lançado oficialmente no mercado editorial. Após apenas dois meses de lançamento, a obra atingiu a marca de dez mil cópias vendidas e entrou na lista dos mais vendidos da revista Veja.
Em um livro sobre primeiros amores e descobertas, o autor decide introduzir-nos a história cheia de referências do ano de 2015 – com os sucessos pop de Taylor Swift em 1989 e Katy Perry em Prism e até mesmo os memes de Inês Brasil. Lucas, o cativante protagonista, está em um momento delicado e inconstante da vida: a primeira vez morando sozinho e longe do interior, em Natal, a capital do Rio Grande do Norte. Após a mudança, Lucas tem planos de aproveitar a cidade e a universidade ao lado de seu amigo Eric, mas tudo dá errado quando o amigo começa a namorar, e ele se vê sozinho em um lugar completamente novo.
Então, para afastar a solidão, Lucas decide ir à inauguração de uma boate, a Titanic, e em meio a um esbarrão sua vida vira de ponta cabeça. Ao resolver ir a essa abertura com Eric e seu namorado Raul, Lucas espera ficar de vela durante a noite toda. Mas, eles vão até lá ao som de algo que consegue unir os dois amigos, música e divas pop. Ao chegar ouvindo Team da Lorde, Lucas está decidido a aproveitar a festa e fazer dela a melhor para si mesmo, sem se preocupar com o fato de estar solteiro e acreditar que o amor não é pra ele, mal sabe o que a noite lhe reserva.
Na boate, um acidente que suja completamente sua roupa de bebida acontece, e o que poderia ser um possível desencontro para acabar com a festa, se torna o melhor encontro de sua vida. Então, o maravilhoso jovem francês Pierre que acidentalmente o sujou, está na sua frente para se desculpar e chamá-lo para tomar um drink. Pierre é como um galã ou aquele sonho de pessoa mas, além do papel tradicional, ele se mostra ao longo da história a ser mais do que um rosto bonito. Fazendo o romance mais real, já que não só a beleza importa para o amor. O encontro dele com Lucas parece ser improvável, mas em meio a um desastre acontece. “Se soubesse que uma calça estragada traria tanta sorte, teria tentado antes.”
Nesse momento, a narrativa de Lucas e Pierre é de dar borboletas no estômago até no leitor. Conversas, risadas, identificação, paquera e diferenças culturais são assuntos da primeira e mais apaixonante noite dos dois jovens. Porém, como nada na vida de Lucas é fácil, mais um desastre acontece, e logo, o naufrágio de suas novas descobertas acontece na Titanic. Por acaso, essa instabilidade no romance e também nos personagens, faz com que o livro seja um refúgio para o leitor, mostrando que grande parte das histórias de amor perfeitas tem espaço apenas dentro da ficção, a trajetória da obra faz com que o real se torne bonito e apaixonante.
A história então, passa a retratar os desencontros da vida de Lucas, e o primeiro deles é não saber se ele voltará a encontrar Pierre. As agressões homofóbicas e as expectativas de gênero projetadas nele durante sua infância, uma briga com seu amigo Eric, suas inseguranças e principalmente os momentos de autoconhecimento de Lucas, fazem a história de Pedro Rhuas única em meio a tantos romances LGBTQIA+, já que acompanhar essa jornada faz com que os leitores se identifiquem com as dificuldades da vida e do amor. “Uma das minhas descobertas foi realmente chocante. A razão pela qual não conseguia me apaixonar era delicada: eu não gostava de mim.”
A escrita do autor faz com que o leitor se apaixone pelo casal desde a primeira troca de olhar deles, e vê-los juntos se conhecendo e se apaixonando é especial. A história se faz necessária, não apenas pelo romance, mas pela importância de relações saudáveis e leves frente à uma realidade muitas vezes dolorida, mostrando que somos dignos de amar e sermos amados.
Talvez essa seja a maior singularidade dessa história de amor, a improbabilidade, já que mesmo tendo a noite mais perfeita da vida, eles se perderam, e ao se acharem mais uma vez, agora estão distantes. O livro termina com gostinho de “quero mais”, e por isso o autor deixa uma cena extra, na qual uma carta pode mostrar mais uma vez que nenhum encontro é por acaso. Além da carta, o livro conta com uma trilha sonora oficial com músicas autorais do escritor e também cantor Pedro Rhuas.
A comédia romântica escrita por Pedro Rhuas é absolutamente mais do que esperamos de um romance, é um espaço de celebração para pessoas nordestinas e LGBTQIA+. A história mostra a importância de incentivar a literatura nacional e a necessidade de diversidade nesse espaço. O livro dá visibilidade e realidade a uma narrativa que é sempre colocada em um lugar de inexistência, e assim como a improbabilidade do amor de Lucas e Pierre, Enquanto eu não te encontro é um encontro à possibilidade de representatividade e espaço para quem nunca o teve.