Vitor Evangelista
De Volta à Itália, drama cômico que coloca pai e filho na vida real para contracenarem uma história quase biográfica, recebeu a cruel tarefa de se fazer presente na seleção do Festival do Rio 2021. Cruel pois, espremido entre os inquestionáveis, magnânimos e escaldantes Quo Vadis, Aida? e Dias Melhores, o filme de Liam Neeson soa como um exercício fracassado de emoção, entrega e conclusão.
A parte boa é que assistir o congestionado filme inglês dá um descanso para a mente. Entre revoltas russas, situações de violência no meio esportivo, uma bebedeira dinamarquesa e um prédio fantástico na França, nosso cérebro precisa de um arrego, por menor que seja (esse, especificamente, dura 90 minutos). A história coloca Liam Neeson para interpretar um artista, pai de Micheál Richardson, seu filho na vida real.
Na ficção, os dois moravam na Itália, e, em um descuido do personagem de Neeson, o renomado mas dormente pintor Robert, sua esposa sofreu um fatal acidente de carro. O garoto Jack, papel do mais-bonito-que-bom-ator Richardson, ressente o pai até hoje, mais de uma década depois do ocorrido. Na vida real, as tramas se encontram: Neeson foi casado com a atriz Natasha Richardson, com quem teve Micheál, por 15 anos. Em 2009, Natasha morreu, deixando o marido e dois filhos.
Retomando rimas dessa tragédia do mundo real, o diretor e roteirista James D’Arcy escala Neeson e Richardson para interpretarem quase a si mesmos, com toques de um humor Sessão da Tarde, cheio de pratos italianos, romances de verão e uma bela e previsível história de superação e crescimento. Estreando atrás das câmeras, D’Arcy cozinha uma sopa sem sal, que sacia a vontade de quem a consome, mas, que dez minutos depois de ingerida, se perde na memória.
O currículo de D’Arcy como ator parece ter dado confiança suficiente a ele para colocar Neeson e Richardson em enrascadas da pesada, seguindo à risca a lista de clichês esperados em um filme que envolve uma casa abandonada que precisa de reforma, uma relação familiar mal-resolvida e a inevitável decisão de transformar em metáfora essas duas situações. Afinal, ao passo que o casarão ganha argamassa, tem seus buracos cobertos e se livra das doninhas, é óbvio que o convívio dos personagens melhorará na mesma medida.
Fora do escopo da ordinária abordagem derivada do diretor, Liam Neeson se move desinteressado pela tela, agindo de mau grado em toda e qualquer situação que atue. Quando chora, vende a verdade pela compaixão que nós, como público, temos por sua figura no Cinema, de Mestre Jedi a pai com sangue nos olhos. O colírio Micheál Richardson é uma eterna promessa, construindo suas cenas com a leveza que Made in Italy precisa, a fim de não se levar tão a sério. Muito mais uma viagem familiar de férias à ensolarada bota da Europa do que propriamente um filme com começo, meio e fim, De Volta à Itália marcou presença no Festival do Rio 2021, e isso é o máximo que posso dizer.