Nathalia Tetzner
Submetida a uma tutela pelos últimos treze anos, Controlling Britney Spears: Em Busca de Liberdade coloca nos holofotes os bastidores da estrutura que comandou a vida da princesa do pop por todo esse tempo. Com a ajuda de novos documentos e testemunhas, a sequência de Framing Britney Spears: A Vida de uma Estrela transcende a exposição do caso e mergulha na investigação de um suposto abuso tutelar.
Mais uma vez, o movimento #FreeBritney, orquestrado pelos fãs da cantora, não passa despercebido. A comoção do lado de fora da audiência do dia 23 de junho de 2021, quando Spears finalmente foi ouvida por um juiz, é a cena responsável por iniciar o filme. Porém, logo ao final da vinheta de abertura, a direção de Samantha Stark retoma os anos iniciais da tutela para tentar responder duas incógnitas: quem controlava a vida de Britney Spears? E como?
Em um ato de coragem, os entrevistados falam abertamente sobre os momentos que os fizeram questionar a credibilidade da tutela. As declarações mais explosivas são feitas pelas alegações inéditas que revelam o fato de Jamie Spears não ser a única figura por trás das cenas. Uma dessas peças fundamentais para a repercussão do documentário é Alex Vlasov, ex-funcionário da empresa de segurança Black Box, contratada pelo pai de Britney Spears para acompanhá-la durante as 24 horas do dia.
Segundo Alex, o chefe de segurança Edan Yemini teria se aliviado por não ter sido citado em Framing Britney Spears: A Vida de Uma Estrela. Para o seu azar, a obra sucessora menciona o seu nome diversas vezes ao narrar as possíveis ilegalidades cometidas. Responsável por instalar um dispositivo de gravação no quarto de Britney, vigiar o seu celular e medicá-la, Edan, preocupado com as manifestações dos fãs, teria até mesmo armado fotos da cantora saindo da reabilitação com o namorado para despistá-los.
A turnê responsável por trazer a artista de volta aos palcos também é um dos grandes alvos do segundo filme. Tish Yates, figurinista da princesa do pop por quase uma década, relata a intensa agenda da The Circus Starring: Britney Spears e os episódios tristes que vivenciou ao seu lado. Aqui, Robin Greenhil, ex-gerente de negócios da cantora, é reportada pela primeira vez como mais um palhaço do verdadeiro circo que a tutela se tornou.
O aspecto investigativo de Controlling Britney Spears: Em Busca de Liberdade é tão excelente que pode ser visto como um dossiê. Depois de tamanha denúncia, Liz Day, repórter do The New York Times e produtora do documentário, traz à tona o provável envolvimento de Robin na conta bancária de Britney, já que Greenhill também é funcionária da empresa Tri Star Sports & Entertainment, comandada por Lou Taylor, ex-gerente financeira da cantora.
Com duas novas figuras acompanhando o pai de Britney Spears, a discussão sobre um suposto abuso tutelar emerge. Para os telespectadores, o modo como Jamie Spears, Edan Yemini e Robin Greenhill controlavam cada passo da princesa do pop se torna evidente, fazendo questionar o quão essa violência pode estar institucionalizada. Afinal, se as possíveis irregularidades na tutela de uma artista percorrem o mundo e ganham documentários renomados a respeito, as pessoas comuns não têm a mesma sorte.
Em uma decisão criativa que faz arrepiar todos os pelos do corpo, enquanto os desdobramentos atuais do caso são tratados, a direção resgata a declaração de Britney Spears na audiência do dia 23 de junho de 2021 para embalar os momentos finais do filme. É como se cada fala da cantora comprovasse as informações transmitidas por Controlling Britney Spears: Em Busca de Liberdade, talvez assim, permitindo uma futura visibilização dos casos de abuso em tutelas.
Essa possibilidade é defendida pela própria princesa do pop. Passados dois meses desde o lançamento do documentário, a artista finalmente se tornou uma mulher livre. Agora, ela deseja ser a voz daqueles que são calados por um sistema judiciário que trata os tutelados de forma questionável: “Eu sou uma mulher muito forte, então eu sei o que o sistema pode fazer com essas pessoas. Espero que minha história possa impactar e fazer alguma diferença nesse sistema corrupto”. Será que algum dia o Persona poderá publicar uma resenha de um filme em que Britney Spears conta sua própria história?