Com banda completa, PJ Harvey salva o rock em São Paulo

PJ Harvey no Popload Festival (imagem: Daniel R. N. Lopes)

Matheus Fernandes e Nilo Vieira

Mais de treze anos separam as duas vindas de Polly Jean Harvey ao Brasil. Em novembro de 2004, promovia Uh Huh Her (seu álbum mais radiofônico) no Tim Festival, acompanhada por um trio de apoio. Na última terça e quarta (14 e 15), a banda de PJ era composta por dez integrantes, mudança ocorrida entre seus últimos discos, Let England Shake (2011) e The Hope Six Demolition Project (2016), que compõe a maior parte do repertório da turnê. Continue lendo “Com banda completa, PJ Harvey salva o rock em São Paulo”

O dia em que eu subi no palco do Green Day

Depois de sete anos, o Green Day finalmente voltou ao Brasil (Foto: Vitor Valandro)

André Dal Corsi

“Desce daí agora!”, disse o bombeiro. Eu, inconformado: “Por quê? Qual é!!!”. “Só desce!”, retrucou um dos seguranças.

Desci. Com certeza era o fim! Achava que não teria a oportunidade de subir no palco naquela noite. Afinal, se eu escalasse de novo nos ombros do Vitor, poderia ser retirado de perto do palco no show da minha banda favorita. Mas eu estava errado, extremamente errado. O motivo? Me precipitei. Ninguém seria convocado aquele hora. Não era o último verso, e isso aconteceria somente nos próximos minutos…

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Slipknot: o horror cotidiano, de Iowa a Botucatu

Adote animais e louve o Cramunhão

Nilo Vieira

O segundo disco do Slipknot é uma audição dolorosa (já comecei o texto dando piada de graça pra detratores). Urros quase ininterruptos, linhas percussivas marretadas, guitarras de afinação baixa com timbres que beiram o nojento, intervenções eletrônicas barulhentas. Pra coroar, a masterização, vítima da loudness war, joga todos os níveis no vermelho. 14 faixas, 66 minutos de duração. Continue lendo “Slipknot: o horror cotidiano, de Iowa a Botucatu”

Melhores discos de Outubro/2017

Leonardo Teixeira, Matheus Moura, Nilo Vieira e Satanás

Quem precisa de ficção? O terror está à solta! Dentre as denúncias de assédio e abuso sexual de famosos, atentados na Somália e repressão violenta contra os separatistas catalães, basta correr até o jornal mais próximo que é batata. Se espremer sai até sangue, dizem os mais velhos.

Aqui na curadoria mais supimpa da internet brasileira, tentamos aliviar um pouco a barra com música (ou então ficar paranoico com trilhas condizentes – tá todo mundo doido!). Cá estão nossas escolhas dos últimos 31 dias:

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Woody Guthrie: da poeira ao povo

O caubói de Oklahoma

Gabriel Rodrigues de Mello

Um som quebrava o ruído das máquinas no hospital. De um quarto pequeno, soava um violão. “We come with the dust and we go with the wind” (‘viemos com o pó e vamos com o vento’), Arlo Guthrie cantava para o seu pai, Woody; este que reagia com um olhar cansado, mas com um sorriso discreto. Continue lendo “Woody Guthrie: da poeira ao povo”

Blecaute! Uma década da ruína pública de Britney Spears

Leandro Gonçalves

Alternativa aos poderosos vocais, de Whitney Houston à Mariah Carey, e às açucaradas boybands e girlgroups vibrantes que dominavam as paradas musicais, Britney Spears surgiu como uma promessa revigorante ao cenário pop no final dos anos noventa. A ambígua imagem feminina da jovem conquistou rapidamente o público, e seu estrondoso sucesso fez com que seu nome fosse comparado, ainda que precocemente, a grandes mulheres da indústria, como Madonna. A figura eloquente que reunia nuances de inocência com características de Lolita encarnava a virtude atrativa do feminino, instrumento lucrativo aos monopólios fonográficos. Continue lendo “Blecaute! Uma década da ruína pública de Britney Spears”

Paul McCartney toca São Paulo

Noite de clássicos (foto: Marcelo Brandt/G1)

Camila Araújo

Paul mandou quase três horas de um set bem elaborado, escolhido a dedo para agradar os corações beatlemaníacos no Allianz Parque. Mesmo com uma voz rouca – provavelmente devido ao tempo inusitado de São Paulo que resolveu fazer frio e tempo de chuva de última hora – e com 75 anos nas costas, as músicas foram tocadas com perfeita maestria, de um veterano de guerra que há meio século convive com o mesmo repertório.

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Radiohead, a era digital e o fator humano

Eu tenho muitas amizades virtuais, eu bato-papo pelo meu computador

N. V. #41

Um texto sobre OK Computer (1997) estava na agenda para o primeiro semestre deste ano. O terceiro álbum do Radiohead é um dos mais aclamados da década de 90, e não à toa: a música mescla diversas influências (DJ Shadow, Pink Floyd, R.E.M, Can) em um produto grandioso e distinto, enquanto as letras já adiantavam a ansiedade e isolamento proporcionados com a chegada da era digital – sem contar os belos clipes e o encarte críptico. Continue lendo “Radiohead, a era digital e o fator humano”

Melhores discos de Setembro/2017

O soulman Charles Bradley, falecido este mês: carreira curta e tardia, legado imediato e imortal

Adriano Arrigo, Matheus Fernandes e Nilo Vieira

Assim como ano passado, setembro veio para quebrar a sequência de meses de vacas magras na curadoria. O resultado é a seleção mais extensa já registrada nesta seção, abrangendo os mais diversos estilos. Com a benção do finado Charles Bradley, seguem nossas escolhas: Continue lendo “Melhores discos de Setembro/2017”

Godspeed You! Black Emperor e o anarquismo simbólico

O Canadá de 1997 resumido em uma foto

Nilo Vieira

Em 1997, o rótulo post-rock era recente e até fazia sentido em bandas diferenciadas como o Godspeed You! Black Emperor. Os pilares centrais do rock (guitarra, baixo e bateria) estavam ali, mas eram utilizados em composições mais próximas a Steve Reich e Ennio Morricone – riffs e solos eram substituídos por texturas e orquestrações, peças de longa duração eram regra. Continue lendo “Godspeed You! Black Emperor e o anarquismo simbólico”