Larissa Vieira
É até irônico falar sobre o Carnaval depois de mais de um ano dentro de uma pandemia que proíbe tudo que o fervoroso feriado brasileiro proporciona durante uma semana ou mais. Mas, como um respiro dentro das nossas 4 paredes de casa, a Netflix decidiu entregar, nas telas, um pouco do calor de fevereiro que não vivemos há algum tempo. O novo filme original da plataforma de streaming traz a essência brasileira, dentro de uma boa e surpreendente comédia romântica.
A produção ainda carrega algo super presente nos últimos anos: redes sociais e influenciadores digitais. A protagonista Nina (Giovana Cordeiro) é uma influencer em ascensão que busca o tão sonhado e grandioso marco de 1 milhão de seguidores. Depois de uma traição, que viralizou na plataforma que a tornaria famosa, a jovem decide permutar uma viagem para o famoso carnaval de Salvador, ao lado de suas 4, e completamente diferentes, melhores amigas. Então, Michele (Gkay), Vivi (Samya Pascotto) e Mayra (Bruna Inocencio) embarcam para as luxuosas comemorações do famoso cantor baiano Freddy, interpretado por Micael Borges.
O filme surpreende ao ser mais do que apenas uma representação das fervorosidades, do calor, da muvuca e do bem conturbado mar de emoções que é o Carnaval, mas também ao saber costurar, ao mesmo tempo, a história da cultura de influenciadores digitais e, consequentemente, a cultura do cancelamento, que vem surgindo nos últimos anos e ganhou uma grande proporção em 2021. A produção, ainda, consegue construir isso de maneira leve e reflexiva, o que faz com que você entenda o peso da situação enquanto que ainda não carregue suas bagagens.
Além disso, não só o peso da cultura do cancelamento, mas também sobre como é a relação dos influenciadores com o público e as redes sociais, mostrando como isso pode ser consumidor e frustrante. Isso porque Carnaval mostra que, nem sempre, os milhões de seguidores tem uma grandiosa importância como as mídias aparentam. Esse cenário é brilhantemente apresentado com a personagem de Flávia Pavanelli, atriz e influencer com 18,3 milhões de seguidores, que interpreta Luana, uma famosa e grandiosa blogueira, inspiração para Nina.
À medida que os seguidores da jovem aspirante a influencer vão crescendo, os problemas em sua vida pessoal vão se tornando uma grande bola de neve, dentro da famosa fórmula das comédias românticas, mas que ainda assim se afasta do clichê. Uma vez que Carnaval carrega as realidades do feriado, seja ao mostrar o calor das comemorações, ou os traumas de aglomeração, deixando distante, portanto, um cenário perfeito e ideal do estereotipado padrão norte-americano.
Carnaval, ainda, mostra o poder da amizade das jovens. Cada uma tem sua personalidade específica, mas que se completam quando elas se tornam quatro. A fluidez e leveza da intimidade entre elas é completamente natural e mostra que a química apaixonante foi levada de fora das câmeras para o filme. É com isso que o novo longa da Netflix consegue aproximar, mais ainda, a história de pessoas reais que estão por trás das telas assistindo. Enquanto Nina, Michele, Vivi e Mayra podem ser completamente diferentes do público, cada uma tem um traço ou atitude que vai fazer você se sentir próximo delas.
Além disso, o retrato do filme faz você relembrar aqueles momentos, que, com certeza, já viveu em meio ao Carnaval, sejam os perrengues ou os melhores acontecimentos. Assim mesmo, por conta dele ter sido gravado, em partes, em meio às comemorações reais de Salvador, em 2020, sendo, então, super verossímil e matando um pouco da nossa saudade do maior feriado brasileiro.
Ainda vale lembrar como Carnaval homenageia um dos lugares brasileiros mais bonitos, honrando toda a história de Salvador e da Bahia. As imagens da bela cidade são de cair o queixo e mostram além da beleza estética nordestina. O filme consegue, então, construir e valorizar a cultura local, de uma forma bela e apaixonante para além das telas do streaming, carregando a leveza e poder do Candomblé e Axé.
Apesar de, por conta da pandemia, o filme não ter sido gravado inteiramente durante o tempo programado, no início do ano, em 2020, durante o feriado de fato, a todo momento a essência de Salvador e seu calor baiano passam para o espectador através da tela, deixando uma sensação que você está na cidade. Além disso, o visual da produção remete a alegria e vivacidade brasileira, como uma ótima representação, para o mundo afora, de como é a beleza urbana e riqueza cultural única do Nordeste do Brasil.
E, prepare-se, além de toda comédia romântica o final do filme carrega um plot interessante e que vai fazer você valorizar mais ainda a produção, que, de primeiro momento, pode parecer rasa e fútil. Já que a trama consegue, então, abordar a representação de uma nova maneira, trazendo a aceitação pessoal como um dos maiores elementos da história, que se tornam, ainda, um dos momentos mais ricos e valorizadores de toda a produção.
O novo longa brasileiro da Netflix, portanto, é aquela comédia romântica que vai fazer você querer dar o play quando o filme estiver no topo do seu catálogo do streaming. Isso porque ele é cativante e atrativo, só pelo nome, mas vai te prender a atenção logo nos primeiros minutos. Mas, além disso, você ainda vai refletir e, ao mesmo tempo, se sentir leve depois de ter começado a assistir.
A produção, ainda, é inteligente ao, durante o meio do ano, reviver o feriado que não pudemos viver no início dele, e dar um ar de esperança para o tão sonhado de 2022, se as vacinas forem compradas, claro. Carnaval, portanto, é inteligente, leve, interessante, nostálgico, esperançoso, divertido, empolgante, frustrante – um mar de sensações – assim como é o melhor feriado brasileiro.