Mariana Chagas
Até onde o amor é capaz de levar alguém? Alguns saem do avião em direção ao trabalho dos sonhos para ir atrás de seu amado, como Rachel em Friends. Na fantasia de Sarah J. Maas, o amor motiva Feyre a subir a montanha e encarar sua maior inimiga. Em Romeu e Julieta, ele guia o encontro do casal com a morte. E, no filme Amor e Monstros, esse sentimento que é tão confuso, mágico e poderoso leva Joel Dawson a encarar um mundo pós-apocalíptico e seres gigantes, apenas para tentar achar a garota que ele ama.
Não é a primeira vez – e muito menos a última – que o fim do mundo é utilizado como plot para obras cinematográficas. Love & Monsters, porém, escolhe seguir um caminho diferente e usar a tragédia de uma forma cômica. O famoso ‘é melhor rir para não chorar’. E mesmo com as partes tensas e tristes, a maioria das cenas garantem que o público, antes de tudo, se divirta assistindo. E é por isso que a escolha de ter Dylan O’Brien como protagonista foi tão perspicaz.
O ator norte-americano ganhou destaque em Teen Wolf. O seu papel foi tão querido que, mesmo sendo um personagem secundário, ele era, e ainda é, o mais amado da série. Isso porque a naturalidade de Dylan em fazer cenas engraçadas torna impossível de não rir quando ele aparece nas telas. E tal habilidade era necessária para quem quer que fosse dar vida a Joel Dawson. Sem plots muito inovadores, quem prende o público durante os 109 minutos da história é o fofo do protagonista.
Logo no começo, dá pra perceber que o nosso herói não é muito bem um herói, pelo menos inicialmente. Dentro do seu grupo, suas atividades se resumem a cozinhar. E é isso. Joel é medroso e não tem jeito com armas, nem nada que possa realmente ajudar na segurança da casa improvisada deles. Mas ele tem algo que, talvez, seja ainda mais importante do que tudo isso: um motivo. Sua namorada, por quem ele se apaixonou antes do fim do mundo, continuou em seus pensamentos mesmo tantos anos depois. E em um súbito momento de coragem – ou talvez loucura – ele decide que irá percorrer os 130Km que o separam dela. Sozinho.
Os parceiros de Joel não acreditam de primeira, mas quando percebem que o garoto não está de brincadeira, se despedem com uma certeza de que ele não iria voltar vivo. Afinal, como ele poderia em um mundo tomado por criaturas mortais? Mas nada disso impede o protagonista. Então, mesmo sem ter noção nenhuma do que está fazendo, ele começa sua jornada. A forma confusa, porém firme, com que Joel segue seu caminho é adoravelmente boba e super fofa. Então torcemos para que dê certo, mesmo com as probabilidades altíssimas de dar tudo muito, muito errado.
Em um dos momentos iniciais de Amor e Monstros já temos o primeiro embate do jovem com um monstro. E quando ele é salvo por um aliado improvável, conhecemos quem viria a se tornar um dos personagens principais: Boy. Ainda que seu nome signifique garoto, Boy é um cachorro. O animal parece ter uma instantânea conexão com o protagonista, e se junta a ele em sua aventura. Os momentos mais emocionantes da obra acontecem, na verdade, por conta dessa relação. Toda vez que eles se separam ou correm perigo, o abraço que dão ao se reencontrarem vivos é de deixar os olhos lacrimejando. Mais do que nunca, o cachorro é, de fato, o melhor amigo do homem.
Além de Boy, Clyde Dutton (Michael Rooker) e Minnow (Ariana Greenblatt) aparecem como parceiros de viagem de Joel. O caçador experiente e a garotinha corajosa são uma dupla apaixonante. Eles zombam da falta de habilidade do protagonista, mas o ajudam a aprender como sobreviver entre os diversos perigos do mundo pós-apocalíptico. E entre as noites mal dormidas, fuga de monstros e provocações entre os personagens, nasce uma amizade bela e verdadeira entre os quatro aventureiros. No meio de todas as lições que Joel aprendeu com seus novos companheiros, talvez a mais valiosa seja a importância de ter alguém para lhe dar a mão em um momento de vulnerabilidade. Clyde e Minnow são, no final das contas, os heróis do nosso herói.
Dos mesmos produtores de Stranger Things, Shawn Levy e Dan Cohen, o filme tem cenas que seguem o mesmo estilo da série da Netflix. Quando a iluminação fica mais fria e vem o silêncio típico que antecipa um momento de susto, em algum lugar no meio de toda tensão surge um comentário ou acontecimento que traz alívio cômico. Por mais clichê que seja, há algo delicioso nessa combinação de medo e risada que Amor e Monstros traz diversas vezes durante o percurso.
Os efeitos visuais são outro elemento que garantiram a qualidade do longa. Sendo os monstros uma parte primordial da história, era necessário que fizessem justiça ao seu papel de destruidores da população. E graças ao projeto admirável da equipe de 145 pessoas que trabalhou no filme, ele foi indicado ao Oscar 2021 na categoria de Melhores Efeitos Visuais, disputando o prêmio com grandes nomes da indústria cinematográfica de 2020, como Tenet e O Céu da Meia-Noite. Tal indicação em Best Visual Effects foi motivo de comemoração para os fãs de Dylan O’Brien, que subiram no Twitter a hashtag PROUD OF DYLAN para celebrar.
E depois de toda a luta de Joel, ele é compensado quando finalmente encontra o seu destino. Os últimos minutos do filme dirigido por Michael Matthews são um tanto corridos e por vezes até confusos, mas é no meio da bagunça que é possível ver a evolução do jovem. Se ele começou como um personagem inocente e um até mesmo tolo, a sua decisão que serviu como estopim para a aventura o transformou em um verdadeiro herói. Não tem como negar que o garoto é valente e mereceu completamente o seu lugar como protagonista.
Na obra dos roteiristas Brian Duffield e Matthew Robinson, Joel aprendeu diversas lições durante seu caminho, e no final ele ensina uma também. Para todos os sobreviventes, ele passa um recado: vale a pena se arriscar. Que não precisam deixar de ter medo, mas conseguirem superar este sentimento e saírem de seus esconderijos para viver no mundo tão belo e vasto que existe do lado de fora. A mensagem, apesar de passada na ficção, serve para todos que assistirem o filme. Cada um tem seus terrores dos quais se escondem, mas o que nos espera do outro lado sempre valerá a pena. Até mesmo em um mundo de amor e monstros.