O nome dele é Sam Ali e o nome dela é Kaouther Ben Hania, e a riqueza metafórica de O Homem que Vendeu Sua Pele (الرجل الذي باع ظهره) é o lugar perfeito para criatura e criador se aproximarem, ao mesmo tempo em que se distanciam completamente. É algo realmente complexo, porque o terceiro longa-metragem da cineasta tunisiana cresce em muitas direções enquanto suscita reflexões críticas sobre cultura, política, sociedade, ética e arte, traz visibilidade para o Cinema do eixo Oriente Médio – Norte da África e faz história no Oscar 2021.
O efeito Netflixalavanca produções, populariza obras e abre espaço para um reconhecimento, tanto de crítica quanto de público, que seria impensável fosse qualquer outro nome envolvido se não a gigante de streaming. Sem trajetória em festivais, Professor Polvo vem arrematando elogios e congratulações desde que foi lançado. O documentário, focado na amistosa relação entre um mergulhador e uma polvo-comum na África do Sul, sensibiliza, mas deixa de lado seu papel de conscientização e respeito, largando às traças a responsabilidade do Cinema.
E foi no meio da loucura da maratona do Oscar 2021 no Persona, que trombamos com o maior festival de cinema fantástico da América Latina. Chegando na sua 17ª edição, o Fantaspoa, Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre, foi realizado entre os dias 9 e 18 de abril, acumulando mais de 160 filmes entre longas e curtas para os amantes do gênero fantástico – que abrange o horror, o thriller, a ficção-científica e a fantasia. Pela segunda vez, o festival foi virtual, em decorrência da interminável pandemia de coronavírus, e gratuito, para que todos pudessem assistir as obras provenientes de mais de 40 países do globo.
Em um mundo pré-apocalíptico, o Fantaspoa ocorria anualmente na cidade de Porto Alegre desde o ano de 2005. Em 2021, quase completando a maioridade, o festival ofereceu debates com cineastas, discussões sobre a inclusão no audiovisual, exposição a respeito do trabalho de mulheres no mundo do fantástico e até uma festa online. A arte da vez, utilizada para a própria arte desse post, foi criada pelo artista Renan Santos como uma referência aos 17 aninhos do festival, intitulada Reflexo. Já o lettering foi desenvolvido pelo diretor de arte Thalles Mourão, que também usou um aspecto refletido para retomar o gênero do evento.
Através da plataforma Wurlak/Darkflix, assistimos um pouco de tudo: filmes nacionais, internacionais, animados, psicodélicos, bizarros, medonhos e hilários. A curadoria trouxe peças singulares, inclusive a tão esperada disponibilização da obra Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado, a quase folclórica produção de Felipe M. Guerra que, no seu aniversário de 20 anos, ganhou uma reedição só para o festival. Entre os premiados, O Cemitério das Almas Perdidasrecebeu do júri a consagração de Melhor Diretor para Rodrigo Aragão dentro da Competição Ibero-Americana eHistória do Oculto levou Melhor Filme e Melhor Roteiro.
A cobertura foi singela – cerca de ¼ do Fantaspoa está registrada abaixo pelas palavras de Caroline Campos, Vitor Evangelista e Vitor Tenca. O material disponível sobre as produções é escasso, então angariar informações se tornou uma parte extra da cobertura na hora da realização dos textos. O resultado, no entanto, foi divertido e satisfatório, especialmente pela oportunidade de se deparar com tantas obras únicas, sejam elas maçantes ou extraordinárias. Abaixo, você confere um pouquinho da grandiosidade criativa da 17ª edição do Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre.
A perda de memória a curto prazo, problemas cognitivos, esquecimento do local onde guardou objetos de valor, repetição da mesma frase ou pergunta, esquecer o nome de parentes, esses são alguns dos sintomas característicos das fases iniciais do mal de Alzheimer, doença que foi respeitosamente retratada em Meu Pai(The Father). Adaptação da premiada peça de teatro O Pai, o filme tem a direção brilhante de seu dramaturgo Florian Zeller, considerado pelo The Times:“o mais emocionante do nosso tempo.”
Rotina é algo que parece muito particular e que influencia somente no nosso dia a dia mas, é a partir dela que construímos os ciclos de nossas vidas; escola, faculdade, emprego, aposentadoria, etc. E são os nossos, únicos e particulares, estágios de vida que arquitetam o que chamamos de sociedade. A grande e tremenda máquina chamada sociedade.
O caminho das cinebiografias é um tanto arriscado de se explorar. Eleger uma personalidade para ser a peça central de uma narrativa requer pensar em detalhes minuciosos, em um recorte que vá além de sua brilhante carreira em vida. Vemos isso acontecer em títulos mais recentes, como Bohemian Rhapsody, que conduz a história do Queen sob a perspectiva do grandioso Freddie Mercury, e em Rocketman, que se centra na ascensão e vícios de Elton John. Essa escolha precisa é algo que Estados Unidos Vs Billie Holiday não foi capaz de realizar.
O filme é estrelado por Tom Hanks e roteirizado pelo próprio, a partir da obra O bom pastor, de C.S. Forester. Nada inventiva ou envolvente, a trama de Greyhound (que ganhou o bizarro complemento nacional de Na Mira do Inimigo) se desenvolve ao redor do capitão Krause e seu jogo de cintura para sair de uma encruzilhada marítima, tudo isso envelopado no contexto da Segunda Guerra Mundial.
Reviver histórias é uma viagem mágica ao passado e assistir aos live actions das nossas animações preferidas faz parte dessa aventura. Nos últimos anos, a Disney vem provando seu talento para fazer novas versões de seus clássicos, A Bela e a Fera e Mulan são a prova disso. E mais um presente chegou para todos aqueles amantes dos filmes infantis, Pinóquio ganhou duas novas adaptações. A Disney é responsável por uma delas e não possui previsão de estreia. Já a outra, a versão italiana, chegou no Brasil em 2021 e está indicada ao Oscar.
Quer comemorar um grande feito? Uma garrafa de champagne. Afogar as mágoas? Uma latinha de cerveja. E sobreviver aquele domingo melancólico? Uma taça de vinho, claro. O mundo é, basicamente, movido à álcool – e Thomas Vinterberg sabe disso. A partir da relevância da bebida no nosso dia a dia, o diretor dinamarquês de Druk – Mais uma Rodada idealiza, como uma celebração, seu novo longa, que consegue encontrar o equilíbrio perfeito entre o moralismo alheio e a romantização do alcoolismo.
O sistema de castas sócio-religiosas perdura em território indiano há mais de 2600 anos. A estranha e embaraçada divisão populacional configura uma sociedade baseada em preconceito e desigualdade, que acaba por perpetuar um privilégio às castas superiores em detrimento da injustiça e regressão às inferiores, independente do fato desses costumes terem sido erradicados por lei desde 1950. O Tigre Branco, produção original da Netflix dirigida por Ramin Bahrani, nos mostra essa realidade de uma Índia que vive na luz e nas trevas ao mesmo tempo.