Greyhound – Na Mira do Inimigo: um tiro na água

 Cena do filme Greyhound. Nela vemos Tom Hanks, um homem branco e de meia-idade, com roupa de capitão. Ele olha por uma janela de navio quebrada.
Greyhound amargou uma única indicação ao Oscar 2021, na nova categoria de Melhor Som (Foto: Apple TV+)

Vitor Evangelista

2021 foi um ano histórico para a Apple. Seu serviço de streaming, o Apple TV+, caminha lentamente para conquistar espaço no disputado mercado audiovisual, depois de ganhar um Emmy por The Morning Show e ser indicado duas vezes ao Oscar, uma por Wolfwalkers e outra por Greyhound, assunto deste texto.

O filme é estrelado por Tom Hanks e roteirizado pelo próprio, a partir da obra O bom pastor, de C.S. Forester. Nada inventiva ou envolvente, a trama de Greyhound (que ganhou o bizarro complemento nacional de Na Mira do Inimigo) se desenvolve ao redor do capitão Krause e seu jogo de cintura para sair de uma encruzilhada marítima, tudo isso envelopado no contexto da Segunda Guerra Mundial.

Figurinha carimbada na temporada de premiações, o conceito de exploração da Guerra e do combate à Alemanha quase ficou de folga em 2021. Enquanto Jojo Rabbit, vencedor do careca de Roteiro Adaptado em 2020, usava da sátira para trazer fôlego aos batidos clichês norte-americanos, Greyhound não se preocupa em tornar seus noventa minutos minimamente interessantes. Vale a indicação para o Documentário em Curta-Metragem Colette, que explora com minúcias as dores da resistência francesa. 

Cena do filme Greyhound. Nela vemos Tom Hanks, um homem branco e de meia-idade, com roupa de capitão. Ele está dentro de um barco, e veste uma jaqueta de couro escura e um cap preto com uma insígnia prateada, e um par de binóculos pendurado no pescoço.
Greyhound esboça um arco narrativo para o personagem de Hanks, mas falha de cara quando usa a morte de um profissional da cozinha negro para motivar o capitão, é claro, branco (Foto: Apple TV+)

A direção ingênua de Aaron Schneider destrói o ritmo da produção, criando pequenas missões para Tom Hanks (extremamente desinteressado) concluir e partir para a próxima. Uma decisão importante sobre a mira, um comando certeiro a respeito da navegação e até a prestação de condolências por mortes aliadas se tornam excruciantes de assistir.

Não que o currículo do diretor exprima qualquer prospecção de inovações. Schneider é diretor de fotografia, e se aventurou na cadeira da direção poucas vezes. Sua filmografia, mesmo escassa, rendeu ao estadunidense uma estatueta de Melhor Curta-Metragem em Live Action com Two Soldiers, em 2004. O retorno ao Oscar foi mais modesto, com Greyhound aparecendo apenas na categoria de Melhor Som.

A nomeação de 2021 é creditada à Warren Shaw (vencedor do Emmy por The Night Of), Michael Minkler (vencedor de 3 Oscars, o mais recente por Dreamgirls), Beau Borders e David Wyman, os dois últimos ainda virgens de vitórias em grandes prêmios. A junção de Mixagem e Edição de Som em uma única categoria beneficiou o filme que, apesar dos defeitos de narrativa, estrutura e criação de empatia com os personagens, é muito bem sucedido nos departamentos técnicos. 

Entretanto, se você procura algum produto com narrativa questionável, mas ótimo som, é melhor ligar o PlayStation 4 e jogar um joguinho de tiro. É improvável que algo insosso como Greyhound saia com o prêmio, mas não devemos descartar qualquer cenário para os profissionais que premiaram a abominação Bohemian Rhapsody nesse mesmo campo, dois anos atrás. Por ora, aposte em O Som do Silêncio e deixe Greyhound – Na Mira do Inimigo de lado.

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