Nem pão, nem brioches: Maria Antonieta foi muito mais do que isso

Cena da sequência de abertura de Maria Antonieta. Nela está Kirsten Dunst, que interpreta a rainha, uma mulher branca de cabelos loiros claros; usando um vestido branco de babados e uma pena branca como adorno na cabeça. Ela está deitada voltada para o lado direito, e uma mulher branca de cabelos pretos com um vestido preto, avental e chapéu branco está massageando seus pés. Elas estão cercadas por vários bolos.
Maria Antonieta no estado “se não tem bolo, que comam brioches”, porém Sofia Coppola deixa bem claro que a monarca nunca disse isso (Foto: Columbia Pictures)

Layla de Oliveira

Ah, a Revolução Francesa. Marcada em nossas memórias do Ensino Médio como o momento de estrelato da guilhotina, mas ela é claramente muito mais do que isso. A grande desigualdade social e econômica resultou em um nível de pobreza nunca antes visto no país, enquanto os aristocratas esbanjavam em festas e novos palacetes. Resultando na Queda da Bastilha, um símbolo da opressão francesa, a Revolução determinou o fim da monarquia absolutista na França, e influenciou muitos outros países a seguirem o exemplo, além de dar início à Idade Contemporânea na história ocidental.

Mas Sofia Coppola não poderia ligar menos para tudo isso. O filme Maria Antonieta, que completa 15 anos desde sua estreia (conturbada) no Festival de Cannes neste 24 de maio, não conta a história de Maria Antonieta (Kirsten Dunst), a rainha absolutista e Madame Déficit como muitos outros filmes, séries, livros e documentários fazem; ela simplesmente nos faz acompanhar a vida de Maria Antonieta, uma jovem de 14 anos que foi obrigada a adaptar-se em um novo ambiente, com muitas expectativas e deveres a rondando sempre. E muitas cores pastéis, também.

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Há 5 anos, AURORA despertava em nós um encanto com sua voz angelical

Fotografia da capa do álbum All My Demons Greeting Me As A Friend, da cantora AURORA. A foto tem um fundo escuro com leves manchas esbranquiçadas. E no centro está a cantora, uma mulher branca de cabelos loiros e curtos. AURORA está de olhos fechados, como se estivesse dormindo, enrolada em bandagens e possui grandes asas em tons de marrom, como de uma mariposa.
Em 2016, AURORA provou em seu álbum de estreia como a música pode nos ajudar a entrar em contato e compreender nossas próprias emoções (Foto: Decca Records)

Gabriel Brito de Souza

Depois de entrar para o cenário musical em 2014, AURORA manteve presente o forte estilo indie com um pouquinho do gênero pop em seu álbum de estreia All My Demons Greeting Me As A Friend. Mesmo com a insistência da gravadora para que escrevesse novas composições em vez de reaproveitar suas antigas letras, AURORA foi flexível na hora de selecionar as faixas e conseguiu produzir um disco encantador que conquistou o público. Trazendo um título meio obscuro, a artista quis se referir às emoções mais profundas que todos possuem, mas têm medo de expressar – nos mostrando a conexão que há entre os sentimentos com as nossas almas.

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30 anos de O Silêncio dos Inocentes: os cordeiros gritam mais alto do que nunca

Atenção: o texto contém imagens sensíveis de violência explícita

Cena do filme O Silêncio dos Inocentes. O personagem de Anthony Hopkins está no centro da imagem, preso em uma camisa de força. Ele está de pé, num carrinho, e usa uma máscada de couro do nariz para baixo. Seu olhar é vidrado, sem expressões. Ao seu redor, vemos três policiais desfocados.
A máscara icônica foi criada especialmente para o filme de 1991 (Foto: Orion Pictures)

Caroline Campos

Aconteceu Naquela Noite (1934), de Frank Capra, Um Estranho no Ninho (1975), de Milos Forman e O Silêncio dos Inocentes (1991), de Jonathan Demme, são o trio de ouro do Oscar. Os três integram o seleto grupo Big Five, dedicado aos filmes que levaram para casa as principais estatuetas da premiação – Melhor Filme, Ator, Atriz, Direção e Roteiro. No entanto, quando Elizabeth Taylor anunciou o último prêmio daquela noite de 1992 para a obra de Demme, ela também consagrou o primeiro Oscar de Melhor Filme para um longa de terror na história da cerimônia até então. Passados 30 anos, o impacto de O Silêncio dos Inocentes na cultura cinematográfica continua incontestável e não há nada que apague a reputação de Hannibal Lecter e Clarice Starling do imaginário popular.

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De artista a xamã: 40 anos da morte de Bob Marley

A imagem retangular está em preto e branco. Ao centro vemos Robert Nesta Marley, um homem negro, de dreadlocks longos na altura do ombro e barba rala e rústica. Ele possui um rosto magro e olha para baixo, enquanto está sentado ele usa uma camiseta de manga longa aberta branca e uma calça jeans. Sobre seu colo ele dedilha uma guitarra modelo Gibson. Ao fundo podemos ver um sofá escuro à esquerda e uma parede branca.
Bob Marley era rejeitado em sua infância pela sua cor de pele mais clara em relação aos demais; muitos dizem que esse fator ajudou a moldar o caráter a lenda do reggae (Foto: WorldWarXP)

Vitor Tenca

Roubado da África, trazido para América. Há exatos 40 anos, no dia 11 de maio de 1981, perdíamos Robert Nesta Marley, o eterno Rei do Reggae. Com apenas 36 anos de vida, a voz mais conhecida de uma nação e de um estilo musical parou de ressoar por conta de um câncer, deixando para trás uma carreira triunfal e um legado de paz, amor e união. O homem-para-raio atraía controvérsias e debates em um período em que as discussões não se incitavam, mas se acabavam – ele ensinou que deveríamos levantar e resistir por nossos direitos, um por um.

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Há 20 anos e sem imaginar, Cássia encerrava sua carreira com som acústico

Capa do álbum Acústico MTV de Cássia Eller. Ao centro vemos a cantora. Uma mulher branca, de cabelo preto e curto. Ela veste uma regata preta e uma calça da mesma cor. Ela está sentada e em seu colo há um violão também preto. Ao fundo vemos flores grandes nas cores vermelho e amarelo. No canto superior esquerdo há o logo do acústico MTV. Na parte central do canto direito lê-se em branco acústico MTV cássia eller.
Convidar Cássia Eller foi ideia da própria produção, por conhecer a performance quase teatral da cantora no palco (Foto: Robson Messias)

Ana Júlia Trevisan

Para os nascidos na segunda metade da década de 80, a MTV é um canal que dispensa apresentações, sua filial brasileira – a MTV Brasil – foi fundada em outubro de 1990. Ainda que hoje faça sucesso com programas como De Férias Com o Ex e Catfish, a emissora teve seu auge nos anos 90. A grade diária era pensada para jovens adultos e influenciava o mercado musical da época, exibindo bandas como Nirvana e Alice in Chains. Seus programas viraram selo musical, como é o caso do fenomenal Acústico MTV, onde os artistas gravavam os clássicos de seu repertório sem instrumentos elétricos.

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Querida Bridget Jones, nós te amamos do jeito que você é

Pôster do filme O Diário de Bridget Jones. No topo centralizado, com fundo branco, pode-se ler Bridget em rosa, Jones's em roxo e Diary em preto. Abaixo, os três personagens do filme. À esquerda, Colin Firth usa terno e olha para a direita. No meio, Renée Zellweger usa blusa azul, segura um livro de capa vermelha com uma mão e uma caneta azul e olha para a câmera. À direita, Hugh Grant usa terno e encara a câmera com um meio sorriso.
Bridget Jones nem imaginava que sua vida poderia virar de cabeça para baixo quando escreveu a primeira palavra em seu diário (Foto: Universal Pictures)

Carol Dalla Vecchia

Depois dos anos oitenta, a onda de comédias românticas inundou a Sétima Arte, conquistando milhares de corações e expandindo seus horizontes para outras formas de entretenimento. Com tanto sucesso, em 1996, a autora britânica Helen Fielding levava esse gênero para a literatura e criava uma das personagens mais icônicas de rom-com. Bridget Jones nasceu como uma ávida escritora em seu diário, viciada em contar calorias e criar listas, e ansiosa para organizar sua vida, movimentar seus relacionamentos e abafar os comentários desagradáveis da família.

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Como Sempre Feito Nunca: 5 anos de uma nova era de Jorge & Mateus

Imagem retangular da divulgação do álbum de Jorge & Mateus, a qual possui uma moldura branca. Na parte superior da moldura, ao centro, está escrito “novo álbum” em letras maiúsculas e cinzas. Ao centro da imagem, há uma foto da capa do álbum Como Sempre Feito Nunca, a qual possui os cantores Jorge e Mateus esmaecidos, quase transparentes. Do lado esquerdo, está Jorge. Ele é branco, possui cabelos pretos, barba curta com cavanhaque e está com os olhos fechados, cantando. Suas mãos estão segurando o microfone, próximo a boca. Ele veste uma camiseta estampada de manga curta e uma calça. Ele usa um relógio grande no pulso esquerdo e duas pulseiras no pulso direito. Mateus está do lado direito. Ele é branco, possui cabelos curtos pretos, barba comprida com bigode e ele está com uma guitarra preta e branca. Seu braço direito está levantado, com a mão próxima ao ombro de Jorge. Sua mão esquerda segura o braço da guitarra, com os dedos na posição de Ré Maior. Ele veste uma camisa branca social por baixo de um sobretudo preto e uma calça preta. Ele usa duas correntes, uma mais fina com um pingente e outra mais comprida e mais grossa. Uma linha corta a metade da imagem, sendo da metade para a esquerda ela é azul e da metade pra direita é salmão. Na azul, está escrito “Como.Sempre” e na salmão, “Feito.Nunca”, ambas em letras maiúsculas e brancas. A parte inferior da linha azul encosta a parte superior da salmão, num corte diagonal. Na parte inferior da moldura branca, está o logo da dupla Jorge & Mateus.
“Pra mim, felicidade é ter você” (Foto: Reprodução)

Júlia Paes de Arruda

Consagrado como um dos gêneros mais ouvidos do Brasil, o sertanejo não poderia deixar de referenciar Jorge & Mateus como umas de suas bases sólidas para a disseminação do estilo pelo país. Seria até injusto deixá-los de lado, já que consagram 15 anos de carreira no meio musical. Depois de muito sucesso, Como Sempre Feito Nunca chegou em fevereiro de 2016 como um exemplo de transição, amadurecimento e mudança para os goianos que, após 5 anos, ainda perpetuam nessa nova era de sertanejo universitário. 

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15 anos do melhor dos dois mundos de Hannah Montana

A foto tem formato retangular com uma claridade opaca. Como elemento que compõe a foto, temos um palco de dois andares coberto por um carpete de pelos. Ao fundo, no topo do palco, em desfoque, temos um varal de roupas coloridas e brilhantes. No centro da imagem, sentada no primeiro degrau do palco, temos a personagem Miley Stewart que olha tristemente para o canto inferior esquerdo da foto. Seu cabelos tem um tom de castanho escuro nas raízes e um tom de castanho claro que se estendem até o caimento dos fios na altura de sua barriga. Miley veste uma blusa amarela de manga curta, uma calça justa preta e um chinelo preto de correia dupla.
Uma das cenas mais emocionantes da última temporada – Miley relembra os momentos cativantes que viveu entre sua vida dupla e pensa em revelar seu segredo (Foto: Reprodução)

Vinícius Santos

Here we go everybody! Quem nunca se divertiu cantando a música de abertura e se imaginando vivendo o melhor dos dois mundos? Não é novidade que Hannah Montana foi um sucesso fenomenal. A franquia, que completa 15 anos em 2021, foi criada por Michael Poryes, Rich Correll e Barry O’Brien e conseguiu render ao canal de TV Disney Channel onze DVDs, dezessete discos, dois filmes, vinte e quatro livros e seis jogos eletrônicos oficiais, além de ser indicada a 4 prêmios Emmy

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Há 35 anos, A Garota de Rosa Shocking marcava uma nova geração de clichês adolescentes

Foto retangular em preto e branco da capa do filme A Garota de Rosa Shocking. Na foto, estão presentes Andrew McCarthy, Molly Ringwald e Jon Cryer, respectivamente. Eles estão entre duas colunas de tijolos, com uma porta ao fundo. Andrew e Jon mais em cima, com o corte da foto na cintura, e Molly mais embaixo, com o corte da foto próximo aos ombros. Andrew é um homem de cabelos lisos e veste uma camisa com paletó. Jon veste uma camisa com a gola pra cima e um paletó com um bolso no lado esquerdo com um cifrão bordado e um óculos redondo pendurado. A sua mão esquerda está na frente do corpo, próximo ao bolso, e ele usa três anéis (um no indicador, um no dedo do meio e no dedo mínimo). Molly é uma mulher de cabelos ondulados curtos. Ela usa duas correntes no pescoço e sua roupa está preenchida com a cor rosa. No lado esquerdo, há uma faixa preta escrito “pretty in” em branco e letras minúsculas, seguido de “pink” em rosa e letras minúsculas.
As cenas na escola em A Garota de Rosa Shocking (no original, Pretty in Pink) foram filmadas no mesmo colégio de Grease – Nos Tempos da Brilhantina (Foto: Reprodução)

Júlia Paes de Arruda

Brooklyn, 1986. Lionel Richie e Madonna bombavam nas rádios com seus grandes sucessos. Ronald Reagan era presidente dos Estados Unidos. Todos ainda estavam angustiados com a passagem do Cometa Halley. É nesse cenário que John Hughes aposta suas fichas em A Garota de Rosa Shocking, após o grande sucesso de Gatinhas e Gatões. Completando 35 anos, o filme continua a encantar pela fórmula carro-chefe do produtor, mesmo que seu método de trabalho seja muito duvidoso.

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45 anos de Falso Brilhante: a vida de Elis Regina é a nossa joia mais preciosa

Fotografia de Elis Regina apresentando seu espetáculo Falso Brilhante. A artista está ao centro da imagem, numa passarela, cercada pelo público. Ela está de frente para a câmera mas contra a luz, que impede de exergarmos seu rosto. Ela segura uma bandeira grande na mão direita e um microfone na mão esquerda. Elis usa um vestido lingo, branco, de alças finas e estampado por estrelas prateadas. Ela também usa uma chapéu com uma pena grande e seus cabelos são curtos. A fotografia está colorida em tons de amarelo e um cinza azulado.
O disco que nasceu do espetáculo sobre a vida de Elis Regina é considerado um dos mais importantes da música brasileira e da carreira da artista (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

O legado na música brasileira não é o suficiente para eu me conformar. Vez ou outra, ainda me pergunto como é que alguém conseguiu convencer o sofrido povo brasileiro de que “viver é melhor que sonhar”. O sentido ensaia desenhar-se segundos depois, quando eu me lembro que quem cantou isso foi a sonhadora que é a concretização da ideia mais pura e completa do que pode vir a ser a vida. Mas mesmo assim, ainda é instigante, já que ela, em toda sua grandiosidade e relevância, ainda acrescenta que “qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa”.  

Quer profundidade mais condizente com a maior artista do Brasil do que a que ela mesma cria na obra que conta a sua história de vida, realiza seus maiores sonhos e desmistifica sua própria arte? Muito significado, muita intensidade e muita pulsão de vida: assim foi Elis Regina, e assim foi Falso Brilhante, cuja riqueza era autoexplicativa em 1976 e assim permanece até os dias de hoje – e muito provavelmente, assim será por todo o resto da nossa história.

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