Flux Gourmet é um delicioso banquete difícil de digerir

Cena do filme Flux Gourmet. Nela, vemos os três integrantes que compõem o coletivo artístico-culinário. Ao centro temos o personagem Billy interpretado por Asa Butterfield, um jovem branco de cabelos pretos com uma grande franja. Ele usa uma jaqueta jeans, camiseta vinho e calça jeans. Sua cabeça está arqueada e sua boca levemente aberta. Mais atrás, dos lados direito e esquerdo, temos duas mulheres, a da direita, loira e a da esquerda, de cabelo castanho cor de mel. As duas estão de costas, fazem movimentos com as mãos na altura do rosto e vestem uma espécie de vestido fúnebre na cor preta. Ao fundo, há uma parede que reflete uma luz azul.
O filme chega em terras brasileiras através da seção Perspectiva Internacional da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Bankside Films)

Guilherme Veiga 

Cozinhar, definitivamente, é uma Arte. Mesmo não estando inclusa entre as sete, a gastronomia sabe emular todas as sensações que as outras conseguem, às vezes de forma mais impactante e convincente que as demais. Seja pelo conforto e ternura de uma comida feita pela mãe, seja pela explosão sensorial do prato principal feito em um restaurante três estrelas Michelin ou até mesmo pela agonia que é experimentar algum ingrediente exótico. São essas experiências que Flux Gourmet, co-produção entre Reino Unido, Estados Unidos e Hungria, em cartaz na Perspectiva Internacional da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, e que estreou no Festival de Berlim, busca instigar.

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Magdala: os últimos dias de Maria Madalena foram monótonos e sensíveis

Cena do filme Magdala. Da esquerda para a direita na imagem: Jesus Cristo, um homem branco de cabelos escuros e Maria Madalena, uma mulher negra de cabelos escuros. A fotografia capta os dois somente a partir do pescoço, no entanto, é notável que ambos estão desnudos. Jesus e Madalena se olham enquanto encostam as faces. O cenário é a natureza verde.
Magdala foi disponibilizado gratuitamente na plataforma do Sesc Digital durante a 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, como parte da seção Perspectiva Internacional (Foto: Best Friend Forever)

Nathalia Tetzner

Pecadora e santa. Prostituta e apóstola dos apóstolos. São inumeráveis os adjetivos antagonistas que constroem a imagem sagrada de Maria Madalena, a principal devota de Jesus Cristo. Atordoado pelo devaneio sobre os seus últimos dias de vida, o diretor francês Damien Manivel coloca em perspectiva a personalidade mais misteriosa e discutível do Novo Testamento no filme Magdala, participante da seção Perspectiva Internacional na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e, previamente, exibido na seção L’ACID do Festival de Cannes 2022.

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O fantasma da gentrificação assombra Distopia

Cena do documentário Distopia. A foto é uma captura de um dos trechos do filme Distopia. Quatro prédios amarelos — parte do conjunto habitacional do bairro do Aleixo — estão sendo demolidos. O prédio da direita cai em meio a fumaça, abaixo se encontram outras habitações e um terreno verde.
O documentário chega à Perspectiva Internacional da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo carregando o prêmio HBO Portugal para Melhor Filme da Competição Portuguesa no DocLisboa International Film Festival 2021 (Foto: Bando a Parte)

Enzo Caramori

Se a vida real, capturada em seu fluxo, for passível de ser ficcionalizada para ser compreendida, o documentário português Distopia (2021) é um filme de terror que desde seu início já desmascara os seus monstros. Representando Portugal no repertório da Perspectiva Internacional da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o filme introduz o fantasma da gentrificação como o motor dos desterramentos e demolições que atravessam a cidade do Porto, em um retrato de treze anos da vida dos bairros de Bacelo, Aleixo e Fontainhas. Dirigido por Tiago Afonso, a forma documental encontra sua força ao direcionar a câmera tanto aos sujeitos atravessados por essa desterritorialização quanto aos espaços e ruínas, o que constitui uma espécie de anti-documento nessa condição de filmar o que está na iminência de não mais existir.

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