Com Lenine, público definitivamente não saiu só

Nada de solidão: Lenine cantou para todos (Foto: Heloísa Manduca)

Esbanjando bom humor, Lenine trouxe fusão entre ótimo repertório e crítica social

Guilherme Hansen e Heloísa Manduca

Enquanto a cidade de São Paulo viveu o festival de música Lollapalooza, Bauru não ficou de fora do agito. Aconteceu no último sábado, 24, no ginásio do Sesc, o show do cantor pernambucano-carioca Lenine. Com uma retrospectiva ao longo da sua carreira e menção em defesa do caso Marielle Franco, Lenine trouxe música boa para quem sabe ouvir.

O show é um intervalo entre turnês. Com o término da turnê Carbono (2015) e ainda em preparo para o lançamento de Em Trânsito (2018), o cantor colocou o público para agitar. Exatamente às 21h15, Lenine explodiu o palco com “Jack Soul Brasileiro”, mostrando toda a potência que viria a seguir. Além de músicas autorais clássicas como “Paciência”, “Hoje eu quero sair só”, ele também trouxe uma nova versão para “Trem das Onze”, de Adoniran Barbosa. Em meio aos clássicos, o cantor colocou na setlist algumas canções de seu último CD, Chão, lançado em 2011. Faixas como a música homônima, “Se não for amor, eu cegue” e a animada “Envergo, mas não quebro” reforçaram o tom quase todo festivo do show.

Com seu jeito manso, o nordestino conquistou o público ao longo de quase 1h30 de espetáculo. Homem de poucas palavras, mas cheio de versos e críticas sociais, ele pouco falou entre uma canção e outra. Preferiu mostrar seu carisma através do gingado da dança e aceitou humildemente o presente de um fã. Agradeceu e colocou o mimo próximo da sua taça de água. O público foi ao delírio com o pequeno gesto carinhoso.

Enquanto estava no meio da apresentação, Lenine expressou sua posição no caso Marielle Franco. A morte da vereadora, que foi executada no último dia 14, tem causado comoção internacional e entre artistas brasileiros. Com o braço direito levantado, o cantor gritou com força “Marielle, presente!” e cantou “a vida dando na cara, não ofereço a face nem sorriso amarelo. Dentro do meu peito uma vontade bigorna”.

Em meio a vários artistas que não têm se manifestado ao crime cometido contra Franco, é de fundamental importância quando alguém das artes se posiciona em relação a esse tipo de assunto. É certo que nenhum famoso tem a obrigação de opinar sobre problemáticas sociais, mas a arte é poderosa não só para protesto em relação ao presente, como também é eficaz para preservar a memória dos abusos cometidos ao longo da história.

O fim do show: ficou o gosto de “quero mais” (Foto: Heloísa Manduca)

O show foi extremamente contagiante e deixou um gostinho de quero mais no público. Às 22:05, Lenine anuncia tristemente que já estava acabando. Matuto como só, ele sabia que isso despertaria o ânimo do público para lhe pedir o famoso “mais um”. Sendo assim, o cantor fingiu que já ia embora, mas logo voltou e disse: “Eu sei que eu vou sair, vocês vão gritar pedindo mais uma música e vou voltar pra cantar pra vocês. Mas eu não fazer cu doce e já vou fazer isso agora. Vamos economizar tempo, né!?”. O público, em polvorosa, cantou e dançou junto ao artista com um de seus maiores sucessos, “Do It” e logo depois, com “Alzira e a torre” e aí, todos saíram satisfeitos do recinto do Sesc.

Enfim, foi um prazer assistir Lenine cantando alguns de seus sucessos. O músico esbanjou carisma, interagiu com o público praticamente em todo o espetáculo e mostrou, junto com o excelente trabalho de sua banda, o porquê que é um dos cantores mais aclamados da atualidade. Ninguém ficou parado e nem conseguirá botar defeito em seu ótimo show.

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