Paul McCartney toca São Paulo

Noite de clássicos (foto: Marcelo Brandt/G1)

Camila Araújo

Paul mandou quase três horas de um set bem elaborado, escolhido a dedo para agradar os corações beatlemaníacos no Allianz Parque. Mesmo com uma voz rouca – provavelmente devido ao tempo inusitado de São Paulo que resolveu fazer frio e tempo de chuva de última hora – e com 75 anos nas costas, as músicas foram tocadas com perfeita maestria, de um veterano de guerra que há meio século convive com o mesmo repertório.

O público que aguardava com grande ansiedade começou a aquecer quando dois telões foram acesos alguns minutos antes do ilustríssimo aparecer para o espetáculo – onde eram exibidas fotos do Paul criança, ao longo de sua carreira nos Beatles, com a saudosa e bela Linda, bem como junto de diversos figurões da música. Músicas dos Beatles também eram tocadas. E ao som do primeiro acorde de “A Hard Day’s Night” que marcou o início do show o público foi ao delírio.

Na sequência veio “Junior’s Farm”, da também saudosa Wings, passando por “Can’t Buy Me Love” – o hit que transporta qualquer fã diretamente a 1964 – a indispensável “Drive My Car”, o hino do jovem otimista Paul “I’ve Got a Feeling”, a declaração amorosa para a esposa Nancy Shevell com “My Valentine”, a emocionante “Maybe I’m Amazed” tocada num lindo piano, chegando em “In Spite of All the Danger”. Particularmente, foi uma surpresa essa ter sido tocada – é uma das primeiras canções compostas pela banda The Quarrymen, que eram os Beatles antes de se chamarem Beatles. A surpresa maior foi que o público sabia cantá-la, uma emoção que só vivenciando para entender.

“Love Me Do” e “And I Love Her” vieram em seguida, até chegar no ponto mais alto da noite – literalmente: quando Paul começa a tocar “Blackbird”, o espaço em que ele se encontra no meio do palco sobe, deixando-o alguns centímetros acima do chão – e nessa hora os privilegiados do setor pista puderam ver sem grandes dificuldades o músico. “Here Today” veio em seguida como uma homenagem ao amigo revolucionário John Lennon. Uma declaração de amor de alguém que carrega a história do amigo consigo há quase 40 anos depois de sua morte. E não parou por ai: algumas musicas depois, na sequência de A Day in The Life, o músico entoou “Give Peace a Chance”, um hino pela paz composta pelo falecido amigo. Parecia uma clara mensagem ao Brasil: Deem uma chance a paz!

#PAS, por favor (Foto: Camila Araújo)

Teve também a super recente “FourFiveSeconds” que o veterano gravou com Rihanna e Kanye West, “Eleanor Rigby” como sempre emocionante e impecável. Uma “chuva de hits”, como disse Rafael Strabelli no portal Nação da Música; clássicos atrás de clássicos compuseram a noite. Em “Live and Let Die” a comovente explosão de fogos deixou até o próprio Paul desconcertado – ele fez menção de como aquilo era barulhento e arrancou risos da plateia.

Em “Let It Be”, uma imensidão de luzinhas se acenderam: a plateia ligou as lanternas de seus smartphones – que em outros tempos seriam chamas de isqueiros. “Hey Jude” era uma das canções mais esperadas para mim. Uma multidão em coro cantando “nananana” era um sonho de infância. E foi lindo de ouvir e de ver, a chuva de bexigas escritas com Nanana, os panfletos com Nanana. Uma sintonia de tirar o fôlego. Ele inclusive chamou pelos “manos” e pelas “minas”, como fez ao longo de toda noite alguns comentários em português que arrancava sorriso dos brasileiros orgulhosos da nossa língua.

Hey Jude, sabe ainda a vida é bela (Foto: Camila Araújo)

Com o fim de “Sgt Peppers”, Paul ameaçou ir embora, fez uma gracinha como se a noite terminasse ali. Mas ainda faltava o grand finale. E não deu outra. Ele voltou com tudo para o bis, com a poderosa “Helter Skelter”! Ainda simpaticamente cantou parabéns aos librianos aniversariantes da noite com a “Birthday”. E por fim, ufa, depois de três horas eletrizantes, veio a sequência “Golden Slumbers”, “Carry That Weight” e “The End” (“and in the end the love you take is equal to the love you make“).

A verdade é que o set inteiro estava indispensável: desde as mais antigas dos Beatles, passando por Wings, e até às recentes de sua carreira solo, foram músicas que agradaram a todos os gostos. Depois de mais de 50 anos subindo aos palcos, o velho Paul ainda prende nossa atenção por três horas seguidas, sua performance ainda se parece com o menino de 18 anos que surgiu com os Beatles; as caras e bocas continuam as mais carismáticas possíveis desse sir com jeitinho de menino de Liverpool – ainda a melhor definição para ele.

Let It Be! (Foto: Fred Angrisani)

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