Thuani Barbosa
Escândalos na realeza, desde uso de drogas, romances escondidos, crises financeiras e familiares até preconceito e morte. Todas essas vertentes você vai ver em Young Royals, o novo romance LGBTQIA+ queridinho da Netflix. Seguindo a linha de raciocínio de outros seriados como The Crown, a obra mostra o lado difícil de ser parte da monarquia e, ainda assim, nos contempla com a aventura da adolescência muito similar a Elite. Dever, status, lealdade e amor é tudo que esperamos do romance sueco.
Lançado em 2021, o seriado acompanha uma onda de crescimento nas produções suecas, ao lado do romance Amor & Anarquia de Helena Bergström, e do drama queer Dancing Queens de Lisa Langseth. A estreia da primeira temporada de Young Royals não teve a recepção avassaladora que merecia do público, portanto ainda não se sabe sobre a produção de uma segunda parte. Assim, a Netflix vem trazendo a diversidade que frequentemente falta no catálogo, e a exibição da obra teen ajuda na credibilidade, uma vez que chegou arrasando.
A trama se inicia com um escândalo envolvendo o Príncipe Wilhelm (Edvin Ryding), que é enviado pela família para o famoso colégio interno Hillerska. Lá, ele conhece Simon (Omar Rudberg), com quem vive um romance ardente e divide suas incertezas em relação à monarquia. Em certos momentos o relacionamento deles se assemelha com o romance Me Chame Pelo Seu Nome dirigido por Luca Guadagnino. No longa-metragem, os jovens Elio (Timothée Chalamet) e Oliver (Armie Hammer) vivem uma paixão ardente; o filme e a série se assemelham quando você sente que a tensão sexual entre eles está palpável no ar e o casal tenta evitá-la, ambos tratam de temas queer, e o final feliz não chega tão fácil, mas ainda assim, são abordagens extremamente diferentes.
Young Royals se passa “no agora”, tem personagens mais jovens, ainda no colegial e em busca de uma certa aceitação social, já Me Chame Pelo Seu Nome acontece em 1983 e mostra um estilo de vida, modo de vestir e se comportar oposto ao que vivemos na atualidade. A condução dos dois também é inegavelmente divergente, começando pelo ponto que uma se passa em Estocolmo, Suécia e tem uma paleta de cores mais neutras, optando por tons mais sombreados, mornos, exibindo as florestas e castelos antigos e em alguns casos cintilantes, e a outra em Crema, Itália e possui uma paleta mais vibrante, alegre e de tons fortes, exaltando os raios de sol e longos momentos a beira rio.
Após uma perda na família, Wilhelm se torna o príncipe herdeiro e o primeiro na linhagem de sucessão ao trono sueco, o que deixa sua relação com Simon ainda mais complicada. A morte de um membro da realeza mostra um lado sensível dos pais de Wilhelm, ainda que a Coroa sueca pareça sempre mais importante que qualquer coisa. Além disso, um evento tão marcante como o luto não tem o impacto esperado, até porque é uma morte tão importante, o que deixa o enredo fraco em relação à convivência da família real. Para completar a lista de drama parental, a família de outros personagens demonstra certa instabilidade, como os Arnas, que além de lidar com a perda do patriarca enfrentam a falência.
Os familiares de Simon também tem adversidades mal desbravadas no roteiro, dado que a relação com o pai sempre se mostra problemática devido ao álcool e uso de drogas, mas o assunto é sempre vago e deixa o espectador com a impressão de não saber exatamente o que se passou para o corte de laços acontecer. E há a os pais de Felice, que tem para a filha expectativas que ela não consegue cumprir, deixando a relação pessoal da família defasada.
Os personagens secundários, como August (Malte Gardinger) e Sara (Frida Argento), vem pra trazer altas emoções, algumas boas, outras terríveis. A beleza e o jeito melindroso de August deixa o quase vilão ainda mais interessante, mas a imaturidade e impulsão fazem com que suas atitudes afetem o casal principal negativamente. Mas, ainda assim, é fácil ver o quão necessários são os conflitos para o desenvolver da história.
Diferentemente de Sara, que parece sempre confusa mas, quando é conveniente, sabe ser ousada e favorecer a si mesma. Já Felice (Nikita Uggla) traz a dose exata de simpatia para se tornar a preferida do público, é uma personagem gente como a gente! Para todos, ela parece perfeita e intocável, mas tem problemas com o próprio corpo, conflitos com os pais, e o melodrama adolescente que toda produção teen pede, mas isso não a impede de sempre empenhar para melhor e ajudar quem precisa dela. Young Royals tem o tipo de trama que te deixa com vontade de viver o que se passa na tela, onde você gosta de alguns personagens e odeia outros.
Com cenários de perder o fôlego, a série dirigida por Rojda Sekersöz e Erika Calmeyer exala sofisticação, diante de rios vastos e castelos antigos, que fazem com que o telespectador seja teletransportado para a Suécia e sinta o frescor do vento e o frenesi de ser um jovem da realeza vivendo um romance proibido. Ambientada com tons neutros e espaços amplos, Young Royals dá a sensação de quietação e liberdade, entretanto a autonomia dos personagens está sempre reduzida ao terreno do colégio e, raramente, à cidade mais próxima. E a quietação comumente é preenchida pelos burburinhos dos estudantes nos corredores e as festas organizadas às escondidas pelos veteranos.
O seriado, criado por Lisa Ambjörn, Lars Beckung e Camilla Holter, mostra de maneira extremamente realista e calma os problemas que muitos adolescentes têm enfrentado na atualidade. Um exemplo é August, que frequentemente usa entorpecentes para manter seu alto desempenho nos esportes, outro é Wilhelm, que se droga após um grande abalo emocional. Felice, que por mais que seja popular e considerada perfeita por todos, ainda tem problemas com sua autoestima, enquanto Sara precisa lidar diariamente com a pressão social e o preconceito acerca do Asperger que convive e não a permite se encaixar perfeitamente entre outros jovens.
Esbanjando delicadeza e romantismo, o enredo também tem sua pitada de crítica social, já que traz um príncipe, presença que tem forte influência política em vários países até os dias atuais, em um relacionamento homoafetivo. O que é de extrema importância para a visibilidade da comunidade LGBTQIA+ no mundo; por mais que o casal não fique junto “pelo bem da realeza”, ato que demonstra o quão antiquado e preconceituoso tem sido o tratamento de certos governos em relação a relacionamentos gays, o drama de Young Royals é uma das formas de fazer a sociedade olhar ao redor é perceber o quão doce e suave é o amor, independente de como é.