
Dante Zapparoli
A quarta temporada de What We Do in the Shadows tinha a faca e o queijo na mão, desde os colegas de quartos vampiros voltando de suas jornadas separadas que os fariam evoluírem como mortos-vivos até a apresentação de conceitos como família, amor e outras construções sociais as quais estamos acostumados – e que são estranhas para seres centenários. No entanto, o queijo foi jogado fora e a faca parece mirar em uma desvalorização ainda maior dos subplots femininos de Nadja (Natasia Demetriou) e em temáticas com contextos racistas, como com Marwa (Parisa Fakhri).
No final da terceira temporada, é exibido um cliffhanger no qual o grupo de cinco vampiros se separam em jornadas diferentes. Nos planos iniciais, Guillermo (Harvey Guillén) seguiria para Al Qolnidar juntamente com seu mestre, Nandor (Kayvan Novak), quando ele finalmente se transformaria em um sanguessuga, às margens do Rio Tigre. No entanto, por mudanças de última hora, ele acaba sendo encaixotado para Londres, juntamente com Nadja.
Já Laszlo (Matt Barry) e Colin Robinson (Mark Proksch) permanecem em Staten Island, sendo que o segundo está em uma forma diferente das apresentadas nas outras temporadas: após seu aniversário de 100 anos, Colin renasce, saindo do peito do antigo sugador de energia que morava na casa. Essas fragmentações fizeram com que as expectativas para os possíveis desentendimentos da quarta temporada ficassem altas. No entanto, como a maioria das plotlines de What We Do in the Shadows, o que realmente aconteceu foram reencontros cômicos e sem muitas implicações de que qualquer um dos conflitos anteriores seriam resolvidos.
![Cena da série What We Do in the Shadows. A foto apresenta duas pessoas, uma mais desfocada à esquerda e outra mais focada a direita. A primeira pessoa usa roupas escuras, tem cabelo escuro, enquanto a segunda apresenta roupas infantis azuis, com um urso colorido no meio da roupa, e aparenta ter cabelos loiros. A segunda pessoa aparenta ser uma criança, no entanto seu corpo se destoa do rosto, o qual parece ser um homem adulto. O local em que estão é uma sala, com um piano ao fundo e vários papéis e livros espalhados por uma mesa de madeira escura.]](http://personaunesp.com.br/wp-content/uploads/2023/12/image8.png)
O início da quarta temporada mostra que todas as jornadas que tomaram parte na trama passada fracassaram: a volta para casa de todos eles vêm por meio do caos e da necessidade de retornar a um lugar já conhecido. Pela primeira vez, vemos que os personagens têm o intuito de mudar as coisas ao redor deles. Algo que não era comum nos anos anteriores, em que o máximo que ocorreria durante a trama era a evolução de títulos que envolviam Guillermo indo de familiar para guarda-costas devido sua descendência Van Helsing.
Agora, é possível ver que as falhas passadas deram um ar de esperança e de mudança para a casa: Nadja procura abrir seu próprio negócio, Nandor está em busca de uma esposa e Laszlo está disposto a se tornar um pai para Colin Robinson. Quem sobra, no final, é Memo, que acaba exercendo o papel de babá, contador e padrinho de casamento.
Um novo personagem que aparece nas confusões dos vampiros é o Djinn (Anoop Desai), invocado por Nandor, em uma tentativa de trazer à vida suas 37 esposas. O plano do vampiro setecentista é que a busca por amor, sua principal trama da terceira temporada, era inútil; ele já havia se apaixonado antes, quando ainda era vivo. No entanto, não lembrava quem era sua paixão. Então, procura nos meios mágicos uma maneira de encontrá-la novamente.
Então, uma de suas primeiras ideias é fazer com que suas esposas passem por testes para ver qual seria a melhor dentre elas – e, quando falham, ele pede para o Djinn que elas voltem a morrer. A única esposa que sobrou, que seria a pessoa perfeita para Nandor, foi Marwa. Vários outros pedidos feitos pelo sanguinário ex-saqueador eram assuntos fúteis: o maior pênis do mundo, mudar cada centímetro dela para que o agradasse e para que a moça tivesse os mesmos interesses e gostos que ele. Durante o decorrer da série, é impossível não sentir um amargor na boca ao ver como a personagem, dentre todas as personalidades femininas, é tratada.
Nadja chega a abandonar o Conselho Vampírico Mundial ao recusar sua ideia de uma boate vampírica, o que faz com que ela sinta o interesse de voltar a Staten Island e montar seu próprio negócio. O problema referente a como a história dela é contada começa quando os episódios, que deveriam explorar sua maneira de lidar financeiramente e estruturalmente com o seu novo negócio, começam a ter menos espaço na trama do que os plots adjacentes. Enquanto Nadja tentava construir e achar financiamento para que a boate fosse construída, Nandor arranjava uma esposa e Laszlo cuidava de uma criança – a maneira como a narrativa seguia não era bem definida e deixavam a mulher com a menor participação dentro deles.
Então, temos as cenas dela caindo no meio das apresentações, brigando com Laszlo e perdendo as performances de Colin Robinson para a boate, comercializando demais os convidados ressuscitados momentaneamente. Tudo que ela faz parece ter um contraponto que diminui todo seu esforço. Até seu último ato é considerado falho – enquanto vemos que Laszlo, nesse caso, Jack Daytona realizou a mesma ação de forma bem sucedida com uma temporada de diferença.
Toda a apresentação desse segredo se torna interessante ao apresentar que ela, ao se aproximar e ter relações românticas e sexuais com o caçador de vampiros, acabou por ter toda sua mente apagada. Isso abriu espaço para que muitas teorizações sobre um possível envolvimento de Nandor e Guillermo surgissem. Diferente do que algumas críticas trazem, toda a tensão construída com Guide dando em cima do familiar por ser um descendente do famoso caçador de vampiros é desconfortável – principalmente quando, com o andar dos episódios, descobrimos que o sentimento não é recíproco.
O Bebê Colin Robinson, ou Garoto, foi o produto que saiu do peito do vampiro de mesmo nome – é importante ressaltar que a diferenciação de nomes acompanha o personagem por um bom tempo durante a temporada, sendo usado para separar a persona em desenvolvimento do antigo homem que, até então, estava morto. No entanto, é perceptível que há uma alta comparação entre ambos, já que deveriam – até certo ponto – serem um só.
Todo o crescimento dele é voltado para interesses que são tediosos para as pessoas ao seu redor, como Roblox, curiosidades aleatórias ou pior: musicais. Esses assuntos são as formas principais da criança vampírica mostrar que ainda existe dentro dele um vampiro de energia – mesmo que Laszlo tenha dado a si mesmo a missão de transformar essa versão de Colin Robinson em uma pessoa interessante.
A quarta temporada do seriado sofreu vários vazamentos de episódios, o que fez com que a experiência de acompanhar o lançamento fosse algo inacreditável – ninguém nunca teria certeza se os capítulos seriam assistidos em sites duvidosos por links compartilhados por perfis do X (antigo Twitter) ou pelas transmissões da Hulu. Mas isso não impediu que a série fosse indicada para prêmios, como o Emmy.
Atualmente, a série está presente em quatro indicações diferentes: Melhor Design de Produção Para Um Programa Narrativo (Meia Hora), com o episódio The Night Market; Melhor Edição de Imagem Para Uma Série de Comédia com Uma Câmera, para o episódio Go Flip Yourself; Melhor Edição de Som Para Uma Série de Comédia ou Drama, com o episódio The Night Market; e, por fim, Melhor Figurino de Fantasia/Sci-Fi, com o episódio The Wedding – categoria a qual ganhou o Emmy de 2022.
Por mais que a temporada não tenha sido tão presente e forte como a primeira e segunda, ainda conseguiu trazer parte da essência caótica que é a existência de seres – quase – imortais. Além disso, o novo ano apresentou algo que Nandor já lidava há um tempo: a noção de que a imortalidade não é uma dádiva, mas sim parte da maldição de ser vampiro.
Ainda, essa leva de episódios conseguiu fechar com uma possível mudança de ares – que levara há uma temporada de muitas insinuações de virgindade, culpa religiosa e noções de traição e relacionamentos. E é claro que todo esse desenvolvimento de personagens não seria esquecido na sequência da série, principalmente pontos importantes como: os dois desejos restantes de Nandor, Não é? … Não é?