Nathan Nunes
A premissa de Um Homem , que participa da Competição Novos Diretores da 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é simples. Carlos (Dylan Felipe Ramiréz) quer comemorar o Natal junto de sua família, da qual ele é separado por viver em um abrigo para jovens no centro de Bogotá, na Colômbia. O problema é que cada um dos três integrantes está em um lugar diferente: sua mãe está distante e sua irmã trabalha como prostituta para pagar uma dívida que nem mesmo o jovem tem condições de quitar. Assim, acompanhamos o protagonista em seu dia a dia de angústia e sofrimento, forçado a se enquadrar em um perfil de masculinidade com o qual ele claramente não se identifica.
Un Varón, título original do filme, é uma coprodução entre Colômbia, França, Holanda e Alemanha. Além disso, é escrito e dirigido por Fabian Hernández, em sua estreia na direção de Cinema. Como todo debute também é uma chance de conhecermos os talentos do futuro, o longa participou da Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes, tendo coletado elogios que se confirmam quando assistimos o projeto. Seu grande trunfo é como dedica grande parte de sua misé-en-scene para a imersão na psique e na realidade de Carlos.
Nesse sentido, destacam-se elementos técnicos, como a fotografia de Sofia Oggioni. Sua câmera está quase sempre na mão ou presa naturalmente ao rosto de Carlos, usando e abusando dos close-ups e do ponto de vista subjetivo. Em grande parte das cenas, o fundo se desfoca, apenas para que vejamos o quanto o jovem está sozinho dentro daquele mundo, algo que também se reflete em enquadramentos específicos, como vários nos quais ele é posicionado sentado ou então muito pequeno em meio a um cenário grande que o engole.
Ainda assim, o grande artifício técnico que Um Homem tem a seu favor é a atuação principal de Dylan Felipe Ramirez. O menino consegue internalizar bem toda a angústia e sofrimento do protagonista em seu olhar quase sempre penoso, sua fala quase sempre meio engessada, sua postura que denota a todo momento um esforço para se encaixar em um contexto triste e desolador de violência e criminalidade.
Existe muita frieza no olhar do garoto, ou talvez uma que esconda sentimentos maiores e muito mais intensos. Infelizmente, também existe frieza no olhar de Hernández, ao passo que o filme pouco nos envolve no emocional daquela situação e mais parece um recorte básico do que um estudo de personagem propriamente dito. Ao menos, somos agraciados com a discussão constante do roteiro (de autoria do próprio diretor) sobre a masculinidade tóxica que permeia aqueles ambientes. Ambientes esses que separam os meninos dos homens de maneira hostil e triste, fazendo-os reprimir suas fraquezas para sobreviver.
No fim das contas, Um Homem é uma produção competente, mas pouco memorável. Destaca-se mais pela atuação principal e pela orquestração coerente dos elementos técnicos com os temas-chave, do que por uma potência própria e marcante enquanto Cinema. Contudo, ainda é um tipo de produção a ser celebrada, por trazer para o público discussões pertinentes para o contexto atual, que certamente ultrapassam o projeto em si.