Nathalia Tetzner
Quando The Weeknd apareceu com o cabelo curto substituindo os seus icônicos dreadlocks, os fãs sabiam que a construção de uma nova identidade visual viria acompanhada de músicas inéditas. Afinal, ao contrário da grande parte dos artistas masculinos, Abel Tesfaye sempre soube compor grandes eras à la divas pop. Assim, no outono americano, com o lançamento do videoclipe do primeiro single e faixa-título do seu terceiro álbum de estúdio, Starboy (2016), o cantor literalmente assassinou a persona do Beauty Behind The Madness (2015) e deu início ao projeto mais mainstream de sua carreira.
Lançado em 25 de novembro, o disco, que conta com 18 faixas e 1h8min de duração, alcançou o topo da parada musical estadunidense Billboard 200 em sua estreia. Ao longo de quase um ano, 7 singles foram trabalhados e 6 videoclipes foram impecavelmente produzidos. Porém, a divulgação mais elaborada ficou por conta do curta-metragem M A N I A, dirigido por Grant Singer com o objetivo de preparar o público para o que estaria por vir.
Inspirado por David Bowie e Prince, The Weeknd se juntou a um time de produtores renomados para compor o seu novo alter ego. Conhecidos no cenário mainstream, Max Martin e Benny Blanco marcam presença em refrões chiclete como Love To Lay e nas baladinhas pop como True Colors. Entre os nomes já creditados desde o início de sua carreira, Doc Mckinney traz de volta a sensação da primeira mixtape do canadense, House Of Balloons (2011), em faixas como Party Monster e Sidewalks, sua colaboração emocionante com Kendrick Lamar.
Navegando por temas já explorados na carreira de Abel, o seu terceiro projeto em estúdio tem duas musas: a cocaína e a modelo Bella Hadid. O impasse com a fama e o materialismo entram em cena junto ao relacionamento que terminou pouco antes do lançamento de Starboy. Não por coincidência, a nova queridinha do TikTok, Die For You, foi a última composição a ser finalizada e é a redenção de Abel. “A distância e o tempo entre nós/Nunca vai me fazer mudar de ideia, pois amor/Eu morreria por você”.
Sem o compromisso de contar uma história, Starboy soa como um quebra-cabeça com peças diferentes, mas que incrivelmente faz sentido quando montado. No álbum, há formas peculiares para além do pop R&B – Nothing Without You, assinada por Diplo, acaba soando desinteressante pela não profundidade de um som dance repentino. E o que dizer de I Feel It Coming? Ao contrário do primeiro single, a parceria com a dupla francesa Daft Punk fez muito sucesso nos provadores de roupa sem algum traço da personalidade do intérprete.
Algo diferente do The Weeknd habitual, mas que funciona em Starboy, é Secrets, a faixa com sample da banda de britânica Tears For Fears que teve como influência o country de Dolly Parton e Conway Twitty. Voltando para as colaborações, os vocais paranoicos de Lana Del Rey em Stargirl Interlude e os versos de Future em All I Know transformam o álbum em uma experiência única.
Uma era completa precisa de uma turnê digna, e, com a Starboy: Legend of the Fall Tour, The Weeknd realizou 95 shows em menos de um ano, incluindo uma passagem pelo Brasil no festival Lollapalooza. O repertório contava com uma mistura entre as faixas inéditas e os grandes hits que os fãs amam. Já a estrutura deslumbrante era formada por um enorme triângulo de origami que iluminava toda a pista enquanto se movia.
Vencedor do Grammy de Melhor Álbum Urbano Contemporâneo, Starboy deveria, segundo o próprio cantor, ter sido indicado nas categorias pop. Após ser esnobado com o seu projeto mais recente, After Hours (2020), o canadense expressou sua indignação para a Rolling Stone: “Colocar um álbum como Starboy e colocar um álbum como Beauty Behind the Madness na mesma categoria de alguns outros artistas, não é justo.” Pois é, como The Weeknd canta em Reminder, nenhum artista R&B é igual a ele, e Starboy é mais uma das mil faces dessa potência do pop com o seu próprio estilo.