Monique Marquesini
Apostando em novos rumos para os seriados nas telas, deixando o Ensino Médio de lado, a nova comédia do HBO Max explora o período da faculdade. A Vida Sexual das Universitárias (The Sex Lives of College Girls), lançada em novembro de 2021 e criada por Mindy Kaling e Justin Noble, é marcada por um diferencial que a torna especial: expor as adversidades desse novo ciclo sem desviar de questões cotidianas da juventude. A série acompanha quatro calouras – Kimberly (Pauline Chalamet), Whitney (Alyah Chanelle Scott), Bela (Amrit Kaur) e Leighton (Reneé Rapp) – na importante Essex College, onde elas buscam mudanças para suas vidas.
Morar sozinha para estudar, formar novas amizades, lidar com preconceito, autoconhecimento e diferenças culturais, essas são algumas das particularidades da primeira temporada de A Vida Sexual das Universitárias. As protagonistas e suas características únicas são um diferencial essencial para a construção da comédia. A primeira delas, Kimberly Finkle, é uma garota de uma cidade pequena – ou como ela descreve “da cidade mais branca da América”. Ela está aberta a novas descobertas, é uma pessoa super forte, mas também ingênua. Whitney Chase é uma estrela do futebol em ascensão e filha de uma senadora famosa, a jovem é inteligente e madura, mas nem sempre faz as melhores escolhas.
Para completar o grupo carismático das companheiras de quarto, temos Bela Malhotra, vinda de família indiana e entusiasta que sonha em escrever roteiros de Comédia. Por último, Leighton Murray, é uma garota popular que cresceu em Nova Iorque, dona de um humor peculiar que mascara algumas de suas inseguranças, enquanto busca se entender como uma pessoa LGBTQIA+.
Apesar de todas elas serem completamente diferentes umas das outras, a experiência de descobrir que irão dividir o mesmo espaço por bastante tempo faz com que a conexão seja praticamente instantânea. O seriado celebra os altos e baixos de uma amizade feminina pela visão das universitárias, explorando suas vidas sexuais de forma muito real, e também dando o devido destaque de que as vivências delas vão além de suas sexualidades, compreendendo diversos sentimentos e sensações – como felicidade, medo, confusão, entusiasmo e decepções.
A temporada conta com dez capítulos, nos quais o elenco e a trama são extremamente fluidos e bem construídos, juntando o humor com uma narrativa sincera do que é ser uma mulher buscando ser vista por sua própria identidade – assim como na série da Netflix, Jessica Jones, que mostra uma mulher liderando sua própria história.
Entretanto, algumas lacunas sobram na trama com o desenvolvimento dos episódios. A principal delas é a falta de assuntos relevantes sobre questões sexuais, como métodos contraceptivos e as infecções sexualmente transmissíveis (IST). A pauta, que encontra no audiovisual um espaço didático, e que com a expressão artística fomenta uma discussão crítica e alerta para temas importantes, se perde durante a história de The Sex Lives of College Girls, tornando-se um problema para a série, que tem público majoritariamente adolescente.
A célebre jornada das amigas pelo campus é marcada pela leveza em que elas conseguiram criar em sua amizade, mas também pelas inúmeras aventuras – nem sempre boas – que elas enfrentam. As histórias de cada uma se complementam, mas as garotas não deixam de ter suas próprias narrativas e experiências, assim, fazendo com que o enredo não exista apenas focado no quarteto.
Buscando furar a sua bolha, Kimberly, interpretada pela irmã mais velha do ator Timothée Chalamet, Pauline Chalamet, vai ao encontro de experiências novas, indo a festas, conhecendo pessoas e flertando. Até que ela conhece um garoto chamado Nico Murray, irmão de sua colega de quarto Leighton, e os dois acabam se envolvendo, fazendo com que Kimberly negligencie seu trabalho e a faculdade. A narrativa é antiga, na qual uma garota ingênua se atrai por um cara malandro, mas a história se sai bem, já que ela continua mantendo sua personalidade leve e medrosa em meio ao caos que enfrenta com o ficante.
É evidente que, em alguns momentos, A Vida Sexual das Universitárias é marcada por clichês, e talvez o menos agradável deles é o grande escândalo de um romance entre um funcionário e uma aluna. Isso acontece com Whitney, que se envolve com Dalton, um homem casado e treinador do time de futebol. Um enredo fraco para uma personagem tão bem desenvolvida é frustrante.
Durante a temporada, a adorável e hilária Bela busca uma vaga no grupo de comédia mais prestigiado da universidade – The Catullan. Porém a revista é marcada por membros excludentes e machistas, deixando claro como o privilégio de homens brancos no meio acadêmico é uma realidade que pode impedir o sonho da garota. Por mais que ela seja academicamente brilhante, ainda busca ser forte após sofrer diversos tipos de preconceito – como um terrível assédio sexual e xenofobia por sua origem indiana, que a fazem mudar de ideia sobre a relevância do grupo.
A história de Leighton mostra, com certeza, um bom desenvolvimento do roteiro. Diferente de suas colegas de quarto, que exploram suas vidas sexuais de forma aberta e heterossexual, durante a história ela tem uma relação difícil com sua sexualidade e acaba preferindo que ninguém saiba que ela gosta de garotas, além de ter medo do preconceito no campus e com sua família. Por isso, decide ter um relacionamento escondido com Alicia (Midori Francis). Além de representatividade, a série dá protagonismo às causas LGBTQIA+, já que a jornada de se descobrir e questionar sua identidade é importante e válida na vida de muitos jovens, como na de Leighton.
Alguns pontos marcam também o amadurecimento do enredo e das personagens, mostrando como o laço delas é forte e, antes de tudo, verdadeiro. Quando Kimberly tem um problema com Nico, o irmão de Leighton, e a amiga ajuda-a; a tentativa de assédio sexual que Bela sofre e as garotas estão ali para apoiá-la; o apoio dado a Whitney em uma de suas partidas de futebol; e talvez uma das cenas mais emocionantes da série, quando Leighton conta para Kimberly sobre sua sexualidade e recebe o acolhimento da amiga. Esse momento das duas é explorado e retratado de forma natural no roteiro e mostra mais uma vez como a produção dá conforto ao representar bem uma personagem queer.
Ademais, A Vida Sexual das Universitárias tem falhas como todo jovem buscando se descobrir, ou seja, ao longo da temporada, elas vão a festas, começam e terminam relacionamentos, erram, acertam e, principalmente, tentam. Enquanto tentam amadurecer, conseguem ser humanas, encarando seus medos e inseguranças, além de procurarem ser suporte a si mesmas e tornarem suas vivências uma história engraçada. Essa é a identidade e maestria ao escrever comédias adolescentes de Mindy Kaling, responsável pela série Eu Nunca… – na qual junta sensibilidade e humor, assim como em sua nova produção de roteiro leve e marcante.
O seriado foi renovado para uma segunda temporada, que tem data prevista para o final de 2022 e continuará explorando a trajetória do quarteto na universidade. O encerramento do primeiro ano deixou todas as quatro jovens com histórias abertas, para que seja possível continuar contando mais de suas vivências em novos episódios. Mantendo a leveza e graça, e tocando em assuntos reais, de forma especial e espontânea que o enredo e as personagens conseguem fazer.
A trajetória das protagonistas é bonita pela amizade e pela normalidade, com um retrato cômico e honesto da faculdade – elas exibem esse período como ele realmente é: confuso, engraçado e assustador. Todas as particularidades da fase da vida universitária estão presentes na obra, mas com um toque particular: a descoberta delas e do mundo ao seu redor com um olhar adolescente e autêntico.