Ana Laura Ferreira
“Faith in the future”. Essa é a frase um tanto poética que o cantor Louis Tomlinson vem espalhando nos últimos tempos, e o que poderia ser apenas uma ideia motivacional, se tornou grandiosa nas mãos do britânico. Realizado no dia 30 de Agosto, o The Away From Home Festival, produzido e curado pelo músico, viu sua primeira edição chegar como um voto de fé no futuro pós covid-19. Reunindo diferentes artistas independentes, o evento abriu as portas para uma promessa de esperança.
A ideia que fez o festival sair do papel foi pensada há mais de um ano quando, ainda no auge da pandemia, Tomlinson começou a organizar o evento que teve por pré-requisito a mensagem de manter suas portas abertas, seja para os fãs ou para os artistas. O setlist, que contou com a presença das bandas Bilk e The Snuts e a DJ Jess Iszatt, tem como característica comum o seu lugar na indústria da Música. Com as bênçãos do cantor principal da noite, os artistas independentes lideraram o festival.
Elevando esse espírito de liberdade e diversidade em sua última potência, até mesmo o local escolhido para sediar o primeiro TAFHF traz essas características. O parque Crystal Palace Bowl, que já foi palco de grandes estrelas como Elton John, Pink Floyd, The Cure e Bob Marley, carrega em sua história a herança da música ao vivo. Legado esse que foi plenamente honrado pelos mais de 8 mil ingressos distribuídos gratuitamente para o festival. Assim, tudo girou em torno de um sentimento compartilhado e de uma atmosfera de liberdade que apenas a música pode fornecer.
É fato que aguardamos ansiosamente pela volta ao “mundo normal”, quando aglomerações serão permitidas sem perigos ou medos. Em alguns lugares do mundo, isso já é uma realidade, como no caso da capital inglesa. Um dos comentários mais marcantes em relação ao assunto, dado por Tomlinson, foi o desejo de ser um dos primeiros artistas a retornar aos palcos e dividir esse sentimento de esperança e alegria com seus fãs. Depois de turnês em hiatus e mais de um ano longe da multidão, a palavra show é muito simples para definir as apresentações do festival.
Visto de fora, um evento relativamente pequeno parece pouco para quem já lotou arenas ao redor do mundo, mas o que ditou a emoção do dia não foi a quantidade, mas a paixão de quem fez parte do The Away From Home Festival. Seja para o próprio Louis ou para os artistas independentes que se apresentaram, o que mais chama a atenção é a adrenalina do festival e a alegria de trazer de volta o contato humano a quem já não o sentia há tanto tempo. E para além de multidões, ficou bem claro, durante suas mais de cinco horas de duração, que aquela era uma celebração à superação das dificuldades que enfrentamos no último ano.
Mas focando um pouco mais no tema principal do festival, a música, pudemos acompanhar diferentes vozes e perspectivas do rock, pop e eletrônica, compondo um setlist que agradaria a todos. Com um som que trouxe inovação, mas ainda se dedicava a espelhar os grandes astros do século passado, Bilk e The Snuts honraram a herança musical do Crystal Palace Bowl. Sem nunca deixar de soar pelo parque londrino, a DJ Jess Iszatt se responsabilizava pelos intervalos entre os shows, trazendo um toque de modernidade a um ambiente sentimentalmente nostálgico.
Entretanto, quando o assunto foi a apresentação principal da noite, pudemos perceber que a longa espera valeu a pena. Entoando as canções de seu primeiro álbum solo, Walls, Louis Tomlinson não abandonou suas origens e adicionou alguns faixas do One Direction ao set, além de honrar também sua nova perspectiva sonora com covers de 7, da banda Catfish and the Bottlemen, e Beautiful War, do Kings of Leon. Como se não bastasse, o britânico também estreou a faixa Change para o delírio dos fãs.
Podemos perceber que a ideia por trás do The Away From Home Festival não era apenas promover um evento, mas dar início a uma tradição. Ponto esse que foi amplamente detalhado no mini-documentário que compôs o segundo dia de festividades. Distribuído pela Veeps, o sábado seguinte ao festival foi marcado por um Livestream pago, no qual pudemos assistir ao show de Tomlinson, aos bastidores do evento e ao filme dirigido por Charlie Lightening, que mostrou toda a preparação para o grande dia. Mesmo pago, fomos surpreendidos ao ver que a transmissão foi aberta gratuitamente quase ao fim da apresentação para aqueles que quisessem acompanhar a cobertura.
Entretanto, uma coisa que merece a devida dedicação a ser mencionada quando falamos do The Away From Home Festival é o que ele significa enquanto porta de entrada para uma nova fase na carreira do cantor de Kill My Mind. Após sua saída da gravadora Syco em meados de 2020, selo ao qual estava submetido desde de seus dias de One Direction, Tomlinson se anunciou como uma artista independente e fechou parceria com a gravadora BMG, que coleciona nomes de peso em seus afiliados como The Rolling Stones e Avril Lavigne.
Para além das já grandes mudanças, foi em março de 2021 que o cantor se pronunciou em suas redes sociais para divulgar a abertura de sua própria empresa de gerenciamento de carreira. Até então sob domínio de diversos braços da Syco, a qual é conhecida pelo abuso de gestão de seus contratados, Louis agora se ergue no propósito de “ajudar a desenvolver novos artistas”. Assim, pudemos ter uma primeira palhinha dessa nova fase ao que o TAFHF se pautou exatamente nos ideais que o cantor carrega.
Um voto de esperança em dias melhores. Esse é o grande significado do The Away From Home Festival, que não se conteve em simplesmente curar uma seleção de artistas que considerasse interessante, mas desenvolver uma atmosfera de compartilhamento e união. Mesmo para quem acompanhou de longe, fomos capazes de sentir a magnitude e o simbolismo por trás daquele evento. Sendo apenas o primeiro de muitos, podemos dizer que estamos ansiosos por sua próxima edição.