Continente e sua perturbadora sede de sangue

Cena do filme Continente. Na imagem vemos o rosto de Amanda coberto de sangue. Amanda, mulher branca com olhos e cabelos castanhos, encontra-se boquiaberta e com muito sangue ao redor de sua boca. Ao fundo da foto está escuro.
Davi Pretto recebeu o prêmio de Melhor Direção na categoria Novos Rumos do Festival do Rio 2024 (Foto: Vitrine Filmes)

Vitória Borges

Exibida nos prestigiados Festival Internacional de Cinema de Munich e Festival do Rio, a produção brasileira Continente faz parte da seção Mostra Brasil na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O longa, que acompanha a história de um simples vilarejo nas planícies do Sul do país, mostra uma narrativa muito distópica que aborda o colonialismo, misturando drama com horror. 

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Entre passado e futuro, o presente em Sem Vergonha é a Arte

Cena de Sem Vergonha. Na imagem, a cantora Maria Alcina aparece com o rosto pintado de branco, sombra preta e batom vermelho. Ela veste uma roupa vermelha cheia de babados. Está se apresentando em um palco em frente a uma cortina azul.
Pertencente à seção Mostra Brasil da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Sem Vergonha é musical, biografia e saldo positivo para o Cinema brasileiro (Foto: Dilúvio Produções)

Jamily Rigonatto

O que faz um artista ser reconhecido como transgressor? Caso seu pensamento tenha sido direcionado a elementos como roupas, maquiagens e outros compositores estéticos, repense todas as suas certezas, pois Sem Vergonha te mostra que o segredo está na alma livre. Estrelado por Maria Alcina, o musical biográfico fez parte da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na seção Mostra Brasil, e, como a artista que o protagoniza, estabeleceu que limites não são uma opção válida. Afinal, se não for para ultrapassar as barreiras, de que vale fazer qualquer coisa nessa vida?

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Um Homem Diferente se assemelha nas crises existenciais

Cena de Um Homem Diferente. Nela, vemos Edward, interpretado por Sebastian Stan. Edward é um homem branco com o rosto desfigurado. Ele veste uma camisa xadrez e encara a câmera. O fundo está escuro e uma luz foca no rosto do personagem
Longa teve recepção calorosa em suas exibições na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: A24)

Guilherme Veiga

Se tem um tema que o Cinema injetou no debate público nos últimos tempos foi o da busca por padrões. Com o sucesso estrondoso de A Substância (2024), Um Homem Diferente chegava às telas da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo através da seção Perspectiva Internacional com cara de mais do mesmo: alguém insatisfeito com seu corpo, um tratamento milagroso e o mais puro caos. Porém, o longa entrega uma intrigante e curiosa abordagem sobre perda e subversão da identidade.

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Às vezes, nós não Precisamos Falar…

Cena do filme Precisamos Falar. Na imagem vemos Sandra e Paulo pensando em algo. Sandra, mulher branca com cabelos castanhos, veste um top azul e corta-vento cinza, seus cabelos estão presos em um rabo de cavalo. Celso, homem branco com barba e cabelos grisalhos, veste uma camisa de botão listrada branca e vinho. Ao fundo dos dois é possível ver uma geladeira.
Precisamos Falar aborda negacionismo e narcisismo (Foto: Conspiração Filmes)

Vitória Borges

Nenhuma visão de mundo é igual. É isso que a produção brasileira Precisamos Falar mostra. O longa, exibido na seção Mostra Brasil da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, aborda os limites da moralidade e acompanha as turbulências no relacionamento intrafamiliar de duas famílias do Rio de Janeiro. Inspirado no livro O Jantar, de Herman Koch, o filme mostra a reflexão sobre até onde os pais vão para proteger seus filhos.

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Cronenberg se declara como O Senhor dos Mortos com humor mórbido

Cena do filme O Senhor dos Mortos. Na direita o personagem Karsh está em pé vestindo uma mortalha, enquanto uma luz branca que vem da direita para a esquerda o ilumina. Na esquerda está um fundo escuro, com uma parede cheia de papéis e um computador. A imagem do computador mostra um avatar mulher com cabelos loiros.
O filme é sobre o luto de Cronenberg pela morte de sua esposa (Foto: SBS)

Guilherme Moraes

Sempre muito aguardado pelos críticos e cinéfilos, o novo filme do consagrado diretor David Cronenberg, O Senhor dos Mortos, chegou na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo dividindo opiniões, como parte da seção Perspectiva Internacional. O longa já se tornou o clássico ‘ame ou odeie’ pela frieza mórbida que o canadense adotou, além de conter uma narrativa confusa e, ao mesmo tempo, cômica. Ainda que esses pontos possam soar mal, o idealizador consegue utilizá-los de maneira interessante em seu conto sobre si mesmo. Cronenberg fala sobre o luto da sua esposa e abraça sua fama de cineasta mórbido e esquisito por seus longas de body horror; assim, ele se assume como O Senhor dos Mortos.

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A ruína dos homens em Oeste Outra Vez

Na imagem, em formato horizontal, Toto e Jerominho cavalgam por uma paisagem de mato amarelado e morros ao fundo. O fundo é azul com árvores. Toto está do lado esquerdo, mais atrás de Jerominho, em cima de um cavalo com pelagem cinza. Ele veste uma camisa de botão na cor branca e calça jeans. Ele é um homem na faixa dos 60 anos, de pele escura e cabelos grisalhos. Jerominho está mais à frente, montado em um cavalo branco, bem sujo. Ele veste uma jaqueta azul e calça cinza, Usa na cabeça um chapéu preto. Ele é um homem na faixa dos 80 anos.
As filmagens foram feitas no sertão de Goiás (Foto: O2 Play)

Davi Marcelgo

Já tem alguns anos que o Cinema, principalmente o western, tem desconstruído os mitos que solidificaram gêneros. Oeste Outra Vez, de Erico Rassi, segue pela mesma boiada, colocando em duelo os homens e seus relacionamentos. Nesse sertão, Toto (Ângelo Antônio) contrata um pistoleiro para dar um fim no homem que conquistou sua mulher. O filme faz parte da seção Mostra Brasil da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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Todo Mundo (Ainda) Tem Problemas Sexuais (e amorosos)

Cena do filme Todo Mundo (Ainda) Tem Problemas Sexuais. Em um ambiente bem decorado, uma mulher de expressão séria, com cabelo curto castanho e usando uma blusa estampada, está sentada atrás de uma mesa, observando atentamente duas pessoas que aparecem de costas no enquadramento. A mesa está repleta de objetos eróticos, incluindo brinquedos sexuais e acessórios, sugerindo um contexto de conversa aberta sobre sexualidade. Ao fundo, uma estante organizada com livros e pequenos ornamentos contribui para a atmosfera aconchegante e reflexiva do espaço, reforçando o tom direto e provocativo da cena.
Renata Paschoal também é fundadora da produtora Forte Filmes, presente no Cinema, Teatro e Televisão (Foto: Forte Filmes)

Henrique Marinhos

Em competição na seção Novos Diretores da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Todo Mundo (Ainda) Tem Problemas Sexuais é uma Comédia que explora as delícias conflituosas dos relacionamentos contemporâneos. São quatro histórias que, apesar de independentes, se conectam por suas temáticas: trisal, anal, se apaixonar no ambiente profissional e com quem vamos ficar no final. O filme, dirigido por Renata Paschoal, brinca com as inseguranças e desejos humanos sem pudores.

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No Céu da Pátria Nesse Instante tem desfecho nublado para o Brasil

Cena do filme No Céu da Pátria Nesse InstanteNa imagem, um homem dirige uma moto, enquanto uma mulher com um colete escrito Justiça Eleitoral nas costas está na garupa. Eles estão de costas e na frente deles, em desfoque, há uma caminhonete com pessoas em cima que vestem camisetas verdes e amarelas, uniformes da seleção de futebol brasileira e usam bandeiras do país. Há também motos com pessoas que vestem o mesmo tipo de roupa. Também é possível ver casas no horizonte. A mulher e o homem estão na faixa dos 40 anos.
O longa foi selecionado para a 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Ocean Films)

Davi Marcelgo

Selecionado no Festival de Brasília e no Festival do Rio, No Céu da Pátria Nesse Instante é um documentário dirigido por Sandra Kogut que também faz parte da seção Mostra Brasil da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O filme narra as eleições presidenciais de 2022 que culminam nos ataques de 8 de Janeiro de 2023 contra o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. Em entrevista para o Canal Brasil, a diretora diz que começou o projeto no final de 2021. O ato dos apoiadores de Bolsonaro é o calcanhar de Aquiles não só da democracia, mas da produção também.

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THE TORTURED POETS DEPARTMENT: o que se passa na cabeça da cantora mais famosa do momento?

Capa do álbum com moldura branca ao redor de uma foto. Na foto, Taylor Swift está deitada em uma cama, com os olhos fora da imagem, mostrando apenas a boca. Ela veste shorts pretos e uma regata preta. No topo da imagem está escrito The Tortured Poets Department.
Para Taylor Swift em THE TORTURED POETS DEPARTMENT: “Tudo é justo no amor e na poesia” (Foto: Republic Records)

Arthur Caires

Existem momentos na história em que o mundo se une em torno de um único artista, celebrando seu pico de sucesso com admiração. São instantes marcantes, onde a Música transcende o mero entretenimento e se torna um fenômeno cultural que define gerações. A Beatlemania na década de 1960, o lançamento de Thriller por Michael Jackson em 1982 e a ascensão de Madonna como ‘Rainha do Pop’ na década de 1990 são apenas alguns exemplos dessa catarse coletiva. Em cada um desses casos, a obsessão pela estrela era palpável, dominando conversas, inspirando moda e comportamento, e consolidando seu lugar como ícone cultural inegável.

O mesmo aconteceu com Taylor Swift em 2023. Em Março daquele ano, a cantora iniciou uma das maiores turnês da história, a The Eras Tour. Celebrando todos os seus dez (agora, onze) álbuns, a sequência de shows já ultrapassou a marca de 1 bilhão de dólares de arrecadação, e está bem longe de acabar. Durante esse período, Swift ainda lançou duas regravações – Speak Now (Taylor’s Version) e 1989 (Taylor’s Version) –, quebrou recordes nos cinemas com o lançamento do registro ao vivo da turnê e foi nomeada como Pessoa do Ano pela revista Time. Já no começo de 2024, seguindo a onda de conquistas, a artista se tornou a primeira a ganhar quatro vezes o prêmio de Álbum do Ano no Grammy, sendo o último gramofone pertencente a Midnights.

É logo após esse turbilhão de acontecimentos que Taylor Swift lança seu 11º álbum de estúdio, THE TORTURED POETS DEPARTMENT. O disco vendeu mais de 2,5 milhões de cópias em sua primeira semana nos EUA e debutou com 313 milhões de reproduções no Spotify, sendo a maior estreia da carreira da cantora e da plataforma. Ao longo de suas 16 faixas – na versão standard –, a compositora fala sobre o término de seu relacionamento de seis anos com o ator britânico Joe Alwyn, a breve mas intensa reaproximação com o cantor Matty Healy, vocalista da banda The 1975, e a não muito bem-vinda opinião da mídia e de alguns fãs sobre sua vida pessoal.

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Corisco e Dadá: o Terror à luz do dia revive em alta definição

Na imagem, vemos Chico Diaz e Dira Paes interpretando os personagens Corisco e Dadá no filme Corisco e Dadá. Corisco, ao centro, veste um chapéu típico de cangaceiro, adornado com estrelas de metal e enfeites, com olhar melancólico. Ele usa colares e uma faixa cruzada no peito. Atrás dele, à esquerda, está Dadá, com uma expressão intensa e observadora, também usando um chapéu ornamentado com conchas. Ao fundo, vemos um ambiente de pedras, remetendo à aridez do sertão nordestino, cenário onde a narrativa se desenrola, com luz clara e direta.
Após a emboscada que matou Lampião em 1938, Corisco e Dadá assumiram a liderança no cangaço (Foto: Sereia Filmes)

Henrique Marinhos

A chegada da versão restaurada em 4K de Corisco e Dadá às salas de cinema é uma oportunidade rara de revisitar uma obra que, 28 anos após seu lançamento, continua brutal e relevante. Dirigido por Rosemberg Cariry e estrelado por Chico Diaz e Dira Paes, o filme oferece mais do que uma simples narrativa sobre os últimos suspiros do cangaço: ele é uma meditação sobre violência, fé e resistência. A remasterização, meticulosamente conduzida, redescobre a visão original de Cariry, que sempre tratou o sertão não como mero cenário, mas como um personagem repleto de beleza e Terror, iluminado pela luz crua e implacável do cerrado e pelas cicatrizes deixadas pela aridez da terra ressecada.

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