Mariana Nicastro
Ohio, 1979. Joe (Joel Courtney), Alice (Elle Fanning), Charles (Riley Griffiths), Cary (Ryan Lee), Martin (Gabriel Basso) e Preston (Zach Mills) deixavam suas casas a caminho de uma estação de trem antiga. Era uma madrugada de verão. Os seis carregavam consigo a euforia da pré-adolescência, o desejo de gravarem um filme independente e uma câmera super 8. O plano do diretor mirim Charles era capturar boas atuações dos amigos. Se tivessem sorte, um trem ao fundo complementaria o cenário. E foi o que aconteceu. Mas, ao invés de sorte, eles ganharam passagens só de ida para uma aventura inesquecível, ao tornarem-se testemunhas de um enigmático acidente envolvendo a locomotiva em questão.
Lançada em agosto de 2011 pela Paramount Pictures, Super 8 é uma produção de ficção científica e mistério que chama a atenção desde os nomes de seus realizadores. Escrita e dirigida por J.J. Abrams, e produzida por ninguém mais, ninguém menos, do que Steven Spielberg, a obra entrega de forma excepcional tudo o que se busca ao assistir um filme do gênero. O nome traduz sua essência, já que Super 8 era uma câmera de 8mm muito utilizada para produções cinematográficas até a década de 80. Assim, o diretor não apenas desejava reproduzir a experiência dos filmes de ficção dos seus tempos de criança, como visava homenagear o inventor de muitos deles, Spielberg.
Com a introdução de personagens cativantes e uma trama inteligente, o longa já apresenta logo de cara uma problemática que estimula a curiosidade do telespectador. Em seguida, o suspense dos acontecimentos iniciais se desenrola em consequências cada vez mais bizarras para a cidadezinha de Lillian, onde moram nossos protagonistas. Desaparecimentos curiosos e a presença repentina de militares na região, que agem de forma intrigante, alimentam cada vez mais os mistérios. Logo, a obra revela que o agente desses eventos não é nada menos do que extraterrestre, ainda que os verdadeiros vilões sejam, sem sombra de dúvidas, humanos.
Super 8 fornece uma história divertida enquanto brinca diversas vezes com a metalinguagem e alude a outras obras do tipo, como, por exemplo, E.T. O Extraterrestre (1982), Guerra dos Mundos (2005) ou Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1978). Filmes esses, inclusive, todos dirigidos pelo próprio cineasta que o longa homenageia. A ambientação no fim dos anos 70 também fornece referências notáveis, como os pôsteres de filmes de terror, revistas de Star Wars e bonecos de ação nos quartos das crianças, e até a própria obra de zumbis por elas desenvolvida.
A produção mantém um ritmo agradável do começo ao fim, sem impor uma história em que os protagonistas se tornariam heróis de uma maneira improvável ou até forçada. Ele se dedica a observá-los lidando com dilemas pessoais e planos comuns de crianças em um típico verão de suas vidas. Ao mesmo tempo, eles acidentalmente têm essas questões misturadas com os acontecimentos alienígenas, e, assim, acabam naturalmente envolvidos.
Super 8 também tem sucesso ao garantir uma ótima progressão nos problemas apresentados, em suas revelações e, até mesmo, nas aparições do alienígena. Quanto ao último, a criatura rende boas sequências de tensão, mesmo quando aparece de forma mais sutil e sugestiva. Isso ocorre em ataques em que sua sombra é vagamente revelada por meio de reflexos em algumas superfícies, ou diante da expressão de horror de suas vítimas. Essa sugestividade alimenta a curiosidade do telespectador e não o trai quando o extraterrestre realmente aparece, entregando bons sustos.
O elenco, escalado por April Webster e Alyssa Weisberg, é um destaque da produção. O jovem Joel Courtney (A Barraca do Beijo) brilha como o protagonista corajoso do longa-metragem. Joe é um jovem que enfrenta o luto e mudanças drásticas em sua vida desde a morte de sua mãe. Em contrapartida, o garoto não deixa de ser um pré-adolescente comum, que gosta de maquetes e maquiagens de Cinema, de filmes sci-fi, e que tem suas paixões da adolescência.
A incrível Elle Fanning também ganha evidência na história, ao representar com maestria sentimentos de culpa, compaixão, ternura e revolta vividos por Alice. Claro que nem todos recebem o mesmo desenvolvimento e evolução de personagens como ela ou Joe, mas as demais crianças fornecem participações essenciais para que nos importemos com seus destinos. Os conflitos entre pais e filhos e entre as próprias crianças ainda criam dramas reais e promovem a aproximação do telespectador. Eles não são apenas um plano de fundo para os acontecimentos, mas sim importantes dramas para as construções das relações.
Agora, se você leu até aqui e achou a trama de Super 8 semelhante a uma obra bem recente que envolve crianças, alienígenas, mistérios, uma vibe dos anos 70/80 e mais alguns bagulhos sinistros, devo dizer que achou certo. Sem dúvidas, o filme e Stranger Things, da Netflix, não só beberam das mesmas fontes para suas criações, como também é possível citar o próprio longa como uma das inspirações para a série. A química entre os atores mirins, que são um forte pilar de ambas as histórias, a investigação paralela desenvolvida pelos adultos, e os governos escondendo seus segredos a todo o custo, são fatores em comum que merecem ser destacados.
A trama contém algumas conveniências de roteiro, porém, elas em nada a prejudicam e podem, até mesmo, passar despercebidas. Um exemplo é a forma como facilitações acontecem para que uma determinada nave seja construída no fim, e como a narrativa do alienígena é concluída. Entretanto, elas são minimizadas devido a todos os aspectos positivos do longa-metragem. Como um todo, ele é íntegro e se consagra não só como uma clara homenagem ao Cinema e a Spielberg, mas também como um filme admirável por si só. Assim, o carisma dos atores, a temática e a aura nostálgica que ele emana são só alguns dos fatores que permitem que, 10 anos depois, a história se prove memorável, inspirando também outras obras cinematográficas.
Inclusive, vale mencionar que, durante os créditos, a obra de zumbis desenvolvida pelos personagens é finalmente exibida completamente. Denominada The Case (O Caso), é incrível assisti-la depois de acompanharmos a trajetória de sua produção. Logo, além de todas suas qualidades criativas, Super 8 ainda contém um inception de obras setentistas. Esse fator fornece uma identidade completamente divertida para esse projeto de ficção e fecha com chave de ouro um tributo tão agradável ao gênero, digno de ser relembrado com o passar do tempo.