Nathan Sampaio
É muito comum que os filmes com maior notoriedade no Oscar sejam aqueles que concorrem nas principais categorias, como Melhor Filme, Direção, Ator e Atriz. Ainda assim, há ótimos longas que ficam escondidos, pois são lembrados em apenas em uma ou duas disputas técnicas. Na premiação de 2022, temos um excelente exemplo desse caso: Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, o longa-metragem indicado na categoria de Melhores Efeitos Visuais.
Esse novo capítulo nos filmes da Marvel conta a história de Shang-Chi (Simu Liu), filho do líder de uma organização criminosa conhecida como Os Dez Anéis, e treinado desde cedo para se tornar um guerreiro perfeito. Mas o jovem se rebela e foge para viver uma vida pacífica, até que certo dia ele é atacado por criminosos e isso o forçará a enfrentar seu passado.
Pela sinopse, pode-se notar que o longa não se destaca por ter uma história inovadora ou criativa, afinal há várias outras tramas muito parecidas no Cinema. O que diferencia Shang-Chi de outras obras é sua mistura entre universo de super-heróis e cultura chinesa, afinal é o primeiro filme do MCU protagonizado por um herói asiático. Essa união é muito bem aproveitada tanto na trama quanto no visual do filme dirigido por Destin Daniel Cretton.
A cultura chinesa influencia diretamente em todo o design da obra, principalmente por trazer elementos da mitologia da região e fazer várias referências a grandes obras do Cinema chinês, como O Clã das Adagas Voadoras, que serviu de inspiração na cena que mostra o primeiro encontro entre Xu Wenwu (Tony Leung) e Ying Li (Fala Chen).
Muitos mitos se mostram presentes em tela também, pois a equipe de efeitos especiais, comandada por Christopher Townsend, recriou perfeitamente diversas criaturas mágicas, que se tornam muito críveis ao espectador. Até mesmo seres exóticos e que não temos familiaridade se tornam fofos e carismáticos pelas lentes de Bill Pope, o diretor de fotografia.
Outra evidente inspiração para Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings são os filmes de artes marciais, principalmente os estrelados por Jackie Chan. O protagonista, interpretado por Simu Liu, realiza diversas cenas de ação e luta durante a projeção, espetaculares, muito empolgantes e belíssimas visualmente. Os trechos, muito bem filmados, lembram muito o estilo adotado e popularizado por Chan.
Bruce Lee também é uma forte influência para as cenas de ação. O astro hollywoodiano fez história no Cinema com seus longas de artes marciais, e Cretton trouxe essa inspiração para o MCU, principalmente na personagem de Xialing, que possui um estilo de luta e uso de armas que se remete muito a Lee.
Assim como as sequências de ação, os efeitos visuais também desempenham um importante papel nas cenas, pois Wenwu, pai de Shang-Chi, utiliza-se de dez anéis, os quais possuem poderes místicos, para lutar contra os oponentes, promovendo cenas magníficas e criativas. Isso ilustra, mais uma vez, a perfeita união entre elementos do Cinema com inspirações asiáticas, como as artes marciais, com o mundo dos heróis. Essa mistura, tão criativa, traz um frescor a essas histórias tão exploradas nas mídias atuais.
Todo o elenco está excelente nos papéis, com destaque para Simu Liu e Awkwafina, que transbordam carisma e bom humor, fazendo com que suas jornadas sejam cativantes e divertidas de se acompanhar. Meng’er Zhang compõe uma Xialing dúbia, que parece transitar entre amiga e inimiga a todo momento, tornando-a uma personagem misteriosa e capaz de atiçar a curiosidade do público.
Tony Leung, astro da Ásia e que finalmente faz sua estreia no Ocidente, constrói um bom antagonista, com uma motivação crível. Sua atuação está incrível, e é uma pena que o roteiro, escrito por Destin Daniel Cretton, Andrew Lanham e David Callaham, não o ajude a se tornar um personagem mais complexo, pois havia muito potencial dele ser um antagonista memorável.
O elenco de apoio também possui nomes de peso e que constroem personagens cativantes. Dois destaques são Michelle Yeoh, grande nome do Cinema asiático e protagonista do clássico O Tigre e o Dragão, que serve como uma mentora para Shang-Chi, e Ben Kingsley, que reprisa seu papel de Homem de Ferro 3 e atua como um bom alívio cômico na trama, além de ser um pedido de desculpas do estúdio por seu personagem que carregava estereótipos e preconceitos.
Os pontos negativos do longa, entretanto, estão centrados em sua conclusão. Nesse momento, a direção de Cretton deixa de lado as artes marciais, as quais tinham sido o ápice do filme, para focar em uma briga de criaturas mágicas, que, embora lindas visualmente, não tem o mesmo apreço que os próprios personagens lutando. Além disso, há várias decisões de roteiro que, embora auxiliem no avanço da trama, são inverossímeis ou de difícil aceitação, como a flechada certeira de uma personagem que tinha recentemente aprendido como utilizar a arma.
Como já dito no texto, esse longa-metragem está concorrendo na categoria de Melhores Efeitos Visuais no Oscar 2022. Essa é a 11ª indicação da Marvel Studios na categoria, não tendo ganho nenhuma vez o prêmio. O estúdio disputa a premiação desde seu início, em 2009, com seu primeiro filme Homem de Ferro. Além da estreia de Tony Stark, outros fortes concorrentes do MCU que bateram na trave foram Doutor Estranho, Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato.
O responsável pelos efeitos visuais no filme é Christopher Townsend, o qual já foi indicado a outros 2 Oscars de efeitos visuais, em 2014 e 2018, por Homem de Ferro 3 e Guardiões da Galáxia Vol. 2, respectivamente. Juntamente dele, há outros dois profissionais que já foram indicados anteriormente, Joe Farrell, nomeado em 2010 por Hereafter e Dan Oliver, indicado em 2015 por Mad Max: Estrada da Fúria. Além deles, o estreante Sean Noel Walker também concorre.
Esse ano, a categoria de Efeitos Visuais está com diversos blockbusters, pois competem com Shang–Chi e a Lenda dos Dez Anéis, Homem Aranha: Sem Volta para Casa, Free Guy: Assumindo o Controle, 007: Sem Tempo para Morrer e Duna, o qual é provavelmente o favorito na premiação, embora surpresas possam ocorrer. Afinal, Shang-Chi é um ótimo filme que tem um trabalho de efeitos visuais inacreditável e que se mescla muito bem com a proposta e o enredo do longa.
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis apresenta uma história divertida e cativante, com protagonistas carismáticos e antagonistas interessantes. A mistura de gêneros e estéticas promove uma experiência única e instigante ao espectador. Além disso, os efeitos especiais são incríveis, conseguindo corroborar para criar cenas de luta magníficas e dar vida a seres míticos da cultura chinesa. Certamente é um longa que merece muito ser visto por todos, tanto sua indicação ao prêmio de Melhores Efeitos Visuais quanto pela sua qualidade para além disso.