Croma Kid esteve na 47ª Mostra de Cinema Internacional em São Paulo e também na seção Bright Future do Festival Internacional de Cinema de Roterdã (Foto: Aurora Dominicana)
Henrique Marinhos
Marcado pelo domínio da tecnologia analógica no cenário audiovisual, Croma Kid é uma viagem estonteante aos anos 1990. Dirigido por Pablo Chea e presente na seção Competição Novos Diretores da 47ª Mostra de Cinema Internacional em São Paulo, a ficção nos leva a acompanhar o encantador pré-adolescente Emi (Bosco Cárdenas), em todas as suas rebeldias e pensamentos inquietantes sobre sua família, que o envergonha por sua veia artística e televisiva.
Exibido na seção Perspectiva Internacional da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Tomando Veneza dissolve um quebra-cabeças (Foto: Gert Films)
Jamily Rigonatto
Quando o estalo da ruptura chega, é impossível deixar de ouvir. O som estrondoso carrega um posicionamento, mas nem sempre se insere de forma natural. Na maioria dos casos, o ruído depende de mais artimanhas do que somos capazes de imaginar. Em Tomando Veneza, documentário dirigido por Amei Wallach e pertencente à seção Perspectiva Internacional da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, os mistérios por trás do som são mais que desvendados. Continue lendo “Tomando Veneza, arte e política andam lado a lado”
O longa-metragem, presente na 47ª Mostra Internacional de Cinema, marca a estreia de Gisele Frade como atriz nas telonas (Foto: André Carvalheira)
Guilherme Machado Leal
A metalinguagem é uma das formas de se contar histórias no audiovisual. A partir dela, discussões sobre a arte dentro da arte são inúmeras e não possuem uma maneira específica de abordagem. Por exemplo, em Pânico 3, os personagens gravam um filme slasher enquanto vivenciam o subgênero em suas vidas pessoais. As narrativas autorreferenciais são importantes porque tiram o foco do exterior e priorizam o processo de criação em detrimento à finalidade dele. É nesse lugar que O Vazio de Domingo à Tarde, dirigido por Gustavo Galvão, se encontra.
O longa, que estreou na seção Mostra Brasil da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, acompanha a história de Mônica (Gisele Frade), uma atriz conturbada com a sua carreira e vida pessoal, que se entrelaçam e a tornam uma só. Tendo como ponto de partida a sua relação com o trabalho, a personagem trava uma batalha interna entre o seu eu pessoal e o lugar de prestígio que ocupa no imaginário daqueles que a admiram. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que a protagonista passa por essa jornada, Kelly (Ana Eliza Chaves), uma adolescente que almeja o estrelato, possui a artista como inspiração e fará de tudo para entrar no mundo da atuação.
Quando em um relacionamento, antes de dormir, os parceiros deitam-se para conversar sobre o dia, a rotina, acontecimentos e o que está na cabeça. Este momento sucinto é de suma importância para conectar casais e desafogar do caos cotidiano. Mas quando o momento desaparece e é engolido junto aos problemas, o que resta?
A obra integrou a competição Novos Diretores na 47ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Filmotor)
Guilherme Veiga
Estude muito, leia livros de negócios, invista em você mesmo, tenha educação financeira, trabalhe enquanto eles dormem. Com a proliferação dos coachs tal qual uma doença moderna, o discurso (e a falácia) da meritocracia estão cada vez mais em voga e iludindo milhões que acreditam que, ao invés de degenerar, o trabalho dignifica o homem.
No papel, nas palestras e nos podcasts, ele é lindo, mas também demonstra como uma certa parcela está totalmente descolada e alheia à sociedade da qual faz parte e das mazelas que ela carrega. É a partir desse cenário que Uma Vida de Ouro, documentário presente na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, busca traçar um estudo de como a busca por uma vida melhor funciona na prática em uma região devastada pela miséria.
Presente no Festival de Cannes, Veneza e Berlim, A Sobrevivência da Bondade também integrou a programação da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Fandango Sales)
Vitória Gomez
Reencontrar sentido em seus recomeços. É o que a sinopse de A Sobrevivência da Bondade propõe. Na trama, exibida na seção Perspectiva Internacional da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e vencedora do Prêmio da Crítica do Festival de Berlim, uma mulher negra é abandonada no deserto dentro de uma jaula. Conseguindo milagrosamente escapar depois de dias, ela cruza a paisagem árida em busca de salvação, para encontrar ainda mais barbárie na civilização.
A sinopse busca por recomeços, mas, a cada novo cenário apresentado, essa ideia parece mais distante. BlackWoman – como a protagonista é chamada nos créditos finais, uma vez que o longa-metragem praticamente não tem diálogos – cruza campos arenosos sem sinal de vida, cidades abandonadas por uma suposta guerra e trilhas em ambientes hostis, com o inimigo caminhando poucos metros à frente. A mulher não tem outro objetivo senão a sobrevivência e, para o espectador, o tom é contemplativo. O que estaria acontecendo ali? E, acima de tudo, o que isso significa?
Junto a Dulcineia, mais de 20 filmes portugueses integram a 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Bando à Parte)
Henrique Marinhos
Dirigido e roteirizado pelo cineasta português Artur Serra Araújo, Dulcineia conta a história de Hugo, um contrabaixista de jazz que decide tirar um ano sabático e voltar a Porto, sua cidade natal, em busca de equilíbrio e inspiração. No entanto, como o fio condutor da trama, a sinfonia se desenvolve lentamente em torno de um mistério como um pianista famoso, que toca uma música que o protagonista vem escrevendo na sua cabeça há anos, mas nunca conseguiu colocá-la no papel.
A obra está presente na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na seção Perspectiva Internacional, e mistura elementos de romance, suspense e uma quase fantasia. Suas referências também são diretas e bem-vindas, construindo uma base sólida para o desenvolvimento da narrativa: Dom Quixote, que influi o nome da personagem Dulcineia (Alba Baptista) e sua relação com Hugo (António Parra); a própria cultura de Porto, retratada em belas imagens e diálogos; e o jazz, a paixão e a expressão de Hugo e dos demais músicos que ele encontra em sua nova jornada de autoconhecimento.
El mal querer é baseado em um livro do século XIII de um autor desconhecido (Foto: Columbia Records)
Henrique Marinhos
A cantora, compositora e produtora Rosalía nasceu em Sant Esteve Sesrovires, na Catalunha, em 1992 e se tornou um fenômeno da música pop com o lançamento de seu segundo álbum, El mal querer, há 5 anos. A obra conceitual mistura elementos do flamenco, pop e urban com vocais e visuais esplendorosos e surpreendentes para um projeto de conclusão de curso na Escola Superior de Música da Catalunha.
O curta-metragem, além de estar disponível no Itaú Cultural Play para exibição na 47º Mostra Internaciona de Cinema em São Paulo, também está na íntegra no YouTube (Foto: Cultures of Resistance Films)
Henrique Marinhos
Do Lixo ao Tesouro: Transformando Negativos em Positivos é um documentário que mostra como a Arte pode ser uma forma de resistência, transformação e empoderamento de uma comunidade. O filme acompanha a trajetória de diversos artistas do Lesoto, um pequeno país nas montanhas da África do Sul, que usam o lixo como matéria-prima para suas obras, além de muitas outras atividades sociais. Através da criatividade, da reciclagem e principalmente da paixão pelo que fazem, eles criam peças e projetos que expressam suas identidades, culturas e lutas em um cenário que por muitos seria considerado infértil.
Em clima de mês do horror, o Estante do Persona de Outubro brinca de assombração (Arte: Raíra Tiengo/ Texto de abertura: Enzo Caramori e Marcela Lavorato)
“(…) Às vezes, me assusta pensar que os problemas cotidianos podem ser para mim um pouco mais terríveis do que para o resto das pessoas.”
— Samanta Schweblin
O que mais assombra é o desconhecido. A aproximação do indivíduo a algo nebuloso, que remete ao comum, mas, de certa forma, possui uma aura em desalinho. Algo no fundo do horizonte, coberto de escuridão e fumaça se faz presente, mesmo que não se possa ver com olhos ainda humanos. O terror e o horror, que nasce não somente de grandes escritores e realizadores do gênero, mas do desenterrar das sensibilidades do inconsciente, e da explicitação do desconhecido não somente enquanto o outro, mas o que não sabemos de nós mesmos. No mês de Outubro de 2023, o Estante do Persona permite se adentrar ao colapso do corpo e do cotidiano pelo grotesco e pela violência, explicitada nas discussões do Mês do Horror, que tomou a Literatura da autora Mariana Enriquez como ponto central de reflexão.