Victor Fraga, diretor do documentário, centraliza a narrativa em duas figuras britânicas: Jeremy Corbyn e Ken Loach (Foto: Sesc SP Digital)
Guilherme Machado Leal
Em 2021, o cineasta Victor Fraga cutucou a ferida que marcou o cenário político desde o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff e a prisão de Lula com a obra A Fantástica Fábrica de Golpes. Três anos depois, ele volta em Os Maus Patriotas, presente na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, para falar a respeito da relação dos veículos de comunicação com a esquerda britânica. O documentário, da seção Novos Diretores, utiliza duas figuras centrais para a história do Reino Unido: o diretor Ken Loach e Jeremy Corbyn, ex-líder do Partido Trabalhista.
No Estante do Persona de Outubro o horror está nas páginas (Arte: Aryadne Xavier/Texto de abertura: Jamily Rigonatto)
Muitos têm medo de filmes de terror. Produções gráficas de violência, sangue, sustos em formato jumpscare, gore e outras possibilidades da linguagem audiovisual acumulam fãs e haters por todo o mundo, mas, e na Literatura? O que o horror é capaz de fazer? O Estante do Persona de Outubro vem te responder essa pergunta e, como de costume, fazer indicações, dessa vez, horripilantes.
O relato escrito de horror existe há muito tempo, com os primeiros registros sendo as gravuras nas paredes de cavernas e espaços afins, que já faziam uma espécie de documentação dos mitos e folclores que assustavam os homens muito antes dessa espécie de narrativa ser categorizada. O fluxo seguiu com menção a monstros, acontecimentos fantásticos, eventos sanguinários e muito mais ocupando diários, crônicas e, inclusive, textos religiosos.
Durante o século XVIII, a materialização de textos voltados para o terror começa a aumentar. A incidência da teoria do pensamento lógico impulsiona a popularização de histórias que exploram o sobrenatural com menos enfoque na vontade divina. Nesse período, ocorre o lançamento de O Castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole, considerado o primeiro romance gótico.
No século seguinte, clássicos do gênero caem no gosto da população e se tornam lendas imortais. Entre os mais famosos estão Frankenstein (1818), de Mary Shelley, Drácula (1897), de Bram Stoker, e a coletânea de livros de Edgar Allan Poe. Estes, já sendo considerados inspirações inesgotáveis para diversas estórias de monstros, além de base para suas versões cinematográficas, lançadas com mais de 50 anos de diferença.
Desse momento para frente, a ruptura promove uma revolução, com autores do mundo todo explorando os mais diversos aspectos do terror e horror. Nomes como H.P. Lovecraft, Stephen King, Shirley Jackson, Charles Beaumont, Neil Gaiman e incontáveis outros se tornaram referências para produções macabras com subcategorias e muita profundidade – algumas até questionáveis. De caça às bruxas a pequenas meninas que entram em portais macabros, a Horror Literature cria mundos ou narra o real com garras afiadas, suspense e imprevisibilidade.
Esse texto não contempla nem metade das possibilidades que o gênero criou no universo literário e deixa, inclusive, de passear pelos frutos suculentos do cenário nacional. Por isso, a palavra fica agora com nossos redatores e suas indicações para lá de frescas, com veias fartas e cheias de sangue novinho… Quer dizer, criatividade, isso mesmo, criatividade e só! Agora, é sua vez de aproveitar e tirar um tempinho para adentrar esse imaginário, mas, por favor, deixe de fora o alho, as tochas e a caça aos monstros.
O filme ganhou o prêmio de Melhor Longa-Metragem de Ficção no Festival do Rio 2024 (Foto: Vitrine Filmes)
Davi Marcelgo
No momento em que o diretor Marcelo Caetano filmou ‘Baby’ (João Pedro Mariano) – ainda Wellington naquela cena – na FEBEM, um nome ecoava de dentro da cela: Héctor Babenco, seja nas ideias, estilização em cores, Fotografia ou iluminação. Ainda assim, Baby transpira personalidade e dor. Selecionado para a seção Mostra Brasil, o filme faz parte da programação da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
O filme participou da Mostra Competitiva do Festival do Rio 2024 (Foto: Globoplay)
Davi Marcelgo
Marco Dutra é conhecido por suas colaborações com Juliana Rojas, mas, na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o diretor encara sozinho a missão de contar a história de Edgar Wilson (Selton Mello) e a cidade de Abalurdes, que está prestes a passar pelo apocalipse. Enterre Seus Mortos faz parte da seção Mostra Brasil e é uma produção Globoplay que adapta o romance homônimo de Ana Paula Maia.
Zafari também foi exibido no Festival de San Sebastián (Foto: Vitrine Filmes)
Vitória Borges
A produção venezuelana Zafari, presente na seção Perspectiva Internacional da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, conta a história de uma família em situações precárias vivendo em uma Caracas distópica. Produzido por Mariana Rondón, o longa mostra a cidade dividida entre uma sociedade que está à beira de desmoronar e a ânsia pela fuga do país – fazendo uma clara comparação com a situação da Venezuela contemporânea.
O curta-metragem Não Sou Eu faz parte da seção Apresentação Especial da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: CG Cinéma)
Guilherme Moraes
Após três anos do lançamento de Annette, Leos Carax volta com Não Sou Eu, um curta-metragem de 45 minutos presente na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na seção de Apresentação Especial. O filme não apenas homenageia, como também encarna o espírito do lendário Jean-Luc Godard, com seus ensaios sobre a velocidade do mundo atual e a exploração da linguagem cinematográfica.
Com o lançamento de Continente, equipe e elenco falam sobre Cinema de gênero, linguagem e Terror
O filme cutuca cicatrizes do Brasil colonial (Arte: Aryadne Xavier)
Davi Marcelgo
As terras gaúchas se transformaram em palco para sangue e suor no Halloween de 2024 com Continente, terceiro longa-metragem de Davi Pretto, vencedor do prêmio de Melhor Direção na Competição Novos Rumos do Festival do Rio 2024. O filme confronta as raízes do Brasil colonial com toques de vampirismo e com as influências de Glauber Rocha e Jacques Tourneur no DNA, este por quem Pretto diz ter uma “grande fixação, principalmente [por] Cat People e I Walked with a Zombie, que são dois filmes que eu acho absolutamente geniais”.
O produtor do longa esteve presente nas sessões da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e distribuiu cartões-postais temáticos (Foto: Mei Shuxuan)
HenriqueMarinhos
Em exibição na seção Perspectiva Internacional da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Uma Terra Deixada para Trás (Nei Sha, no original), dirigido por Yang Yishu, é o testemunho de uma colisão lenta e inevitável entre a modernidade capitalista e a serenidade da tradição. Em uma pequena ilha do rio Yangtze, sentimos o peso de um mundo que se infiltra, pesado, nas rachaduras da tranquilidade. Como a maré que não se detém, forças globais encontram caminho até o canto mais remoto e aquilo que parecia isolado revela-se vulnerável.
Assim como a protagonista, a diretora do longa-metragem também é uma artista plástica (Foto: Amora Filmes)
Henrique Marinhos
Em competição na seção Mostra Brasil da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Lispectorante se destaca como um delírio surrealista, cheio de luzes esverdeadas e paralelos poéticos. A diretora Renata Pinheiro nos entrega um Recife que é mais do que um cenário – é um ser vivo, em estado de abandono e renascimento.
O longa-metragem foi exibido na Semana da Crítica do Festival de Cannes (Foto: Agat Films)
Henrique Marinhos
Em competição na seção Novos Diretores da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Antoine Chevrollier nos conduz, em alta velocidade, pelos caminhos poeirentos do amor e luto em La Pampa. Ao contrário de Close (2022) e O Segredo de Brokeback Mountain (2005), aqui, a protagonista é a juventude – imprudente, vulnerável e, tragicamente, exposta às crueldades do mundo. A combinação da direção de Fotografia de Benjamin Roux e a montagem de Lilian Corbeille nos deixam em estado de alerta constante, mesmo confortáveis em uma cadeira de cinema.