Os Melhores Discos de 2023

Arte para o texto Os Melhores Discos de 2023. Nela vemos, da esquerda para a direita: Troye Sivan, um homem branco de cabelos loiros, Marina Sena, uma mulher branca de cabelos pretos, Lana Del Rey, uma mulher branca de penteado preto, Bad Bunny, um homem latino de cabelo raspado e Sabrina Carpenter, uma mulher branca de cabelos loiros. Todos estão em preto e branco. O fundo é rosa e centralizado em cores brancas está escrito "OS MELHORES DISCOS DE 2023". No canto superior direito, há o logo do Persona, um olho com o meio em roxo claro e um play no lugar da íris
No campo ou na cidade, do indie ao samba, a Música é onipresente (Arte: Henrique Marinhos/ Texto de abertura: Guilherme Veiga)

O ato de ouvir Música se tornou tão imprescindível que pode até ser confundido com uma banalidade. Banal não no sentido ruim, mas sim de algo tão essencial, que, por assumir uma parcela gigantesca de nossas vidas, à medida que cresce em escala, não consegue acompanhar o tamanho em definição. Chega um momento em que ele se torna apenas… ouvir Música. Para não cair nesse limbo chamado lugar comum, o Persona retorna com sua já tradicional lista de Melhores Discos.

Se 2023 nos reservou um retorno ao início do século graças à Saltburn e Todos Menos Você, aqui focamos essencialmente no que foi criado no ano que passou e, assim como os grandes players da indústria, deixamos o TikTok de lado para embarcar no ato arcaico de se ouvir um álbum de cabo a rabo. O resultado foram 93 produtos que embalaram e deram sentido para o ano.

Não podemos negar que foi o ano de Taylor Swift. Mesmo sem um trabalho de inéditas, o pomposo Speak Now (Taylor’s Version), o agora litorâneo na mesma medida que cosmopolita 1989 (Taylor’s Version) e os resquícios de insônia de Midnights – claro, aliados a gigantesca The Eras Tour – serviram para ecoar o sucesso estrondoso que ela calcou. Ainda na ditadura loira do pop, sua pupila Sabrina Carpenter apareceu para o mundo também com obras repaginadas: primeiro, enviando os anexos que esqueceu no corpo do e-mail e, no fim do ano, trazendo um pouco de malícia para o Natal.

Quem retornou de forma inédita foi a rival de Carpenter, Olivia Rodrigo. Após a acidez de SOUR, a artista volta a expor seus sentimentos de uma forma nada ortodoxa: arrancando suas entranhas. O sentimentalismo, dessa vez mais bonito, mas igualmente doloroso, está presente no alinhamento estelar das boygenius, ao mesmo tempo que Mitski declamava todo seu amor para as paredes de um galpão vazio.

Ao longo das 93 obras, temas conversam entre si, mas a homogeneidade é proibida. Troye Sivan e Pabllo Vittar querem festejar, mas enquanto um é a efervescência do durante, a outra é o desejo do pós. Os latinos KAROL G e Bad Bunny falam sobre o amanhã de formas diferentes: ela com esperança, ele com incerteza. Letrux abordava o reino animal e Ana Frango Elétrico se transmuta em feline. Marina Sena se viciava na selva de pedra enquanto Chappel Roan se assustava com os prédios. Jão quer ser cada vez mais superlativo, à medida que Post Malone se recolhe em suas origens. Metallica sente a passagem de tempo, diferente de Kylie Minogue, que nem o vê passar.

Tal cenário só é possível pois a Música e toda sua imensidão atuam como um espaço de diversidade e liberdade, no sentido mais amplo das palavras. E nada mais justo do que celebrá-las no ano de passagem da Padroeira da Liberdade. O Melhores Discos de 2023 é por Rita Lee, que é gente fina na Música e na eternidade.


Capa do álbum 1989 (Taylor’s Version). Nele, temos a cantora Taylor Swift no centro, algumas gaivotas espalhadas pela capa e, centralizado acima de Taylor, o título do álbum 1989 na cor off-white com escrito Taylor’s Version em cima dos números na cor preta. O fundo da fotografia é o céu azul e límpido. Taylor é uma mulher branca, loira e de olho claro. Ela usa batom vermelho e sorri na foto, olhando para o horizonte atrás da câmera. A foto está meio borrada e aparenta ter sido tirada quando Taylor estava em movimento. A capa possui uma borda na mesma cor off-white do números do título.
Taylor anunciou 1989 (Taylor ‘s Version) durante o set acústico de seu show da The Eras Tour em Los Angeles em 2023 (Foto: Republic Records)

Taylor Swift – 1989 (Taylor’s Version)

Em mais uma regravação extremamente esperada pelos fãs, Taylor resgata o sorriso, o cabelo curto, os pássaros e o antigo amor por Harry Styles em 1989 (Taylor’s Version). Além da nostalgia em reviver uma era de ouro, Swift consegue elevar ainda mais a experiência de ouvir hits antigos com sua evidente melhoria vocal e refino técnico – tudo parece igual mas, ao mesmo tempo, tudo é diferente. 

Longe dos prédios altos de Nova Iorque que marcaram 1989 pela primeira vez, a compositora relembra sua conturbada história com o ex-One Direction nas faixas From The Vault, que misturam a acidez de um coração partido, a vontade de dar certo e as inúmeras fofocas acerca do affair da época. Todos sabiam das idas e vindas do casal, mas ninguém esperava as alfinetadas tão certeiras em Is It Over Now?.

Traçando um paralelo entre passado e o presente, fica aqui a dúvida se, durante a regravação, Taylor também não se identificou novamente com Clean ou I Wish You Would em razão dos mesmos boatos do fim de seu relacionamento com Joe Alwyn. A compositora mostra que, no fim, sempre irá conseguir contar seu lado da história, nem que seja nove anos depois. – Clara Sganzerla

Faixas favoritas: Is It Over Now?, Style e Say Don’t Go.


Capa do CD 3D Country. Fotografia quadrada retratando um matagal em um dia escaldante. No centro, vemos um homem branco descalço vestindo um chapéu de cowboy, camisa branca e shorts jeans, caído no chão, de pernas para o ar. Ao fundo, é possível ver uma nuvem de fumaça em formato de cogumelo, vinda de uma explosão.
Em seu segundo projeto, o grupo apresenta um saudosismo multifacetado que vai muito além de suas influências (Foto: Partisan Records)

Geese – 3D Country

Ao contrário do nome, 3D Country é um álbum que vai muito além de três dimensões. O segundo disco do (agora) quarteto estadunidense Geese – o guitarrista Foster Hudson anunciou sua saída do grupo em dezembro de 2023 – é um prato cheio que oferece ao ouvinte tudo e mais um pouco. Narrando vagamente a jornada de um cowboy que toma drogas alucinógenas no meio do deserto, as músicas atravessam sem parar sonoridades que abrangem desde o soul e R&B até o progressivo e noise, tudo em uma grande mistura que não deveria funcionar, mas funciona.

Na sua estreia em Projector (2021), a banda contou com o produtor Dan Carey, que já trabalhou com diversos nomes da cena pós-punk inglesa contemporânea; no entanto, para esse novo disco, o grupo convocou James Ford, parceiro de longa data do Arctic Monkeys. O novo produtor trouxe uma abordagem muito mais diversificada para a sonoridade geral do álbum, dando forte protagonismo à seção rítmica da banda – detalhe evidente em músicas como Cowboy Nudes e I See Myself. Além disso, o disco possui uma dinâmica impecável entre as faixas, oscilando entre momentos crus, sujos e passagens limpas, elegantes, com direito a poderosos arranjos de orquestra e backing vocals.

Com um som pautado principalmente nas décadas de 1960 e 1970, o grupo veste suas influências de forma natural e orgânica, nunca com medo de deixá-las transparecer. Apesar disso, os vocais e letras de Cameron Winter se destacam como uma mistura autêntica de sabores, assim como as linhas de baixo e guitarra que se entrelaçam encantadoramente com as levadas de bateria e percussão. A química musical presente aqui entre todos os membros da banda é algo de se invejar, além de ser deliciosa de se ouvir. Leandro Santhiago

Faixas favoritas: Domoto, 3D Country e Mysterious Love


Capa do disco 72 Seasons da banda Metallica. Na arte de capa, um plano de fundo amarelo contrasta com o cenário de destruição de um berço. Os objetos em torno do móvel infantil variam desde um urso de pelúcia destroçado até uma guitarra desmontada. Todos os objetos, assim como o berço infantil, parecem terem sido queimados, pois estão todos na cor preta. No canto superior esquerdo, está o símbolo do Metallica, a letra ‘M’ estilizada.
A faixa-título, 72 Seasons, venceu o Grammy de Melhor Performance de Metal (Foto: Blackened)

Metallica – 72 Seasons

As primeiras 72 estações ou 18 anos na vida de uma pessoa são essenciais para entender a construção de sua identidade e o seu comportamento na fase adulta. Lançada de surpresa junto do título do décimo primeiro disco do Metallica, a faixa Lux Æterna é basicamente uma ode aos primeiros anos, sendo a escolha perfeita para introduzir toda a ideia por trás de uma obra que avança em sonoridades mais profundas, embora recorra a repetições do passado para isso.

Na contramão do riff divertido do single, a inspiração de James Hetfield para conceitualizar toda essa luz que invade o cenário de destruição infantil da arte de capa foi um livro analítico sobre a infância. Não é novidade que o frontman da maior potência do thrash metal saiba abordar a raiva e o ressentimento em letras fortes, mas dessa vez, ele traz uma maturidade diferente – ainda que os temas sejam os mesmos de sempre –, com o melhor vocal desde os tempos do Black Album.

E, se as primeiras 72 seasons do Metallica explicam os rumos tomados pelo quarteto, atualmente composto por Hetfield, Lars Ulrich, Kirk Hammett e Robert Trujillo, o disco prova que chegou no tempo certo. Com Greg Fidelman na produção, solos improvisados e a composição mais longa da carreira se destacando como uma das melhores da discografia, o álbum marca uma nova era para a banda, sendo o seu melhor lançamento deste século. – Nathalia Tetzner

Faixas favoritas: You Must Burn!, Crown of Barbed Wire e Inamorata


Capa do Albúm AFRODHIT, a capa mostra o rosto de IZA, uma mulher negra jovem, que usa um batom preto e maquiagem verde água, ela usa tranças afro com pedras coloridas e cristais amarrados nelas.
AFRODHIT conecta autoafirmação e sentimentos pessoais com críticas sociais a problemas coletivos (Foto: Warner Music Brasil)

IZA – AFRODHIT

IZA é, sem dúvidas, uma das maiores artistas brasileiras contemporâneas e em seu novo álbum ela mistura funk, R&B, pop e rap e muito estilo. O disco tem como pano de fundo o momento delicado da vida pessoal pelo qual cantora passou recentemente, o que o leva ser uma jornada de autoafirmação, empoderamento e reconhecimento das origens e dos caminhos que trouxeram a artista ao topo

AFRODHIT conta com 6 participações de artistas como Djonga, Mc Carol, Tiwa Savage e L7NNON. As músicas cantam libertação com muita emoção, com letras que tocam em assuntos como desejo e autonomia financeira. Os grandes destaques do álbum são Que Se Vá e Nunca Mais, músicas que pincelam em pontos íntimos da carreira e vida de IZA, e ainda trazem uma forte crítica social em seu texto. – Guilherme Dias Siqueira

Faixas favoritas: Que Se Vá, Nunca mais e Bonzão


Capa do CD After. Fotografia quadrada com o fundo preto. Na parte central está a drag queen Pabllo Vittar. Um homem preto, de cabelo loiro. Ela veste um sutiã e uma calcinha pretas, além de uma bota da mesma cor. Suas mãos estão levantando as botas. Atrás dela, há o fundo preto da imagem e as cores azul, rosa, vermelho e amarelo em tons psicodélicos.
Pabllo Vittar tem o costume de fazer versões remixes dos seus álbuns de estúdio com artistas independentes (Foto: Gabriel Renné/ Sony Music Brasil)

Pabllo Vittar – AFTER

O que vem depois da noitada? De acordo com a artista Pabllo Vittar, o pós de uma noite de festas é tão importante quanto o evento em si. Em AFTER, ela comprova a versatilidade que possui. O projeto de remixes é uma releitura do quinto álbum de estúdio da cantora, o Noitada. Aqui, a artista se aventura em versões estendidas e com participações especiais, como Jup Do Bairro e a dupla CyberKills em uma atualização deliciosa da faixa Descontrolada

Do piseiro ao funk, entre a eletrônica e o pagode baiano, a drag queen mostra, mais uma vez, que tem um tato musical como ninguém. Um dos maiores destaques do álbum é a capa, feita pelo artista Gabriel Renné. Sendo um projeto para ouvir de uma vez em um set de uma balada, numa festa de república ou até mesmo no show de Vittar, After é sensorial: no momento em que os fones de ouvidos são colocados, somos teletransportados para os perigos da vida noturna das baladas brasileiras. -Guilherme Machado Leal

Faixas favoritas: Descontrolada (feat. Jup do Bairro – Cyberkills Remix, Calma Amiga (feat. Anitta) – DJ RaMeMes (O DESTRUIDOR DO FUNK) & Dj Tonias Extended Mix e Derretida (feat. Irmãs de Pau) – Brunoso Remix


MC Hariel lança EP que refletirá em seus futuros projetos. (Foto: Rodrigo Ladeira/Warner Music Brasil)

MC Hariel – ALMA IMORTAL

ALMA IMORTAL, conceito de platão que nomeia o EP com 7 canções, consolida ainda mais MC Hariel como um dos grandes do cenário no funk brasileiro. O EP foi produzido com letras conscientes e importantes que relatam as experiências do MC e tratam trazer a sua visão lúcida para o mundo. Misturando vários gêneros com o funk, como rap, reggaeton e boombap, Hariel explora os ritmos de uma maneira dinâmica que traz ao EP uma autenticidade consolidada. No videoclipe de MODIFICAR, é possível decidir o destino da história ao final da canção. REAGIR OU MODIFICAR? Essa é a pergunta que percorre todo o EP.

Hariel, que introduziu a filosofia nesse trabalho como forma de difundir a superação e o alcance dos sonhos em suas letras, além de ir atrás de conceitos e estudar mais sobre para escrever as canções, produz suas poesias com o intuito de trazer a visão de que tudo é possível. Em síntese, ALMA IMORTAL é um manifesto em que amplia os ideais filosóficos, trazendo consigo a mensagem de que a sua essência não pode ser mudada para agradar os outros, muito menos transformada para se encaixar em algo. Por isso, o MC vem se tornando um dos maiores e é um privilégio estar presenciando um amadurecimento nessa nova fase. – Marcela Lavorato

Faixas favoritas: SONHOS, 1APRENDIZ E SUAS CICATRIZES e 1ESPERTO E 1OTÁRIO


Foto da capa do disco And Then You Pray for Me. Releitura de O Sepultamento de Cristo, de Caravaggio. A imagem é quadrada. Algumas figuras humanas ocupam a margem direita do quadro. Cristo está sendo segurado por uma pessoa, seu corpo pende para o centro. Ele está sem camisa e seu rosto denota exaustão e sofrimento. Uma das pessoas que seguram Cristo tem uma corrente grossa com quatro pingentes pendurados nela.
Sequência de Pray for Paris demonstra consistência da Griselda Records e que o boom-bap ainda vive (Foto: Griselda Records/EMPIRE)

Westside Gunn – And They Pray For Me

And Then You Pray for Me deve ser enquadrado na discografia de Westside Gunn como sequência ao Pray for Paris, de 2020. Ambos os discos, assim como as outras produções do membro da Griselda Records, representam um projeto estético que está para além da música pura e simples: colocam a black culture dos EUA – com um certo resgate do boom-bap e do gangsta rap feito à la Griselda – a par com a “alta cultura” e “alta-costura” europeia.

Assim é que, nas letras, abundam referências ao mundo da moda europeia (Margiela Split Toes, Versace) contrastadas com o mundo de cocaína e armas a que ele se refere (Griselda é referência direta à Griselda Blanco) e a ascensão que conseguiu. Samples majestosos contrastados com beats densos e sujos; e, na capa, releituras de obras do grande cânone europeu, como Caravaggio, feita por ninguém menos que Virgil Abloh, falecido ex-diretor artístico da Louis Vuitton. Miscelânea tão potente de coisas aparentemente tão contraditórias quanto armas de fogo,barroco, drogas e leilão de arte; e decerto a sonoridade de um Louis Vuitton jamais será a mesma depois de Virgil, Pharrell e Westside Gunn. – Miguel Fernandes

Faixas favoritas: The Revenge of Flip Legs (feat. Rome Streetz), Ultra GriZelda (feat. Denzel Curry) e Mamas PrimeTime (feat. JID & Conway the Machine)


Com uma poesia ainda mais madura, Rubel se aventura por novos ritmos e mostra que casa bem com um pouco de tudo (Foto: Coala Records)

Rubel – AS PALAVRAS, VOL. 1 & 2

Que Rubel tem o talento de transcrever sentimentos em canções, não existem dúvidas. O jogo de palavras em cada estrofe e o jeito de fazer poesia que conversa com cada acorde do violão marcaram a carreira do artista e o tornaram conhecido. Em As Palavras Vol. 1&2, o cantor reforça o motivo de ser tão elogiado ao entregar um disco completo, que pode ser apreciado da maneira como o ouvinte preferir: seja faixa a faixa, na degustação dos detalhes, ou em sua totalidade, como uma jornada pelas histórias cantadas.  

A diferença significativa de sua nova obra, no entanto, se encontra na sonoridade: passeando entre funk, samba, pagode, forró, mpb, hip hop e elementos de soul, Rubel conta uma história por meio de tudo aquilo que inspirou o que hoje temos como Música Popular Brasileira. Ao apontar em todas as direções, o álbum funciona como uma porta de entrada para diferentes ouvintes, furando a bolha que antes o cantor pertencia e apelando para um lado mais mainstream. Mas, ao sair de sua zona de conforto, o artista entrega belíssimas parcerias, um instrumental de alta qualidade e ótimas músicas para se ouvir no dia a dia – Aryadne Xavier

Faixas Favoritas: Grão de Areia (feat. Xande de Pilares), Toda Beleza (feat. Bala Desejo) e Torto Arado (feat. Liniker e Luedji Luna)


 Capa do álbum Aurora, da banda Daisy Jones & The Six. Nela, temos os protagonistas Daisy Jones e Billy Dunne encarando-se no pôr do sol. O plano da fotografia é fechado e é possível ver o céu azul no fundo. Daisy é uma mulher branca de olhos claros e cabelo ruivo. Ela está com os braços abertos e usa diversos acessórios como brincos, pulseiras e anel, além de uma roupa branca. Billy é branco, possui olhos claros e cabelo castanho um pouco mais longo e ondulado. Ele está usando uma camisa da década de 70 e uma jaqueta marrom. Centralizado na parte superior, temos o título do álbum em letras sem serifa e o nome da banda no canto inferior direito.
Seria pedir muito uma tour com datas internacionais de Daisy Jones & The Six? (Foto: Ellemar Records)

Daisy Jones & The Six – AURORA

Daisy Jones & The Six foi um sonho realizado para os fãs de Taylor Jenkins Reid: todas as letras de amor de Billy Dunne (Sam Claffin) com Daisy Jones (Riley Keough) materializaram-se em série, banda e álbum. Aqueles que leram a obra e acompanharam a construção dos personagens foram contemplados com a fidelidade e qualidade entregue pelos atores nessa adaptação memorável – que poderia até mesmo concorrer ao Grammy.

Longe de ser um álbum com faixas datadas nos anos  70,  AURORA consegue misturar o estilo da época com a sonoridade atual e ser um prato cheio para aqueles que buscam a suavidade e o ritmo do blues rock. É evidente que o grupo dedicou-se para proporcionar faixas que ultrapassam o título de trilha sonora e conseguiram, facilmente, roubar a cena para grudar nos seus ouvidos. – Clara Sganzerla

Faixas favoritas: The River, Kill You to Try e Let Me Down Easy


Capa do disco AUSTIN de Post Malone. A arte de capa se trata de uma fotografia de Malone, um homem branco de cabelos e olhos escuros, sentado na beira de uma piscina. Ao fundo, observamos uma casa envolta de árvores e um carro preto na garagem. Post Malone olha para a câmera de lado enquanto veste uma calça jeans de cor azul e deixa suas inúmeras tatuagens à mostra.
AUSTIN é o primeiro álbum de Post Malone que não consta com participações especiais de outros artistas (Foto: Mercury Records)

Post Malone – AUSTIN

Austin Richard Post, sob o nome artístico de Post Malone, já lutou com vampiros em Hollywood e até colocou implantes dentários de diamante ao perder os dentes em uma briga. Agora, em seu quinto álbum de estúdio, AUSTIN, ele revisita alguns de seus demônios já conhecidos pelo público, mas por uma perspectiva mais intimista e surpreendentemente bem-humorada, sendo um momento de alívio para quem já viveu múltiplas possibilidades. 

Quando artistas lançam discos homônimos é porque a coisa ficou séria e com AUSTIN não é diferente, o tema da sobriedade percorre todas as faixas, desde as mais inspiradas até as superficialmente melódicas. Ao contrário do antecessor, o álbum consegue rir de si mesmo com menções peculiares que variam de Beethoven a The White Stripes. Sim, Post Malone pagou caro pelo grande momento de sua vida, mas acompanhar a sua jornada de autoconhecimento faz tudo valer a pena. – Nathalia Tetzner

Faixas favoritas: Something Real, Novacandy e Laugh It Off


Capa do álbum Baby Angel da cantora Tinashe. A imagem é quadrada e engloba a foto da cantora do busto para cima mostrando seu rosto em perfil à esquerda. Ela é uma mulher negra, com cabelos loiros e longos. Sua pele está reflexiva pois está molhada assim como sua camiseta regata branca e seus cabelos. Seus olhos são escuros e nos encaram com emaranhados de fios de cabelo à sua frente.
Com apenas sete músicas, BB/Ang3l é anunciado como a primeira de três partes do primeiro projeto sob o selo de uma nova gravadora (Foto: Nice Life Recording)

Tinashe – BB/Ang3l

BB/Ang3l nasceu como o terror do SEO. Com símbolos e números angelicais, até a tracklist foi um desafio de ser desvendada. E, como sempre, é um projeto experimental muito bem-vindo quando combinado com o timbre doce e único da Tinashe, ou Sweet T para os íntimos. E ainda que BB/Ang3l marque o início de uma nova era em sua carreira, é intimamente ligado com seus últimos trabalhos independentes.

Em elementos líricos, nada melhor que sofrermos os mais diferentes estágios do luto após um rompimento ruim, mesmo que ele sequer nos represente à la Taylor Swift e, com louvor, seu último trabalho assume seus próprios erros e abraça a regressão junto a sua a humanidade. – Henrique Marinhos

Faixas Favoritas: Needs e None of My Business 


Capa do álbum Become, duas chaves de prata em formato de coração, com muitos detalhes nas formas em um fundo preto.
Become é como uma viagem a um sonho nostálgico (Foto: Sub Pop)

Beach House – Become

A banda encabeçada por Victoria Legrand e Alex Scally tem lançado sucessos ano após ano. Depois do maravilhoso Once Twice Melody  em 2022, o EP Become leva o ouvinte a uma viagem psicodélica ao estilo dream pop. Com músicas longas e calmas, o disco evita a monotonia com instrumentos bem harmônicos e sintetizadores precisos. 

As letras possuem uma leve energia de feriado, e são bem sintonizadas com a fase da banda que explora novos rumos. A voz de Legrand é potente e doce, tornando-a uma artista única . Bem consolidada desde 2004 quando lançou seu álbum de estreia , a dupla musical já carrega oito álbuns nas costas, e demonstra ter muito futuro pela frente. – Guilherme Dias Siqueira

Faixas favoritas: American Daughter, Holiday House, Black Magic


Capa do álbum Blondshell. Nela vemos a artista que leva o mesmo nome do álbum, uma mulher branca de cabelos loiros. Ela veste umsueter preto. A foto está em preto e branco e ela olha para a câmera comas duas mãos juntas. A foto está em preto e branco e centralizado na parte superior está escrito "Blondshell" em letras pretas
A caloura do indie chega com traços de veterana no gênero (Foto: Partisan Records)

Blondshell – Blondshell

Estamos no mundo-cão e Sabrina Teitelbaum sabe disso, por isso se esconde em sua ‘concha loira’. No autointitulado de seu nome artístico, a intérprete não está interessada em escrever finais felizes, muito menos meios ou começos. Seu som é latente, não faz questão de anestesiar e opta por doer, pois julga que tal dor precisa ser sentida até se caracterizar como suportável, ou até mesmo ser transformada em ímpeto. No caso, aqui ela virou Música.

Misturando indie rock com grunge, Blondshell transita entre o sarcasmo e  sentimentalismo e faz desse meio-termo seu próprio inferno. A guitarra carregada, de poucos acordes e extremamente contínua dá a ideia de uma dor de cabeça, mas, em efeito contrário, cria uma cama macia para a potencialidade da voz e letra de Teitelbaum. No alto de seus 25 anos, tempo considerado até alto para um debut, a artista entende que a vida não é fácil para ninguém, mas longe do coitadismo, faz uma ótima estreia que nos convida para afogar as mágoas, ao mesmo tempo que sofre de ressaca. – Guilherme Veiga

Faixas Favoritas: Salad, Olympus e Veronica Mars


Capa do álbum Brutas Amam, Choram e Sentem Raiva, de Ajuliacosta. Nele, vemos a artista, uma mulher negra de cabelos loiros. Seu rosto es´ta fragmentado em duas partes, uma está gritando e a outra chorando. Ele segura um espelho quadrado que aponta pra sua cara, no qual reflete um semblante sério. O fundo é preto.
“Peço compreensão no meu modo de ser” (Foto: Ajuliacosta)

Ajuliacosta – Brutas Amam, Choram e Sentem Raiva

Quebrando os estereótipos de que mulheres negras são sempre fortes, Ajuliacosta invade caminhos desarmados, nos quais sentir é completamente válido. O trabalho repousa em um nome bastante auto explicativo: Brutas Amam, Choram e Sentem Raiva. Com 10 faixas, o disco explora sonoridades diversas, passeando entre rap, soul, house e funk, mas sua maior força vive em seu caráter político.

As letras, cheias de histórias que a periferia e os jovens negros protagonizam, falam bastante sobre o amor. No caso, esse sentimento vem afrocentrado e em relacionamentos pelos quais o eu-lírico tem orgulho de lutar, já que o contexto social torna tudo uma verdadeira manifestação. Ainda, encontram-se em músicas como Empresário e Pq a Polícia Smp Acaba com a Festa?, críticas fortes a um Estado que deslegitima as formas de comemorar, trabalhar e existir da população nas favelas. Em beats envolventes, o produto é um grito pelos direitos de viver, celebrar e, principalmente, ser vulnerável. – Jamily Rigonatto 

Faixas favoritas: Tão Gostoso, Queen Chavosa e Amo Te Ver de Juju 


Capa do álbum But Here We Are. A capa parece uma foto da natureza, com montanhas ao fundo e um lago em primeiro plano. Todos os elementos estão em tonalidades brancas e no encontro entre a montanha e o lago, já linhas coloridas bem suaves no horizonte. No canto inferior esquerdo está escrito, em cinza, But Here We Are
Foo Fighters sensibiliza, mais uma vez, com suas canções. (Foto: Roswell Records/RCA Records)

Foo Fighters – But Here We Are

A dor da perda é, sem dúvidas, desoladora. Neste 11º álbum, Foo Fighters faz Música a partir de tristeza, pena, luto, questionamentos e, sobretudo, celebração. Celebração por terem tido a chance de serem amigos e família de Taylor Hawkins, baterista da banda, falecido em 2022 e também de Virginia Grohl – mãe do vocalista Dave Grohl. Procurando respostas para perguntas que jamais serão respondidas, a banda mostra através dos versos a manifestação constante da pergunta: como enxergar o futuro se não há mais nós? A resposta é curta, mas não simplista: é avassalador, mas aqui nós estamos (tradução literal do álbum But Here We Are) e teremos que reaprender a viver – mesmo longe um do outro.

De Rescued a Rest – primeira e última música, respectivamente – são materializados os sentimentos desse luto. A faixa inicial traz um tom de desespero, a digestão do peso da perda e necessidade de alguém para resgatá-lo. Já nas músicas seguintes, tudo é transformado: a angústia vai passando para um consolo, a partida se torna, aparentemente, menos difícil – mas não menos sentida. Ao fim, com Rest, o grupo nos presenteia com a pura poesia do arranjo musical produzido para entender e homenagear a despedida daqueles que já se foram. O descanso é o destino final e está tudo bem agora, eles podem descansar em paz. 

Entre os destaques estão as participações maravilhosas de Violet Grohl em Show Me How, cantando em conjunto com seu pai, e também H.E.R. na versão de The Glass lançada posteriormente ao álbum. Por fim, é redundante citar o quão importante But Here We Are é para o Foo Fighters e também os seus fãs. É a continuação de um sonho em conjunto que, desde 1995, transborda emoção com suas melodias. Um lindo tributo às pessoas amadas em que emoções são exploradas pelo caminho. – Marcela Lavorato

Faixas favoritas: Rescued, Show Me How e Rest


Capa do disco Chill Kill - The 3rd Album do grupo de K-pop Red Velvet. Na arte de capa, um retrato circular das vocalistas é adornado por desenhos de flores em branco por cima do fundo preto. Na fotografia do retrato centralizado, Seulgi, Irene, Joy, Wendy e Yeri olham fixamente para a câmera. Todas elas são mulheres sul-coreanas de cabelos e olhos escuros. No canto superior direito, está o logo estilizado do Red Velvet com escrita preta por cima de um fundo vermelho.
Após seis anos, Red Velvet finalmente voltou com o terceiro álbum de estúdio, Chill Kill (Foto: SM Entertainment)

Red Velvet – Chill Kill – The 3rd Album

Evitando pensar sobre o que o amanhã reserva na espera de um final feliz, Chill Kill – The 3rd Album eleva os vocais de Irene, Seulgi, Wendy, Joy e Yeri enquanto brinca com uma sonoridade creepy ao fundo. Tal união peculiar casa perfeitamente com o nome do quinteto, afinal, não existe nada mais Red Velvet do que essa dualidade pop/R&B que mistura danças delicadas com homens sangrando e mansões queimando nos videoclipes. Fruto de uma longa espera de seis anos, o disco enfatiza o que os fãs de K-Pop já estão cansados de saber: a SM Entertainment é a pedra no próprio calçado.

Isso porque, no universo de múltiplas possibilidades da indústria musical sul-coreana, ninguém sabe transitar tão bem pelo alternativo como o Red Velvet. Nas vozes das meninas do grupo, composições naturalmente difíceis de agradar se tornam verdadeiros hinos. Porém, para a empresa que acumula críticas, o que vale é investir em promessas mais jovens que de nada realmente acrescentam para além de uma estética edgy superficial e, definitivamente, passageira. Uma pena para os mercenários pois, ainda que tenham comebacks cada vez mais afastados, as original visual já são bem maiores do que qualquer outra coisa em sua volta.

Fato é que hits não necessariamente consagram grandes discos, e Chill Kill – The 3rd Album não aposta no simples, Knock Knock (Who’s There?) seria uma escolha bem mais óbvia do que a faixa-título. Seja motivada pela direção criativa esplêndida – de longe, a melhor de 2023 –, ou por um suposto boicote da SM, a negação do óbvio é o que faz o single Chill Kill tão especial e ajuda a introduzir essa obra que leva pesadelos para a pista de dança, além de orquestrar Underwater, o grande destaque do álbum que mergulha nos melhores momentos de Janet Jackson na década de 1990. – Nathalia Tetzner

Faixas Favoritas: Chill Kill, Underwater e Will I Ever See You Again?


Capa do álbum Coração Bifurcado. Nela vemos um home negro de terno branco. Seu rosto não aparece, pois ele está segurando um balão em formato de coração, que está partido ao meio. No canto direito escrito na horizontal está "JARDS MACALÉ" na cor preta, e no canto escquerdo, está escrito "CORAÇÃO BIFURCADO".
Uma jornada pelas cores e sabores da MPB (Foto: Selo Biscoito Fino)

Jards Macalé – Coração Bifurcado

No mais recente trabalho de estúdio de Jards Macalé, o amor é retratado na sua forma mais intensa e sincera. Com melodias semelhantes a Itamar Assumpção e Elza Soares, as melodias da guitarra e percussão ecoam logo nas primeiras faixas, como em Amor In Natura, trazendo paz, ao passo que questiona as contradições deste imenso sentimento presente em cada um de nós.

Além disto, Macalé traz referências que remetem à religiosidade de crenças de matrizes africanas, quando canta sobre como o afeto aparece nas encruzilhadas da vida num canto destinado a Exu. Canções como Em Mistérios do Nosso Amor, esta sendo uma parceria com Maria Bethânia, relembram a força da Música Popular Brasileira e suas decorrências até os dias de hoje. Rebecca Ramos

Faixas favoritas: Coração Bifurcado, Mistérios do Nosso Amor e A Arte de Não Morrer.


Capa do álbum Cuts & Bruises. A imagem em preto e branco mostra os quatro integrantes da banda Inhaler, todos homens de cabelos curtos. Pelo ângulo de centralização, eles parecem estar sendo fotografados a partir de um olho mágico.
Segundo o vocalista, assistir o documentário The Beatles: Get Back ajudou a aliviar a pressão sentida pela banda durante o processo de criação do álbum (Foto: Polydor)

Inhaler – Cuts & Bruises

Em 2023, a sombra da influência do U2 se dissipou ainda mais do legado de Inhaler, banda em ascensão liderada por um dos filhos de Bono. De fato, Elijah Hewson carrega o carisma e o timbre de cadenciamento versátil que ser vocalista exige, mas o rock alternativo do grupo produz faíscas atraentes graças à união da alma dada por Josh Jenkinson, Robert Keating e Ryan McMahon aos desdobramentos aéreos de guitarra, baixo e bateria, respectivamente. Para maximizar esse ponto, a suspensão questionadora na qual qualquer um se pega no começo da vida adulta serve de motor criativo, palco e divã de terapia no segundo álbum de estúdio arquitetado pelos irlandeses. 

Cuts & Bruises investe em consolidar o trabalho inaugurado por seu antecessor, voltando ao passado dos sintetizadores pela mesma avenida que desemboca nos registros alternativos que marcaram os anos 2000. Por isso, existe um divertimento rebelde e autoconsciente da volatilidade do tempo até nas faixas mais pessimistas do disco. Seja na solar These Are The Days (Estes são os dias que seguem você para casa/Que te beijam no nariz quebrado/Não sinto falta da sensação de estar sozinho) ou na MVP Dublin In Ecstasy (Eu só quero falar se você tiver tempo/Eu só quero lutar se for pela sua vida), Inhaler inteligentemente barganha sentimentos universais com o público, que não tem escolha a não ser sentar, escutar e abrir latinhas de cerveja e cascas de ferida ao lado da banda. – Vitória Vulcano

Faixas favoritas: Love Will Get You There, Dublin in Ecstasy e The Things I Do


Capa do álbum DATA. Nela, há um personagem de anime retratado com cara de espanto. Ele tem cabelos e olhos cor-de-rosa, além de cabos de diferentes cores que entram em seus dois ouvidos. Ao fundo, uma mesa de metal, sobre a qual está deitado.
Lançado com o selo da gravadora independente fundada por Tainy, o disco carrega a mística de Sena, um android de cabelos coloridos que ganha vida conforme a coletânea toca (Foto: Neon16)

Tainy – DATA

Porque eu não sou um artista do momento/Eu sou um artista para sempre”, vocifera Arcángel na canção que poderia muito bem ser a sinopse de DATA, primeiro álbum completamente curado e estruturado por Tainy. Foram três anos de criação e experimentação até o porto-riquenho sondar os modismos do reggaeton e do trap em um registro inconfundível, capaz de metamorfosear o lugar-comum dos gêneros musicais e abduzir qualquer um disposto a apertar o play. Meticuloso e preciso, ele permanece entre os créditos de alguns dos maiores hits da esfera latina atual enquanto alça seu status de musicista solo para o topo da cadeia. 

DATA tem uma hora de duração e nenhum momento de desconexão ou perda de ritmo. Pelo contrário, são 20 faixas únicas, performadas por um time de 28 artistas, que saem de suas zonas de conforto amparados na engenhosidade do produtor. Bad Bunny deslancha em um rap confessional com Arca; The Marías soa pop sem deixar de ser indie em mañana; Young Miko, Feid e Rauw Alejandro fazem jus aos louros que andam recebendo; e até Daddy Yankee volta da aposentadoria para rechear os batidões de LA BABY. Ciborgue sonoro da melhor tecnologia, o disco homenageia Marcos Fernández, que começou a mixar músicas aos 14 anos, e leva um merecido troféu do Grammy às estantes de Tainy. – Vitória Vulcano

Faixas favoritas: MOJABI GHOST, 11 Y ONCE e si preguntas por mi


Capa do álbum Depois do Fim. A capa mostra o telhado de uma casa pegando fogo. Na parte inferior central, vemos o quarteto que forma a Lagum sentados lado a lado, em uma janela da casa. Todos eles são homens brancos, de cerca de 30 anos, vestindo calças e camisetas.
Seguindo Depois do Fim, a Lagum lançou um disco de canções performadas ao vivo, na turnê do álbum (Foto: Sony Music Entertainment Brasil)

Lagum – Depois do Fim

O fim é simbólico. Mudanças na vida, seja o fim de relacionamentos ou a morte de amigos próximos, marcam o encerramento de um ciclo para o início de outro, mais dolorido, a princípio, mas com novas oportunidades para se curar, crescer e voltar a valorizar o inevitável: não é o fim de verdade e a caminhada tem que continuar. É nessa aceitação que a Lagum constrói Depois do Fim, reconhecendo que o que passou serviu para engrandecer o caminho até aqui.

Embora tenha perdido parte da pegada autoral de Seja o Que Eu Quiser e Coisas da Geração e cedido parcialmente à lógica comercial, com algumas canções que poucos dizem, a banda mineira mostra que continua tendo algo para falar – mesmo que seja sobre qualquer devaneio que vier à cabeça. Além disso, renova sua sonoridade e composições com explorações. Sample de Djavan, canção em francês e italiano, e interlúdios mostram que a Lagum está se encontrando – ou, pelo menos, na busca por se encontrar. – Vitória Gomez

Faixas favoritas: De Amor Eu Não Morri, Ou Não e Ponto de Vista


Fotografia da capa do álbum. A cantora Caroline Polachek está com os joelhos e as mãos no chão, virada para a frente e olhando para além da câmera. Ela está no chão de um metrô, com outras pessoas sentadas nos bancos e de pé. À sua frente e abaixo das suas mãos, o chão está coberto de areia.
Caroline Polachek te convida para a ilha dela (Foto: Perpetual Novice)

Caroline Polachek – Desire, I Want to Turn Into You

Com So Hot You’re Hurting My Feelings, single de 2019, Caroline Polachek conquistou audiências e deixou claro o seu potencial para crescer no avant-pop. Seu nome já recebia atenção por conta do duo que participou: Chairlift, terminado em 2016, mas foi com o sucesso da faixa que pôde mostrar o que sabia fazer sozinha. Em 2023, com  Desire, I Want to Turn Into You, seu segundo álbum solo, a cantora provou que veio para ficar – não só ficar, mas também mudar o cenário atual da música pop

O registro abre com a faixa Welcome To My Island, uma ótima recepção para o novo mundo ao qual a cantora vai te guiar durante as suas 12 faixas. As vocalizações hipnotizantes de Polachek são uma passagem só de ida para escapar da realidade e mergulhar na atmosfera mística do disco. A artista domina uma sonoridade complexa, elegante e única que cementa Desire, I Want to Turn Into You como um dos melhores lançamentos de 2023. – Giovanna Freisinger

Faixas favoritas: I Believe, Fly To You e Hopedrunk Everasking


Na capa de Diamonds & Dancefloors, Ava Max, mulher branca de cabelos vermelhos, usando um biquíni prateado, está deitada de olhos fechados em um chão azul brilhante em textura de glitter.
Em Diamonds & Dancefloors, Ava Max faz o seu melhor: pop comercial e de qualidade (Foto: Atlantic Records)

Ava Max – Diamonds & Dancefloors

A febre dos anos 80 na música pop ainda não deu trégua, e Ava Max se junta à festa com Diamonds & Dancefloors. Se em 2020 as músicas do disco poderiam ser interpretadas como descartes de Dua Lipa, The Weeknd ou Lady Gaga, hoje elas soam como uma obra original e coesa. A cantora de Sweet but Psycho imprime sua própria personalidade nas faixas, convidando o ouvinte a simplesmente apertar o play e se entregar à batida.

A genialidade do álbum reside em sua simplicidade: pop genérico e comercial com propósito. No nosso dia a dia, muitas vezes não queremos decifrar subjetividades nas letras, apenas melodias chiclete e sintetizadores familiares já são o suficiente para nos fazer dançar. Million Dollar Baby e a faixa-título deslizam pelos ouvidos como mel, evocando a nostalgia oitentista e a efervescência da era disco. Diamonds & Dancefloors pode ter chegado ‘atrasado’ para o rolê, mas sua energia contagiante garante um lugar especial na pista de dança. – Arthur Caires

Faixas favoritas: Million Dollar Baby e Hold Up (Wait A Minute)


Lana Del Rey aparece deitada de bruço, posicionada de frente para o observador. Ela apoia o queixo em sua mão, com uma expressão facial neutra. A cantora usa laços no cabelo. O fundo da imagem é escuro e toda a capa possui um filtro acinzentado e com um leve efeito blur. Existe um letreiro amarelo no lado esquerdo.
Apesar do sucesso de Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd, Lana não levou Grammys para casa, mesmo com duas indicações de peso – Álbum do Ano e Melhor Álbum de Música Alternativa. (FOTO: Interscope Records/ Polydor Records)

Lana Del Rey – Did You Know There’s a Tunnel Under Ocean Blvd

Mesmo para quem não segue alguma religião ou é conectado com tradições espirituais, o nono álbum de Lana Del Rey é quase como um compilado de canções que conectam o ouvinte com o divino – se existir algum. Com uma carreira focada em hits melancólicos e que falam sobre amores trágicos, Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd sai da curva e mostra uma cantora em busca de sua história e espiritualidade. A primeira faixa do álbum, The Grants, leva o sobrenome da família da artista e é a abertura triunfal perfeita para a obra. Possui influências da música gospel (já indicando o tom do álbum), com um belo coral e uma letra que faz ode aos seus familiares e a memórias marcantes com eles.

Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd também é um álbum auto reflexivo, onde Lana explora diversos aspectos de sua personalidade, seja a vista publicamente e a que somente pessoas próximas conhecem. Isso é notado em tracks como Sweet e na faixa título. Até musicalmente tal reflexão pode ser vista, com a alternância de músicas que envolvem vocais e um piano emocionantes, como em Kintsugi, para faixas com um toques atrevidos, como o em A&W. – Marina Barrelli de Carvalho

Faixas favoritas: Paris, Texas (feat. SYML), Kintsugi e Margaret (feat. Bleachers)


Capa do CD Dream in Dream. Fotografia quadrada preta e branca, tratando-se de uma justaposição de diversas imagens. Ao centro vemos a silhueta do perfil do artista Cornelius, homem branco de cabelo preto curto. É possível ver dedos e dois olhos maquiados quase transparentes devido à justaposição distribuídos ao longo da imagem. Além disso, vemos o interior de um vagão de trem, que se estende até o centro na parte de cima da capa, onde se encontra um retângulo rosa estampado com o nome do álbum.
A atmosfera minimalista em Dream in Dream é marca registrada do artista (Foto: Warner Music Japan)

Cornelius – Dream in Dream

Simplicidade acima de tudo. Keigo Oyamada – um dos pioneiros da cena noventista japonesa Shibuya-kei – retorna em seu sétimo álbum de estúdio com um abraço caloroso em forma de som, viajando por paisagens que flertam tanto com um pop melódico quanto com um ambient psicodélico. Ao longo de sua discografia, o músico tem adotado cada vez mais uma estética introspectiva em seus projetos, passando por momentos mais elétricos vistos em Fantasma (1997), até as meditações texturais presentes em Sensuous (2006). Desde então, sua música se encontra diante de um olhar que valoriza tanto a imobilidade quanto o movimento.

Mergulhado em timbres eletrônicos, Dream in Dream é um álbum de contrastes. Sua sonoridade abraça o onírico e o nostálgico ao mesmo tempo em que permite ritmos contagiantes tomarem conta. Os arranjos dão palco às sutilezas, mas são carregados por camadas que às vezes parecem milhares de instrumentos em sintonia. A abordagem para a produção é uma mistura entre o requintado e o ingênuo, enquanto que os vocais seguem linhas melódicas simples, mas engajantes. Mesmo assim, há sempre espaço para a complexidade e imprevisibilidade – seja nas harmonias ou estrutura das canções –, fazendo deste um disco saboroso do começo ao fim, sem nada a esconder. – Leandro Santhiago

Faixas favoritas: Mirage, Drifts, Sparks


Capa do álbum Endless Summer Vacation. Nele vemos Miley Cyrus, uma muher branca de cabelos loiros. Ele veste um maio preto e um salto preto e óculos preto. Ela está pendurada em um trapézio de metal. Ao fundo, vemos o céu azul
Entre todas as boas ideias que Miley Cyrus já teve, sair de férias em pleno verão parece a melhor (Foto: Columbia Records)

Miley Cyrus -Endless Summer Vacation

Após uma pausa de três anos, Miley Cyrus está de volta com seu oitavo disco de estúdio, Endless Summer Vacation. As treze faixas estão separadas em duas fases, transitando entre o pop, o country e uma pitada de R&B, retratando uma fase mais autossuficiente e madura da cantora. Contudo, isso não significa que não há mais vestígios de Liam Hemsworth nos versos, apesar de Miley deixar explícito que ele não é mais o centro de sua atenção, finalmente. 

Como o próprio nome diz, Miley Cyrus está em uma férias de verão que nunca chega ao fim. O álbum é uma viagem pela descoberta da sua singularidade e vulnerabilidade, dando início com o grande hit  Flowers, que foi emplacado nas primeiras posições das paradas mundiais,e seguindo até You, que alfineta todos os corações partidos que vê pela frente. Nesta primeira fase, vemos a estrela sair de viagem em busca de um reencontro consigo mesma, onde abre o coração e retoma os momentos vividos com o ex-marido, mas apesar do sofrimento, nota-se a superação e a evolução do seu amor próprio nos versos. 

A partir da faixa Handstand, temos a estrela de Hannah Montana superada, imersa em problemas que apenas boas férias podem causar. A melancolia do álbum dá descanso e os ouvintes são servidos com bons ritmos dançantes, que dão a sensação de noites de verão, bebidas alcoólicas e muitas outras coisas conhecidas como erradas. Wonder Woman rouba a cena final da obra, ela é como uma conclusão, Miley finalmente descobre quem ela é. Toda essa profundidade, busca e descoberta faz com que Endless Summer Vacation configure como um dos melhores discos de 2023. Pâmela Palma

Faixas favoritas: River, Used to Be Young e You


Capa do álbum emails i can´t send fwd de Sabrina Carpenter. Sabrina está sentada sobre os joelhos em uma grande cama com lençóis brancos. Ela usa um vestido preto de alças finas, justo ao corpo e com as costas abertas. Sua cabeça está inclinada em direção à câmera, como se olhasse diretamente para quem está vendo o álbum. Seu cabelo comprido e loiro está solto e ao seu lado há um computador com um coração na parte de trás. A parede a sua frente é pintada de salmão e há uma televisão antiga próximo ao pé da cama. Na parte de baixo da capa há o emblema de aviso de conteúdo explícito.
Sabrina escreve para todos que já sentiram o amor (Foto: Universal Music Group/Island Records)

Sabrina Carpenter – emails i can’t send fwd:

Sabrina Carpenter abre o coração e faz aquilo que todos que já se apaixonaram ao menos uma vez na vida desejaram fazer, gritar para o mundo tudo o que sente. Com melodias que percorrem a melancolia e a animação, emails i can’t send fwd acrescenta mais quatro músicas ao seu último álbum, sendo uma versão deluxe e ainda mais íntima. A artista se demonstra não só uma ótima cantora, mas também uma excelente compositora. A intensidade presente nas letras das canções acolhem todos os ouvintes e permite que o público se identifique com os cenários criados.

Com 17 faixas, a produção vai da desilusão amorosa de opposite à superação de Feather. Algumas músicas possuem, ainda, versões alternativas – como Nonsense Christmas – o que cativa ainda mais o público e mostra a criatividade de Carpenter. O álbum como um todo possui o estilo carismático da cantora e a vulnerabilidade presente em suas letras e melodias fazem com que elas se tornem populares entre os mais variados públicos. – Gabriela Bita

Faixas favoritas: how many things, lonesome e opposite.


Capa do álbum Escândalo Íntimo. Na imagem a cantora Luisa Souza está com aparência robótica vestindo um macacão que imita a sua pele. Sonza é uma mulher branca, loira, com lábios grandes e vermelhos. A imagem possui um fundo de tinta borrada e blusa, a imagem dos olhos da cantora estão borrados, bem como suas mãos. Ao fundo vislumbra-se parte de um pôr do sol, mas a maior parte do fundo da imagem é escura.
“Eu acho legal essa coisa de artista, eu sei que não sou nenhuma especialista” (Foto: Olga Fedorova/Sony Music Entertainment)

Luisa Sonza – Escândalo Íntimo

O terceiro álbum de Luísa Sonza foi embalado por muitas polêmicas e controvérsias, como já é costume para a gaúcha. De Chico no top 1 do Brasil à carta revelando traição na Ana Maria, tudo revelou de fato, um Escândalo Íntimo. Dessa vez, Sonza explora vários gêneros  musicais, misturando suas angústias e inseguranças nos ritmos do pop, MPB, sertanejo e 150 BPM. As 24 faixas contam a história de um relacionamento, do qual começa confiante à lafamme fatale, depois mergulha em momentos de calmaria, romance e muitos questionamentos, para finalmente conseguir se diferenciar daquilo que é expectativa alheia e do que realmente se quer ser. 

O disco conta com colaborações diversas, como Duda Beat, Marina Senna, Baco Exu do Blues e até mesmo Demi Lovato. A produção buscou referências nos ídolos da música brasileira da artista, como Rita Lee em Lança Menina, mas também possui faixas cantadas em inglês e espanhol, a exemplo de Dona Aranha e La Muerte. Falando em referências, toda narrativa sonora está repleta delas, de modo quase excessivo. A faixa 1, homônima ao álbum, por exemplo, é um sample da música Quarto de Hotel de Hareton Salvanini. The Beatles e Queen também são reinterpretados em faixas como Principalmente Me Sinto Arrasada. O álbum ainda conta com três faixas não disponíveis e sem previsão de lançamento. – Costanza Guerriero

Faixas favoritas: Lança Menina, Não Sou Nada Demais e Luísa Manequim


Capa do álbum Escuro Brilhante, Último dia no Orfanato Tia Guga. Nela vemos uma fotografia de várias crianças que vestem uma capa preta, somente uma criança negra olha para a foto ealguns rabiscos contornam a cara dela. Centralizado no inferior, o nome do álbum está escrito com uma estétca de letra de criança
A essência urbana e realista de Rico Dalasam é acolhedora (Foto: Rico Dalasam)

Rico Dalasam – Escuro Brilhante, Último dia no Orfanato Tia Guga

Iniciado há três anos e sendo o seu terceiro álbum autoral, Rico Dalasam surpreende novamente ao abordar questões tão íntimas e essenciais na compreensão tanto da própria história enquanto artista quanto ao tentar dar voz aos que foram silenciados. O rapper volta às suas origens no orfanato e revive cada uma de suas inseguranças enquanto uma criança em busca de afeto e acolhimento, mas conseguindo, agora, aninhar e reconfortar a si mesmo.

Essa experiência de auto libertação é vista na primeira faixa de abertura Doce. Além disso, a participação de vários outros artistas ilustres, como Liniker, os intensos versos melódicos envolvem ainda mais quem ouve as questões de amor discutidas no EP. No ano de 2023, Rico Dalasam fez presença ao nos presentear demonstrando as diversas faces do amor seja de forma esperançosa em Espero Ainda ou na franqueza trágica de Jovinho. – Rebecca Ramos 

Faixas favoritas: Novinho, Espero Ainda e Sol Particular


Capa do álbum ESQUINAS. Nela, no centro, há uma menina branca de cabelos pretos e longos, presos em duas tranças laterais. Ela usa chapéu de cowboy branco, lenço vermelho no pescoço, blusa de manga comprida listrada e calças jeans. Nos quatro cantos da imagem, também há o escrito “Esquinas” em preto e letra cursiva.
“Eu nunca me defini dentro desse ou daquele lado das ruas que me criaram, mas como uma esquina em que duas bandeiras, duas culturas, dois idiomas se encontram”, afirmou Becky G sobre o título do projeto (Foto: RCA/Sony Latin)

Becky G – ESQUINAS

Talvez por jogar o pop comumente versado por Becky G para escanteio, ESQUINAS não desceu às ruas fazendo muito barulho – mas é exatamente essa mudança de ares que o torna o trabalho mais emocionante e coeso da cantora até agora. Interseccionando as duas culturas que dividem o coração de Gomez, na onda do movimento 200-percenters (jovens que se autodeclaram 100% estadunidenses e 100% latinos), as novas canções bebem das bachatas, cumbias e outros sons regionais mexicanos que a intérprete ouve desde a infância. O resultado é a confecção de uma musicalidade simultaneamente singular e coletiva, enraizada pelo amor à própria família e o respeito à essa herança artística como um todo.

Lirica e vocalmente, a mexicana-americana dota o álbum de sentimentos que pesam mais no peito dos latinos, como a superação de paixões impossíveis e o vínculo afetivo profundo com os avós. A maturidade de se ancorar nas próprias experiências vem acompanhada das mãos aclamadas de Edgar Barreira, que prepara uma salada arrojada e robusta de instrumentos na produção. Entre violões, acordeões e trompetes, jovens músicos descendentes de imigrantes, como Ivan Conejo e DannyLux, e outros representantes da música mexicana, vide Peso Pluma, ajudam Gomez a temperar as faixas sem pressa, na riqueza do instante. Ao final, as tantas camadas sobrepostas em ESQUINAS formam uma rua inteira de celebrações, ladrilhada pelo talento da artista principal. – Vitória Vulcano

Faixas favoritas: CHANEL e POR EL CONTRARIO


Capa do álbum everything is alive. O fundo é totalmente bege. Losangos vermelhos aparecem em segundo plano, enquanto uma forma geométrica complexa vermelha aparece em primeiro plano. Essa forma se assemelha a um labirinto. No centro deste, aparece uma silhueta vermelha de uma pessoa.
Slowdive enriquece o rock alternativo sem nunca ter precisado apelar à opressão de minorias (Foto: Dead Oceans)

Slowdive – everything is alive

Slowdive é a típica banda que faz de suas composições uma sopa de letrinhas. Os integrantes parecem transformar fluxos de consciência em músicas as quais, surpreendentemente, fazem sentido. Este, aliás, não é exato, ou seja, pode significar uma coisa para um incel e outra para uma mulher perturbada. Tal variedade de fãs faz com que o grupo britânico esteja em constante reinvenção, pois ter consciência da impossibilidade de agradar a todos é, sobretudo, libertador.

Embora muitas mudanças sejam notáveis no som do Slowdive, uma característica sobreviveu aos percalços do tempo: o apreço pela atmosfera noturna. O quinto álbum de estúdio da banda, everything is alive, é uma soma às playlists criadas com o propósito de apaziguar os conflitos travados entre o sono e a paranóia. Nada é mais assustador do que o filme de terror autobiográfico exibido na nossa própria cabeça de madrugada. No entanto, se depender da banda de Berkshire, não faltará uma boa trilha sonora para acompanhar as memórias estreladas por nós mesmos e por amores já tirados do roteiro. – Ana Cegatti

Faixas favoritas: kisses, skin in the game e andalucia plays


 Capa do disco Falling or Flying. Na capa temos a figura da cantora Jorja Smith, uma mulher negra de pele clara, com cabelos longos e escuros. Ela está vestindo um vestido longo prata, com várias estampas diferentes ao redor das mangas e nos ombros. O fundo da tela é formado por uma cor sólida de cinza.
O remix de Little Things, em parceria com Nia Archives, foi uma das canções mais acessadas no TikTok em 2023 (Foto: FAMM)

Jorja Smith – Falling or Flying 

Após uma pausa de cinco anos desde Lost & Found, seu último lançamento em 2018, Jorja Smith retorna ao cenário musical com o seu recente trabalho de estúdio, Falling Or Flying. Flertando com um R&B bem pensado, a britânica escapa da sonoridade convencional do gênero e apresenta novos ritmos que conversam desde o neo soul em sua faixa-título, até as orquestras de música arabe durante a canção Try Me

Embora o disco inove nas melodias, ele não se diferencia de seus lançamentos anteriores. Mesmo se repetindo criativamente, o álbum se destaca pela fluidez na voz de Smith, onde o sentimento conduzido pela artista se encaixa em cada letra e batida. Falling or Flying segue seu próprio caminho, garantindo 17 faixas cheias de nuances, ele não tem medo de se perder em meio a versatilidade, rompendo com a recente onda de cds homogêneos que surgiram na indústria musical. – Ludmila Henrique 

Faixas favoritas: Try Me, Little Things e GO GO GO


Capa do álbum First Two Pages of Frankenstein. O fundo da imagem é branco e contém um quadrado bege no qual está centralizado um menino branco de cabelo curto castanho. Ele está usando uma camisa branca e está segurando uma cabeça de manequim. Na testa desta cabeça, está colado um papel branco com “Hello” escrito em letras brancas e, logo abaixo, “Paul” escrito em letras pretas. No canto inferior esquerdo da imagem, está escrito “The National” em letras pretas e, no canto inferior direito, está escrito “First Two Pages of Frankenstein” em letras pretas.
The National se consagra como uma das bandas de tiozão mais queridas do indie rock (Foto:4AD)

The National – First Two Pages of Frankenstein

O nono álbum de estúdio de The National, First Two Pages of Frankenstein, cutuca um vespeiro do qual podem sair pessoas de meia idade e jovens com pais separados. Além disso, o disco reúne parcerias com Phoebe Bridgers, Taylor Swift e Sufjan Stevens, provando que, embora a banda seja composta inteiramente por homens, ela é relativamente afeminada.

O grupo estadunidense deposita toda sua força em letras sensíveis cujo significado talvez nem os próprios integrantes saibam identificar. Os arranjos de guitarra elétrica perdem o protagonismo para longas performances de violão que, somadas à voz aveludada do vocalista Matt Berninger, tornam-se um perigo para os detentores de daddy issues. No fim, o álbum é um abraço a todos que buscam migalhas de afeto. – Ana Cegatti

Faixas favoritas: Tropic Morning News, Eucalyptus e Grease In Your Hair.


Capa do álbum Fountain Baby da cantora Amaarae. A imagem é quadrada e engloba a foto da cantora do busto até seu queixo. Ela é uma mulher negra, com cabelos castanhos, encaracolados e longos. Sua pele está reflexiva pois está molhada assim como seu top branco e seus cabelos. Em seu pescoço está um crucifixo prata iluminado e ao fundo azulejos azuis.
Mesmo com uma composição minuciosa e inteligente, Fountain Baby é popular, intoxicante e fresco (Foto: Interscope)

Amaarae – Fountain Baby

Fountain Baby é o segundo álbum de estúdio da cantora Amaarae, e pela primeira vez em uma grande gravadora, a Interscope, a artista de Gana mostra maestria em combinar o R&B norte-americano, o pop europeu e afro-beat. Com 14 músicas coesas e complementares, o botão de repeat é uma tentação.

Há tempos que a ordem de faixas tão características, como Co-Star e Wasted Eyes, não é tão precisa quanto aqui. Sem perigosas transições contínuas em uma obra tão completa, ouvi-la no aleatório é um crime. Descrita como uma obra confiante e inconvencional pela Pitchfork, logo após receber o selo Best New Music, Fountain Baby tem espaço para reivindicar o título de esnobado por sua ausência em grandes premiações, como o Grammy. – Henrique Marinhos

Faixas favoritas: Sex, Violence, Suicide; Wasted Eyes e Sociopathic Dance Queen


Sabrina Carpenter – fruitcake

Capa do EP fruitcake, da cantora estadunidense Sabrina Carpenter. A artista aparece em frente a um fundo rosado, segurando um bolo de fruta, cobrindo a boca e o nariz. Sabrina Carpenter é uma mulher branca, de olhos azuis e cabelos loiros. Ela tem franja, usa esmalte azul claro e delineado gatinho preto. Ela usa um suéter vermelho, com estampas de coração, usa uma tiara branca e usa um anel com as iniciais do seu nome.
Que tal um café com um bolinho de frutas com Sabrina Carpenter? (Foto: Island Records)

Sabrina Carpenter – fruitcake 

Em fruitcake, Sabrina Carpenter leva o clima natalino para qualquer momento do ano. Seguindo os passos de Caroline Polachek – que fez uma versão gelada de So Hot You’re Hurting My Feelings –, Carpenter repaginou o single Nonsense: a nova faixa, A Nonsense Christmas, traz trocadilhos com diversas características do Natal. O EP conta com seis músicas que refletem o período de celebração de final de ano.

Depois de emails i can’t send e de sua versão deluxe, Sabrina Carpenter prova novamente o que faz de melhor. Com músicas divertidas – tanto na parte lírica quanto na parte melódica –, a cantora mostra todo o seu potencial vocal. No cover white xmas, a pequena loirinha nos transporta para uma nostalgia atual; já em buy me presents e em A Nonsense Christmas, ouvimos sons de sinos e guizos vindos diretamente do Polo Norte. Carpenter ainda traz cindy lou who, uma canção melancólica e reflexiva, que faz uma referência à personagem Cindy Lou, do clássico filme natalino O Grinch. –Laura Hirata-Vale

Faixas favoritas: A Nonsense Christmas, buy me presents, santa doesn’t know you like i do e is it new years yet?


O debut de ouro do maknae consagrado no BTS demonstra como o talento de Jungkook se expande e brilha de várias formas (Foto: BigHit Music)

Jungkook – Golden

No lançamento de sua primeira faixa solo, Seven, Jungkook já havia demonstrado que não lhe faltava habilidade para preencher todos os aspectos de um artista de sucesso. Seja cantando, dançando ou fazendo rap, o cantor sul-coreano conquistou o coração de cada ouvinte desde seu debut com o grupo BTS, quando tinha apenas 15 anos. Agora, em sua estreia solo, ele demonstra a maturidade de um artista com expressivos 10 anos de carreira e desponta como uma celebridade global.

GOLDEN é um álbum nota dez em todos os quesitos. Com faixas para todos os humores, um vocal de deixar sem fôlego, coreografias empolgantes e uma sonoridade que mescla o nostálgico com o moderno, Jungkook acerta em cheio e faz jus ao título de Golden Maknae. Nessa estréia mais que dourada, o seu trabalho foi feito para brilhar, em todos os aspectos – Aryadne Xavier

Faixas favoritas: 3D (feat. Jack Harlow) e Standing Next to You


Em seu novo projeto, Key demonstra que seu tempo na indústria musical é como vinho: quanto mais tempo se passa, melhor fica (Foto: SM Entertainment)

Key – GOOD & GREAT

Com músicas e melodias coesas, conceitos bem estabelecidos e uma performance completa, Key segue sendo um dos artistas mais relevantes da indústria sul-coreana. Debutando em 2008 com o grupo SHINee e conciliando com sua carreira solo desde 2018, Kim Kibum sempre demonstrou apreço pelo retrô e por músicas fortes, marcantes e dançantes. Já tendo passado por outras áreas da cultura pop, em seu novo álbum é notória a sonoridade disco e funk, que chama qualquer ouvinte para dançar com ele.

Em Good & Great, o artista demonstra amadurecimento e que é ainda é possível utilizar o conceito pop retrô, que permanece em alta nos últimos anos. Confiante do motivo pelo qual saiu do papel, esse novo projeto não dá espaço às dúvidas ao entregar uma produção sonora e lírica de alta qualidade, mostrando o que há de melhor no cantor e tornando o play em uma entrada para uma festa privada – Aryadne Xavier

Faixas favoritas: Can ‘t Say Goodbye e CoolAs


Capa do disco Gravy. Uma mulher negra de cabelos loiros está sentada no meio de uma cama escura, dentro de um quarto esverdeado. A mulher está maquiada nos olhos com uma sombra algo brilhante. Em frente à mulher há algumas flores e uma faixa prata escrito “Miss Gr–”. No fundo há um pequeno porta-retratos pendurado.
Cantor de Chicago explora sonoridades mais leves em parceria com Coco Jones, Philip Bailey e Freddie Gibbs (Foto: RCA Records, a division of Sony Music Entertainment)

BJ The Chicago Kid – Gravy

BJ The Chicago Kid, apesar de extremamente talentoso, não parece figurar no radar geral dos ouvintes de neo-soul (ou R&B, se preferir) e nem desfrutar de tanto prestígio quanto os seus colegas de colaboração Kendrick Lamar ou Anderson .Paak. Porém sua discografia um tanto consistente, se esse adjetivo valer de alguma coisa, é uma prova de que o cantor natural de Chicago, Illinois, merece ser mais ouvido entre os ouvintes de música contemporânea. 

Gravy, um tanto diferente de seu último e ótimo disco, 1123 – que havia mais sonoridades voltadas para a relação do neo-soul com slow rap –, é um álbum de sonoridade menos densa que os anteriores, porém mais leve e dançante. O destaque do disco é a variedade dos sons, que comporta talvez até um flerte com eurodance notado em Spend the Night, parceria com Coco Jones; a participação de Freddie Gibbs, um dos destaques da cena do rap norte-americano atual, em Liquor Store in the Sky, e de Philip Bailey, vocalista do lendário Earth, Wind & Fire, em Never Change– Miguel Fernandes

Faixas favoritas: Spend the Night (feat. Coco Jones), Crazy Love (feat. Andra Day) e Never Change (feat. Philip Bailey)


Capa do disco GUTS, da cantora estadunidense Olivia Rodrigo. A artista é uma mulher de ascendência filipina, possui pele clara, olhos e cabelos castanhos escuros. Ela aparece deitada sobre um fundo roxo, usando um vestido preto com sutiã lilás e brincos de argola médias e prateadas. Olivia Rodrigo usa batom vermelho, delineado preto no estilo gatinho e esmalte preto lascado. Sua mão direita está posicionada em seu queixo, com o dedão apoiado no lábio. A cantora usa, nos outros dedos da mão direita, anéis prateados que formam o nome do disco.
Em GUTS, Olivia Rodrigo nos apresenta suas entranhas e sua coragem emocional (Foto: Larissa Hofmann/Geffen Records

Olivia Rodrigo – GUTS

Onde está a porra do meu sonho adolescente?”, pergunta Olivia Rodrigo no seu primeiro disco, SOUR. Já em GUTS, vemos uma jovem-adolescente-ainda-não-adulta mais crescida, ainda com diversos problemas, questões e reclamações da idade. Cheia de raiva, ansiedade, amor e decepção, Rodrigo traz o pop rock do fim dos anos 1990 e do início dos anos 2000 de volta para os ouvidos dos fãs. Com uma pitada de grunge e do alternativo, a cantora mostra como amadureceu – tanto pessoalmente quanto musicalmente – entre um álbum e outro. 

Enquanto em SOUR um coração partido era o reflexo de um amor da adolescência, GUTS apresenta o tema como algo muito pior: no single vampire, a artista conta como seus sentimentos foram usados, e como sua fama foi aproveitada por terceiros. Em meio a músicas com batidas rápidas e outras mais lentas e sentimentais, a artista traduz – de forma nua e crua – como é a mente de uma jovem mulher. Repleta das mais diversas emoções, ela consegue explicar as dores, os amores e os dilemas do fim da adolescência e do começo da vida adulta, e mostra como crescer é algo difícil, mas necessário. Além disso, Rodrigo nos mostra uma coisa: talvez o teenage dream venha depois, não durante os anos da juventude. – Laura Hirata-Vale

Faixas favoritas: bad idea right?, vampire, lacy, making the bed e get him back!


Capa do CD Heaven Knows. Fotografia quadrada com o fundo preto. Na parte central, está a cantora PinkPantheress. Uma mulher preta, de cabelos castanhos. Ela usa um vestido branco e colares prateados. Ela está apoiando o braço em uma escada acinzentada, que possui uma porta vermelha no final dela. Há também uma pomba branca em cima da artista.
Somente os vocais angelicais de PinkPantheress tornam a morbidez de suas letras um acalento aos traumas amorosos (Foto: Warner Records UK)

PinkPantheress – Heaven Knows

PinkPantheress, cantora e produtora inglesa, se tornou internacionalmente conhecida com a faixa Boys a liar Pt. 2, parceria da artista com a rapper Ice Spice. No entanto, a canção não representa o Heaven Knows, segundo álbum de estúdio da cantora. Nas 13 faixas que compõem o projeto, a compositora mistura o tom mórbido de seu conteúdo lírico com os vocais angelicais emitidos por ela. Aqui, as parcerias com Rema, Central Cee e Kelela acrescentam à narrativa contada pela artista.

Fã do drum and bass, batidas rápidas que chegam a quase 170 bpm, o subgênero da música eletrônica marca a sonoridade do álbum. Em Capable of Love, melhor canção do projeto, a cantora disseca o amor que possui por uma pessoa, chegando ao ponto de se tornar obcecada pela ideia de a perder um dia, se tornando, assim, incapaz de amar. Heaven Knows merecia uma indicação nas categorias de dance e eletrônica no Grammy 2024, mas PinkPantheress não precisa da indicação para afirmar o seu talento, já que foi eleita Produtora do Ano pela revista Billboard. -Guilherme Machado Leal

Faixas favoritas: Nice to meet you (feat. Central Cee), Feelings e Capable of love


Capa do álbum I've Loved You For So Long. A capa é uma montagem, de duas fotografias sobrepostas em um fundo rosado. Sobre o fundo rosa, na parte superior direita, vemos as palavras The Aces em caixa alta, em uma letra preta sem serifa. Na parte central da capa, vemos uma fotografia de quatro mulheres sentadas na caçamba de uma caminhonete, com um túnel ao fundo. As quatro são brancas, aparentando cerca de 25 anos. A da esquerda é loira e veste uma camisa preta. Ela olha para fora da caminhonete. As duas do centro são morenas. Da esquerda para a direita, uma veste camiseta branca, jaqueta de couro preta e calça branca, e olha para fora da caminhonete. A outra veste camiseta, jaqueta de couro e calça pretas, e olha para baixo. A da ponta direito é loira, veste camiseta bege e casaco morrem. Ela olha para o lado oposto da caminhonete. No centro inferior da capa, novamente na parte rosada, vemos as palavras I’VE LOVED YOU FOR SO LONG na mesma fonte preta, sem serifa e em caixa alta.
As músicas de The Aces já fizeram parte da trilha sonora de The Bold Type e Com Amor, Victor (Foto: Red Bull Records)

The Aces – I’ve Loved You For So Long

Tardaram, mas não falharam. Depois de três anos do seu segundo álbum, Under My Influence, as The Aces deram as caras novamente com I’ve Loved You For So Long. O lançamento, ainda em meados de 2023, veio depois de um período de reflexão sobre elas mesmas enquanto grupo musical e amigas de longa data, já que o quarteto começou a tocar junto anos antes da banda estourar. Dessa vez, o terceiro disco mostra que as irmãs Alisa e Cristal Ramirez, Katie Henderson e McKenna Petty estão mais confortáveis com seus próprios demônios e livres para falar (ou cantar) sobre eles abertamente.

Suburban Blues é a prova disso. Irmã mais velha de 801 (do álbum anterior), a faixa trata do mesmo tema: crescer em uma cidade pequena, tradicional e religiosa, sem liberdade para explorar a própria sexualidade. Retomando temas como amadurecimento, amores fracassados e saúde mental, as quatro mostram que evoluíram em suas composições, cada vez mais honestas. A sonoridade acompanhou e, do indie pop, The Aces passou a explorar também o punk pop, com arranjos nostálgicos à la bandas de rock alternativo dos anos 1990. Soando mais profundo e fresco, I’ve Loved You For So Long é tão descolado quanto seu quarteto. – Vitória Gomez

Faixas favoritas: Girls Make Me Wanna Die, Suburban Blues e Person


Capa do disco i was mature for my age, but i was still a child, do trio de rappers grouptherapy. Imagem retangular e colorida. Nela, vemos três fotografias 3x4 enfileiradas em um fundo branco, que mostram os integrantes do grupo. Abaixo das fotos, há uma lista em que se lê o nome dos três artistas, da esquerda para a direita na ordem das fotos, e elencados de A até C: SWIN, Jadagrace e TJOnline. SWIN é um homem negro, de cabelo raspado, com barba e bigode que apresentam leves falhas. Ele usa uma camiseta preta. Jadagrace é uma mulher negra, de cabelos crespos curtos e tingidos em loiro. Ela veste um top brando e uma camisa preta. TJOnline é um homem negro, de cabelo raspado e bigode. Ele usa uma touca preta e veste uma camiseta regata branca. Escrito com caneta azul, e de forma descuidada ao redor das fotos, pode-se ler “i was mature for my age, but i was still a child”. No topo da capa, em uma fonte escura, lê-se o nome do grupo.
Chora, BROCKHAMPTON (Foto: grouptherapy.)

grouptherapy. – i was mature for my age, but i was still a child

E se todos os nossos pensamentos intrusivos se tornassem realidade? Esse é o exercício imaginativo que guia grouptherapy. Ainda que i was mature for my age, but i was still a child tenha sido anunciado como seu álbum de estreia, Jadagrace, SWIM e TJOnline já tinham se reunido em ao menos três projetos anteriores, desde 2020. Isso porque a constante experimentação e quebra de paradigma é o que alicerça esse trio. Uma pulsão que os leva a desafiar todo e qualquer limite, tornando o novo lançamento uma experiência sempre imprevisível. É pop? É rap? É R&B? Não importa para eles, e não deveria importar para você também.

Não é exagero dizer que grouptherapy. é um produto da nossa geração. Cada faixa é uma combinação inusitada entre referências contemporâneas a nós. Fruto de muito estudo, mas sobretudo de uma proximidade e uma identificação profunda com essas obras. Seja em baladas com confissões sensíveis ou em faixas absolutamente espalhafatosas, cresce um anseio por auto expressão, uma ânsia em se colocar no mundo da própria maneira – que, na realidade, esconde um intenso medo de desaparecer, de ser denominado pelo outro. E existe sentimento mais familiar que esse? – Enrico Souto

Faixas favoritas: smile :), Nasty e still alive


Capa do álbum Jaguar ll. No centro dela, há metade da cabeça de Victoria Monét, uma mulher jovem, negra, de cabelos lisos e platinados. Seus olhos apresentam lápis pretos na parte inferior e cílios postiços na parte superior. Sua cabeça está imersa em um mar preto até a altura do nariz. Ao fundo, pequenas estrelas em um fundo preto.
Conhecida por compor trabalhos de Ariana Grande, Travis Scott e Chloe x Halle, a artista coloca ainda mais frescor nas letras de seu segundo álbum, premiado duas vezes no Grammy 2024 (Foto: RCA)

Victoria Monét – JAGUAR ll 

Mesmo sem possuir qualquer grau de parentesco com o famoso pintor impressionista, Victoria Monét tem o dom de tomar a Música como arte em sua forma mais pura. Como esperado, o elegante rugido de JAGUAR ll não foge das pinceladas calculadas e cativantes da cantora, que encontra na continuação da série iniciada há três anos o ponto de equilíbrio perfeito entre inspiração e novidade.

Na selva do R&B estadunidense, a viagem retoma a carona do produtor D’Mile e aproveita o apelo de bases clássicas para crescer novos arranjos, mais que nunca harmonizados com os vocais cristalinos de Victoria. Logo de cara, emendar o funk inebriante de Smoke, parceria com Lucky Daye, ao reggae colorido de Party Girls, interpretada ao lado do jamaicano Buju Banton, é quase um processo de hipnose. O lirismo apaixonante da taurina – que canetou todas as 11 faixas do projeto – também deixa o magnetismo perdurar em temas batidos como sexo e sonhos hollywoodianos, criando ouro em plena mata musical. Com olhar felino e aguçado, JAGUAR ll fez de tudo, inclusive Monét ser coroada a Artista Revelação de 2023 que a gente tanto precisava. – Vitória Vulcano

Faixas favoritas: On My Mama, I’m The One e Hollywood


Capa do álbum Javelin, de Sufjan Stevens. Ela é composta por diversas colagens de diferentes pessoas. Na parte superior, o nome do álbum está escrito na cor rosa como se tivesse sido feito com tinta. Na parte inferior, encontra-se o nome do artista, em caixa alta e letras brancas.
Javelin é uma ode ao amor, à fé e ao luto (Foto: Asthmatic Kitty Records)

Sufjan Stevens – Javelin

O nome de Sufjan Stevens brilha na lista de compositores que são especialistas em traduzir o que se esconde dentro de cada indivíduo. É difícil escutar alguma de suas letras e não se sentir tocado por ela – por exemplo, quem consegue assistir Me Chame Pelo Seu Nome sem se emocionar com Mistery of Love? O belo é inerente ao trabalho de Sufjan, e não seria diferente com Javelin.

O álbum é, em sua essência, uma tocante crônica sobre o ciclo do amor, representando-o do começo ao fim. Ao longo de Javelin, o artista parece ter a intenção de entender e ser entendido, com o objetivo de expor o fio condutor entre seus temas de estimação: levantar as intermináveis questões que nos levam a buscar significado uns nos outros e nos alegrar com a euforia de, às vezes, encontrá-lo. Nessa mistura encantadora, refinada e coesa de indie rock, folk e indie pop, Sufjan Stevens mostra, mais uma vez, seu talento em criar uma força invisível que atravessa e deixa marcas em qualquer um que está disposto a ouví-lo. – Raquel Freire

Faixas favoritas: Will Anybody Ever Love Me?, So You Are Tired e Shit Talk


Arte de capa do álbum. A cantora está de costas, com as costas nuas, uma calça com estampa de girafa e os pés descalços. Ela tem uma tatuagem com o desenho de uma girafa a mostra, que ocupa sua costela. Seu rosto está virado para o lado mas coberto por seu cabelo loiro e curto ao vento. Ela está em movimento, com os braços soltos e os pés quase saindo do chão, parece dançar. O chão de areia molhada se mistura com o fundo branco. Em volta de toda a silhueta da cantora, está ilustrado em letras azuis o título do álbum.
Letrux convocou suas feras e se fez vulnerável (Foto: Noize Record Club)

Letrux – Letrux como Mulher Girafa 

Letrux, como sempre, fora da caixa – ou da jaula. A artista carioca retornou em 2023 com seu terceiro álbum solo e muita animal print. Em 16 faixas com títulos que aludem ao reino animal, ela empresta o selvagem para falar da natureza humana. O universo sonoro criado pela cantora no disco abraça sua potência artística e ela entrega mais uma obra completamente original e cativante.

O disco conta com apenas uma parceria, mas muito especial: Lulu Santos, na faixa Zebra. A maioria das músicas leva o nome de algum animal, dos insetos aos grandes predadores. Letrux nos guia por uma jornada pela essência dos seres humanos e suas relações. A sonoridade e as letras espelham nossos altos e baixos, às vezes pequenos como uma formiga, às vezes com a fome de um leão. – Giovanna Freisinger

Faixas favoritas: Louva deusa, Formiga e Leões


Foto da capa do disco Magic 3, de Nas. Fotografia quadrada em preto e branco. Na imagem está o rapper Nas, homem negro de cabelo curto raspado. Ele está sentado, enquadrado da cintura para cima, olhando em direção à câmera. Veste óculos escuros, terno escuro e camisa de dentro clara; uma rosa está no botão de sua camisa à altura do peito. A textura da imagem tem um efeito de movimento, fugidio e embaçado. No canto inferior direito está o nome do disco, Magic 3.
Nas e Hit-Boy, rapper e produtor, dão sequência a Magic 2 e coroam duas trilogias em três anos (Foto: Mass Appeal)

Nas – Magic 3

Há no rap uma frase corrente, de origem imprecisa e de senso comum, que diz que “rap é jogo pra jovem”. Quem, porém, contradiz tão vitalmente essa máxima – junto talvez ao Jay-Z de 4:44 – não é outro senão o rapper de Illmatic, que na primeira faixa de Magic 3 já se coloca na posição de “griô”. Após os anos 90 e início dos 2000, depois de ter emplacado quatro obra-primas em oito anos e ter se consolidado como o Rei, Nas retorna nesse outro início de década com o vigor que lhe é característico: emplacou duas trilogias – King’s Disease e Magic – em três anos e se reafirmou enquanto um dos mais importantes da história do rap e um dos mais talentosos ainda em atividade, aos 50 anos.

Embora Magic 3 não seja de todo o melhor disco dessa sequência de trilogias – posto que pertence, sem dúvida, a King’s Disease III (2022), um dos melhores discos de rap dos últimos anos –, nunca é desperdício ouvir o flow e voz de um dos mais talentosos de sempre, produzida por um dos mais talentosos de hoje. Dupla formidável, dois dos melhores fazendo o que fazem de melhor, Michael & Quincy: Nas e Hit-Boy. – Miguel Fernandes

Faixas favoritas: Pretty Young Girl, Based on True Events, Pt. 2 e Sitting With My Thoughts


Capa do álbum MAÑANA SERÁ BONITO. Nela, há diversos desenhos coloridos que representam elementos abordados pela cantora Karol G ao longo do disco. Alguns deles são um arco-íris, três pirâmides do Egito, uma borboleta, duas garrafas de cerveja e um tigre
Lançada em meio à ascensão comercial do disco original, a mixtape complementar Bichota Season rendeu o saboroso remix de UNA NOCHE EN MEDELLÍN e uma colaboração inédita com Kali Uchis (Foto: Universal Music Latino)

Karol G – MAÑANA SERÁ BONITO

É impossível falar sobre a dominação mundial ultimamente exercida pela música urbana latina sem esbarrar na imponência de Karol G. Subindo no palanque da indústria como Bichota, codinome que revigorou esse cenário tão tomado de testosterona, a colombiana tem um quê de artista de cinema aliado à admiração que desenvolvemos por uma irmã mais velha. Assim, fica fácil entender como MANÃNA SERÁ BONITO, seu quarto álbum de estúdio, saltou dos ouvidos desavisados de muitos para o topo da Billboard 200 e o palco das vertentes estadunidense e latina do Grammy, conseguindo abarcar o melhor conceito-condutor da carreira da cantora. 

Aqui, a grandeza ostensiva da diva pop – professada na exploração de reggaeton, bachata, trap, afrobeats e até house music – se concilia com a vulnerabilidade doce de Carolina Giraldo Navarro, que usa o ápice de ritmos e prosperidades como ferramenta de reconciliação identitária. Sob as mãos habilidosas do conterrâneo e principal mixador do projeto, Ovy on The Drums, a amargura do coração partido, as odes a marcas de luxo e a liberdade refletida nas marés da ilha de Lanzarote são frações únicas de um balaio contagiante. Para os mais céticos, Karol G também reúne feats com veteranos e recentes sucessos latinos, de Shakira a Bad Gyal, na tentativa final – e bem convincente – de mostrar que seu futuro pode ser ainda mais caprichoso. – Vitória Vulcano

Faixas favoritas: X SI VOLVEMOS, DAÑAMOS LA AMISTAD e CAIRO


Capa do disco METRO BOOMIN PRESENTS SPIDER-MAN: ACROSS THE SPIDER-VERSE. Na capa temos a figura de uma aranha holográfica com várias cores diferentes. O fundo da tela é formado por uma cor sólida de preto.
A trilha sonora conta com a participação de artistas como Don Toliver, Nas, Lil Wayne e A$AP Rocky (Foto: Republic Records)

Metro Boomin – METRO BOOMIN PRESENTS SPIDER-MAN: ACROSS THE SPIDER VERSE 

Metro Boomin tinha um grande desafio em mãos ao conduzir a nova trilha sonora de Homem Aranha: Através do AranhaVerso. Após cinco anos do lançamento do primeiro longa-metragem que consagrou Sunflower, parceria de Post Malone e Swae Lee, como single mais certificado na história do RIAA, Boomin manteve a mesma qualidade de elementos apresentados anteriormente e encaminhou o hip-hop para um novo patamar. 

Para a composição do disco, o produtor musical se dedicou a fazer boas músicas e não sucessos comerciais. As canções idealizadas por Daniel Pemberton refletem a trajetória de cada personagem no filme. Igualmente a animação, letras e melodias se entrelaçam na história de outros aranhas importantes para o desenvolvimento do protagonista. Como uma playlist compartilhada por Miles Morales, o álbum foi pensado em conjunto, sem nenhum ponto solto, onde cada componente se conecta como uma teia. – Ludmila Henrique 

Faixas Favoritas: Annihilate, Self Love e Hummingbird 


Capa do disco Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua. Nela, vemos dois tigres pintados e na parte de cima, em letras pretas, está escrito "ANA FRANGO ELÉTIRCO" e "ME CHAMA DE GATO QUE EU SOU SUA". O fundo é branco.
As letras introspectivas complementam as melodias animadas de Ana Frango Elétrico (Foto: Selo RISCO)

Ana Frango Elétrico – Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua

Depois de uma pausa de quatro anos, em seu terceiro álbum  de estúdio, Ana Frango Elétrico volta de uma forma muito mais madura que nos anos anteriores. Com timbres nostálgicos, a artista busca estreitar laços com a música brasileira dos anos 1960 e 1980, ao passo que aborda temas sensíveis e subjetivos de maneira até dolorosa, como em Insista em Mim

Apesar dos temas individuais beirando a melancolia abordados no álbum, as batidas e melodias são animadas e alegres. A influência de músicos como Tim Maia é nítida. O contraste das letras com a própria música torna as canções harmônicas, aproximando o público cada vez mais do mundinho particular de Ana Frango Elétrico. Rebecca Ramos

Faixas favoritas: Insista em Mim, Dr Sabe Tudo e Camelo Azul.


Capa do álbum Midnights (The Till Dawn Edition). Uma foto do rosto da Taylor Swift. Swift é uma mulher branca de cabelos loiros e franja. Ela usa uma maquiagem azul na pálpebra dos olhos e delineado preto. Os lábios estão semi-abertos, mostrando os dois dentes da frente. Ela segura um isqueiro de metal, acesso em frente ao rosto, e olha para a chama. A foto é emoldurada na parte de cima e lateral esquerda por um degradê entre as cores azul, roxo e laranja. Na lateral esquerda estão escritas as 23 faixas do álbum. Na parte de cima lê-se o título do álbum.
Após o sucesso de Midnights, o próximo disco de inéditas da loirinha, The Tortured Poets Department, será lançado dia 19 de abril (Foto:Beth Garrabrant/Universal Republic Records)

Taylor Swift – Midnights (The Till Dawn Edition)

As noites mal dormidas de Taylor Swift continuaram rendendo músicas em 2023. Midnights (The Till Dawn Edition) é a versão deluxe do álbum já lançado no ano anterior, que conta com três novas faixas e um single. As duas músicas inéditas, Hits Different  e You’re Losing Me, nos contam como a história de amor termina, é fim do Lavander Haze e um prelúdio para uma nova era de coração partido. Snow On The Beach (feat. More More Lana Del Rey) é a versão estendida e mais doce da parceria. Karma (feat. Ice Spice) dessa vez ganhou videoclipe, recheado de easter eggs que deixaram os fãs muitas noites acordados para acompanhar a loirinha. 

Outra diferença que essa versão do disco trouxe, foram as versões censuradas de músicas como Maroon, assim, eliminando o selo de conteúdo explícito, as músicas poderiam chegar em maior público. Midnights chegou como uma surpresa para indústria, quando ninguém mais esperava um sucesso estrondoso da carreira de Swift ela se reinventa no synthpop, fazendo milagre em meio de regravações de outros álbuns e turnê mundial, a artista ainda tem muito o que cantar. – Costanza Guerriero 

Faixas favoritas: You’re On Your On, Kid; The Great War e Hits Different


Capa do álbum Música do Esquecimento. Nele, vemos quatro homens brancos que vestem camiseta branca e calça. Eles esticam um moletom preto com uma esqcrita em amarelo em letras estilizadas que diz "Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo" e "Música do Esquecimento"
Uma viagem pela autenticidade e melancolia (Foto: Selo RISCO)

Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo – Música do Esquecimento

Dois anos depois do lançamento do primeiro álbum da banda, Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo volta mais uma vez mostrando como tem amadurecido musicalmente e de que forma querem expandir para novos públicos. Ainda que existam tentativas de inovar, a autenticidade do grupo se mantém constante, sendo possível observar o desejo e afeto que os integrantes têm consigo mesmos e com aqueles que os ouvem.

Apesar das novas abordagens neste álbum, a essência mantém-se a mesma. Abordando também temáticas como a melancolia que permeia as relações da comunidade LGBTQIAP+, uma das faixas de grande destaque, Segredo, escancara a infeliz universalidade de uma vivência dupla de uma boa parcela das minorias sexuais. Originais, Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo não têm receio em se redescobrir e talvez seja isso que os fazem genuinamente únicos. Rebecca Ramos

Faixas favoritas: Segredo, Minha Mãe é Perfeita e As coisas que não te ensinam na faculdade de filosofia.


Capa do álbum My Back Was A Bridge For You To Cross. Na parte superior central da imagem, está escrito “Anohni” em letras maiúsculas brancas e “and The Johnsons” em letras garrafais brancas. Na parte inferior central da imagem, está escrito “My back was a bridge for you to cross” em letras garrafais pretas. A capa do álbum é uma fotografia em preto e branco da ativista Marsha P. Johnson. Ela é uma mulher negra de cabelo longo preto e está apoiando sua mão direita no queixo, enquanto sorri. Ela está usando brincos e um anel prateados.]
Quinto álbum de ANOHNI and The Johnsons é uma ferida aberta que talvez nunca cicatrize (Foto: Secretly Canadian)

ANOHNI and The Johnsons – My Back Was A Bridge For You To Cross

Ideal para noites chuvosas e trajetos solitários de transporte público, My Back Was A Bridge For You To Cross foi feito para pensar na morte da bezerra. Ao mesmo tempo que seus acordes de guitarra conduzem uma atmosfera pacífica, suas letras melancólicas invadem sutilmente nossa cabeça e a deixam latejando. Tal inquietude não é tratada com Alivium, nem com nenhum tipo de remédio, pois não é uma doença para ser curada, mas um sintoma do desejo intrínseco por mudanças que deve infectar cada vez mais pessoas. 

O quinto álbum de ANOHNI and The Johnsons se garante no apelo à vulnerabilidade, isto é, na admissão da dor. Esta, por sua vez, está refletida em composições confessionais recitadas por uma voz a qual infelizmente sabe o que diz. A subjetividade atrelada à política torna o disco uma fonte de memórias diante de um sistema planejado para esquecer. 

No fim, My Back Was A Bridge For You To Cross reconhece conquistas, mas não cede à ingenuidade de achar que a vida de grupos marginalizados se tornou um completo morango. Não basta construir pontes, há de atravessá-las também. Quem sabe do outro lado não está o final do arco-íris LGBT+ com gloriosas recompensas: amores correspondidos, revolução no sistema e álbum novo da Kate Bush. – Ana Cegatti

Faixas favoritas: It Must Change, Silver of Ice e Why Am I Alive Now?


Capa do álbum nadie sabe lo que va a pasar mañana, de Bad Bunny. O fundo possui um tom de bege e, ao centro, encontra-se uma ilustração de um cavalo marrom e uma pessoa em cima dele, usando roupas azuis e uma máscara cinza no rosto, em que os olhos estão vermelhos. Uma das mãos da pessoa está segurando o cabresto do cavalo e, a outra, está levantada para cima. Abaixo do cavalo, há um risco preto, que marca o suposto chão. No lado superior esquerdo está o título do álbum, em caixa alta e em letra de forma. Embaixo do risco preto, está escrito “BAD BUNNY / BENITO” e, logo abaixo, “OCTUBRE 13, 2023”. Centralizado no final da capa, está o selo de parental advisory.
nadie sabe lo que va a pasar mañana é um monumento que se equipara ao tamanho do sucesso comercial de Bad Bunny (Foto: Rimas Entertainment)

Bad Bunny – nadie sabe lo que va a pasar mañana

Após o lançamento do aclamado Un Verano Sin Ti, uma obra-prima pop imersa na umidade caribenha e no brilho dos sonhos, Bad Bunny foi catapultado para os olhos do público como nunca antes. Para quem ainda não conhecia o artista, o disco de 2022 fez parecer que o porto-riquenho sempre foi o tipo de pop star que lota estádios. Mas os fãs mais antigos sabem que Benito sempre foi um rapper de elite, e ele volta a mostrar isso em nadie sabe lo que va a pasar mañana.

O quinto álbum do grammy winner vem repleto de batidas de trap contundentes, rimas introspectivas e um estilo ‘de volta às origens’. O Bad Bunny presente em nadie sabe é um astro muito adorado que ficou na defensiva por muito tempo – seja por causa dos críticos, de fãs assustadoramente possessivos ou outras entidades que pareciam estar minando sua humanidade. A torre fria e brutalista que ele construiu contrasta com a fonte de histórias porto-riquenhas ricas e modernas presentes nos álbuns anteriores. Esse sempre é um aspecto muito interessante de se ver, e o El Conejo Malo é mestre em fazer com que a experiência seja magnífica. – Raquel Freire

Faixas favoritas: NADIE SABE, HIBIKI e WHERE SHE GOES


Capa do disco Negra Ópera, de Martinho da Vila. Imagem quadrada e colorida. Nela, vemos uma pintura em estilo renascentista, com quatro anjinhos negros espelhados, com cabelos loiros e panos brancos velando suas partes íntimas, posicionados em um quadrado. Eles rodeiam uma estátua dourada da cabeça de um homem. As orelhas da mesma cabeça são atravessadas pelo caule de uma grande rosa dourada, e em sua testa está o símbolo de uma lua minguante virada para cima. Ao redor deles, vê-se elementos de arquitetura clássica e quatro candelabros elegantes, com velas vermelhas, que se espelham junto aos anjos. No topo da imagem, lê-se o nome do artista e, abaixo, o título do disco. Nos quatro cantos da capa, estão desenhadas estrelas douradas de quatro pontas.
O último álbum de Martinho da Vila venceu o prêmio de Melhor Álbum de Samba/Pagode no Grammy Latino de 2023 (Foto: Emerson Rocha/Sony Music Entertainment Brasil)

Martinho da Vila – Negra Ópera

Pelléas et Mélisande é uma ópera centenária, idealizada pelo compositor francês Claude Debussy. Um drama lírico em cinco atos, que conta a trajetória de dois jovens que vivem um romance fadado ao fracasso. Uma união que apenas é capaz de concretizar-se pela morte. Foi após presenciar esse espetáculo em pleno Teatro Opera de Paris que Martinho da Vila, um artista pivotal para o samba brasileiro, idealizou Negra Ópera: um concerto glorioso que se apropria de uma tradição europeia para cantar e chorar as lamentações do povo preto brasileiro.

Negra Ópera se desvia da imagem leve que construiu-se sobre Martinho no nosso inconsciente. É um trabalho íntimo, mas pesado. Doído de escutar. Tão denso quanto o azul profundo que abraça a capa do disco, ocupada por anjinhos pretos que são pincelados como em pinturas renascentistas. Essa combinação inevitável entre signos antagônicos manifesta o poderoso esforço de ressignificação que norteia o álbum. Martinho une composições pessoais a releituras de outros grandes sambistas para narrar, através da perspectiva coletiva do seu povo, os infortúnios da maior tragédia da nossa história. – Enrico Souto

Faixas favoritas: Heróis da Liberdade, Acender as Velas e Dois de Ouro


Capa do disco NEVER ENOUGH, do cantor Daniel Caesar. A imagem é quadrada e colorida. Nela, vemos a fotografia granulada e borrada de uma floresta, com um filtro azul-escuro intenso, que mostra um homem correndo. Ele usa uma camisa branca e está de costas para a foto, como se fugisse de algo.
O disco ainda conta com colaborações de Ty Dolla $ing, serpentwithfeet e Omar Apollo (Foto: Hollance Inc.)

Daniel Caesar – NEVER ENOUGH

É impossível escutar Daniel Caesar e não se sentir instantaneamente hipnotizado. Suas canções românticas com melodias marcantes e coros angelicais se tornaram definidoras para o gênero R&B nos anos 2010. Um caso excepcionalmente raro em nossa era algorítmica de um cantor capaz de te arrebatar da própria cabeça. Mas, em NEVER ENOUGH, esse estado de levitação é logo interrompido na primeira faixa, Ocho Rios, quando os instrumentais são invadidos por guitarras distorcidas e bumbos pesados, acompanhados de vocais levemente guturais.

Caesar já havia exposto seu desejo em superar Freudian, seu trabalho mais icônico, para desbravar novos horizontes. Aqui, ao invés de explorar as nuances sensoriais do gospel, a música se deixa levar pelo ruído. Sem abandonar sua assinatura já difundida, o artista abraça uma sonoridade experimental, quase carnal, que rejeita o sagrado para nos lembrar de nossa eterna condição de mortalidade. Assim que NEVER ENOUGH fisga seu ouvinte, não há mais volta. Ainda que ligeiramente difuso, esse é o preço cobrado para abrir as portas do nosso refúgio particular. – Enrico Souto

Faixas favoritas: Let Me Go, Shot My Baby e Superpowers


 Capa do álbum No Tempo da Intolerância. A capa realça o busto de Elza Soares - mulher negra em torno dos seus 90 anos - com Black Power no centro da imagem. A fotografia tem uma textura como de desenho e tem os traços pretos. Em do lado esquerdo de Elsa há o símbolo do feminismo, o mapa do continente africano e uma corrente sendo quebrada; já no lado direito há o mapa do "O Sul é Meu Norte" (a América do Sul virada de cabeça para baixo), mãos dadas no centro de um globo e duas bandeiras. O fundo amarelo e creme realça os elementos que estão em preto e amarelo. Nos cantos superiores esquerdos, há os elementos de identificação do álbum. No centro inferior há o título do álbum em amarelo, No Tempo da Intolerância e, acima dele, no peito de Elza, há um desenho do sol nascendo com um símbolo do infinito acima e um arco-íris em sua volta. Ao redor da imagem, com traçado preto, estão escritos os nomes das músicas
Não há ninguém como Elza Soares, simplesmente única. (Foto: Deck)

Elza Soares – No Tempo da Intolerância

Nesse álbum póstumo, Elza Soares evoca um manifesto enraizado em sonoridade latino-americana, poesia marginal e ancestralidade. A intérprete utiliza sua voz como arma letal – descrita assim na canção Coragem – contra o racismo, machismo, violência policial, entre outros abusos, No Tempo da Intolerância é um álbum denunciativo em que Elza mostra, mais uma vez, que nunca deixou de se posicionar. Além da denúncia, também celebra o feminisno negro, a liberdade das mulheres e clama por justiça com os seus, sendo um álbum quase inteiramente autoral – 7 das 10 músicas são conposições da cantora. 

Entre as faixas, podemos presenciar, pela última vez, a beleza e potência que Elza foi e sempre será.Rainha Africana, composição de seus amigos Rita Lee e Roberto de Carvalho, é presenciada a história da cantora sendo exaltada e reverenciada. Já em Quem Disse, a introdução da canção é feita pelo MC WJ, conhecido por seus versos denunciantes sobre a realidade dos grupos marginalizados, e Elza acompanha essa denúncia que recai sobre a desigualdade, não só, mas também financeira nesse Brasil. Por último, mas não menos importante, Mulher Pra Mulher (A Voz Triunfal) referencia o feminismo negro que luta contra inumeravéis violências durante tantos anos. 

A identidade da cantora, falecida em 2022, está muito bem marcada neste lançamento e, por ser o último, No Tempo da Intolerância é um álbum em que nos emocionamos não só pelas letras, mas também por imaginarmos que será o último trabalho lançado. Não há palavras suficientes que medem Elza Soares. Ela é incrível em tudo o que fez e continuará fazendo nesse compasso de vida. – Marcela Lavorato

Faixas favoritas: Justiça, Pra ver se Melhora e Quem Disse


A foto apresenta o cantor FBC: um homem negro, de cabelo ralo e preto com alguns fios brancos e uma barba volumosa. Ele usa uma regata preta, coberta por um suéter (aparentemente de lã) nas cores roxo, verde-escuro, amarelo e azul-claro, que se mesclam em listras onduladas. Em sua mão está um globo espelhado, símbolo de festas nos anos 70, 80 e 90. O globo reflete pontinhos de luz para toda a foto, sendo iluminado de um lado e totalmente imerso nas sombras do outro. Ele usa um óculos escuro e também uma grande corrente prateada, que apresenta a figura de São Jorge montado em um cavalo. O fundo da imagem é preto.
Em uma viagem pelo universo, FBC constrói um álbum sólido, refinado e que vai contra tudo que se via no mainstream (Foto: DO PADRIM)

FBC – O AMOR, O PERDÃO E A TECNOLOGIA IRÃO NOS LEVAR PARA OUTRO PLANETA 

Não é de agora que Fabrício, mais conhecido como FBC, trabalha com Música. O sucesso estrondoso de Baile (2021), em colaboração com VHOOR, fez com que os talentos do artista fossem amplamente divulgados, atingindo novos espaços além da cena do rap nacional. Não se acostumado em criar mais do mesmo, em seu novo projeto o rapper busca novas inspirações e transborda em uma estética completamente diferente do que havia produzido. Passeando entre os anos 1970 e 1980, misturando funk com elementos sintéticos e até um sax, o cantor nos faz refletir sobre a existência nesse planeta que chamamos de casa.

Com a ousada proposta de fugir das tendências atuais, FBC aposta tudo em um álbum que mira em Jorge Ben Jor e acerta em um estouro de originalidade. Em O Amor, o Perdão e a Tecnologia Irão nos Levar para Outro Planeta, o cantor e compositor traduz, em um jogo minucioso entre letra e som ,os sentimentos e sensações de uma viagem pela dance music. – Aryadne Xavier

Faixas Favoritas: Madrugada Maldita e Estante de Livros (feat. Don L)


Capa do disco O Resgate do Maestro, do rapper niLL. Imagem quadrada e colorida. Nela, vemos um robô gigante, branco com detalhes em azul, que olha para cima com seus olhos totalmente brancos. A máquina está ao redor de uma favela, onde pode-se ver pequenas casas com tijolos laranjas. Ao fundo, vê-se um grande morro com outras residências e um céu azul tomado por nuvens. No canto esquerdo, uma tarja preta ocupa a imagem, com os dizeres “O Resgate do Maestro", escrito de baixo para cima na vertical e com uma fonte branca. Acima desse texto, estão escritos dos kanjis em laranja. Abaixo do título do álbum, também na vertical, está um selo com a letra N maiúscula em destaque, e os dizeres “Nill SoundFoodGang; todos os direitos reservados”.
“É o Resgate do Maestro, não Retorno de Jedi” (Foto: Sound Food Gang)

niLL – O Resgate do Maestro

niLL é o maior artesão da cena do rap nacional. Seus discos não são somente conceituais. Seja rimando ou tecendo os instrumentais através do seu pseudônimo O Adotado, o artista jundiaiense constrói universos imersivos que costuram milhares de referências à cultura geek como em uma colcha de retalhos, operando através de nossos ambientes virtuais para evocar as emoções mais substancialmente humanas possíveis. Não importa o quão fantasioso ou fora da casinha for o álbum da vez. No fim, tudo se resume ao mais terreno cenário de um jantar.

É esse retrato mundanamente imaginário de um mecha explorando as vielas de uma favela que nos apresenta a O Resgate do Maestro. Na narrativa do disco, acompanhamos um simpático robô que viaja para a Terra com o objetivo de estudar as emoções humanas. O rapper usa dessa conjunção para criar uma jornada existencial e contemplativa, refletindo nossa sede inerente por conexão em meio a uma realidade onde desaprendemos a viver uns com os outros. É então a partir de sonoridades acalentadoras e visuais nostálgicos que niLL faz da Música ponte para que esses laços se cruzem outra vez. – Enrico Souto

Faixas favoritas: PS1, Zero Zero 7 e City Hunters


Capa do Pânico no Submundo. Fotografia quadrada com o fundo roxo. Na parte central há várias máscaras de palhaços e cédulas da moeda americana: o dólar.
80% do meu tempo eu ouvia Panico no Submundo e nos outros 20% eu torcia para que alguém fale sobre isso… Para eu poder falar mais! (Foto: Nyege Tapes)

DJ K – PANICO NO SUBMUNDO

Há quem não goste de funk e criminalize o gênero se baseando em crenças preconceituosas. O estilo musical se reinventa constantemente e com PANICO NO SUBMUNDO não dá para negar a ascensão merecida do ritmo. Durante 43 minutos, DJ K, nascido em Diadema, entrega ao público uma viagem de diversões com esse projeto. Aclamado pela Pitchfork, o paulistano usa o gênero como uma plataforma de conscientização social, como quando critica sutilmente o governo de Jair Bolsonaro na faixa “Erva Venenos”.

É impossível ser levado à outra dimensão com uma música, mas aqui, o produtor musical o faz com maestria: já na primeira música, Illuminati – Viagem Ao Oculto, o ‘bruxo’, apelido do artista, faz a sua magia e enfeitiça os fãs com beats agradáveis e produções de tirar o fôlego. Para os amantes do estilo musical, é um deleite. Os que não acompanham de perto o ritmo irão se impressionar com o talento do DJ K. -Guilherme Machado Leal

Faixas favoritas: Illuminati – Viagem Ao Oculto, Automotivo Acordou a Favela Toda e Beat Distorce Mente


Capa do disco Para todos os garotos que já Mamei, de N.I.N.A . Nele vemos uma mulher negra de costas. Ela vesta uma saia jeans em alguns tons de azul, com um bolso no lado direito onde está escrito N.I.N.A, bordado em amarelo. Há uma mão masculina dentro desse bolso e uma mão feminina no lado esquerdo da calça. Centralizado na parte de baixo, está escrito em amarelo "Para todos os garotos que já mamei" e logo abaixo, também em amarelo, está escrito "PTOGQJM"
“E eu não quero ser fraca, mesmo que tudo ao redor tenha o peso do mundo” (Foto: Pineapple StormTv)

N.I.N.A – Para Todos os Garotos que já Mamei

Com Para todos os garotos que já mamei, ou PTOGQJM, N.I.N.A revelou uma nova faceta de sua musicalidade. No álbum lançado em Agosto de 2023, a cantora conhecida como bruta, brava e forte soa mais sensível e reconhece sentimentos que não se mostravam com tanta veemência em sua discografia anterior, Pele (2022). Em um movimento semelhante ao da temática, a sonoridade trabalhada também migra para novidades e as sete faixas são uma viagem pela diversidade rítmica. 

R&B, pop, rap e soul são explorados nas composições, mas cada uma segue tão única quanto às cartas enviadas pela protagonista do filme que o nome do disco parafraseia. Nessa singularidade, N.I.N.A surpreende a cada minuto do projeto e consegue ser impecável ao ponto de não permitir brecha para uma crítica sequer. Por isso, PTOGQJM é perfeito para ouvir em momentos à flor da pele ou animar dias blasé, com a única restrição de não ser recomendado para menores de 18 anos. – Jamily Rigonatto 

Faixas favoritas: Faz Assim, Despedidas e Karma


Capa do disco Playing Robots Into Heaven, do musicista James Blake. Imagem quadrada e preto-e-branca. Nela, vemos a silhueta do artista subindo uma duna de areia em meio a um deserto. Ele leva nas costas um aparelho eletrônico conectado a vários fios, e com uma grande antena em seu centro. Duas pessoas também sobem a duna à sua frente e outras duas atrás.
Mesmo que tenha retornado à música solo, James Blake se envolveu em projetos de outros artistas em 2023, incluindo o novo disco de Travis Scott e a trilha sonora de Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, fazendo parceria com Metro Boomin (Foto: Polydor Records)

James Blake – Playing Robots Into Heaven

James Blake deixou sua marca registrada por todos os cantos da indústria musical na última década. Os vocais divinos e quase sussurrados do artista, que preenchem delicadamente suas melodias digitais e minimalistas, fizeram dele um colaborador de ouro, lhe rendendo participações marcantes em projetos de grandes artistas como Kendrick Lamar, Travis Scott e Beyoncé. Em paralelo, seus trabalhos solo, antes instigantes e misteriosos, eram gradativamente sanitizados quanto mais deslocavam-se para o universo do pop

Nesse contexto, Playing Robots Into Heaven marca o retorno do artista à música eletrônica. Aqui, sua voz se mistura aos elementos da canção para tornar-se um mero instrumento. A letra, em grande parte do disco, pouco importa. Os timbres, as percussões e as harmonias são manipuladas para nos transportar a uma montanha russa sensorial, ora declinando bruscamente em direção à terra, ora ascendendo em movimentos circulares até os céus. Um resgate e um lembrete do posto de Blake como um verdadeiro maestro de emoções. – Enrico Souto

Faixas favoritas: Fall Back, Big Hammer e I Want You To Know


Kali Uchis, com uma maquiagem detalhada nos olhos, com tons leves e desenhos expressivos. O rosto da cantora está posicionado em um semi perfil e ela apoia o dedo indicador em seu queixo, com unhas decoradas. O fundo é vermelho e Kali usa um enfeite em sua cabeça com borboletas e pedras vermelhas.
Segundo a artista, Red Moon in Venus é atemporal e sobre todos os níveis de amor. (Foto: Geffen Records

Kali Uchis – Red Moon In Venus

A sinestesia, além de uma figura de linguagem, é uma condição neurológica que faz com que quando um dos nossos sentidos é ativado, reações são provocadas em outro, gerando um mix de sensações. Ouvir Red Moon in Venus não é uma experiência simples, mas que ativa diversas sensações, sendo um álbum colorido e com sabores refrescantes do pop latino.

Em seu terceiro álbum, a colombiana Kali Uchis nos leva em uma aventura sonora que lembra um conto de fadas, mas com toques de sensualidade. Já na primeira faixa, In My Garden… a artista cria uma certa ambientação, apresentando o tema do álbum, ao falar “Olá / Você consegue me ouvir? / Eu só queria falar que, caso tenha esquecido, eu te amo” e incluir sons imersivos. A obra segue com tracks sobre amor, prazer e desejo, como I Wish You Roses e Love Between, além da exploração da feminilidade, com toques do estilo R&B de Uchis, além de reggae e soul-Marina Barrelli de Carvalho

FAIXAS favoritas: Worth the Wait, All Mine e Deserve Me


Capa do álbum Reversa. Nele, vemos Carol Biazin, uma mulher branca de cabelos ruivos. Ele veste um body branco e um capacete de astronauta, dentro desse capacete, há versões menores da cantora.
Foi de trás para a frente que Carol Biazin descobriu novas maneiras de contar uma história de amor (Foto: Universal Music Group)

Carol Biazin – REVERSA

Em uma grande homenagem para todas as garotas infernais, Reversa chegou com aquele sabor de romance adolescente para alimentar a alma das mean girls. Carol Biazin traz desilusão, rebeldia e romance, é óbvio, para o terceiro álbum de sua carreira. Contando com treze faixas que narram uma história de amor de trás para a frente, fazendo alusão ao título, a cantora conta com batidas de pop, R&B, e vocais de fundo para conseguir sustentar a personalidade da obra, que se inspira na sua. 

Reversa tem pontos altos e baixos, como qualquer obra. Os beats são muito parecidos, fazendo com que uma faixa pareça a extensão da anterior. Entretanto, Biazin fez ótimas evoluções em suas composições, em comparação ao seu último disco, Beijo De Judas, conseguindo trazer letras mais desenvolvidas e vocais presentes e potentes, que lembram muito os de Luísa Sonza, além de ter produzido a cronologia realmente ao contrário, porém de forma extremamente complementar, o que torna o álbum ainda mais único e precioso para o pop brasileiro. Com um relacionamento que não deu certo, talento e muito glitter, Carol Biazin entregou uma das melhores produções nacionais de 2023. A cantora provou que está pronta para defender o seu espaço nas playlists das garotas infernais. – Pâmela Palma

Faixas favoritas: Playlist de Sexo, Dessa Vez Não e Garota Infernal


Capa do álbum Rush! (Are U Coming?) da banda Mäneskin. O fundo da imagem apresenta um degradê cinza, sendo a parte de cima o ponto mais escuro e a de baixo o mais claro. Há uma modelo vestindo uma camiseta azul e uma saia cinza deita no chão, enquanto os membros da banda aparecem saltando por cima dela. Da esquerda para a direita, na posição de salto, estão: Ethan, Thomas, Damiano e Victoria. Ethan e Damiano vestem ternos azul escuro enquanto Thomas e Victoria vestem ternos vermelhos e ela é a única que está com ele aberto.
Rush! (Are U Coming?) consolida o estilo de Måneskin (Foto: Epic Records/Sony Music Entertainment Italy)

Måneskin – Rush! (Are U Coming?)

Na extensão de Rush!, álbum #1 em mais de 15 países da banda italiana Måneskin, são acrescentadas mais cinco músicas que mostram para o público a força do jovem grupo. Com a maioria das faixas em inglês, são exploradas temáticas que vão do romance à rebeldia e aproveitamento da vida, em que há um casamento muito bem realizado entre os potentes vocais de Damiano David e os instrumentos dos demais membros. Em Valentine, a extensão da voz de David e os acordes da guitarra de Thomas Raggi causam arrepios por todo o corpo de quem escuta.

O baixo de Victoria De Angelis é outro elemento que faz toda a diferença nas produções. Com uma maior presença nesse lançamento, a baixista cria acordes que marcam o estilo da banda, ajudando na produção de melodias que permanecem por um bom tempo na cabeça. Contando com 22 faixas,  Rush! (Are U Coming?) une Mäneskin ao músico americano Tom Morello em Gossip – um dos cinco singles do álbum – em uma produção energética e viciante, com solos de guitarra de tirar o fôlego. Indo do intenso, apaixonante e íntimo, para o divertido, provocante e sensual, a quinta produção do grupo é um sucesso garantido. – Gabriela Bita

Faixas Favoritas: Trastevere, Timezone e Off My Face


Capa do álbum SAVED!. Nela, vemos uma foto em sépia de uma mulher de costas. Ela usa um vestido branco manchado de sangue. Ela está com os dois braços para cima e uma bíblia na mão esquerda. Ela está em uma casa de madeira com algumas decorações de flores. Na parte superior vemos escrito em amarelo, em letras grandes "REVERND KRISTIN MICHAEL HAYTER. Um pouco abaixo, em letra cursiva na cor bege, está escrito "Presents... An Conjunction with Perpetual Flame Minister" e logo ao lago, em letras grandes e na cor vermelha "SAVED!" Na imagem, há um fundo azul.
A artista taca o foda-se em seu álbum de estreia, até porque o mundo está acabando mesmo (Foto: Perpetual Flame Ministries)

Reverend Kristin Michael Hayter – SAVED!

Ao ouvir SAVED!, a última certeza que você tem é que está a salvo. Lingua Ignota veste a batina a aponta o dedo julgador típico de um fundamentalista religioso bem na sua cara. Com voz, violão e um piano modificado, a intérprete cria um cenário de pandemônio e nos transporta para uma igreja no meio do nada no exato momento em que ocorre o julgamento final.

O álbum, totalmente experimental, além de propositalmente caótico, revive estilos dos cânticos do Movimento de Santidade, vertente pentecostal que estimula atividades carismáticas como a glossolalia – capacidade de falar em línguas quando se está em transe religioso. Dessa forma, a artista, que teve uma infância católica, desvirtua totalmente a visão religiosa. As microfonias propositais entre as faixas, os instrumentos nada mixados e a voz por vezes a capela, criam a impressão que o fim do mundo, naquela igreja que o disco emula, ao mesmo tempo que é temido, também é desejado. – Guilherme Veiga

Faixas favoritas: ALL OF MY FRIENDS ARE GOING TO HELL, IDUMEA e THE POOR WAYFARING STRANGER


Capa do álbum Scaring The Hoes. Nele vemos uma forma geométrica arredondada que lembra uma cruz. Dentro dela temos, centralizado, JPEGMAFIA, um homem negro. Ele veste uma camisa preta, calça preta e terno preto, além de um colar em formato de cruz. Ele está segurando uma bíblia na mçao esquerda e uma arma na mão direita. Ao seu lado direito, está Danny Brown, um homem negro de barba volumosa e tranças. Ele veste um terno e calça azul marinho, uma camisa branca e um chapéu preto. Ele segura uma escopeta com a mão esquerda e um revolver com a direita, que está próximo de seu rosto que sorri. No lado direit de JPEGMAFIA, há uma mulher negra de cabelo afro e vestido rosa, Ela está sentada com o joelho esquerdo levantado. Abaixo de JPEG, há outra mulher negra de cabelos pretos lisos, Ela veste um vestido com características indígenas com cor predominante azul e detalhes em dourado e preto. Ela está de joelhos, com as duas mãso na cintura. Ainda na imagem da cruz, há dois carros de polícia em cada lado.
É na ironia e na crítica ácida que a dupla se complementa (Foto: 2023 PEGGY under exclusive license to AWAL Recordings America, Inc.)

JPEGMAFIA & Danny Brown – Scaring The Hoes

2023 definitivamente foi o ano das collabs no rap, seja por Billy Woods & Kenny Segal no excelente Maps ou no atrasadíssimo e divisivo Vultures Vol.1 de Kanye West e Ty Dolla $ign. Quem definitivamente consagrou o movimento e deu o start  na moda novamente foram os irreverentes e até então totalmente antagônicos JPEGMAFIA & Danny Brown. Por isso, Scaring The Hoes é a prova de que sim, os opostos se atraem e criam uma química descomunal entre si.

O termo chulo do título é uma expressão para quando se está sendo hipócrita e a dupla consegue, pelo menos, bater de frente com a hipocrisia, com a arma que mais sabem usar: o sarcasmo. O disco consegue dosar efetivamente os beats tortos de JPEG com a rima rápida e astuta de Danny Brown, resultando em uma obra que aborda conscientemente, ao mesmo tempo que com muita irreverência, a cultura da internet e o próprio rap americano. – Guilherme Veiga

Faixas favoritas: Kingdom Hearts Key (feat. Redveil), Burfict! e Garbage Pale Kids


Capa do disco Silence Between Songs, da cantora estadunidense Madison Beer. A imagem mostra a artista correndo por uma plantação, em um dia nublado. Madison é uma mulher branca, de cabelos castanhos, que usa um vestido branco curto.
“Eu nunca soube que o silêncio entre as músicas poderia ser tão solitário e tão longo” (Foto: Epic Records)

Madison Beer – Silence Between Songs

No disco Silence Between Songs, Madison Beer se mostra como uma cantora completa. Por meio de belas composições e sonoridades de um pop genuíno, a artista traz canções cheias de beleza e sentimento. Indo de sintetizadores futuristas, acordes de violão e até notas delicadas vindas diretamente de uma caixinha de música, Beer apresenta todo o seu potencial para o cenário musical.

A era do álbum começou em 2021 com o lançamento do single Reckless, que age como uma carta sobre um coração partido. Madison Beer mostra como pode ser um dos próximos grandes nomes do pop, por meio de videoclipes estéticos, vocais poderosos – repletos de suspiros e harmonias –, e faixas cheias de emoção aliadas à instrumentais interessantes. Passando por tristezas amorosas, reflexões sobre a vida e sobre a família – a faixa Ryder é dedicada ao irmão de Beer – a cantora prova como seu repertório é diverso. -Laura Hirata-Vale

Faixas favoritas: Sweet Relief, Ryder, Home To Another One e Reckless


 Descrição da Imagem: Capa do disco Snow Angel. Na capa está estampado a figura da cantora Reneé Rapp, uma jovem loira, de olhos acinzentados e com o cabelo bagunçado. O fundo da tela é formado por uma cor sólida de verde escuro.
Além de sua estreia no mundo da música, Reneé Rapp também marcou presença no cinema ao interpretar Regina George na nova versão de Meninas Malvadas (Foto: Interscope Records)

Reneé Rapp – Snow Angel 

Em Snow Angel, conhecemos um lado de Reneé Rapp que permaneceu escondido por anos. Iniciando sua carreira no teatro, sua imagem já era prestigiada nos palcos, mas sua voz ainda era desconhecida pela plateia. Assinado pela gravadora Interscope, o disco conta com 12 faixas que transitam entre os gêneros pop e indie rock, e marcam as várias interrogações memorizadas pela mente da cantora durante a criação de seu primeiro álbum. 

Debatendo consigo mesma, as letras de Reneé garantem uma sinceridade de fácil identificação. Abordando temas como auto sabotagem, relacionamentos complicados e consumo de substâncias ilícitas, Snow Angel representa o questionamento pessoal da artista com as suas próprias ações. Tópicos em sua vida que ela sabe que precisa melhorar, ou não, para encontrar paz de espírito. – Ludmila Henrique

Faixas favoritas: 23, Talk Too Much e Gemini Moon 


 Capa do álbum da cantora Taylor Swift chamado Speak Now (Taylor’s Version). Na foto, a cantora usa um vestido de tecido esvoaçante e leve na cor roxa, e o recorte do vestido deixa os ombros dela de fora. O fundo é escuro mas seu rosto é iluminado suavemente por uma luz amarela. Ela é branca, tem olho azul e cabelo loiro cacheado. Ela está virada de costas e olha para a câmera por cima dos ombros.
Speak Now tem, unicamente, composições de Taylor (Foto: Republic Records)

Taylor Swift – Speak Now (Taylor’s Version)

O roxo continua predominante e o cabelo ainda está cacheado, mas não podemos afirmar que a garota na capa é a mesma: na regravação de seu terceiro álbum de estúdio, Taylor mostra-se mais madura e estável, nos levando em uma visita para sua versão jovem e intensa. Trazendo narrativas sinceras sobre descobrir seu lugar no mundo, amores efêmeros e decepções, a compositora pode até ter perdido a energia na voz que apenas uma garota de 19 anos com o coração partido pode ter, mas sempre terá a beleza de conseguir transmitir sentimentos tão lindos em forma de canção.

Speak Now (Taylor’s Version) ajusta-se aos tempos atuais, como mostra a modificação da letra Better Than Revenge, e ainda consegue trazer novas faces dessa Swift jovem e sexy com I Can See You (From The Vault). Por ser um álbum de carinho e apreço pelos fãs, foi a primeira vez que sentimos que o tempo passou de fato – seja pela voz, pelas memórias ou quando paramos para pensar que quase 13 anos separam desde o primeiro lançamento.  – Clara Sganzerla

Faixas favoritas: Dear John, Long Live e Back To December


A capa de Something To Give Each Other mostra a cabeça de Troye Sivan, homem branco com cabelo descolorido, no meio da pernas de um homem branco, olhando pra frente de olhos fechados e sorrindo
A capa de Something To Give Each Other reflete muito bem os temas do disco (Stuart Winecoff/ Universal Music)

Troye Sivan – Something To Give Each Other

Após a introspecção de Bloom, Troye Sivan retorna em 2023 com Something To Give Each Other, um álbum que celebra a euforia da pista de dança e o desejo ardente pelo calor humano. Se em Blue Neighbourhood conhecemos um jovem ainda inseguro sobre sua sexualidade, agora encontramos um artista maduro e confiante, que canta com propriedade sobre seus desejos hedonistas.

Rush, o primeiro single do álbum, é a porta de entrada para esse mundo de prazeres. A faixa contagiante nos convida a sentir a mesma euforia que Troye experimenta nas baladas. Mas, o disco vai além da pura festa. Romance e sexualidade são explorados sem tabus, com foco na intimidade entre duas pessoas. Em What’s The Time Where You Are?, o artista canta: “Eu estou bem em esperar se tudo estiver dito e tudo estiver feito / Você sabe que eu te entendo do jeito que você me entende, baby”.

Além de seu lirismo, a produção de Something To Give Each Other é outro ponto forte. As batidas precisas e as ambientações envolventes transportam o ouvinte para diferentes planos. Faixas como One Of Your Girls e Still Got It demonstram a inteligência e a criatividade de Troye Sivan, que entrega um álbum rico em detalhes e com uma sonoridade original, o que o torna um dos destaques de 2023. -Arthur Caires

Faixas favoritas: Silly e One Of Your Girls


Capa do disco Sunburn. Na capa temos a figura de uma jovem branca, com sardas e cabelo liso meio alaranjado. Ela está com bolinhas brancas pintadas no rosto e vestindo um biquíni vermelho. Ao seu lado está a figura das costas de outra moça, também branca e loira. Na parte inferior da capa está escrito “Sunburn”, em letras escuras e um fundo amarelo. Ao fundo da capa é visível algumas palmeiras e um céu azul. Por cima da imagem, tem várias colagens quadriculadas com estampas diferentes.
O single Mona Lisa entrou na trilha sonora oficial de Homem-Aranha: Através do AranhaVerso (Foto: Columbia Records)

Dominic Fike – Sunburn 

Alerta! Sunburn pode ocasionar queimaduras de segundo grau, agarre seu fone de ouvido e se proteja do sol. Revisitando o sul da Flórida, Dominic Fike despeja em ritmos funkeados todas as incertezas que percorreu até conquistar seu lugar no cenário musical. Sendo o segundo álbum do artista, Fike permanece com a sua característica central de divagar por vários gêneros, remetendo sonoridades que atravessam o indie rock e mergulham no rap. A composição do disco transfere melodias dançantes, mesmo que as palavras descritas pelo cantor sejam de extrema consternação

Em soma com o baterista Henry Kwapis (Dijon) e os produtores Devin Workman e Jim-E-Stack, Sunburn contempla 15 faixas sobre a vida de Dominic em sua cidade natal. Uma história carregada de arrependimentos, vícios, sexo e drogas. O disco leva a sonoridade de uma visita indesejada ao passado. Uma reconciliação do artista consigo mesmo, algo que ele precisa deixar para trás, para poder caminhar em direção ao sol. – Ludmila Henrique

Faixas Favoritas: Sunburn, Bodies e Mona Lisa 


Capa do álbum Sundial. O fundo é preto e possui pequenos pontos brancos. Ao centro, aparece Noname distorcida. Noname é uma mulher adulta negra de cabelo longo preto. Ela está usando uma regata preta, um batom roxo e brincos de argola.
Sundial é uma ode aos que não levam desaforo para casa (Foto: Noname, Inc)

Noname – Sundial

Diante de um cenário musical composto majoritariamente por ensaboados, a artista Noname rejeita a arte limpa e imparcial ao fazer de Sundial, seu segundo álbum de estúdio, uma celebração provocativa da inconstância humana. Ademais, o disco apoia suas batidas típicas do neo soul em letras cuja essência política garante autenticidade a um trabalho que joga pedras e não teme ser apedrejado também. 

O objetivo de Sundial é causar desconforto em uma indústria condizente com  discursos vazios e silêncios ensurdecedores. Apesar dessa conjuntura monótona, algumas musicistas principalmente do hip-hop, como Little Simz e a própria Noname, aventuram-se pelo teor crítico ao transcrever angústias e questionamentos no papel. Este, por sua vez, é amassado com o intuito de nunca mais voltar a ser o que era antes. Enquanto certos artistas abusam de jatinhos particulares, a criadora de Sundial é quem, de fato, voa para longe da mediocridade e da inércia.  – Ana Cegatti

Faixas favoritas: boomboom, namesake e hold me down


Capa do álbum SUPER, de Jão. A imagem é uma fotografia, tirada durante o dia em uma fazenda. Ao fundo, na parte superior, vemos um terreno com pastos e árvores e um céu azul sem nuvens. Na metade inferior, vemos três cavalos do lado esquerdo, dois marrons e um branco. Ao centro, vemos ao longe o cantor Jão, um homem branco, aparentando cerca de 25 anos, com cabelos loiros, sem camisa, vestindo uma calça jeans com um estrela vermelha ao centro, em pé em cima de uma estrutura de madeira e abrindo os braços na diagonal. À esquerda dele, no chão, vemos mais dois cavalos marrons e um branco.
Depois de quatro álbuns, Jão acertou em uma capa bonita (Foto: Universal Music)

Jão – SUPER

Se você escutar SUPER e estranhar já ter escutado essa história antes, é porque Jão retoma todas as suas aventuras até aqui para fechar um ciclo de cinco anos com seu quarto álbum. O artista do interior começou a até que recente carreira falando sobre amores, ilusão e desilusão, desejo de alcançar seus sonhos mais ambiciosos e de sair de uma cidade pequena para se descobrir na metrópole paulista. No quarto capítulo, os temas retornam e, apesar de soarem repetidos, fazem um apanhado de todo o período da casa dos 20 anos para finalmente se concluírem e abrir portas para novas descobertas.

A sonoridade vem mudando discretamente desde Lobos (2018), disco de estreia de Jão, e se torna mais fresca a cada nova empreitada. Embora algumas canções, como Julho e Me Lambe, já viraram fórmula, Gameboy, Eu Posso Ser Como Você e Sinais mostram que o cantor e sua equipe fiel de colaboradores bebem de referências novas, em busca de revitalizar o som, à medida que o tema permanece. Agora, mais ousado, mas não menos abalado pelos amores deixados pelo caminho, Jão faz de SUPER a despedida de uma trajetória grandiosa, para começar uma maior ainda, dessa vez em palcos de arenas. – Vitória Gomez

Faixas favoritas: Escorpião, Se O Problema Era Você, Por Que Doeu Em Mim? e Locadora


Capa do disco Tension de Kylie Minogue. Na arte de capa, Minogue, uma mulher australiana, branca, de cabelos e olhos claros, encara a câmera enquanto segura um diamante com uma das mãos que, por sua vez, encobre um de seus olhos. Ao fundo, a cor predominante é laranja e uma luz verde encobre a cantora, fotografada dos ombros para cima. Na parte superior da capa, está o título do álbum, Tension, e, na parte inferior, o nome dela, Kylie
O lead single de Tension, Padam Padam, conquistou o Grammy de Melhor Gravação Pop Dance, categoria inédita de 2024 (Foto: Darenote)

Kylie Minogue – Tension

Era uma quinta-feira à noite em meados de maio de 2023 quando o falecido Twitter, agora X, começou a emitir sinais de Padam Padam. Desse momento até o lançamento do disco Tension, muita expectativa foi criada em forma de vídeos virais sobre os próximos passos de Kylie Minogue. A partir da adaptação moderna da onomatopeia para batimento cardíaco popularmente entoada por Edith Piaf, a rainha absoluta do dance pop acrescenta 13 faixas que chegam até a ser perigosas para os órgãos vitais, afinal, nem mesmo as baladinhas românticas diminuem a vontade de dançar.

Como em uma tentativa destemida de quebrar a tensão superficial da água, a artista mergulha de cabeça no melhor das noites australianas para o seu tão aguardado décimo sexto álbum de estúdio. Os ápices da produção envolvem a junção de instrumentos como o baixo e o saxofone às batidas programadas, ao passo em que as composições explodem em cores e ganham um lugar especial em Las Vegas. De olho em um diamante no horizonte enquanto assume a despretensiosidade do gênero, Tension é tudo o que nós amamos sobre Kylie Minogue. – Nathalia Tetzner

Faixas Favoritas: Padam Padam, Vegas High e Love Train


Capa do disco Terapia, de Ebony. Nele, vemos duas versões da cantora, uma mulher negra de tranças loiras. A primeira, mais a frente, é uma doutora e veste um vestido curto branco, um jaleco branco, saltos brancos e óculos. Ela segura uma prencheta na mão direita, está com a mão esquerda na cintura e olha para a câmera. A segunda versão está logo atrás, sentada em uma cadeira vermelha. Ele veste um topo preto de couro, uma saia preta de couro e um coturno preto. O fundo da imagem é amarelo.
Em Terapia, Ebony atende mulheres bem resolvidas em consulta privada (Foto: Heavy Baile Sounds)

Ebony – Terapia

Jovem e pronta para ocupar todo e qualquer espaço na cena do rap e hip hop, Ebony chegou com os pés na porta e ofereceu a todos aqueles que estão insatisfeitos com sua presença na cena uma bela Terapia. O disco é audacioso e funciona quase como uma descrição em detalhes da artista, com todos os seus pensamentos, gostos e a grande indiferença sobre a opinião masculina expostos e rodeados por um ritmo viciante. 

Em faixas intituladas com termos da psicologia, como acontece em Pensamentos Intrusivos, Sem Neurose e Paranóia, moram letras escritas por alguém que vai conquistar o que quiser. Apesar de soar como, isso não é um exagero, Ebony sabe exatamente o que deseja e como conseguir, afinal, ela é independente, sincera e “megalomaníaca com o mundo na palma da mão”. Quem procura um álbum de quem está no corre e não vai parar tão cedo, deve procurar Terapia. – Jamily Rigonatto 

Faixas favoritas: Lei da Atração, Obcecada e Sem Neurose


Capa do álbum The Age of Pleasure da cantora Janelle Monáe. A imagem é quadrada e engloba a foto da cantora nadando embaixo das pernas de várias pessoas, como em um túnel. Ela é uma mulher negra, com cabelos escuros e longos. As pessoas que estão na imagem são captadas até suas cinturas debaixo d’água e com sungas e maiôs diversos, enquanto a cantora está sem roupas com tarjas em seus seios. Ao topo está o nome do álbum e no centro inferior seu nome em letras amarelas.
Janelle Monáe testou The Age of Pleasure onde deveria ser ouvido: festas em Wondaland West, sua sede criativa em Los Angeles (Foto: Bad Boy Records)

Janelle Monáe – The Age of Pleasure

The Age of Pleasure, o mais recente álbum de Janelle Monáe, é uma celebração do verão, da liberdade e do prazer. Uma antítese aos seus últimos trabalhos sci-fi distópicos, mantendo sua qualidade singular. Com canções nomeadas após coquetéis de champanhe, Monáe constrói uma mistura alegre de reggae, afrobeat e soul e a descreve como a trilha sonora de um estilo de vida.

A colaboração com artistas como Grace Jones, Sister Nancy e Amaarae mesclam o frescor de um dia ensolarado e de altas temperaturas, com a calmaria da senioridade. E, merecidamente, renderam as indicações de Álbum do Ano e Melhor Álbum de R&B Progressivo na 66ª Edição Anual do Grammy – Henrique Marinhos

Faixas Favoritas: The Rush (feat. Nia Long & Amaarae), Chapagne Shit e Haute


Capa do CD The Beggar. Fotografia quadrada de fundo bege. Ao centro vemos a ilustração de um coração inteira em preto e branco, com a exceção de um detalhe em vermelho na parte de cima. O desenho está estampado em um fundo de papel cartão, de cor bege.
Com mais de 40 anos de vida, o coração de Swans ainda pulsa forte (Foto: Young God Records)

Swans – The Beggar

Uma odisseia sobre a vida, a morte, e tudo que as aproxima. The Beggar é o 16º álbum lançado sob o nome do Swans, grupo estadunidense regido por Michael Gira, e apresenta um retorno a diversos territórios musicais explorados pelo artista no passado. Assim como na maioria dos trabalhos de Gira, o foco da obra é envolver o ouvinte em uma atmosfera imersiva sempre hipnotizante e ameaçadora, ainda que inundada com momentos etéreos e deslumbrantes. É possível ouvir traços de várias das facetas do compositor, passando pelo folk e americana do Angels Of Light, os ritmos pulsantes de The Great Annihilator (1995), além de uma psicodelia reminiscente de Syd Barrett em Ebbing.

Por mais que muito do que se ouve no álbum são – forçando muito a definição – canções, o enorme elefante no meio da sala é The Beggar Lover (Three), penúltima faixa do disco, que conta com mais de 43 minutos de duração. Essa monstruosidade remete a outro projeto de Gira denominado The Body Lovers, o qual tinha como maior motivo a experimentação extrema com o som. A música é essencialmente uma colagem sonora abstrata que inclui passagens coletadas de outros trechos do álbum e até de discos anteriores da banda, distorcendo e brincando com a memória dos fãs familiarizados com esses momentos. Ainda assim, existe uma coesão e uma dinâmica cativantes, além da sonoridade trazer um poderoso contraste às outras faixas.

Michael Gira – com quase 70 anos de idade no lançamento do disco – deixa claro nesta obra que enxerga o fim de sua vida como algo próximo, cantando letras que contemplam e refletem sobre a morte e a efemeridade da vida humana como um todo. Mas aqui, isso não se dá como algo alarmante ou desolador; o artista está em boas relações com seu desfecho e mostra aceitar o inevitável, parecendo até desejá-lo em alguns momentos. Mesmo não se tratando de uma canção do cisne para a banda, The Beggar representa o fim de um imenso ciclo, sendo a conclusão e culminância de tudo que o grupo já produziu e entregou por todos esses anos. – Leandro Santhiago

Faixas favoritas: No More of This, Michael is Done e Ebbing


Capa do disco The Bones of What You Believe (10th Anniversary Special Edition), da banda escocesa CHVRCHES. A imagem é uma ilustração. Sobre um fundo vermelho, vemos um círculo listrado em preto, azul, vermelho e rosa. Sobre o círculo, existem linhas que fazem um X preto. Ainda há uma faixa horizontal vermelha, no centro da imagem, que traz o nome da banda, do disco e os dizeres “10 YEAR ANNIVERSARY EDITION”.
Completar uma década de lançamento é algo a se comemorar! (Foto: Glassnote Entertainment Group)

CHVRCHES – The Bones of What You Believe (10th Anniversary Special Edition)

O que é melhor do que um aniversário? Foi com essa razão que a banda escocesa CHVRCHES lançou o disco The Bones of What You Believe (10th Anniversary Special Edition). Originalmente distribuído em 2013, o primeiro álbum da banda traz uma diversidade de vertentes do pop, como o electropop, o synthpop e o indie pop. O trio formado por Iain Cook, Lauren Mayberry e Martin Doherty trouxe adições ao trabalho original, por meio de versões gravadas ao vivo e de canções inéditas, compostas durante o processo inicial de criação do trabalho. 

Durante a edição comemorativa de The Bones of What You Believe, CHVRCHES se diverte com sintetizadores, baterias eletrônicas e vocais agudos. Espirituosas, as faixas possuem batidas agitadas – porém, a parte lírica nem sempre as acompanha, por tratarem de diversos assuntos. Com muita animação, as músicas dão vida ao disco, e mostram o quão atual o synthpop pode ser. – Laura Hirata-Vale

Faixas favoritas: The Mother We Share, Recover e City On Fire


Capa do álbum The Land Is Inhospitable and So Are We, de Mitski. Na imagem, temos uma foto retangular que msotra Mitski, uma mulher nipo-americana de cabelos pretos. Ela está sentada no chão com os braços para cima e os joelhos levantados. A foto está em preto e branco. Ao fundo, uma cor salmão. Na parte de cima, em letras estilizadas laranjas está escrito "Tha Land Is" e abaixo da foto, também estilizado em laranja, está escrito "Inhospitable and So Are We".
Ao mesmo tempo que somente dela, o amor de (e para com) Mitski é de todos [Foto: Dead Oceans]
Mitski – The Land is Inhospitable and So Are We

Nem em seus sonhos mais esperançosos Mitski esperava alçar voos tão altos com seu último disco, chegando a figurar no top #1 da Spotify Today’s Top Hits Playlist. A proeza se torna mais irônica quando esse lugar foi conquistado justamente com o trabalho que ela menos tinha a intenção de hitar. The Land is Inhospitable and So Are We é a aposta mais sóbria da nipo-americana após as doses de euforia e endorfina proporcionadas por Be the Cowboy (2018) e Laurel Hell (2021).

Mergulhando fundo no vazio de seu âmago, a cantora abdica de uma produção robusta e segue neste trabalho investindo no reducionismo musical. Apenas com guitarras uníssonas e violões acústicos que beiram o country, suas músicas dão uma sensação de galpão vazio, noites solitárias e chuva pela janela. Esse aspecto de falta é preenchido com uma poesia extremamente sofisticada, fazendo com que The Land is Inhospitable and So Are We funcione quase como um sarau, no qual Mitski pode comprovar sua competência como letrista. Para falar de amor e amar novamente, a artista teve que expulsar todos de seu coração e, sozinha, fazer uma faxina nele, mas no fim, nossa alma que é lavada. – Guilherme Veiga

Faixas favoritas: Bug Like an Angel, My Love My All Mine e The Frost


Carly Rae Jepsen abraça a experimentação musical com confiança e euforia (Foto: Interscope Records)
Carly Rae Jepsen, mulher branca e loira de cabelos longos, usando um top e saia cinza brilhantes de costas para um balcão, onde apoia os cotovelos e a cabeça inclinada para trás, olhando para cima, em um fundo amarelo sóbrio com sombras.

Carly Rae Jepsen – The Loveliest Time

Após o introspectivo pandêmico The Loneliest Time, de 2022, Carly Rae Jepsen retornou com The Loveliest Time em 2023, um disco expansivo e vibrante que celebra a superação, a experimentação e a alegria de viver intensamente. Se o primeiro era um álbum conciso e focado em regras, este é o ‘parque de diversões’ de Jepsen, onde ela se diverte explorando diferentes estilos e sonoridades. 

A deliciosa Shy Boy, primeiro single da era, abriu o caminho para uma jornada musical que transborda energia e positividade. A autorreflexão ainda está presente, como na melancólica Kollage, mas agora surge como resultado das novas experiências vividas pela cantora e não mais como uma resposta dela a eventos externos 

Destaques como a dançante Psychedelic Switch e a divertida Come Over capturam o sentimento de euforia e entusiasmo que acompanha o início de um novo ciclo ou relacionamento. Momentos como Aeroplanes e Put It To Rest podem soar menos memoráveis, mas não chegam a prejudicar a experiência geral do álbum. The Loveliest Time é um convite a celebrar a vida e a aproveitar cada momento. Carly Rae Jepsen se entrega à experimentação musical com confiança, criando um álbum coeso, divertido e cheio de personalidade. -Arthur Caires

Faixas favoritas: Psychedelic Switch e Come Over


Fotografia da capa do álbum. A imagem mostra três mãos, de cada integrante do trio, estendidas para cima, com o céu azul de fundo e a luz do sol avançando sobre a foto no canto inferior direito. Da esquerda para a direita, a primeira mão tem uma tatuagem, entre outras várias, do desenho de um dente. As outras duas mãos estão viradas para a frente, evidenciando a mesma tatuagem de um dente do lado interior do pulso.
O trio mais querido de indie rock do momento deixou sua marca com o lançamento do antecipado álbum de estréia (Foto: Interscope Records)

boygenius – the record

Julien Baker, Phoebe Bridgers, e Lucy Dacus uniram forças novamente em 2023, após o sucesso do trio com o EP autointitulado em 2018. Com suas carreiras solo em ascensão e cada uma se consolidando como algumas das vozes mais relevantes do circuito indie, essa reunião se torna ainda mais especial. O amor e admiração que sentem uma pela outra e as move a criar juntas transparece em cada faixa do álbum, dando ao ouvinte a sensação de poder espiar algo íntimo.

A força do grupo está na união dos estilos distintos da composição de cada integrante. É possível reconhecer os processos individuais ao longo do álbum, ao mesmo tempo que conquistam uma harmonia mágica. Apesar da instrumentação potente, o letricismo é o ponto mais alto do disco. A última faixa cria um paralelo com o destaque do EP, Me & My Dog, dando uma nova perspectiva, agora mais madura, à letra da música e, consequentemente, à trajetória do trio. – Giovanna Freisinger

Faixas favoritas: Cool About It, Leonard Cohen e Letter To An Old Poet


Capa do álbum The Rise and Fall of a Midwest Princess, de Chapell Roan. Nela, temos a cantora, uma mulher branca de cabelos ruivos. Ela veste um vestido de gala azul, uma faixa de miss branca escrita "CHAPPEL" em dourado. Ela segura um buquê de flores e olha para a foto com olha triste. Ao fundo, vemos um camarim, com uma penteadeira iluminada e várias maquiagens jogadas.
Chappel Roan tem conquistado seu lugar ao sol como ato de abertura da GUTS World Tour (Foto: Island Records)

Chappel Roan – The Rise and Fall of a Midwest Princess

 pop está naturalmente ligado às grandes metrópoles, seja pelo veraneio hollywoodiano, pelo ar cosmopolita nova-iorquino ou até por conta do clima chuvoso londrino, casa da descendente de albaneses Dua Lipa. Mas se engana quem pensa que as histórias mais identificáveis com os adolescentes do mundo acontecem apenas nos perímetros das megacidades. Foi com Chappel Roan, natural de Willard, cidade perdida no meio do Wisconsin de pouco mais de 6.000 habitantes, que saiu um dos melhores álbuns do gênero em 2023.

The Rise and Fall of a Midwest Princess é sobre a incompletude de sentimentos, querer tentar a vida nos grandes centros, mas ter um enorme vazio suprido pela cidade pequena, e no fim, estar confortável nas turbulências da ponte-aérea. Roan é fruto de Dan Nigro, que posteriormente também seria catapultado com o sucesso de Olivia Rodrigo, razão essa pela qual o álbum demorou tanto que já nasceu com nove músicas tendo vida própria. De todas as incertezas da artista, ser uma one hit wonder não estava em seus planos, fazendo com que o disco como um todo seja a cola que aglutina todos os cacos de uma mulher demolida pelas inconstâncias da vida adulta. – Guilherme Veiga

Faixas favoritas: Feminomenon, Pink Pony Club e Casual


Capa do álbum The Show, de Niall Horan. Niall veste uma camiseta branca com as mangas dobradas até a metade do antebraço e descansa a cabeça em seus braços apoiados no peitoril de uma janela. Ele olha para cima, observando as letras amarelas com sombreado vermelho no vidro que formam a palavra The Show. Na parte de baixo da capa está escrito Niall Horan também em amarelo com sombreado vermelho.
O terceiro álbum solo de Niall Horan marca a carreira promissora do cantor (Foto: Universal Music Group/Capitol Records)

Niall Horan – The Show

“Segure firme e prepare-se para a viagem”, assim Niall Horan nos convida a embarcar em seu show e aproveitar cada minuto. No terceiro álbum do ex-integrante da boyband One Direction, nos é apresentado um amadurecimento em sua forma de compor e no uso de sua voz, o que reflete em uma coletânea de músicas profundas e cheias de significados. Com melodias sustentadas principalmente por bateria, baixo, piano e muitas harmonias vocais, The Show explora o sentimentalismo e se consolida como o melhor álbum da carreira solo do artista até o momento.

Após a apresentação de faixas como Meltdown, com diferentes elementos em sua mixagem e um ritmo acelerado, o álbum adquire um tom mais íntimo em You Could Start A Cult, na qual o cantor basicamente se declara a voz e violão e em Science, com o arranjo perfeito entre piano, violoncelo e a melodia cantada. The Show é o tipo de composição que te faz querer dançar, emociona e faz refletir, mas, ao mesmo tempo, também é uma produção que podemos apenas ouvir e sentir, seja a partir da letra, dos instrumentos ou da voz de Horan. – Gabriela Bita

Faixas Favoritas: Science, On A Night Like Tonight e If You Live Me


 Da esquerda para direita, Taylor York, Hayley Williams e Zac Farro. Os três estão com os rostos encostados em um vidro embaçado e úmido, causando expressões esmagadas.
Com aquele gostinho de um Paramore dos anos 2000 misturado com novos elementos musicais, “This Is Why” fala da ansiedade de viver no mundo atual, homens babacas e dificuldades no amor. (FOTO: Atlantic)

Paramore – This is Why

Todo jovem que cresceu nos anos 2000 curtiu os maiores singles do Paramore. Em This is Why, a banda revive o estilo pop-punk clássico, com uma bateria agitada e uma certa aspereza nos vocais de Hayley Williams. Porém, tudo com modernidade e novidades que fazem o ouvinte lembrar um pouco de bandas como Talking Heads – como na track C’est Comme Ça.

Lançado em fevereiro de 2023, o sexto álbum da banda possui composições fortes, com letras que refletem o contexto conturbado e intenso de um mundo pós-pandêmico, fazendo o ouvinte se identificar facilmente. É possível até notar uma certa amargura em algumas das letras, como no single que leva o nome do álbum – “Se você tem uma opinião, talvez você devesse engoli-la. Ou talvez você devesse gritar, mas pode ser melhor guardar para si”. Além disso, o grupo aborda tópicos mais pessoais, como o amor e suas complexidades, as consequências de tentar salvar pessoas e o sofrimento de cometer os mesmos erros.Marina Barrelli de Carvalho

Faixas favoritas: Big Man, Little Dignity; The News e Liar


Capa do álbum Time Will Wait For No One de Local Natives, a capa mostra os integrantes da banda: Taylor Rice, Kelcey Ayer, Ryan Hahn, Matthew Frazier e Nik Ewing em um ambiente industrial, cercado de um fundo amarelo com o título em laranja
O novo álbum de Local Natives é criativo e suave, com músicas que colam na cabeça. (Foto: Loma Vista Records)

Local Natives – Time Will Wait For No One

Com músicas doces e fáceis, o novo álbum do Local Natives revela quão poderosa pode ser a música Indie. As faixas são atrativas como um imã, contam com ritmo bem cadenciado, e suas as letras “decoráveis” transformam Time Will Wait For No One em um álbum imersivo e muito charmoso. A melodia é doce, tem um forte ar de reflexão que combina com os temas abordados que vão de relacionamentos a eventos comuns da vida.

A banda, que estreou em 2009 com o álbum Gorilla Manor, tem o seu quinto lançamento depois de um hiato causado principalmente pela pandemia de Covid-19. O potencial da banda nesse retorno foi explorado do melhor jeito possível, usando corais e guitarras de um modo muito harmônico, produzindo algumas das melhores músicas do gênero neste ano, como Paper Lanterns e Desert Snow. – Guilherme Dias Siqueira

Faixas favoritas: Paper Lanterns, Desert Snow e Empty Mansions


Capa do disco UM quebrada iteligente, de Kyan e Mu540. Na fonto estão, da esquerda para a direita, Kyan, um homem negro de cabelo encaracolado curto. Ele veste uma camiseta preta e jaqueta preta. Ele está um pouco abaixado e seguro o óculos escuro com a mão direita. Ao lado temos Mu540, um homem pardo de cabelo curto. Ele também veste camiseta preta, jaqueta preta e óculos escuro. No canto superior direito, em dourado, está escrito "UM QUEBRADA INTELIGENTE". No lado esquerdo, há um símbolo de proibido menores de 18 anos, e centralizado na parte de baixo, também em dourado, está escrito "KYAN & MU540"
Kyan e MU540 juntos são “tipo, sonho de consumo!” (Foto: EHXIS)

Kyan & Mu540 – UM Quebrada Inteligente

Agradando os fãs de Oakley e os mandrakes de todo o Brasil, Kyan e MU540 trouxeram os beats da periferia aos holofotes com UM Quebrada Inteligente. O disco, lançado em Julho de 2023, contempla diferentes estéticas em um trabalho genuinamente singular. Na genialidade de quem vem das favelas, as letras passeiam por temáticas raciais, ascensão social e muita descontração.   

Ambos os artistas foram criados na Baixada Santista e a parceria é não só um encontro de vivências, mas uma reunião de dois elementos importantes das produções rap funk: o MC e o DJ. A composição conta com sete faixas que elevaram o nível do trabalho dos músicos, que já tinham colaborado diversas vezes antes, como em Dias Antes de Mandrake. Vale lembrar que dessa vez a colaboração se aprofunda e a importância dos vocais, letras, mixagem e edição é equiparada, fazendo com que cada elemento seja essencial.

Ainda que seja o resultado de um reencontro, a forma de UM Quebrada Inteligente é completamente nova, sendo impossível colocá-la em uma só categoria: ela é o funk, o rap, o drill, o house e muito mais. Acima de elementos musicais, o que se destaca na produção é cultural, como as roupas que fazem sucesso nas comunidades ou as gírias escolhidas nas letras. Em suma, fica a certeza de que esses ‘quebradas’ são realmente inteligentes e sabem fazer música como ninguém. – Jamily Rigonatto 

Faixas favoritas: tipo, sonho de consumo!, brinks! e Fantástico Mundo da Oakley


Capa do álbum Unreal Unearth, de Hozier. Nela vemos uma boca masculina emergindo da terra, ela está segurando uma margarida com os dentes. No cantio superior esquerdo, em letras estilizadas está escrito "Hoziier" e logo abaixo, "Unreal Unearth".
Renascendo dos mortos, Hozier prova que tem muito o que viver (e cantar) [Foto: Rubyworks Records]
Hozier – Unreal Unearth 

Se para Alceu Valença, a voz do anjo sussurra em seu ouvido, para Hozier, o tom angelical é uma extensão de seu próprio corpo, e precisa ser gritado. Após o sucesso astronômico e viral de seu autointitulado e do incompreendido Wasteland, Baby!, o irlandês ressurge do subsolo dos metrôs e, carregado de referências e incertezas, nos pega pela mão para uma jornada inversa de céu-inferno. 

Nas palavras do artista, o álbum representa uma “jornada dos últimos anos e de tudo que foi contado na época”. Dessa forma, Hozier recria o inferno do Dante e o traz para o período pandêmico e para os dilemas modernos. Embebido em vinho e literatura italiana, ele compõe sua própria poesia barroco-renascentista e a incorpora no seu já característico folk de deixar o coração quentinho. Falando de amor, melancolia e desespero, suas músicas nesse trabalho soam como parábolas e provam o porquê de ele ser visto como o Jesus da indústria fonográfica. – Guilherme Veiga

Faixas favoritas: Abstract (Psychopomp), All Things End e Francesca


Capa do álbum UTOPIA, de Travis Scott. O fundo é preto e, focado no lado inferior direito, vemos o próprio artista. Ele é um homem negro com tranças no cabelo. Travis está sem camisa e tanto o seu torso quanto seus braços possuem tatuagens espalhadas. Ele usa uma calça preta e um grande cinto prateado. Temos a impressão de que ele está dançando, com um dos braços levantados e com o olhar direcionado para baixo. No canto inferior direito, encontra-se o selo de parental advisory.
Enquanto ASTROWORLD trouxe o espetáculo, UTOPIA traz sutileza e inovação (Foto: Cactus Jack/Epic Records)

Travis Scott – UTOPIA

Não é preciso dizer que Travis Scott é um dos artistas mais influentes do rap moderno. Por meio de sua estética psicodélica, ele conseguiu construir uma identidade que muitos outros rappers tentam seguir. Entretanto, depois do desastre no Astroworld Festival em 2021, sua imagem foi gravemente manchada. É por isso que UTOPIA, o tão aguardado quarto álbum de estúdio de Travis e seu primeiro lançamento desde então, não poderia se dar ao luxo de ser nada além de um grande avanço musical na carreira do artista, e ele cumpre o prometido.

Da mesma forma que Rodeo lapidou o som de suas mixtapes, UTOPIA rejuvenesce a discografia de Travis. O álbum expande seu som sem mudá-lo drasticamente – seus vocais são tão distorcidos quanto eram há dez anos, mas fica claro que, dessa vez, o rapper não hesitou em fazer uso de elementos até então incomuns em seu trabalho. Somado ao fato de que o disco conta com um time de estrelas como colaboradores, que vão desde Beyoncé e (claro) Kanye West até Bon Iver, UTOPIA se mostra como um projeto que tem tudo o que precisa para tirar o artista da maré baixa em que esteve. – Raquel Freire

Faixas favoritas: DELRESTO (ECHOES) (feat. Beyoncé), CIRCUS MAXIMUS (feat. The Weeknd & Swae Lee) e TELEKINESIS (feat. SZA & Future)


Capa da mixtape VERÃO CRIMINOSO, do selo Gigantes, fundado pelo rapper BK. Imagem quadrada e colorida. Nela, vemos um desenho de cenários distintos em que diferentes pessoas interagem entre si. Ao centro, vemos a única figura isolada: uma mulher, que desfila em uma passarela acinzentada. Ela é iluminada por holofotes e usa no rosto uma máscara amarela com um rosto sorridente. Outras pessoas ao redor da imagem usam a mesma máscara, incluindo, mais a frente, um garoto em cima da garupa de uma moto, conduzida por um homem de capacete, enquanto aponta uma pistola para o céu. Junto a eles, vemos outros garotos fumando e conversando durante um churrasco. E ao fundo, quase escondido por uma camada de sombra, pode-se ver um grupo de pessoas filmando e fotografando dois policiais que abordam e revistam dois meninos negros.
O lançamento do selo Gigantes segue os moldes do projeto Revenge of The Dreamers, da Dreamville – gravadora de J. Cole (Foto: Babylon/Gigantes)

BK, JXNV$, Gigantes – VERÃO CRIMINOSO

Quando BK anunciou em 2021 sua saída da Pirâmide Perdida para fundar um selo próprio, concretizava-se não só um movimento de mercado, mas uma mudança de filosofia. A mensagem do rapper extrapolava a música e, agora, encubia-se a missão de transformar a indústria por dentro. Os primeiros vislumbres dessa alçada finalmente vêem a luz do dia em VERÃO CRIMINOSO. Com 18 faixas, a mixtape introduz ao público as principais apostas da gravadora, concomitante a uma fina curadoria e à colaboração dos maiores artistas da cena musical periférica – de Djonga a João Gomes.

Em dissonância ao nome dado ao selo – Gigantes, homenageando o mais emblemático dos discos de Abebe Bikila –, o que a mixtape tem de arrojada, tem de despretenciosa. É refrescante observar, depois de tanto tempo, BK se distanciar da atmosfera densa de seus trabalhos solo para entregar versos indecorosamente ácidos, cômicos e sensuais. O que torna esse projeto especialmente empolgante é como, mais do que uma nova investida capitaneada pela figura mais relevante da última geração do hip-hop brasileiro, VERÃO CRIMINOSO é, essencialmente, uma reunião entre amigos brincando dentro do estúdio. – Enrico Souto

Faixas favoritas: FASE BOA, CABELO VOA e ESCURINATTI


Na capa de Vício Inerente, Marina Sena, mulher branca de cabelos morenos, está dentro de uma quadrado de bordas cinzas metálicas, e dentro do quadrado Marina está sentada com os joelhos no chão, olhando para cima de olhos fechados e segurando uma concha na altura dos ouvidos. No fundo é possível observar prédios de uma cidade em tons azul escuros.
Na capa de Vício Inerente, Marina Sena destaca seu contato com uma vida mais urbana e retro futurista (Foto: Fernando Tomaz/ Sony Music Entertainment)

Marina Sena – Vício Inerente

Após o sucesso estrondoso de Por Supuesto, Marina Sena deixa o interior de Minas Gerais para trás e se reinventa na capital paulista com seu segundo álbum, Vício Inerente. A mudança de ares se reflete na sonoridade do disco, que abandona o tropicalismo do primeiro álbum para mergulhar em uma estética mais eletrônica e urbana. Essa transição representa não apenas a adaptação da artista à nova realidade, mas também sua busca por constante reinvenção.

Mesmo inserida no meio mainstream, Marina Sena se destaca por sua forma única de abordar temas como sensualidade e desejo. As letras do disco são inteligentes e carregadas de sofisticação, fugindo do clichê e da repetição de senta, quica e maceta. A voz ofegante e anasalada da cantora cria uma atmosfera íntima e sensual, convidando o ouvinte a participar do flerte, especialmente nas faixas Que Tal e Mais de Mil.

Em meio à temática libidinosa que permeia o disco, Mande um Sinal e Pra Ficar Comigo transcendem e revelam o lado sonhador da artista. Nessas faixas, a voz de Marina Sena brilha com ainda mais força, revelando sua potência e versatilidade como cantora. Por isso, Vício Inerente é, sem dúvida, um trabalho original e refrescante que consolida a mineira no cenário pop brasileiro. – Arthur Caires

Faixas favoritas: Mande um Sinal e Mais de Mil


Capa do álbum Yin Yang, de Tasha & Tracie. Na foto, vemos quatro pessoas negras sentadas em roda ao redor de uma mesa. São dois homens e duas mulhers, de forma que um homem está de frente para o outro e as mulheres também de frente. Cada casal veste uma cor de roupa, um está de branco e o outro de preto, simbolizando yin e yang. Na mesa, de cor preta, vemos alguams barcas de sushi e bebidas. Eles estão em um quarto tipicamente japonês, com chão de madeira.
Apaixonadas como sempre, Tasha e Tracie fazem de Yin Yang sua declaração. (Foto: Altafonte Music Rights)

Tasha & Tracie – Yin Yang

Considerado o retorno de Tasha e Tracie na música após problemas com sua gravadora, Yin Yang é leve e animado. As composições, que falam muito sobre o amor, são divididas com os namorados das cantoras Kyan e Rapper Gregory, o que faz jus ao significado de complemento do símbolo que nomeia o disco. Entre os tons de declarações românticas e muita ostentação. com direito a citação das marcas de moda que encantam a periferia, o projeto musical é autêntico como as gêmeas. 

Direcionado principalmente ao rap, o álbum traz as letras em prosa, dando praticamente certeza de que os beats acompanham as falas e, não, o contrário. Assim, as faixas parecem perfeitamente encaixadas na voz das artistas, que se mostram insubstituíveis e donas de tudo o que cantam como se criassem um novo gênero. Ao fim, essa é uma conclusão plausível para algo tão singular e cabível no que elas mesmas reconhecem: “Competição eu não quero, criei meu próprio nicho”. – Jamily Rigonatto

Faixas favoritas: Fortal, Dia de Baile e Drake da Capital


Capa do álbum Zach Bryan, de Zach Bryan. Nela, vemos uma foto do rosto do cantor de perfil posicionada no canto direito. Ele é um homem branco de cabelos castanhos claros. Ele está de olhos fechados e fumando um cigarro. No canto superior direito, em letras vermelhas, est´´a escrito "Zach Bryan". O fundo é preto
O country encontra aqui talvez sua representação mais mainstream (Foto: Warner Records)

Zach Bryan – Zach Bryan

Recentemente, o country, principalmente o americano, tem realizado o movimento de ultrapassar as cercas rurais que o definiram a vida toda. Cada vez mais ele está se aproximando de um ritmo puramente urbano, ou talvez a sociedade que está em um êxodo rural reverso. Juntamente com Kacey Musgraves e Noah Kahan, o nome de Zach Bryan seja talvez um dos principais precursores da ascensão caipira americana.

O autointitulado traz um clima soturno para o conjunto voz e violão (e às vezes banjo) e conduz uma conversa noturna com o ouvinte ao longo de suas 16 faixas, todas escritas por ele. Reimaginando o estilo, o artista consegue assumir a persona Jack Maine de Bradley Cooper em Nasce Uma Estrela e lembrar que os cowboys também sofrem. Com a ascensão do gênero, há muitos Jack Maines surgindo por aí, mas só Zach Bryan é Zach Bryan. – Guilherme Veiga

Faixas favoritas: Fear and Friday’s, Spotless (feat. The Lumineers) e I Remember Everything (feat. Kacey Musgraves)

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