Caroline Campos
Se a expressão “nadar, nadar para morrer na praia” fosse um filme, com certeza seria Os Inventados. Não que a produção argentina seja similar à sensação de morte por afogamento, mas o cansaço de tanta nadadeira bate de frente com os 91 minutos do selecionado para a Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Conquistando pela sinopse promissora, é o desenvolvimento da narrativa dos diretores Leo Basilico, Nicolás Longinotti e Pablo Rodríguez Pandolfi que perde o ar antes mesmo de começar a conquistá-lo.
O protagonista Lucas, interpretado por Juan Grandinetti, não se sai bem em arrancar o afeto do público. Na trama, o antigo ator mirim vai empurrando a rotina careta com a barriga até cruzar com a oportunidade de participar de uma oficina de atuação que conta com uma premissa simples: se isole com mais quatro pessoas por quatro dias e assuma um personagem até finalizar a tarefa. Empolgado com o desafio, as coisas começam a mudar quando, um a um, os outros atores vão sumindo da tal brincadeira.
Ou pelo menos as coisas parecem que vão começar a mudar – e é aí que mora o maior problema de Os Inventados. O roteiro, assim como a direção, foi feito pelo trio Basilico, Longinotti e Pandolfi, mas parece que os argentinos desistiram no meio do caminho e impediram que suas melhores ideias aflorassem até um patamar melhor definido. O suspense dos supostos desaparecimentos abre portas para o filme que os diretores fazem questão de fechar e lacrar com tábuas de madeiras e uma atmosfera de falta de interesse acaba tomando conta de pelo menos metade da produção.
Sem afligir, muito menos cativar, os questionamentos de Lucas à respeito do limite entre o ser e o fingir não saem da superfície e, no momento que o personagem tenta iniciar um embate para se libertar da sua máscara de dermatologista bem sucedido, o dilema já se esvaziou e ninguém está mais nem aí. Os poucos momentos que denotam uma aproximação convincente entre os atores isolados e seus papéis são sufocados por um roteiro que já nasceu inerte e opta por não se arriscar durante as poucas deixas que cria.
Além da confusão metalinguística que Os Inventados se coloca, a tentativa de construir um elo amoroso para alguém tão apático quanto o protagonista só se torna pior quando percebemos que o par romântico também não sai do lugar. Enquanto os outros personagens, fadados ao sumiço, criam um charme misterioso decorrente do pouco tempo de tela, Vero, vivida por Verónica Gerez, só dá corda para diálogos mornos e para um plot maçante – ainda assim, ela é a responsável pelo único desfecho conflitante do longa.
Quando os minutos finais do filme vão se aproximando, a sensação é de que nada passou, nada aconteceu. O receio pelos acontecimentos misteriosos se esvaiu, a dupla que sobrou não atrai e as poucas tentativas de organizar uma narrativa potente são levadas pelo vento de carona com gatinhos da sorte. A membrana transparente entre ilusão e realidade vai se afrouxando e, com o fim do experimento isolado, todas as dúvidas ficam debaixo de um grande montante de tédio.
Los Inventados sofre de muitos males. Mesmo tendo sido pensado por três mentes em conjunto, a produção argentina não se encontra na própria trama e caminha rumo a um desfecho que seria bem mais cativante caso os 90 minutos anteriores o acompanhassem. Entre tantos personagens e personagens de personagens, as histórias vazias se esforçam, mas não cumprem o papel inebriante que tanto gostariam.