
Júlia Paes de Arruda
Em 2011, Once Upon a Time trazia uma premissa em efervescência: a retomada dos contos clássicos. Conhecidas histórias ganharam remakes, como A Garota de Capa Vermelha e A Fera. O clima era promissor para que seu sucesso alavancasse e, sem dúvidas, foi essencial para a constituição das demais temporadas. Porém, como tudo que é bom dura pouco, a ganância falou mais alto, e a série, que já dava indícios de tribulações, viu seu fiasco bater na porta. É por isso que, após 10 anos, lembrar de Era Uma Vez é um misto de tristeza com felicidade.
Inicialmente, somos apresentados à cidade fictícia de Storybrooke, cujos moradores são os personagens de várias histórias de fantasia. Por causa de uma maldição, eles não se lembram de quem são de verdade e passam a viver adaptados no mundo real. Sob o comando, está a prefeita Regina Mills (Lana Parrilla), mais conhecida como a Rainha Má e progenitora do feitiço. A única solução que seu filho, Henry (Jared S. Gilmore), se depara para quebrar o encanto e liberar todos os residentes, é tentar encontrar Emma (Jennifer Morrison) – filha da Branca de Neve (Ginnifer Goodwin) e do Príncipe Encantado (Josh Dallas) -, a qual foi chamada de Salvadora.

Com poucas mudanças dos contos de fadas, os personagens correspondem às nossas expectativas. Os atores são muito envolvidos com a construção de seus papéis e demonstram muita desenvoltura para cargas dramáticas quanto para picos de alegria. Contudo, não é pelos heróis que as histórias realmente valem a pena. Muitas vezes, eles são os que possuem o enredo menos instigante, até porque a maioria do público já conhece suas vidas de cor e salteado. Em Once Upon a Time, são os vilões que merecem o grande destaque, especialmente Regina Mills e Zelena (Rebecca Mader), duas bruxas extremamente surpreendentes. Por causa disso, é a partir da segunda temporada que o clima começa a ficar bom.
Depois da maldição quebrada, a magia volta à Storybrooke, e o poderoso Sr. Gold (Robert Carlyle), dono do nome mais indecifrável da história, traz mais problemas para a cidade. Além disso, novos personagens nos são apresentados, como a belíssima Cora (Barbara Hershey) – que além de ser mãe de Regina é a Rainha de Copas (sim, confuso) – e o maravilhoso Killian Jones (Colin O’Donoghue), mais conhecido como Capitão Gancho. Como num ciclo, mais personagens entram no drama e descobrimos suas vidas a cada episódio, por meio dos flashbacks da Floresta Encantada.
Contudo, o ápice de toda a série se encontra na terceira temporada, em que vamos navegar em mares da Terra do Nunca. Esqueça o estereótipo de Peter Pan que você tem em mente e foque no que Once Upon a Time tem a dizer. Ao contrário do garoto infantil meio bobo que as animações nos apresentaram, a série de Adam Horowitz e Edward Kitsis explora um olhar mais maligno para o personagem, interpretado por Robbie Kay. Ele anseia pela juventude, mas também por exercer seu poder sob todos. Os meninos perdidos acabam se tornando seus capangas, já que temem sua autoridade e as consequências de qualquer um de seus deslizes. Como em um universo muito mais fascinante, caímos nas garras dos vilões dos contos de fada.

Dentro do universo de Storybrooke, os personagens conseguem espaço para evoluir, deixando para trás as características específicas de cada história. É o caso de Ruby (Meghan Ory), a Chapeuzinho Vermelho ou, para os íntimos, Red. Seu desenvolvimento é maravilhoso visto em tela, ainda mais depois de ser parte do relacionamento mais inesperado de toda a série. Fora de Once Upon a Time, os atores também puderam ter a chance de brilhar e encontrar seu caminho. Jamie Dornan deu seus primeiros passos com o papel do Caçador da Branca de Neve, enquanto Jamie Chung e Emilie de Ravin, que já haviam debutado em filmes anteriores, consolidaram personagens marcantes da infância, Mulan e Bela, respectivamente.
A falha da série é inventar uma maldição cada vez que a anterior é quebrada. Em um looping infinito de feitiços, mais personagens são inseridos na trama e temos que ficar sabendo ainda mais sobre suas vidas – uma eterna roda de fofocas. Além disso, toda a árvore genealógica da família principal é uma eterna confusão e, no fundo, todo mundo é parente de todo mundo. E com o sucesso de Frozen – Uma Aventura Congelante e Valente, é óbvio que os universos de Anna (Elizabeth Lail), Elsa (Georgina Haig) e Kristoff (Scott Michael Foster) e de Mérida (Amy Manson) cruzaram com o de Storybrooke.
Daqui para frente, os enredos passaram a ser cada vez mais reciclados. Personagens aleatórios começaram a surgir (quem achou que a ideia de um Submundo de Hades faria sentido?) e desgastar o seriado por completo. Até mesmo um spin-off resolveu aparecer no País das Maravilhas com Once Upon a Time in Wonderland. Mas nem a brilhante atuação de Chapeleiro Louco de Sebastian Stan na primeira temporada da série original serviu para fazer parte desse produto, de tão desastrosa que foi essa sequência.

Como diria a premissa de todo o seriado, toda a magia vem com um preço. E esse preço veio bem caro, com cheiro de batata podre, na sétima temporada. Os criadores poderiam muito bem “fechar no versinho” até a sexta, já que metade do elenco principal se despediu de seus personagens. Fora que, o último episódio, A Batalha Final, já deixava bem nítido que não havia a necessidade de mais uma parte. Com a premissa de (adivinhem) uma nova maldição, o foco agora é com Henry já crescido (Andrew J. West), tomando o lugar de sua mãe como o novo Salvador. A história iria se repetir e, como já era esperado, Once Upon a Time finalizou com um fracasso, mesmo com as tentativas de reintroduzir os atores queridos pelos fãs.
O desgosto que o final de Once Upon a Time trouxe não tem como reverter. A única solução é ficar com os bons momentos, com o frio na barriga a cada reviravolta, ficar pensando quando a próxima temporada será lançada e acompanhar os episódios semana a semana pela internet. Torcer ora para o vilão e ora para o herói. Toda a magia tem um preço, mas, sinceramente, ter acompanhado a série desde o início e viver o seu auge, foi um sentimento que adaga alguma é capaz de controlar no coração de milhares de fãs.