Leticia Stradiotto
E agora, será que John Frusciante vai voltar assim como na primeira vez? Esse era o questionamento dos ouvintes de Red Hot Chili Peppers após a segunda saída do tão querido guitarrista em 2009. No entanto, a resposta para tal pergunta é simples: não. John Frusciante não voltou e, agora, depois do grandioso Stadium Arcadium (2006), temos um novo álbum: I’m with You. Sem Frusciante, mas com o fofíssimo Josh Klinghoffer. A expectativa era grande, e apontar o dedo para a nova performance da banda é inevitável.
Completando 10 anos de lançamento, o disco da banda formada pelos californianos Flea, Anthony Kiedis, Chad Smith e o calouro Josh Klinghoffer é resultado de um projeto um tanto quanto acomodado de musicalidade, uma vez que soa como obras antecedentes e não conta com um imenso destaque de criação, como o memorável Blood Sugar Sex Magik (1991). Com I’m with You, fica claro que Josh Klinghoffer é ótimo, mas pouco inovador e muito menos destemido para criar riffs com atitude. No fim das contas, a produção fica totalmente sob comando de Flea, em razão da maioria das músicas iniciarem com o baixo. Não é uma reclamação, o baixista manda muito bem e a gente sabe disso.
I’m with You não é ruim, mas falta pimenta. Red Hot Chili Peppers é para quem tem cabeça aberta e consegue apreciar a versatilidade. É fato que a musicalidade do grupo é repleta de originalidade, nos trouxe um mix maneirasso do rock alternativo, punk e rap, enquanto muitos novatos de bandas alternativas fazem um grande copia e cola dos veteranos. Nenhuma banda consegue ser criativa o tempo todo, e tá tudo bem! Dessa forma, o álbum traz músicas sem grandes revoluções, são sons apenas para curtir a vibe de vez em quando, afinal, é isso que os californianos querem: diversão.
Com 14 faixas, o disco inicia com um ótimo tira gosto, Monarchy of Roses abre com a guitarra do, desde então, misterioso Josh Klinghoffer. É a típica música chiclete. Por outro lado, reflete a parte mais obscura da vida de Anthony Kiedis, de quando o vocalista tinha problemas com drogas na adolescência. Seguida por Factory of Faith, que retrata justamente a recuperação dele, é importante para enaltecer a persistência como ser humano frente aos problemas. Com um baixo magnífico do Flea, segmentado pela bateria de Chad Smith, traz uma batida agitada dando a vontade de seguir em frente e pular toda vez que toca o refrão.
E então as coisas saem um pouco dos trilhos, estava muito bom para ser verdade. Brendan’s Death Song e Annie Wants a Baby, como afirma o vocalista Anthony Kiedis em entrevista, foram escritas imediatamente pela banda, logo no começo da ideia do álbum. Talvez por isso seja um trabalho bem razoável. Ambas tem uma melodia boa, a voz de Anthony Kiedis flui bem, mas soam extremamente genéricas, como um pop não muito agradável para quem esperava um disco com aquele rock de bater cabelo. Rock de bater cabelo é definitivamente algo que não temos em I’m with You.
Nisso surge Ethiopia, com o típico estilo californiano criado desde o começo do Red Hot Chili Peppers, foi inspirada em músicas africanas e reflete uma espiritualidade diferente do grupo. Na letra, escolhem substituir as drogas e o álcool pela paz e o amor. Com a guitarra do novo integrante, a mudança no estilo característico da banda é notável, uma vez que comparado ao antigo guitarrista, o som de Josh Klinghoffer é mais poético e sútil. O que não deixa de ser bom, mas, obviamente, causa uma sensação estranha aos ouvintes de longa data. Look Around continua na mesma linha, porém garante um groove mais estilizado e o grande ressalto vai para o refrão.
Nisso chegamos à primeira metade do álbum com o primeiro single da banda, que na realidade foi vazado antecipadamente. The Adventures of Rain Dance Magic dá um up na expectativa para o restante da obra e é a transição perfeita para a próxima faixa, Did I Let You Know. É de longe o maior destaque de I’m with You e, sem dúvidas, a melhor canção.
Com um enorme alcance criativo, tem o trabalho impecável de Chad Smith na bateria, o encaixe prazeroso da guitarra de Klinghoffer e, obviamente, tudo no comando de Flea no baixo. Achou pouco? Toma, um trompete para você! Com um swing encantador e contagiante lembra muito a musicalidade latina e, para a maior felicidade, tudo funciona perfeitamente bem.
Goodbye Hooray traz o bom e velho som dos californianos, é um acalento para quem gosta das antigas músicas da banda, uma vez que soa exatamente como o esperado. A faixa Happiness Loves Company conta com uma pequena novidade: o singelo piano. E é só isso mesmo. Sem sal e, muito menos, pimenta.
Assim, o álbum – na medida do possível – tem seu último engate para terminar da melhor maneira. Police Station ganha – perdendo para Did I Let You Know – o segundo lugar de destaque. A faixa conta a história da polícia de Los Angeles com casos de abusos do poder e manifestações raciais na virada do século. Dessa forma, a banda usa seu destaque global como forma de protesto às atrocidades. Com uma apresentação que já é muito marcada pelo RHCP durante seus anos de carreira, ouvimos um tom mais denso e reflexivo, que lembra a querida Under the Bridge.
Even You Brutus? é a tentativa de fazer algo diferente, que deu certo graças ao Flea. A música começa com uma introdução animadora, com muito estilo, e assim segue com aquele gostinho de “Nossa, imagina ouvir essa ao vivo!”. O que é raridade, a faixa é pouquíssima tocada em shows. E voltamos para a estaca zero, Meet Me at the Corner não impressiona. Por fim, Dance, Dance, Dance, que na realidade não dá a mínima vontade de dançar, encerra o álbum de maneira suave. Ridiculamente suave.
Como um todo, I’m with You é divertido, mas de longe não é um destaque. Com faixas que alternam entre muito boas e sem graça nenhuma, o disco perde a empolgação encontrada em outros álbuns do Red Hot Chili Peppers. Contudo, é aceitável que toda mudança precise de uma adaptação, com o novo guitarrista existe um processo de amadurecimento evidente na obra. E, mesmo após 10 anos de lançamento do álbum, é perceptível que o envelhecimento do grupo não atinge o modo de produção, os californianos permanecem criando obras com faixas totalmente atemporais e bem trabalhadas.
A escolha de adicionar instrumentos diferentes no álbum foi importante para a complementação do estilo da banda e é porta de entrada para mais experimentos musicais futuros. Red Hot Chili Peppers permanece versátil, porém sem inovações. Independente disso, Josh Klinghoffer executa seu papel com maestria e não deixa de produzir músicas ótimas. Falta pimenta em I’m with You, mas sobra rock’n’roll.
Ótima perspectiva, concordo integralmente!
você é foda lele!!!! adorei!!