Larissa Vieira
Janeiro de 2021, drivers license, Olivia Rodrigo e Joshua Bassett. Os nomes até podem ter soado novos para o mundo da Música, mas, para os fãs de High School Musical ou para os nostálgicos do Disney Channel, eles já tinham marcado presença muito antes. Em 2019, o Disney+, ainda nem lançado no Brasil, começou a era dos reboots e revivals trazendo de volta sua clássica trilogia, com rostos novos.
E claro que, logo de cara, esses rostos – não só os protagonistas – agradaram aqueles que ainda tem um apego emocional à trama, e souberam deixar para trás as histórias do passado (e Zac Efron). Quem lidou com isso, e aproveitou o draminha romântico da primeira temporada, criou ainda mais expectativas quando o casal principal, Nini (Olivia Rodrigo) e Ricky (Joshua Bassett), saiu da tela do streaming para viver uma montanha-russa de emoções aqui fora.
Dessa forma, e com a chegada do Disney+ em mais países pelo mundo e a agoniante espera por SOUR, em 14 de maio foi lançada a 2ª temporada de High School Musical: The Musical: The Series. Na ideia de não mais recriar a trama que deu nome a série, mas sim produzir um novo musical, o East High embarcou em uma aventura que, no futuro (alerta spoiler), se tornaria nossa maior decepção.
Na nova temporada, em uma disputa criada pela Senhorita Jenn (Kate Reinders) e seu antigo inimigo de teatro, Zack (Derek Hough), os jovens do East High se propõem ao desafio de não só interpretar o clássico A Bela e a Fera, mas também ir à batalha em uma competição contra a turma do North High. A temporada, então, caminha por seus 12 (ou podemos dizer 11) episódios ao redor das dificuldades do mundo teatral, principiante para criar tremenda obra. Em paralelo, somos apresentados, claro, ao drama do relacionamento de Nini e Ricky, que, inicialmente, estão juntos mas à distância, e por isso funciona.
O drama, de fato, começa quando Nini retorna à escola e, agora efetivamente, mais uma vez, eles entendem que não dão certo como um casal, independente do amor que sentem. O destaque da temporada, para os protagonistas, são as composições, que, apesar de Ricky não gostar, encantam e provam, por mais um ano, o motivo do sucesso de Olivia e Joshua. The Rose Song, composição que daria o papel no musical para Nini, traz a filosófica metáfora da Rosa encapsulada pelo vidro da Fera, que serviu para ambos perceberem (talvez até fora das câmeras) o porquê não deviam estar juntos.
O mesmo vale para a letra de Let You Go, que mostra o valentão libertando a rosa que aprisionou por anos. Não só bem composta, a interpretação é o destaque do cantor de Lie Lie Lie na temporada, que, na maioria das vezes, – com ênfase no episódio do Spring Break, em que ele dá a vida à composição – se tornou chato e incompreensível, traços que ele já demonstrava na primeira, mas floresceram neste ano. De resto, o personagem foi irrelevante, principalmente durante seus momentos de destaque no teatro como o protagonista, e deixou a desejar ao mostrar o espírito de equipe que reina na trama e no grupo de alunos.
Falando no grupo de alunos, é para eles que devemos dar visibilidade. Em um universo que o drama dos protagonistas reinava aqui fora, os “coadjuvantes” – Gina (Sofia Wylie), Ashlyn (Julia Lester), Carlos (Frankie Rodriguez), Big Red (Larry Saperstein), Seb (Joe Serafini) e até mesmo E.J. (Matt Cornett) – foram os que verdadeiramente tornaram a trama interessante e mostraram que não só Troy e Gabriella fizeram High School Musical. O maior realce é para o primeiro casal gay da história da Disney, que protagonizou não só seu primeiro beijo, mas fez história com a primeira música LGBTQIA+ da emissora. In A Heartbeat é uma das canções mais emocionantes da temporada e, brilhantemente, finalizou o ciclo do casal (que também levou não o drama, mas sim o amor para fora das câmeras).
Além de Carlos e Seb, o outro casal destaque é a intérprete de Wondering e Big Red, que pode até receber o selo de romance cômico da história, mas entre os pares, eles podem ser considerados os mais saudáveis. A química dos dois é imbatível e torna gostoso assistir um namoro adolescente real e sem muitos clichês e grandiosidades de casais de filmes. Além disso, com sua voz brilhante, Ashlyn ainda garantiu o papel de Bela no musical da produção, e, mais uma vez, provou que sua trama coadjuvante é o que a torna única e especial para a narrativa.
Por fim, tivemos os personagens que mais surpreenderam no quesito desenvolvimento. Com uma temporada arrastada e mal finalizada, Gina e E.J. foram os únicos que pudemos ver um crescimento de fato. Não por conta da desconstrução de antagonistas, mas por seus dramas pessoais, muito bem executados pelos atores. Os dois, de longe, trilharam o melhor caminho desse novo ano e, de maneira totalmente errada do roteiro, tiveram um final cru e desnecessário para uma produção de 2021.
Mas, não só pela falta de protagonismo de Nini e Ricky e de espaço para os coadjuvantes, HSMTMTS pecou, ainda mais, pela quantidade de laços inacabados ou até mesmo mal criados durante a temporada. São vários aspectos a considerar, como o relacionamento entre Courtney (Dara Reneé) e seu namorado antagonista, Howie (Roman Banks), mas, principalmente, o papel de Nini como garfo na peça e não como a Rosa.
Uma das maiores expectativas, e a melhor trama da temporada, simplesmente não foram explicadas, fazendo com que a grande canção, 2 episódios de drama depois, fosse deixada de lado, perdendo toda sua representatividade. Isso sem comentar a desistência, nos últimos 3 minutos corridos, da grande competição que criou toda a narrativa, abrindo o buraco para o final aberto e mal feito que foi entregue.
Nesse ano, então, culpe a pandemia ou quem seja, mas o roteiro de Tim Federle, que fez um ótimo trabalho na primeira temporada, deixou a desejar. Tudo já estava indo de mal a pior, até o último episódio, Segundas Chances, que se tornou ainda mais frustrante. Podemos dizer que a ‘fama’ subiu a cabeça da produção, mas a verdade é que parece que não souberam criar uma história sem a base High School Musical.
O final aberto deixa claro que o futuro da agora estrela mundial Olivia Rodrigo é incerto na série, como dito pelo showrunner, que não sabe sobre a existência de uma terceira temporada. Além disso, é ainda mais decepcionante pensar que eles possivelmente desistam de um futuro caminho para a produção pelo não retorno dos protagonistas, enquanto os coadjuvantes que fizeram a série neste ano e mereciam cada vez mais reconhecimento.
A segunda temporada de High School Musical: The Musical: The Series, então, frustra, em todos os sentidos. Os espectadores se divertiram mais ao caçar algum tipo de farpa entre Olivia e Joshua durante os episódios e surtar quando o personagem cita ‘deja vu’, e não, de fato, aproveitar o tão esperado desenvolvimento do casal depois do final romântico da primeira parte. E, para aqueles realmente fãs, por mais um ano apreciaram, como a Disney não faz, o talento do elenco encantador que preenche o coração dos nostálgicos do Disney Channel.