5 anos de Baby Driver: a essência do audiovisual ainda corre Em Ritmo de Fuga

Fundo rosa com nuvens brancas. Uma avenida com um carro vermelho sendo perseguido por carros policiais em velocidade. Ao lado direito, os respectivos personagens do filme Baby Driver: Doc, um homem branco de cabelos castanhos e óculos escuros veste um terno preto. Baby, um rapaz branco de cabelos castanhos com óculos escuros e fone de ouvido. Debora, uma mulher branca de cabelos castanhos presos e roupa de garçonete preto e branca. Bats, um homem negro de cabelos negros veste vermelho. Buddy, um homem branco de cabelos castanhos segura uma metralhadora. Darling, uma mulher branca de cabelos castanhos presos segura uma pistola.
Muito obrigado, senhoras e senhores, agora eu tenho que falar sobre o fabuloso, mais excitante: Baby Driver! (Foto: Sony/TriStar Pictures)

Leticia Stradiotto

Com o pé afundado no acelerador, o criativo Edgar Wright apresenta um passeio de motor que destaca-se entre as obras do gênero. Em Ritmo de Fuga, em inglês Baby Driver, realmente foge do estereótipo de outros feitos cinematográficos que envolvem crimes e carros em alta velocidade. Lançado em 2017, o primeiro filme realizado nos EUA pelo diretor tem a ambientação dos assaltos em Atlanta e resulta na combinação do romance com perseguições de carro, além de nos presentear com uma caracterização visual de tirar o fôlego.

Antes da estreia de Baby Driver, o diretor Edgar Wright ainda não estava no ápice da admiração em sua carreira, apesar de ter lançado os aclamados, e também criticados, Chumbo Grosso (2004) e Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010), ele ainda não tinha dado seu grande “boom” entre os queridinhos de Hollywood. Entretanto, a chegada de Baby Driver nas telonas garantiu o lugar de Wright dentro do Cinema pop. Com referências da trilogia de De Volta para o Futuro, em conjunto com a espetacular trilha sonora calculada nos mínimos detalhes, a produção vibra e caminha Em Ritmo de Fuga até as atuais essências do audiovisual.

À esquerda está Edgar Wright, diretor de Baby Driver, é um homem branco de cabelos compridos castanhos com óculos e veste um casaco preto, seu olhar está direcionado para a câmera. Ao seu lado está Ansel Elgort, um homem branco de cabelos castanhos com fones de ouvidos, veste um moletom cinza e preto e está segurando um carro de miniatura azul.
Em Ritmo de Fuga é resultado de uma grande sintonia entre a direção excêntrica de Edgar Wright e a produção cinematográfica de Eric Fellner (Foto: Sony Pictures)

Entre fantasias e sensibilidades, a rota do filme está direcionada ao motorista de fuga, Baby, interpretado por Ansel Elgort – ator que foi acusado de abuso e agressão sexual em 2020. O personagem utiliza fones de ouvidos para abafar o zumbido que adquiriu durante um acidente de carro, responsável por sacrificar a vida de sua mãe. A partir disso, Baby orquestra a vida em inúmeras playlists cuidadosamente selecionadas em seu iPod.

Porém, a vida de Baby não tem muita melancolia, o rapaz está sempre se estreitando entre o amor e o dinheiro. Em dívida com Doc (Kevin Spacey, que, assim como Elgort, foi acusado de abuso sexual pouco depois da estreia do filme), o chefão do crime, o jovem se encontra sempre a um passo mais perto da liberdade de seu trabalho arriscado como piloto de fuga. Baby é um moço singelo e extremamente comum. Após a triste perda de sua mãe, ele encontra abrigo apenas em seu pai adotivo, Joe (CJ Jones), um gentil senhor surdo – isso, até o jovem piloto conhecer seu grande amor, Debora (Lily James).

Cena do filme Baby Driver. O fundo é uma lavanderia. Ao centro estão Debora e Baby de frente um para o outro quase se abraçando. Debora é uma mulher branca de cabelos castanhos iluminados, veste uma jaqueta jeans e brincos de argola. Baby é um homem branco de cabelos castanhos e veste um moletom cinza e preto.
Debora representa a alternativa romântica entre tanta violência e agitação na vida de Baby enquanto piloto de fuga (Foto: Sony Pictures)

Debora, a garçonete simpática e apreciadora de música, desperta um novo motivo para Baby continuar com as perseguições e assaltos: conseguir dinheiro para sair da vida do crime e assim construir um digno final feliz com ela. Apesar de seu amor crescente pela moça, Baby ainda tem débitos com a bandidagem, e a única forma de resolver isso é acionar o volume no máximo em alta velocidade.

No trabalho, o jovem está cercado de capangas com passados duvidosos e problemas em potencial. Combinando ação e thriller, a gangue de criminosos é composta por um elenco de grandes nomes, possuindo atores como Jamie Foxx, representando Bats, um homem imprevisível e agressivo; Jon Hamm e Eiza González, uma dupla do tipo Bonnie e Clyde; e até mesmo Flea, o baixista do Red Hot Chili Peppers atua no filme.

Durante a trama fica evidente que o trabalho de Edgar Wright foi nutrido há anos para obter um resultado tão gigantesco. Tal fato é justificado pelo script iniciado em 1995, e somente finalizado 16 anos depois. Além disso, a introdução de Baby Driver torna-se fabulosa em apenas 6 minutos de cena ao som de Bellbottoms (“o fabuloso, mais excitante”) de Jon Spencer Blues. O momento lendário é a principal base em que o filme é construído: com muita ação, som e adrenalina os companheiros  de crime do protagonista estão assaltando um banco, ao mesmo tempo em que Edgar Wright está nos oferecendo uma experiência contagiante, dirigindo um grande mix entre carros e músicas, assim, criando uma conexão especial entre espectador e cenário.

Por si só, a abertura do filme demonstra toda a sua originalidade que é encontrada por quase duas horas. A corrida de Baby ao café é segmentada ao ritmo de Harlem Shuffle de Bob & Earl, com letras aparecendo magicamente nas paredes e placas. A Música é o principal elemento da produção, responsável por trazer os mais diversos sentimentos nas mais variadas cenas. É fácil dizer que o filme não é dirigido, mas sim, orquestrado por Wright. O resultado é um trabalho espetacular que mantém a adrenalina encontrada nos primeiros minutos pelas demais horas seguintes, alternando entre sequências de ações desenfreadas e cenas mais leves e, por fim, consequenciando um plano musical extremamente bem instrumentado.

Interligando música e carros velozes, o jovem Baby cria canções a partir de conversas gravadas, trabalhando como uma espécie de diretor e construindo a trilha sonora de sua vida. Porém, Em Ritmo de Fuga possui uma finalização controversa, a partir do momento em que a história perde a linha de ação é comum questionar sobre o extravio da obra e o porquê dessa ausência de linearidade. Mas, de qualquer forma, é um alívio concluir que o principal manejo foi unir o útil ao agradável: o recheio do filme é sua intensidade enquanto o soundtrack torna-se a cereja do bolo.

Cena do filme Baby Driver. Ambientado em um elevador abandonado estão da esquerda para direita: Baby, Bats, Darling e Buddy. Baby é um homem branco de cabelos castanhos e fones de ouvido e veste um moletom cinza e preto. Ao seu lado, está Bats, um home negro de cabelo raspado e cavanhaque, veste roupas vermelhas. Ao seu lado está Darling, uma mulher branca de cabelos castanhos iluminados e veste um cropped branco e calça jeans. Ao seu lado está Buddy, um homem branco de cabelos castanhos penteados para trás e veste uma jaqueta jeans preta.
Com diálogos rápidos e cheios de referências externas, a gangue de criminosos é a principal ligação entre o espectador e o alcance criativo da obra (Foto: Sony Pictures)

O desenrolar do enredo e a incessante busca pelo final feliz instigam o telespectador a seguir o filme até o fim. Por mais que o roteiro não tenha muitas inovações no gênero – com fugas e roubos ao banco – a execução é tão bem colocada que faz com que tudo pareça novidade dentro do Cinema, seja no romance musical ou nas próprias sequências de adrenalina. Os diálogos ácidos e as piadas contextualizadas na direção de Edgar Wright dão uma apimentada com um toque perfeito para a composição e identidade visual de Baby Driver.

Em Ritmo de Fuga faz aniversário com atemporalidade e ainda garante seu destaque nos principais filmes de ação. O seu significado dentro do audiovisual é a capacidade de manejar o talento para que a obra seja realmente orquestrada, unindo aquilo que nós mais gostamos: ação e Música. O esforço e trabalho de anos da direção dão origem a um filme extremamente original e com características que apenas Edgar Wright é capaz de transmitir pela Sétima Arte. Baby Driver é uma experiência sobre a eterna viagem: somente eu, minha música e a estrada.

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