Passeamos pelos multiversos de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo e The Umbrella Academy, exploramos o brilhantismo obscuro da terceira temporada de Barry e refletimos sobre o final provisório dos malditos Peaky Blinders. Foi assim que o mês popularmente mais calmo no audiovisual, quase uma preparação para o ápice da temporada de Summer Movies, conseguiu deixar sua marca como um dos capítulos mais interessantes do ano até então. Neste Cineclube de Junho, o Persona destrincha o que rolou no Cinema e na TV no Mês do Orgulho.
O período junino começou agitado logo no seu primeiro dia, com o resultado do desnecessariamente midiatizado julgamento entre Johnny Depp e Amber Heard. Depois de quase um mês de análise do processo, o júri decidiu o que o Twitter e o TikTok já haviam julgado há muito tempo: a “inocência” (entre muitas aspas) de Depp. Por mais que os dois tenham saído com condenações, o ator foi quem tirou mais proveito da situação. Apesar de seu caráter ser tão duvidoso quanto o de Heard, ele tomou um banho de imagem e hoje é visto como um injustiçado por uma base de fãs aficionados.
Partindo para notícias mais animadoras, Junho concedeu uma das maiores honras do Teatro para Jennifer Hudson. Graças a sua mais nova estatueta do Tony Awards pela produção do musical A Strange Loop, Hudson atingiu o status de EGOT — destinado aos ganhadores do Emmy, Grammy, Oscar e Tony — e se tornou a segunda mulher negra a receber a honraria, ao lado de Whoopi Goldberg. Falando em representatividade, o Mês do Orgulho separou uma surpresa quase em sua reta final. Nos últimos dias do mês, o lendário Pedro Almodóvar divulgou informações sobre seu próximo projeto, o curta-metragem western Extraña Forma de Vida. Segundo o diretor, a obra será uma resposta ao clássico contemporâneo O Segredo de Brokeback Mountain.
Adentrando as telonas do cinema e do streaming, o destaque vai para Cha Cha Real Smooth – O Próximo Passo. O filme foi vencedor do Festival de Sundance 2022, assim como CODA, seu irmão de plataforma no ano passado. A história gira em torno de um jovem, interpretado por Cooper Raiff – que também dirige o longa — que trabalha como anfitrião em bar mitzvás, onde conhece uma mãe (Dakota Johnson) e sua filha autista, criando um forte laço com elas. Por mais improvável que seja a obra seguir o mesmo premiado caminho de No Ritmo do Coração, o serviço da maçã mordida já provou que sabe nos surpreender.
Ainda nos lançamentos da plataforma dos iPhones, Liam Neeson estreia nas produções do streaming interpretando um velho conhecido: o porradeiro de meia idade do qual já está acostumado retorna em Assassino sem Rastro. A produção conta a história de um assassino de aluguel com Alzheimer que sofre as consequências de se recusar a matar uma criança. Sendo uma refilmagem do filme belga A Memory of a Killer, o longa entrega um plot genérico e não convence, principalmente ao focar na ação e deixar de lado a interessante premissa de um assassino lidando com essa condição médica.
Indo ao infinito e às salas de cinema, acompanhamos a jornada intergalática repleta de ação de Buzz (Chris Evans) e outros astronautas do Comando Estelar em Lightyear. Dentre eles, destacamos Alisha Hawthorne (Uzo Aduba), responsável pelo primeiro beijo homoafetivo da Pixar. Porém, o feito só ocorreu após uma onda de protestos contra a Disney, que, em pleno Mês do Orgulho, resolveu manter sua política do Don’t Say Gay ao originalmente censurar o casal sáfico. A obra tem a assinatura de Angus MacLane (Procurando Dory) e, apesar das críticas mistas, deve encantar os fãs do personagem, mesmo decepcionando nas bilheterias.
E a Disney decidiu investir no marketing do filme do astronauta para além dos cinemas. Isso nos deu Ao Infinito e Além: Buzz e sua Jornada para ser Lightyear, documentário original do Disney+, que desmembra a origem do emblemático personagem desde sua primeira aparição em Toy Story. O longa serve como um aquecimento para Lightyear, mostrando as etapas de produção da nova aventura da Pixar, e das mudanças estéticas para caracterizar o patrulheiro espacial.
Ainda no streaming do rato, temos A Extraordinária Garota Chamada Estrela Em Hollywood, sequência de A Extraordinária Garota Chamada Estrela. O longa, uma típica aventura adolescente dos anos 2000, mas dessa vez repaginada, continua acompanhando Stargirl Caraway (Grace VanderWaal), que sai da cidade de Mica e se muda para Los Angeles com o intuito de começar uma vida nova. A obra é baseada no livro Com Amor, A Garota Chamada Estrela, tem direção de Julia Hart e conta com nomes como Uma Thurman no elenco.
Para se afastar das polêmicas, a Disney decidiu se redimir produzindo alguns conteúdos LGBTQIA+, e um deles é Trevor: O Musical. Seguindo os moldes de Hamilton, o longa é uma versão filmada do musical off-Broadway de mesmo nome. Baseado no curta-metragem ganhador do Oscar em 1995, a trama acompanha a adolescência do jovem Trevor em 1981, e a descoberta de sua identidade enquanto tenta se encaixar em um mundo difícil.
Ainda na mesma temática, só que dessa vez para o streaming adulto da empresa, o Star+, Fire Island: Orgulho e Sedução nos traz uma comédia romântica LGBTQIA+ inspirada no clássico Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. Apesar do longa dirigido por Andrew Ahn e protagonizado por Bowen Yang ter um tom cômico, a obra traz várias alusões sobre camadas sociais, além de uma abordagem de aspectos culturais, raciais, de gênero e sexualidade. Entre piadas e clichês, Fire Island é um grito de resistência e representatividade.
Em função das finais da NBA, uma das apostas dos streamings para esse mês foi o conteúdo voltado para um dos esportes mais amados pelos americanos, o basquete. É isso que Rise, produção do Disney+, buscou. A obra, dirigida por Akin Omotoso, conta a história dos irmãos Antetokounmpo, o primeiro trio de irmãos a se tornarem campeões do campeonato. O elenco conta com Dayo Okeniyi (Fresh), Yetide Badaki (This Is Us), Uche Agada e Ral Agada e teve uma recepção positiva por parte da crítica, com 95% de aprovação no Rotten Tomatoes.
Porém, o que conseguiu mais holofotes ainda foi a aposta da Netflix, Arremessando Alto, derivado da parceria com Adam Sandler. Depois de Joias Brutas, o longa é mais uma prova que Sandler leva muito mais jeito para a veia dramática do que para a comédia. Porém, aqui, o veterano consegue mesclar suas duas personas em uma dramédia esportiva bem gostosa.
No filme, o ator interpreta um olheiro do Philadelphia 76ers disposto a mudar de vida, até que descobre, na Espanha, o talento Bo Cruz (Juancho Hernangomez). Com um elenco composto em sua maioria por jogadores e lendas da NBA, a atuação de Sandler é um destaque, pois entrega algo muito acima da maioria de seus trabalhos. Mas os méritos precisam ser dados aos atletas, que desempenham seu papel sem prejudicar o longa. Aqui, um destaque para Juancho, jogador do Utah Jazz, que coestrela a obra.
Como sempre, as maiores surpresas da Sétima Arte ficaram com as telonas dos cinemas . Logo no começo do mês, Jurassic World Domínio abriu essa categoria, mas como uma surpresa negativa. Desta vez, a obra, que mantém a direção de Colin Trevorrow, aborda o desafio da convivência plena entre seres humanos e dinossauros. Mesmo trazendo alguns atores do clássico Jurassic Park e, assim como as obras anteriores, mantendo a boa bilheteria, o longa não foi unanimidade entre o público e desagradou a crítica, amargando com 30% no Rotten Tomatoes
Outra que deu as caras também, mas dessa vez em um gênero específico, foi Megan Fox. Até a Morte, longa de Scott Dale, marca a volta da atriz (que já vive o terror de ser casada com Machine Gun Kelly) ao cinema de Horror. A história, uma espécie de Jogo Perigoso, narra a história de uma mulher que tenta sobreviver à investida de dois assassinos enquanto está algemada a seu marido morto. Esse jogo de gato e rato conquistou a crítica, que destaca a atuação convincente de Fox.
As duas maiores surpresas tinham que ficar para o final. Os destaques a seguir rapidamente perderam o status de filme e conquistaram o de experiência, ora pela sua qualidade, ora pelo seu apelo. Essa última opção é justamente o caso de Minions 2: A Origem de Gru. Hoje, a internet tem o poder de mudar o rumo dos filmes, como aconteceu com Sonic, recentemente com Morbius e, num futuro próximo, com Barbie, de Greta Gerwig. No presente, o escolhido da vez é o prelúdio de Gru (Steve Carell), em meio a história dos seres amarelos favoritos do Cinema.
Recebido com uma pompa e circunstância a princípio descabidos, o longa traz uma estética setentista para a história da (tentativa de) ascensão do malvado favorito dos Minions. A direção tem a assinatura de Kyle Balda e a trilha sonora tem como grande nome o de Jack Antonoff, responsável por trazer nomes como St. Vincent, Phoebe Bridgers, Kali Uchis e H.E.R. para a produção de covers, com destaque para uma canção original assinada por Diana Ross e Tame Impala. Leve e divertido, Minions 2: A Origem de Gru tem tudo para ser mais um (se não o maior) acerto da franquia.
Fechando com chave de ouro, Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo veio decretar seu lugar na Sétima Arte. Totalmente fora dos radares, o longa já chamava a atenção quando lançava seus trailers, mas nem a pessoa mais empolgada com o material poderia esperar a experiência que o filme é. Dirigido por Daniel Scheinert e Daniel Kwan, que carinhosamente assinam como Os Daniels, a obra é somente a segunda aventura conjunta dos diretores em longas, que tiveram sua estreia com o já intrigante Um Cadáver para Sobreviver.
Aqui, os dois replicam o que deu certo no projeto anterior, e vão muito além. Narrando a história de Evelyn (Michelle Yeoh), uma imigrante chinesa que descobre o acesso ao multiverso enquanto presta contas de sua lavanderia para a Receita Federal, o filme é extremamente despretensioso e sem compromisso. Porém, o roteiro, em sua maioria propositalmente pastelão, guarda um subtexto muito comovente, o que é capaz de te levar às lágrimas com um diálogo entre duas pedras (sim). Em qualquer realidade possível, Everything Everywhere All at Once com certeza é o filme do ano.
Passando para o universo das séries, a Netflix geralmente é ousada em suas produções, mas, em Junho, escolheu apostar no seguro. La Casa de Papel: Coreia entrega exatamente o que promete: um remake de um dos maiores sucessos da plataforma. Levando em conta que a série original espanhola se manteve no topo do streaming por cinco anos, e que as produções coreanas trouxeram um impacto estrondoso recentemente, não foi uma surpresa que os dois universos tenham se unido.
A série, no entanto, pode ser mais aproveitada por aqueles que não têm familiaridade com o time espanhol, já que não há grandes alterações nos personagens e na trama. Mas, para os fãs que sentem saudade da antiga produção, pode ser interessante ver a história com um contexto novo: um assalto à Casa da Moeda de uma Coreia unificada. Uma segunda temporada deve chegar ainda esse ano.
Seguindo o plot fora da lei, A Escada, obra de ficção baseada no crime que virou documentário em 2004, investiga o assassinato de Kathleen (Toni Collette) pelas mãos de seu marido Michael (Colin Firth). Com um buzz interessante e bem-vindo para as produções do HBO Max, a produção pode surpreender nas vindouras premiações. A plataforma também investiu em Barry, que retorna após uma espera de 3 anos. Mais intensa e sombria, a história sobre o assassino de aluguel que quer mudar de vida chega em seu melhor ano e se consolida como uma das mais originais da atualidade. Bill Hader, protagonista e criador, prova que sua escrita só evoluiu, assim como suas habilidades na direção.
No Hulu e em breve no Star+, Under the Banner of Heaven, série baseada no best seller de mesmo nome, segue a cartilha de um bom American Crime. Estrelada por Andrew Garfield, a obra acompanha um crime real dos anos 80, cometido em nome de Deus por dois irmãos mórmons. Tanto a obra como Garfield, que interpreta um detetive religioso, conseguem conduzir bem o dilema religioso e mesclá-lo em um thriller criminal extremamente envolvente, com lampejos que lembram os melhores anos de True Detective.
Marcando o retorno dos heróis desajustados mais queridos da Netflix, The Umbrella Academy chega ao seu terceiro ano com uma base sólida de fãs, que, infelizmente, se decepcionou. É evidemte que a produção chegou em um nível de conforto: as temporadas anteriores foram tão grandiosas a ponto da mais recente não conseguir dar conta de seu próprio tamanho, e grandes ganchos do segundo ato acabaram se desperdiçando. Mesmo assim, a obra ainda entrega uma boa aventura com muitos pontos positivos, com destaque para as dinâmicas entre Klaus (Robert Sheehan) e Número 5 (Aidan Gallagher), e para a transição de Viktor (Elliot Page), que apesar de singela, foi executada com carinho.
Em relação aos super-heróis do HBO Max, a quarta temporada de Young Justice, intitulada de Phantons, traz de volta os poderosos adolescentes e suas missões desafiadoras. Com a produção ocorrendo durante o auge da pandemia, em 2020, algumas das etapas de desenvolvimento foram diferentes das demais séries de animação, como a dublagem feita individualmente. Dentre as tramas principais da temporada estão a viagem de Miss Marte, Superboy e Mutano para o casamento de M’gann e Conner em Marte, onde os personagens se deparam com um assassinato e com o preconceito racial, que se desenvolvem junto a outros eventos no planeta vermelho.
Indo para os heróis das estrelas, no Disney+, Obi-Wan Kenobi narra os acontecimentos após a queda e corrupção de Anakin Skywalker (Hayden Christensen) para o lado sombrio da força. O personagem principal interpretado por Ewan McGregor, que deu nome a produção, lida com as consequências da perda de um amigo e do fracasso como Mestre Jedi. A minissérie apela para a nostalgia dos fãs de Star Wars, mas, ao mesmo tempo, se mostra ousada em tentar expandir a trama original e apresentar outras facetas dos personagens já popularmente conhecidos.
Queer as Folk, reboot da série britânica de mesmo nome, é comandada por Stephen Dunn e acompanha um grupo diverso em Nova Orleans, que encontra apoio na comunidade queer da cidade após uma tragédia. Russell T. Davies, criador da produção original, atua como produtor executivo, e o elenco conta com nomes como Devin Way, Fin Argus, Jesse James Keitel e Kim Cattrall.
A comunidade queer também marcou presença nos reality shows. A segunda temporada de Drag Race España se encerrou com a vitória de Sharonne. A competição para nomear a próxima Super Estrela Drag da Espanha foi acirrada, mas a apresentadora Supremme de Luxe decidiu coroar a rainha de Barcelona por seu desempenho invejável nos desafios. Além da grande vencedora, Estrella Xtravaganza e Venedita Von Däsh chegaram até a final, e Samantha Ballentines conquistou o título de Miss Simpatia.
Legendary, o reality de voguing do HBO Max, retorna sem o glamour da segunda temporada e sem uma grande estrela no painel de jurados. A saída de Megan Thee Stallion para a entrada de Keke Palmer foi uma troca inicialmente injusta com o público, mas que ao longo dos dez episódios exibidos em quase dois meses, se mostrou eficiente para a competição de 2022 – além da participação especial de Anitta e do retorno da lendária Dominique Jackson, que deram o que falar. No geral, com elencos nada inspirados e desafios repetitivos, Legendary se tornou apenas ordinária.
A plataforma também apostou em A Ponte – The Bridge Brasil, reality original que foi a grande surpresa do mês e reúne um grupo de anônimos e famosos para construir uma ponte e chegar a um prêmio recheado. Sendo tudo que a nova versão de No Limite sonhou em se tornar, a produção escalou nomes como Pepita e Dani Winits, servindo drama, confusão e a diversão mais genuína que o mundo das competições de realidade ofereceu no ano até agora.
Falando sobre o reality da família mais amada e odiada dos Estados Unidos, a 1ª temporada de The Kardashians chegou ao fim, mas logo deve voltar para um segundo ano. O programa que acompanha o clã trouxe menos episódios do que o falecido Keeping Up with the Kardashians, porém, a premissa continou a mesma: dramatizar os eventos que acontecem na intimidade dos ricaços. Nas redes sociais, o programa viralizou com momentos como o relacionamento de Kim com Pete Davidson e a maneira peculiar com que Kendall corta pepino.
Mudando os ares, o Paramount+ trouxe um pouco de política em Junho. Em The First Lady, Viola Davis, Michelle Pfeiffer e Gillian Anderson interpretam as primeiras damas mais memoráveis da História dos Estados Unidos, sob a direção da vencedora do Oscar Susanne Bier. A Primeira-Dama tinha tudo para arrebatar a audiência e a aclamação dos críticos: antes da estreia, somente as imagens promocionais de Davis na pele de Michelle Obama foram o suficiente para causar um frenesi nas redes sociais. No entanto, a produção caricata quebrou a expectativa e fez a 1ª temporada da série se tornar alvo de deboche do público. Até o momento, o futuro da obra é incerto.
A política estadunidense também foi abordada em Gaslit, que deu uma nova perspectiva ao livro escrito por Bob Woodward e Carl Bernstein, Todos os Homens do Presidente. Se na obra original há a visão dos jornalistas sobre o evento polêmico que levou à renúncia de Richard Nixon, na adaptação, dirigida por Matt Ross, a narrativa é tratada pelos olhos do grupo de corruptos que compunham a equipe então presidente.
Ao acompanhar os bastidores das manipulações cometidas pelos homens do presidente, o resultado são cenas cômicas de um planejamento tão meticuloso que fica difícil acreditar que se trata de uma história real. O destaque fica para as interações do procurador-geral, John Mitchell (Sean Penn), e seu improvável contratempo, a esposa Martha Mitchell (Julia Roberts). A minissérie, criada por Robbie Pickering, difunde um roteiro extremamente original e bem pensado. Abusando de um suspense político misturado a um humor bastante peculiar, Gaslit remonta a história com um descaramento libertino tão fiel que parece piada.
O Poderoso Chefão é, provavelmente, uma das maiores produções cinematográficas da História, posta em um patamar tão alto que qualquer obra que tente retratá-la acaba se tornando alvo de críticas. Dessa vez quem reviveu o longa foi The Offer, minissérie do Paramount+ que propõe mostrar os bastidores da criação do clássico. A série não é excepcional e nem revolucionária, mas a metalinguagem explícita já a torna interessante o suficiente para uma maratona.
Peaky Blinders também traz a atmosfera derivada do Cinema de Coppola de forma bem perceptível. Mesmo sendo a sexta e última temporada da série, a história da família Shelby tem um desfecho temporário, uma vez que um filme fechando a história está para sair do papel. Porém, o final que a trama entrega condiz muito com o caminho que o próprio show tomou. Girando em torno do legado dos Shelby, a obra não perde tempo tentando redimir seus personagens, e a escrita de Steven Knight é bem mais sútil ao tratar de seus temas.
Elevar o nível de uma temporada inaugural recheada de méritos não é simples, mas o time criativo de Hacks deu conta do recado. Pouco tempo depois de vencer 3 importantes prêmios da Academia, a comédia de Jean Smart e Hannah Einbinder retorna com a sagacidade que impregna seu DNA rebelde. No novo ano, Deborah entra em turnê ao mesmo tempo em que descobre uma traição de Ava. Entre a viagem de ônibus, um cruzeiro de lésbicas e um show televisivo, Hacks sobe cada vez mais no pódio de grandes comédias sobre o ato de se fazer comédia. Com um final com cara de desfecho de novela, uma terceira temporada já foi anunciada e só nos resta aguardar o que as megeras preparam a seguir.
A comédia também ficou por conta do segundo ano do revival de iCarly, que retomou o clima de amizade entre os personagens principais após a série de desilusões amorosas na 1ª temporada. Com participações especiais como a de Josh Peck, a sitcom continuou a acompanhar a jornada de Carly e seus amigos em aumentar o alcance do seu canal na web. A renovação ainda não foi anunciada, mas, com o clamor dos fãs, tudo indica que a produção deverá ser retomada.
A Mulher do Viajante do Tempo, adaptação do romance homônimo de Audrey Niffenegger, mistura o romance com a ficção científica e acompanha o casal formado por Henry (Theo James) e Claire (Rose Leslie). Apesar de sua relação ser vista como perfeita pelos outros, o casamento dos dois enfrenta um grande problema: Henry tem um distúrbio que o permite viajar no tempo. Criada por Steven Moffat, que é bem familiarizado com o conceito de viagem no tempo, a série conta com Everleigh McDonell, Desmin Borges e Kate Siegel e já foi cancelada pela HBO após péssima recepção do público.
Também pincelando o romance e em clima de despedida, a 3ª e última temporada de Com Amor, Victor, disponibilizada no Star+, entrega o fim do arco de seus personagens com a maturidade necessária. Desde seu lançamento em 2020, a série spin-off do filme Com Amor, Simon criou uma narrativa sobre evolução e autoconhecimento, principalmente de pessoas da comunidade LGBTQIA+.
Entre reviravoltas e crises de identidade, a temporada escolhe se distanciar do que é exatamente previsível e deixar os romances com “felizes para sempre” em segundo plano. Com foco no crescimento, Victor (Michael Cimino) e seus amigos passam por problemas nos relacionamentos, nas famílias e, essencialmente, consigo mesmos. Love, Victor mostra a adolescência como um período de transição, em que os sentimentos, mesmo que verdadeiros, não são mais importantes que o desenvolvimento e o cuidado pessoal.
Em um mês lotado de lançamentos no Cinema e na TV, os concorrentes às premiações começam a aparecer. Abrindo a temporada de competição e se cansando da rivalidade entre streamings, a Academia de Televisão anunciou seus indicados ao Primetime Emmys de 2022 no último dia 12, sem dar de bandeja quais foram as plataformas e canais que mais tiveram seus nomes anunciados. Com 17 nomeações, é improvável Hacks não reaparecer no Cineclube nos próximos meses – dentre as modalidades, a série figura em todas as categorias de atuação feminina em Série de Comédia, algumas com mais de uma atriz concorrendo, além de disputar o troféu principal.
Na publicação mensal do Persona, Barry é outra que tem chances de pipocar de novo por aqui, e The Staircase torce para ser lembrada na edição de Setembro, quando os vencedores do Emmy 2022 serão anunciados. Andrew Garfield, que garantiu a aparição de Under the Banner of Heaven na lista de indicados do Oscar da TV, pode não voltar a representar a série por aqui, mas seu nome com certeza será lembrado de outras produções. Sem apresentador anunciado, a cerimônia do Emmy 2022 será realizada em 12 de Setembro, mas antes disso, o mês 7 reserva espaço para Os Garotos do Prime, a super-heroína da Disney e até o Rei do Rock de Baz Luhrmann.
Texto: Gabrielli Natividade da Silva e Guilherme Veiga
Pesquisa e Pauta: Caio Machado, Gabriel Gatti, Jamily Rigonatto, Nathalia Tetzner e Vitor Evangelista