Nathalia Tetzner
“O Chorão era tipo uma carreta, com um monte de problema que ele ia carregando, está ligado? De várias pessoas, assim. Nessa carreta, velho, cheia de problema, eu não sei se sobrava espaço para os dele, velho”. A declaração de Glauco Veloso, a quem o músico ajudou a ser liberto da prisão, resume a narrativa sobre os dias de luta e glória do vocalista da banda Charlie Brown Jr., presente no documentário Chorão: Marginal Alado. Esse tipo de apelo emocional faz o espectador desconsiderar os defeitos técnicos da direção de Felipe Novaes, que acabou se perdendo na riqueza dos arquivos pessoais disponibilizados pela equipe de Alexandre Magno Abrão.
A história do cantor e de seu grupo de rock nacional é contada de maneira confusa até mesmo para os familiarizados com a trajetória do Charlie Brown Jr., ou seja, grande parte dos brasileiros nascidos nos anos 90 e 2000. Entre as entrevistas excepcionais com personalidades da música, amigos próximos, membros da família e do CBjr, a participação do baixista Champignon se destaca.
Cabisbaixo e visivelmente abalado, Champignon, que cometeria suicídio sete dias depois dessa entrevista, revela um pouco mais sobre a sua relação de amor e ódio com Chorão, morto seis meses antes, por uma overdose. Descoberto quando tocava baixo pelas ruas de Santos, Champs, como era apelidado, entrou para a formação original da banda aos 12 anos. A partir dessa interação, a obra explora a amizade intensa entre essas duas figuras que protagonizaram diversos confrontos.
Assim, a personalidade forte e a intimidade são os principais focos de Chorão: Marginal Alado. Onde a sequência de momentos controversos e descontraídos propõem a dualidade do vocalista, expressada de forma genial pelo relato cômico de João Gordo. Segundo ele, Alexandre pediu paz após agredi-lo no bastidor de uma premiação. As falas de Graziela Gonçalves e Alexandre Ferreira Lima Abrão, sua ex-esposa e seu filho, também demonstram um lado do músico até então desconhecido pelo público.
Se em sua vida particular Chorão escondia a sua dependência química até da própria esposa, o documentário faz diferente. Ainda que Felipe Novaes bagunce a ordem cronológica dos eventos que levariam ao falecimento, nada impede a comoção causada pelos depoimentos dos convidados e pelas gravações em que o cantor diz estar cansado do sucesso.
Mas, como acabar com tudo, quando centenas de famílias são sustentadas pelo trabalho do Charlie Brown Jr.? Não tão complicado demais, mas nem tão simples assim, Chorão: Marginal Alado desenvolve a dificuldade do compositor em resolver seus problemas pessoais, principalmente após a morte de seu pai. Uma equipe gigantesca, milhares de fãs e discos vendidos, nada impediu Alexandre Magno Abrão de sofrer uma overdose de cocaína e morrer sozinho em seu apartamento no dia 6 de março de 2013.
O skate também é uma peça fundamental do legado de Chorão, o que torna perfeita a escolha da filmagem do músico limpando sua própria pista para a abertura da obra. Essa cena torna explícita a sua conexão com o esporte referenciado em suas tatuagens e, até mesmo, nas músicas do CBjr. O skatista que costumava chorar ao errar manobras, se transformou em uma referência para os seus fãs que se recordam dos seus momentos juntos com carinho.
Chorão: Marginal Alado retrata Alexandre não só como um dos maiores nomes do rock nacional, mas também, como o menino que se apresentou pela primeira vez em um bar, quando o vocalista da banda que ali cantava deixou o palco para ir ao banheiro e, ao voltar, se deparou com o público querendo o Chorão. Emocionando e cativando a audiência apesar das falhas técnicas, o documentário narra os problemas vividos pelo músico para além das letras cheias de reflexões do Charlie Brown Jr..