Amábile Zioli
Na busca incessante em produzir uma animação que consiga competir com outros grandes estúdios já consolidados nesse mercado, como a Disney e a Universal, a Netflix recorreu à pessoa certa: Chris Williams. O currículo do diretor está longe de ser fraco e o cineasta tem seu nome em algumas das produções mais aclamadas dos anos 2000 – Bolt, o Supercão, Mulan, Detona Ralph e A Nova Onda do Imperador são alguns exemplos. Nessa nova empreitada, fica claro que o diretor e roteirista sabe o que está fazendo e isso se confirma em seu novo trabalho, A Fera do Mar.
Indicado ao Oscar de Melhor Animação, a obra conta a história de Maisie (dublada originalmente por Zaris-Angel Hator), uma garotinha órfã que é fissurada pelas histórias da embarcação Inevitável, um navio tripulado por piratas que defendem a costa do reino de monstros marinhos. Certo dia, quando o barco atraca na ilha, Maisie acha uma boa ideia entrar e se esconder, a fim de enfrentar as mesmas aventuras vividas por Jacob (Karl Urban), o caçador, e o capitão Corvo (Jared Harris). É claro que a ideia não dá certo. A pequena é descoberta enquanto a tripulação do navio encara seu maior desafio: a Bravata, e, após a quase morte de Maisie e de seu mais novo companheiro, Jacob, a trama do filme realmente começa, ambientado no interior da fera.
É aos 40 minutos de filme que o enredo começa a tomar forma e, por se tratar de uma animação, a duração de duas horas é até desnecessária. A história de piratas e monstros do mar já foi contada e recontada diversas vezes, como na famosa saga de Piratas do Caribe, ou na recente animação Luca – o que Williams poderia adicionar de novidade para gerar interesse nesse sub-gênero saturado?
Parece que o diretor também não descobriu, ou, mais provavelmente, não teve essa intenção em The Sea Beast, em seu título original. E está tudo bem. Para o que o longa se dispõe a entregar – diversão e visuais de tirar o fôlego -, a obra é um grande sucesso: o clímax surge nos momentos certos e a narrativa principal gera muito apego e emoção entre os dois protagonistas em suas trajetórias, além de não falhar em apresentar a lição de moral quase obrigatória em toda conclusão de desenhos animados.
O filme não peca ao abordar assuntos como a relação entre humanos e animais, usando a premissa de feras marinhas. Além disso, foca em mostrar como histórias são facilmente manipuladas para que um lado se sobressaia, afinal, essa é a principal narrativa de A Fera do Mar, na qual Maisie questiona a veracidade da rivalidade milenar entre as criaturas e os humanos.
Um dos pontos que mais chama atenção no longa é o visual. Composto por cores chamativas e cativantes, a obra entrega um grande show de cenários hipnotizantes e criaturas exóticas. O único ponto que pode ter sido falho, ou até mesmo proposital, é a verossimilhança com outras animações de sucesso, em especial, a mais aparente, Como Treinar o Seu Dragão (2010). Nesta, tanto a história quanto o aspecto das criaturas são parecidos, e a mudança ocorre apenas na ambientação, saindo dos céus direto para os mares.
Ao todo, o filme recebeu 12 indicações nessa temporada de premiações, entre elas, no Annie Awards, que é considerado o Oscar da Animação, no Visual Effects Society Awards e no EDA Awards, da Alliance of Women Film Journalists, uma instituição que reconhece o trabalho feminino em produções audiovisuais – no entanto, não levou nenhum prêmio para casa. Chega a ser presunçoso imaginar que A Fera do Mar levará o Oscar de Melhor Animação, uma vez que concorre com nomes de muito mais peso, como Gato de Botas 2: O Último Pedido, Red: Crescer é uma fera, Marcel the Shell with Shoes On, e Pinóquio.
Em geral, A Fera do Mar é um trabalho que a Netflix realmente tem motivos para se orgulhar. Apesar de, no Oscar, estar sob a sombra de seu irmão mais novo, Pinóquio, a aventura marítima é completamente envolvente e divertida de assistir, com uma história nada inovadora, porém muito cativante – nisso, muito se deve à pequena protagonista, Maisie.