Today is gonna be the day: 25 anos do (What’s the Story) Morning Glory? e o legado do Oasis

A foto icônica da capa foi tirada na rua Berwick, em Londres, famosa pela quantidade de lojas de discos (Foto: Brian Cannon)

Lara Ignezli e Maria Carolina Gonzalez

Se em 1994 o Oasis conquistou o mundo, no ano seguinte o quinteto de Manchester o tinha na palma da mão. Depois de ganharem a atenção do público e da mídia inglesa com o sucesso do álbum de estreia Definitely Maybe, os irmãos Gallaghers e companhia estavam mais que preparados para o perigoso teste do segundo álbum. E o resultado não poderia ser diferente. (What’s the Story) Morning Glory?, lançado no dia 2 de outubro de 1995, é uma das jóias mais preciosas da coroa britânica que ocupa um lugar sagrado juntamente com Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles, e a coletânea Greatest Hits (1981), do Queen, como terceiro álbum mais vendido na história da Inglaterra.

“It’s never gonna be the same”

A prova de fogo começou alguns meses antes. Desde antes do lançamento do primeiro álbum, o Oasis dividiu os holofotes do britpop com o já consagrado Blur. Mas foi no dia 14 de agosto de 1995 que as duas bandas disputaram a chamada Batalha do Britpop. A trupe de Damon Albarn levou a melhor dessa vez com o single “Country House”, que vendeu 274 mil cópias contra 216 mil de “Roll with It”, teaser de Morning Glory?. 

Mas claro que esse não foi o golpe final, pois Liam e Noel Gallagher são bons de briga. A escolha de “Roll With It” foi equivocada, afinal, o som e a letra simples não combinavam a personalidade presunçosa e os anseios tão presentes no primeiro disco. Mesmo assim, toda a arrogância dessa banda nada humilde se tornou confiança para construir o segundo álbum que vendeu facilmente bem mais que o contemporâneo The Great Escape, do Blur. Oasis era dono do mundo em meados dos anos 90, mas (What’s the Story) Morning Glory? mostra justamente quais são as consequência depois que se chega ao topo. 

A batalha ia além da música: eram os miseráveis de Manchester contra a classe média privilegiada de Londres (Foto: Reprodução/NME)

Era até difícil imaginar que a banda ainda poderia chegar mais longe, mas não impossível, e claro que Liam e a mente criativa de Noel sabiam disso. Este não fez nenhuma questão de esconder seu conhecimento nas referências de peso para construção do álbum. Noel abusou dos clássicos equilibrando o glam rock setentista do T. Rex com o folk do The Kinks, mas foi nos Beatles que ele tomou, sem nenhuma discrição, letra, melodia e até nome para batizar a faixa mais famosa do álbum. E tudo isso ainda foi somado ao jeitão Oasis de fazer música. 

A diferença do Definitivamente talvez para o definitivamente

O primeiro álbum da banda, Definitely Maybe, gritava a vontade de ser um rock star. Sem nenhuma enrolação, sem usar palavras difíceis, o Oasis falou de cara que queria ter o sucesso que achava que merecia. O objetivo não foi atingido no primeiro álbum, mas a promessa para o futuro foi feita.  

Com os olhos do mundo voltados para eles, eles lançaram o segundo álbum de estúdio, (What’s the Story) Morning Glory? — produzido por Owen Morris, responsável também pela produção do primeiro. A expectativa era de que as músicas falassem como foi maravilhoso conseguir o que queriam, um álbum falando “Viu? A gente avisou”. Mas não foi nada disso. As letras antes explosivas se tornaram reflexivas, e o tema principal das composições era uma contemplação triste do abstrato.  

Depois do Morning Glory?, o sucesso internacional era inevitável para o Oasis (Foto: Reprodução)

Essa contradição condiz com a premissa histórica da banda de fazer só o que eles querem. Naquele momento, ser triste foi totalmente rock n’ roll, foi espontâneo e foi o que eternizou a banda na música mundial, porque ficou claro que eles só traduziam o que sentiam em melodia, como tinham dito desde o começo, sem qualquer plano maior que isso. Mais uma vez, eles não seguiram nenhuma tendência, só apostaram no próprio taco, sentaram, relaxaram e esperaram o sucesso chegar. 

E o que c****** é uma “Wonderwall”?

É nesse álbum que estão as músicas mais icônicas da banda, a atemporal, imortal, infinitamente consagrada “Wonderwall”, “Don’t Look Back in Anger” e “Champagne Supernova”. Ok, a segunda dá até para traduzir. Mas o que é um “wonderwall”? E o que tem a ver a palavra “champagne” com a palavra “supernova”

Em tradução livre: “você é minha wonderwall.”. O que? O que isso quer dizer? Sei lá (Gif: Reprodução)

O maior sucesso da banda leva no título uma palavra inventada por Noel, nem ele mesmo sabe dizer exatamente o significado. Ao longo dos anos, essa se tornou uma pergunta recorrente nas entrevistas com o compositor, que só dava respostas que, na verdade, não respondiam muita coisa. O ultimato é que qualquer coisa boa pode ser uma “wonderwall”. E é isso. 

Sobre “Champagne Supernova”, nada melhor que deixar o Noel explicar com as próprias palavras o que a música quer dizer — porque, sinceramente, não tem como explicar de nenhuma outra maneira. 

Analisar a linha de composição do Morning Glory? usando a razão é algo bem difícil, mas (ainda bem!) desnecessário. Vinte e cinco anos depois, as letras dessas músicas ainda são cantadas de cabo a rabo, por quem quer que esteja ouvindo, aonde quer que estejam tocando, e isso é o que de mais incrível e honrável existe para se dizer do álbum. Não tem como confundir, nem como esquecer. 

Do nada, o Noel Gallagher: “Tá vendo aquela lua, que brilha lá no céu?”

Como já foi dito, ninguém entendeu quando o Oasis lançou um álbum triste. Eles cantaram e cantaram no Definitely Maybe sobre alcançar a fama e quando alcançaram não falaram sobre como era estar vivendo o sonho. Ou, se falaram, disseram que era algo bem ruim e melancólico.  

A banda que ficou conhecida por músicas sobre cigarros e álcool, que era mundialmente conhecida por dois irmãos que quebravam guitarras na cabeça um do outro, voltou falando para deixar a raiva para trás. Essa exaltação de sentimentos contemplativos, calmos e reflexivos é um desvio de conduta da banda mais briguenta do rock n’ roll. 

Os genes compartilhados dos Gallaghers foram o catalisador para o sucesso do Oasis, mas também foi sua ruína (Foto: Reprodução)

É por isso que nunca mais um álbum como o (What’s the Story) Morning Glory? foi feito pelo Oasis, nem por ninguém mais. O Noel não sabia de onde tinha tirado o sentimento para fazer as letras, e as outras pessoas não tinham a genialidade do Noel para escrever, apesar de entenderem o sentimento.

Segundo ele, ser um rock star e estar vivendo tudo aquilo era maravilhoso durante seis dias da semana, mas ele escolheu o sétimo dia para servir de inspiração para as composições de maior sucesso da carreira da banda. Dá para ver que, até aí, ele resolveu ser “do contra”. 

Resta agradecer por esse milagre ter acontecido, e pelo mundo ter tido a oportunidade de conhecer o lado sentimental de Noel Gallagher. Apesar de ter sido algo que aconteceu uma única vez, rendeu músicas para toda a eternidade. É, com certeza, motivo de comemoração. 

“And after all…”

Oasis voou alto com o (What’s the Story) Morning Glory?, mas chegou perto do sol. O tom das canções melódicas e reflexivas previu qual seria o destino da banda depois daquele momento. O lançamento do terceiro álbum, o tímido Be Here Now (1997), foi o começo do fim de um grupo que já tinha deixado seu legado no mundo. 

Qualquer resquício das ambições de Liam, Noel, Bonehead, Guigsy e Alan foi ofuscado pela crise interna e todas as desavenças características do Oasis. O resto da história todo mundo já sabe. 

O (What’s the Story) Morning Glory? é grande. Talvez até maior que o próprio Oasis. O álbum deixou sua marca e o nome de seus criadores na história do rock ao lado dos maiores e mesmo 25 anos depois, seu legado ainda não terminou.

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